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sábado, 25 de julho de 2020

POESIA, MEU CARO. ISSO É POESIA!

O tempo, no fim de semana, é diferente do tempo nos outros dias.

No fim de semana, no tempo de quarentena, a cidade fica meio sem histórias para serem contadas, as ruas sentem falta do comércio e os bares ficam constrangidos de fazer aglomerações, por mais que o desejo de juntar gente às vezes seja maior do que o medo da fiscalização.

Num bar, dois amigos bebiam o fim de semana despreocupados quando o atendente avisou do horário de fechamento devido ao toque de recolher às oito da noite. Mas, no sábado? Já não se respeita mais nem o sábado? Reclamou o cliente. Sim disse o atendente, querendo dizer não. Dia de sábado não pode ter fiscalização, não é dia lícito para se trabalhar, disse o cliente na esperança de encontrar um argumento mais definitivo, e pediu mais uma cerveja, só mais uma!

Não quero aqui defender que se desobedeça o decreto municipal do toque de recolher, também não posso defender seu integral cumprimento, dado que em algumas situações se faz jus a burla pelo necessário tratamento psicológico, muitas vezes em momentos como este, onde o amigo é o melhor terapeuta disponível e a cerveja, sem defender seu consumo exagerado, pode ser um grande remédio para a fadiga mental de uma semana de intensas cobranças por metas impossível na empresa.

Feitas as devidas argumentações e contra argumentações, decidiu-se fechar o bar e manter o atendimento com uma reserva de cervejas numa caixa térmica, as luzes desligadas para disfarçar a fiscalização e o diálogo se deu entre os amigos.

- Eu tenho sede, meu amigo.

- Pois vou pegar mais uma...

- Pegue! Eu tenho sede de viver, preciso achar um jeito de sair dessa bolha chamada sistema.

- Bolha? Isso é um inchaço!

- Transbordar! Permitir, alargar as fronteiras, fazer um tratado internacional de entendimento emocional.

- Poesia, meu caro. Isso é poesia.

 

 

Elairton Paulo Gehlen


2 comentários:

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