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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O CASAMENTO DA BRUNILDA

- Mãe, estou tão feliz!!

Mais que feliz, a Brunilda estava radiante! Novo Sarandi é uma cidade pacata, onde todos se conhecem e não dá para fazer um evento sem que a notícia se espalhe.

- A Vó, mãe, ela vai na festa?

- Não, filha, não fica bem, ela nem fala mais. Melhor ela ficar em casa, já contratei uma cuidadora.

Brunilda olhou-se no espelho e viu a Lua, e o mel escorrendo. Tão distante a Lua quanto o tempo que haveria de durar a paixão; tão doce o mel quanto o amor que espreme os corpos e retorce o favo, colhe o doce sabor em cada gota nas entranhas do bem querer. Já colhera o fruto, é verdade! Contratado em Cartório. Não fosse a pandemia e o padre já os teria abençoado há tempos! Mas, como, se não for acompanhado de uma grande festa? Agora, sim, diante de Deus e dos homens, o mesmo Deus que não faz acepção de pessoas e homens que se acham melhores que os outros, Brunilda irá se casar!

- Que bom que o tio chegou. Uma viagem tão longa, pensei que talvez não viesse.

A distância e o parentesco têm quase a mesma medida. Laços que amarram o tempo, nós que seguram sentimentos de pertencimento. A Vó que agora já não fala palavra, gerou o tio, as tias e o pai, é a mesma que, ainda garota, viera do Sul em aventuras da família para recomeçar a vida por esse descampado. Se ela falasse, o que diria?

- Olha, mãe! - Brunilda tirara os olhos do espelho para pô-los através da janela. – Um bem-te-vi, está fazendo seu ninho onde até ontem uma pomba rola chocava seus filhotes...

O seu ninho haveria de ser original. Nada de bem-te-vis, nem de chupins. Os filhotes haverão de ser chocados em brumas de Avalon.

- O Padre vai nos abençoar, mas ele não há de mandar na minha casa. É bom ser mãe?

A mãe passava as mãos pelos cabelos da filha, puxando um cacho por sobre o ombro. A mão espalmada acolhia a mecha de loiros cheia de sonhos de meninice. Um filme se lhe passa na memória. É bom ser mãe? Fechou a mão e virou-se para a janela, queira esmurrar parte do passado. A filha vai se casar.

- Sim, filha, é bom...

- A Vó não vai na festa, já não pode mais. A tia que mora ali do outro lado da rua, a irmã da Vó, ela vai?

- Não filha, ela também já está muito velha, não a convidei, ela anda bengala, não ia ficar bem lá na festa.

- Quando meus filhos se casarem, vai ser feio se eles te convidarem para a festa?

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A DANÇA

             Genilson chegou ansioso, passou os olhos aflitos pelo ambiente na esperança de não ver conhecidos por ali. Entre as mesas, desalinhadas, atravessou risos e conversas soltas, copos sendo cheios e esvaziados, um jovem casal trocava um beijo rápido, a moça da outra mesa acariciava a mão do namorado e olhares cúmplices indicavam que algo poderia acontecer mais tarde. Um jovem tímido corou as bochechas quando a garota disse que queria namorar.

No balcão, pessoas avulsas davam conta da solidão bebendo cerveja. Um verdadeiro quebra-cabeça onde peças poderiam se encaixar perfeitamente não fossem os muros construídos entre os jogadores.

- Uma cerveja, por favor....  Posso sentar?

- Não sei, pergunte para o dono do bar...

- Bem, acho que isto significa que posso, você é muito gentil, obrigado.

- Se pensa que vamos conversar, esquece. Só quero ficar aqui, calada.

- Com pouca espuma. Obrigado. Não quero. Se quisesse conversar estava lá na mesa com os amigos. Não quero os amigos. Só quero uma cerveja...

- Aai, disse a moça, atropelada por um cliente. Virou rapidamente a cabeça, palavrão escorrendo pelo beiço, recolhido rapidamente pela língua e devidamente engolido diante dos lindos olhos azuis que se desculpavam enquanto o corpo balançava alcoolizado.

- Desculpe..., eu... só quero mais uma... uma... cerveja.

- Eu quero mais do que uma cerveja...

- Achou... o cara certo.... Foi tudo o que conseguiu dizer antes de cair completamente desacordado.

Genilson tomou a cerveja totalmente alheio. Eu sei o que você sente, disse olhando para dentro do copo como se conversasse com a cerveja.

- Falou comigo? Perguntou a moça voltando para a banqueta ao balcão, passando as mãos pelos cabelos e ajeitando a blusa. Antes de sentar puxou a mini-saia para baixo, esfregou as mãos uma contra a outra e quase sorriu.

- Não, não falei contigo. Você não quer conversar. Só disse que sei, também perdi meu sorriso para um olhar brilhante.

- Eu ia me vingar. Tomara que não tenha morrido.

O bar, que assumira um silêncio sepulcral, voltara a vida. Não se faz velório no bar.

- Você a amava?

Genilson rodou o copo e o líquido dentro fez ondas que iam e voltavam acompanhando as bordas. Na parede, atrás do balcão, acima da portinhola que dava acesso à cozinha, uma pintura mostrava um casal dançando ao som de uma banda de música.

- Eu não sei dançar.

- Não precisa, eu dançava muito bem. Não sei fazer ondas.

Um carro do Conselho Tutelar encostou no meio fio. Uma senhora uniformizada entrou no bar acompanhada de dois policiais. Duas garotas tentaram se esconder no banheiro, foram levadas à força.

- Também fui presa, três vezes, disse a moça, mas onde deviam fiscalizar nunca foram.

- Eles pagam bem?

- Sim.

- Então é melhor eu me conformar!

- Como é o nome dela?

- Salete.

- Eu já vou, talvez eu a encontre no meu trabalho.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

AVES DE MAU AGOURO

             Às nove horas da manhã ainda tem sombra na piscina, no quinto andar do hotel. Uma espécie de mezanino onde fica o bar, impede que os raios solares chegarem até a água que permanece morna, aquecida pelas muitas tardes de sol que antecederam esse dia em que Joaquim parece ter percebido aquele sentimento de extrema solidão. Alguém precisa filtrar essa água, pensou.

Por cima dos telhados vê a rua, lá embaixo, onde pessoas tristes andam em frente das lojas. Coloca os dedos polegar e indicador diante dos olhos para medir o tamanho dos transeuntes, três milímetros, calculou. Um carro estacionado mede um pouco mais, talvez meio centímetro. A loja, só o térreo, um centímetro. Ergue os olhos uns dois centímetros e encontra um prédio de apartamentos, há duas quadras de distância. Contou as janelas, doze andares, dois centímetros. Se pudesse ver as pessoas dentro dele, não teriam sequer um milímetro. Não significam nada!

Às nove e quinze chegou um moço vestindo uniforme de trabalho, disse bom dia, abriu uma tampa metálica num canto e desceu por uma escada de ferros fixos numa parede. Desapareceu por baixo do piso. Algum tempo depois subiu de volta. Roberto, disse e seguiu seu caminho desaparecendo numa porta atrás. Joaquim perguntou seu nome, mas não lhe pediu nada mais. Só o nome. Antes que desaparecesse pela porta, mediu-lhe a altura, oito centímetros. Este piso está sujo. Um urubu aterrissou próximo da piscina, bicou as penas das costas, abriu e fechou as asas, aproximou da borda e tomou da água. Andou um pouco sobre o piso sacudindo o corpo e arrepiando as penas, voou por cima do cercado e desapareceu.

Ruídos da cidade sobem até o quinto andar do hotel. Joaquim está em pé. Ao lado da piscina o esperavam quatro mesas, cada uma rodeada por quatro cadeira. Espreguiçadeiras, também quatro, se ofereciam ao seu descanso. Joaquim tem quatro filhos. Teve quatro casamentos. Acumulou quatro milhões em patrimônio. Roberto foi embora, desapareceu por detrás da porta. Não tem ninguém na piscina. Só um quadrado. O horizonte não pode ser visto, só os prédios ao redor do hotel, prédios de apartamentos, todos altos, doze andares, ou mais. Não se poder ver ninguém dentro deles. Assim, vazios, não tem nenhum valor. A cidade é muito barulhenta.

Pronto Seo Joaquim, os sanitários estão limpos e desinfetados! Roberto? Então ele estava ali? O tempo todo? Ele viu o urubu? Sim Seo Joaquim, eles sempre vêm. Dizem que são agourentos. Tomam da água da piscina e vão embora. Para a liberdade. Não fazem mal a ninguém. Roberto? Não estava mais ali, ninguém está, todos desapareceram. Pela porta? O barulho da cidade aumentou! O que querem as pessoas como todo esse barulho? Se é o meu dinheiro, podem pegar, quatro milhões em patrimônio. A água da piscina está limpa, num tom azulado refletindo o céu absolutamente limpo. Joaquim aproxima-se da borda, abre os braços como se abrisse as asas. Sacudiu o corpo, então abaixou-se bebeu um pouco da água. Andou pela borda da piscina, daí subiu sobre a cerca e voou. Dizem que os urubus são agourentos. Eles não fazem mal a ninguém.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

BILHETE PARA A SANTINHA

             - Se tem uma coisa que essa pandemia fez bem, disse meu amigo Joaquim, é que acabou com as novenas! Joaquim não era jovem e isso se percebe claramente pelo nome. Não só o nome, Joaquim tinha belos cabelos brancos, ainda fartos apesar da idade em torno de setenta anos. Diariamente frequenta a academia ao ar livre instalada pela prefeitura na praça central do distrito, logo depois vai ao bar do Zé para umas cervejas com os amigos, eu, eventualmente, um deles.

-Agora está uma paz!, disse brindando com um copo de Antárctica e pediu que todos brindassem com ele, afinal, ninguém mais aguentava aquela rezação cada vez que aparecia uma data religiosa importante. E quando não era importante inventava uma, que dia de santo é todo dia, se fosse feriado, ninguém mais trabalhava. E ainda tem a capelinha que vai de casa em casa todo mês. Agora a Clarinda só reza o terço quando ela vem, depois é a televisão, todos os dias, mas daí eu não ligo, tô aqui tomando minha Antárctica.

Entre o terço da Clarinda, o programa do Datena e a missa da TV Aparecida, Seo Joaquim toma bem umas quatro garrafas, sem contar o que bebem os amigos. Quando casei na Igreja, falou entre a terceira e a quarta garrafa, achei bonito aquele lugar, as coisas que o padre falou, todo mundo sabia responder quando o padre rezava e tal. Depois continuei indo, decorei tudinho da missa, todas as falas, dá até para prever o que o padre vai dizer no sermão, é só prestar atenção nas leituras. Tem uma hora bem importante que o padre pede dinheiro para a igreja e no fim da missa a gente sai e só lembra de tudo de novo no outro domingo quando vai lá na igreja outra vez. Agora não vou mais.

Quando o Zé do bar veio com a quarta garrafa de Antárctica, Joaquim contou a história da santinha, a da capelinha que vai todos os meses na casa deles. É uma imagem de santa, disse. Feita de argila ou cerâmica, não sei, ela é trazida por alguém que tinha ela em casa e quando chega tem lá as rezas que se deve fazer. Tudo bem. Rezar é até bom. Mas da última vez que rezei com Clarinda, aconteceu um fato que daí em diante eu não quis mais rezar para a santinha da capelinha.

Quem trouxe a capelinha foi dona Quitéria, continuou. O marido dela faz já muitos anos que deixou de ser católico e o filho foi convertido para uma dessas igrejas de crente e acabou que levou a irmã para lá também. Só dona Quitéria que continua firme, uma verdadeira Beata. Mas, foi justo com a santinha que dona Quitéria trouxe que veio o acontecido que me deixou intrigado. Até pensei em virar crente, só que vim pro Bar do Zé. Aqui posso confessar tomando uma Antárctica.

A capelinha da santa veio normal, teve as rezas e tudo, eu que acendi as velas para a oração. No outro dia rezamos de novo para levar a capelinha da santa para a casa do João, o da oficina. Quando peguei a capelinha, que era eu que ia levar, vi um bilhete bem colado atrás que dizia: “Antes de levar, deve ser lido o texto bíblico contido em Êxodo 20:4 e depois Deuteronômio 5:8 e 9”.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

AS FILHAS DOS MILITARES NUNCA SE CASAM

             Há muitos anos atrás, num pobre e vasto país da região Sul das Américas, país este, diga-se de passagem, que havia participado de uma grande guerra promovida por interesses de outro país, europeu, que desconfiava que o comércio na região seria dificultado pelo grande desenvolvimento econômico de um terceiro país sul-americano, resolveu-se dar mais garantias para seus militares para atrair mais jovens à carreira.  Entre as muitas propostas de incentivo à caserna, decidiu-se que além das ex-mulheres, também as filhas e até irmãs solteiras teriam direito a uma pensão vitalícia, caso o feliz guerreiro viesse, infelizmente, perder sua vida no serviço à pátria.

Houve mesmo um grande interesse pela carreira militar. De olho nas pensões, nas guerras e na virilidade desses valorosos servidores da pátria, também cresceu enormemente o interesse das moçoilas casadoiras. Na rua do Ouvidor ouvia-se muito falar em como seria bom casar-se com um soldado. Muito mesmo se dizia das benzedeiras e ciganas que receitavam esse ou aquele chá de benzimento ou faziam tal ou qual previsão da carreira militar do futuro marido. Grande sucesso fez Dona Zaldina dos Prazeres que montou sua tenda na Praça do General, onde benzia as pretendentes para que seus filhos fossem a maioria do sexo feminino, elas serão seu melhor investimento, dizia enquanto cobrava alto valor pelo vaticínio.

Desde que o projeto da pensão fora aprovado e as filhas dos militares também passaram a receber pensão vitalícia, os atos fúnebres se tornaram eventos sociais importantes, com fotos nas capas dos principais jornais e comentários em todos os salões. Como se sabe, quando um assunto ganha as mídias, logo aparecem especialistas. Muitas pesquisas foram feitas e em pouco tempo se percebeu que, caso a guerra prosseguisse por um longo período, se teria, naquele pobre país, uma nova e importante classe social em ascensão, com remuneração garantida e vitalícia!

Jusciliano Pereira, neto de portugueses vindo para a Colônia ainda jovem, viu esta se tornar um país independente. Enquanto ainda se debatia com os hormônios da puberdade, tentou inutilmente ascender às forças da Marinha, buscou as Armadas sem sucesso, mas firmou-se como chefe de gabinete do Senador Adroaldo Jarride. Queria o cidadão Jusciliano dar segurança à sua família. Sabia ele que as mulheres pouco espaço tinham para fazerem carreira sem depender de um casamento e, mesmo este, se não fosse com um militar, dependeria do marido vivo e, marido vivo, raramente representava o bem-estar para as mulheres naquele pobre país de memória colonial. Já sei, disse um dia, minhas filhas serão mulheres de militares, custe o que custar! Tem muitas vantagens, dizia, além de eles irem para a guerra deixando-as mais livres, se morrerem até mesmo as filhas estarão seguras para toda a vida.

Jusciliano foi abençoado com três filhos, um belo garoto que aos dezoito anos ingressou para a Marinha. Josephina, que se casou aos dezessete com o sargento Mathias e teve duas lindas filhas, orgulho do Vô. Cecília, coitada, formou-se professora e casou com o Manoel, bisneto de portugueses que tinha uma padaria na rua Quinze de Março. Por esse tempo, o mundo só falava da Grande Guerra Mundial, Sargento Mathias estava preparado para ir, mas seu país não foi lutar pelos ideais de Liberdade, pelo quê Jusciliano lamentou profundamente.

O tempo passou e, quando finalmente eclodiu a Segunda Grande Guerra e o exército convocou os militares para darem a vida na Itália, as netas de Jusciliano, filhas do sargento Mathias já estavam adultas. A mais velha realizara o sonho do avô, casando com o jovem soldado Araujo, recentemente convocado para a Guerra. Mas Adriane, já balzaquiana, para desgosto do pai e também do avô Jusciliano, enamorara-se de um jovem artista, queria casar-se com ele, mas se casasse perderia a pensão iminente, já que seu pai, o agora Tenente Mathias, acabara de embarcar para a Itália onde estaria na frente de combate, muito próximo da morte heroica e da sua pensão vitalícia.

- Então, exclamava tristemente, eu nunca vou poder me casar?

terça-feira, 3 de agosto de 2021

LEITURA BÍBLICA

             Estavam sentados num banco da praça conversando quando se aproximou aquele homem de terno e gravata, camisa muito branca e sapatos lustrados, o cabelo despenteado como se o vento tivesse mexido neles, vento refrescante, ótimo para aquela tarde ensolarada de novembro, ou talvez tenha passado a mão nos cabelos, deixando-os desalinhados. Trazia, também, uma grossa bíblia debaixo do braço.

- Paz do Senhor, disse o distinto e entregou um papel que, explicou, seria um guia para a leitura anual da bíblia. Basta seguir a tabela, ler diariamente e, exatamente no dia 31 de dezembro você vai terminar a leitura completa de todos os livros que compõe o compêndio bíblico.

- Bem na hora, disse Joaquim de oliveira, bem na hora, repetiu. Sente-se, convidou. Meu amigo Manuel e eu falávamos exatamente sobre isso. Eu mesmo nunca li a bíblia, mas meu amigo tentou várias vezes, mas para sempre no livro de Crônicas. Aquela sequência de nomes embaralha as ideias. Ninguém precisa ler aquilo!

O pastor animou-se, aceitou o convite feito pelo Joaquim e sentou-se no banco em frente dos amigos, não sem antes tirar do bolso um lenço, com o qual forrou o banco da praça para não sujar a calça do terno que usava, afrouxou o nó da gravata que lhe apertava o pescoço, pôs a bíblia sobre uma das pernas enquanto ouvia atentamente.

- Você deveria começar pelo Novo Testamento, disse calmamente. O Novo Testamento cancelou o antigo, e fez vária citações contidas nas cartas de Paulo aos coríntios, gálatas, etc., etc.

Joaquim e Manuel entreolharam-se espantados. Seus pais vieram juntos de Portugal, eram muito amigos desde os tempos da imigração. Católicos muito praticantes sempre tinham em casa o livro da Liturgia Diária onde diariamente se lia um texto do Antigo Testamento e logo outro do Novo. Como podia ser que o Antigo estava cancelado e ninguém ainda havia percebido?

            - Eu sou pastor, disse o distinto homem de terno e gravata. Então pegou sua bíblia e leu em 2 Coríntios 3.14: “Mas os seus sentidos foram endurecidos. Porque até hoje, o mesmo véu está por se levantar no Antigo Testamento, o qual foi por Cristo Abolido”.

Joaquim e Manoel entreolharam-se, mais uma vez, espantados. Seria o caso de os católicos nunca terem lido esse texto? Aí Joaquim resolveu copiar São Tomé e quis ver para crer. Tomou a bíblia do distinto e foi ver se estava mesmo escrito o que o sujeito lera. Estava! Enquanto pensava, foi folheando o livro de trás para frente lendo cá uma frase, acolá outra, até que leu: “Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar...”.  O senhor pode me explicar está parte? Arguiu. É do novo testamento, não é?

- É, disse o homem de sapatos lustrados e camisa branca. Mas, temos que ter cuidado ao ler a bíblia. Este texto é da Carta de Paulo aos Coríntios e foi escrita com orientações específicas para o povo daquela época, mediante os costumes deles. Depois de se identificar como pastor, provou seu conhecimento bíblico com outras epístolas do Apóstolo com orientações específicas aos crentes de então.

Manuel, que até então permanecera calado, pediu a bíblia do pastor e, calado mesmo começou arrancar todas as páginas do Antigo Testamento jogando-as fora. O pastor protestou veementemente, mesmo assim, o filho de portugueses extremamente católicos continuou arrancando folhas do livro do crente, jogando fora todas as epístolas de Paulo, Pedro, João e Judas, ficando a bíblia somente com os Evangelhos e o Apocalipse.

- Agora está fácil, disse Manuel, ainda este ano leio a bíblia toda!

ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...