O tempo, no fim de semana, é diferente do tempo nos outros dias.
No fim de semana, no tempo de quarentena, a cidade fica meio sem
histórias para serem contadas, as ruas sentem falta do comércio e os bares
ficam constrangidos de fazer aglomerações, por mais que o desejo de juntar
gente às vezes seja maior do que o medo da fiscalização.
Num bar, dois amigos bebiam o fim de semana
despreocupados quando o atendente avisou do horário de fechamento devido ao toque de
recolher às oito da noite. Mas, no sábado? Já não se respeita mais nem o
sábado? Reclamou o cliente. Sim disse o atendente, querendo dizer não. Dia de
sábado não pode ter fiscalização, não é dia lícito para se trabalhar, disse o
cliente na esperança de encontrar um argumento mais definitivo, e pediu mais
uma cerveja, só mais uma!
Não quero aqui defender que se desobedeça o decreto municipal do
toque de recolher, também não posso defender seu integral cumprimento, dado que
em algumas situações se faz jus a burla pelo necessário tratamento psicológico,
muitas vezes em momentos como este, onde o amigo é o melhor terapeuta
disponível e a cerveja, sem defender seu consumo exagerado, pode ser um grande
remédio para a fadiga mental de uma semana de intensas cobranças por metas
impossível na empresa.
Feitas as devidas argumentações e contra argumentações,
decidiu-se fechar o bar e manter o atendimento com uma reserva de cervejas numa
caixa térmica, as luzes desligadas para disfarçar a fiscalização e o diálogo se
deu entre os amigos.
- Eu tenho sede, meu amigo.
- Pois vou pegar mais uma...
- Pegue! Eu tenho sede de viver, preciso achar um jeito de sair
dessa bolha chamada sistema.
- Bolha? Isso é um inchaço!
- Transbordar! Permitir, alargar as fronteiras, fazer um tratado
internacional de entendimento emocional.
- Poesia, meu caro. Isso é poesia.
Elairton Paulo Gehlen
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