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sexta-feira, 10 de julho de 2020

OTIMISTA

Estou sempre encontrando pessoas otimistas por aí, seguras de que depois da tempestade vem a bonança. Ainda que o vírus da ignorância seja mais atuante que o da COVID tem quem acredite que ‘amanhã’ será melhor, provavelmente por pura ignorância!

As ruas estão cheias de esperança em dias melhores. O comércio acredita que a economia salva as almas dos que morrem por um bem maior. As duas cervejas que tomei em casa antes de sair me fizeram duvidar de ter ouvido isso mesmo! Fiquem longe das pessoas e perto das mercadorias, disse um funcionário que orientava os consumidores na porta da loja. Verdade, as pessoas se tornaram inimigas em potencial e as mercadorias a salvação das pessoas em perigo iminente!

Continuo minhas andanças em busca do otimismo, já estou me sentindo assim maio inútil ficando em quarentena por tanto tempo. ‘O trabalho dignifica o homem’. Tá certo, tem que liberar o vírus, quer dizer, o comércio para que as pessoas possam trabalhar. Não há dignidade sem trabalho! Não? Por um instante, só por um instante, me senti indigno. Ufa!, passou. Deixa para lá esse negócio de dignidade, afinal o mundo jaz no maligno.

Convertam-se, pois o mundo jaz no maligno, gritava um otimista religioso numa esquina da praça com seu megafone. Perguntei se ele estava protestando contra a abertura do comércio. Não, fecharam as igrejas e os fiéis não comparecem mais, a igreja vai fechar por falta de dízimo. É, o mundo jaz no maligno!

Tô com saudade de tu meu desejo. A música na porta da loja de roupas ataca os corações desesperados pelo fim da quarentena. Vi algumas pessoas rodeando as gôondolas de roupas, mais para ouvir a música do que para comprar. Teu amor é gostoso demais... Uma mulher chorava copiosamente há uns dez metros dali, agarrada a uma placa de ‘Pare’. Aproximei-me e perguntei cautelosamente se estava se sentindo bem, que bobagem, claro que não. Meu marido morreu dessa doença, nunca mais terei seus abraços da paz!

Quis falar para ela que a vida continua, deixei para lá, só dei um tapinha em seu ombro e continuei andando, nem eu mesmo ando acreditando que a vida continua mesmo. Entra moço! A garota da agência de viagens me convidava ao otimismo. Você compra seu pacote para viajar ano que vem e parcela em até doze vezes com quarenta por cento de desconto durante a quarentena! Haja otimismo! Será que ano que vem ainda vai existir?

Voltei para casa, tirei os calçados na porta e passei álcool 70 por cento, fui até o tanque e lavei a máscara, tomei um banho e de roupa limpa me senti totalmente seguro. Hoje não me contaminei, mas amanhã terei ainda mais cuidado! Sou mesmo otimista.

 

 

Elairton Paulo Gehlen


Um comentário:

  1. To feliz por vc se cuidar..purifica teu coração.. Você e otimista mesmo.
    Neste periodo de pandemia... O cuidado e bom... Pois desejo tudo de saudavel para ti. Poesia linda...

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