Às nove horas da manhã ainda tem sombra na piscina, no quinto andar do hotel. Uma espécie de mezanino onde fica o bar, impede que os raios solares chegarem até a água que permanece morna, aquecida pelas muitas tardes de sol que antecederam esse dia em que Joaquim parece ter percebido aquele sentimento de extrema solidão. Alguém precisa filtrar essa água, pensou.
Por cima dos telhados vê a rua, lá
embaixo, onde pessoas tristes andam em frente das lojas. Coloca os dedos
polegar e indicador diante dos olhos para medir o tamanho dos transeuntes, três
milímetros, calculou. Um carro estacionado mede um pouco mais, talvez meio
centímetro. A loja, só o térreo, um centímetro. Ergue os olhos uns dois
centímetros e encontra um prédio de apartamentos, há duas quadras de distância.
Contou as janelas, doze andares, dois centímetros. Se pudesse ver as pessoas
dentro dele, não teriam sequer um milímetro. Não significam nada!
Às nove e quinze chegou um moço
vestindo uniforme de trabalho, disse bom dia, abriu uma tampa metálica num
canto e desceu por uma escada de ferros fixos numa parede. Desapareceu por
baixo do piso. Algum tempo depois subiu de volta. Roberto, disse e seguiu seu
caminho desaparecendo numa porta atrás. Joaquim perguntou seu nome, mas não lhe
pediu nada mais. Só o nome. Antes que desaparecesse pela porta, mediu-lhe a
altura, oito centímetros. Este piso está sujo. Um urubu aterrissou próximo da
piscina, bicou as penas das costas, abriu e fechou as asas, aproximou da borda
e tomou da água. Andou um pouco sobre o piso sacudindo o corpo e arrepiando as
penas, voou por cima do cercado e desapareceu.
Ruídos da cidade sobem até o quinto
andar do hotel. Joaquim está em pé. Ao lado da piscina o esperavam quatro
mesas, cada uma rodeada por quatro cadeira. Espreguiçadeiras, também quatro, se
ofereciam ao seu descanso. Joaquim tem quatro filhos. Teve quatro casamentos.
Acumulou quatro milhões em patrimônio. Roberto foi embora, desapareceu por
detrás da porta. Não tem ninguém na piscina. Só um quadrado. O horizonte não
pode ser visto, só os prédios ao redor do hotel, prédios de apartamentos, todos
altos, doze andares, ou mais. Não se poder ver ninguém dentro deles. Assim,
vazios, não tem nenhum valor. A cidade é muito barulhenta.
Pronto Seo Joaquim, os sanitários
estão limpos e desinfetados! Roberto? Então ele estava ali? O tempo todo? Ele
viu o urubu? Sim Seo Joaquim, eles sempre vêm. Dizem que são agourentos. Tomam
da água da piscina e vão embora. Para a liberdade. Não fazem mal a ninguém.
Roberto? Não estava mais ali, ninguém está, todos desapareceram. Pela porta? O
barulho da cidade aumentou! O que querem as pessoas como todo esse barulho? Se
é o meu dinheiro, podem pegar, quatro milhões em patrimônio. A água da piscina
está limpa, num tom azulado refletindo o céu absolutamente limpo. Joaquim
aproxima-se da borda, abre os braços como se abrisse as asas. Sacudiu o corpo,
então abaixou-se bebeu um pouco da água. Andou pela borda da piscina, daí subiu
sobre a cerca e voou. Dizem que os urubus são agourentos. Eles não fazem mal a
ninguém.
Boa
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