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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

AVES DE MAU AGOURO

             Às nove horas da manhã ainda tem sombra na piscina, no quinto andar do hotel. Uma espécie de mezanino onde fica o bar, impede que os raios solares chegarem até a água que permanece morna, aquecida pelas muitas tardes de sol que antecederam esse dia em que Joaquim parece ter percebido aquele sentimento de extrema solidão. Alguém precisa filtrar essa água, pensou.

Por cima dos telhados vê a rua, lá embaixo, onde pessoas tristes andam em frente das lojas. Coloca os dedos polegar e indicador diante dos olhos para medir o tamanho dos transeuntes, três milímetros, calculou. Um carro estacionado mede um pouco mais, talvez meio centímetro. A loja, só o térreo, um centímetro. Ergue os olhos uns dois centímetros e encontra um prédio de apartamentos, há duas quadras de distância. Contou as janelas, doze andares, dois centímetros. Se pudesse ver as pessoas dentro dele, não teriam sequer um milímetro. Não significam nada!

Às nove e quinze chegou um moço vestindo uniforme de trabalho, disse bom dia, abriu uma tampa metálica num canto e desceu por uma escada de ferros fixos numa parede. Desapareceu por baixo do piso. Algum tempo depois subiu de volta. Roberto, disse e seguiu seu caminho desaparecendo numa porta atrás. Joaquim perguntou seu nome, mas não lhe pediu nada mais. Só o nome. Antes que desaparecesse pela porta, mediu-lhe a altura, oito centímetros. Este piso está sujo. Um urubu aterrissou próximo da piscina, bicou as penas das costas, abriu e fechou as asas, aproximou da borda e tomou da água. Andou um pouco sobre o piso sacudindo o corpo e arrepiando as penas, voou por cima do cercado e desapareceu.

Ruídos da cidade sobem até o quinto andar do hotel. Joaquim está em pé. Ao lado da piscina o esperavam quatro mesas, cada uma rodeada por quatro cadeira. Espreguiçadeiras, também quatro, se ofereciam ao seu descanso. Joaquim tem quatro filhos. Teve quatro casamentos. Acumulou quatro milhões em patrimônio. Roberto foi embora, desapareceu por detrás da porta. Não tem ninguém na piscina. Só um quadrado. O horizonte não pode ser visto, só os prédios ao redor do hotel, prédios de apartamentos, todos altos, doze andares, ou mais. Não se poder ver ninguém dentro deles. Assim, vazios, não tem nenhum valor. A cidade é muito barulhenta.

Pronto Seo Joaquim, os sanitários estão limpos e desinfetados! Roberto? Então ele estava ali? O tempo todo? Ele viu o urubu? Sim Seo Joaquim, eles sempre vêm. Dizem que são agourentos. Tomam da água da piscina e vão embora. Para a liberdade. Não fazem mal a ninguém. Roberto? Não estava mais ali, ninguém está, todos desapareceram. Pela porta? O barulho da cidade aumentou! O que querem as pessoas como todo esse barulho? Se é o meu dinheiro, podem pegar, quatro milhões em patrimônio. A água da piscina está limpa, num tom azulado refletindo o céu absolutamente limpo. Joaquim aproxima-se da borda, abre os braços como se abrisse as asas. Sacudiu o corpo, então abaixou-se bebeu um pouco da água. Andou pela borda da piscina, daí subiu sobre a cerca e voou. Dizem que os urubus são agourentos. Eles não fazem mal a ninguém.

Um comentário:

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...