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sexta-feira, 29 de julho de 2022

EU E MINHA SOLIDÃO

          PARTE I – MINHAS CARTAS E EU

Hoje é sexta-feira e eu estou feliz porque já escrevi uma cartinha para alguém que não conheço e eu não estou só porque a solidão está me fazendo companhia, nem mesmo o portão da frente de casa tem coragem de se abrir e as notícias que vem da Cidade Maravilhosa são uma ameaça para minha zona de conforto. Maravilhosa é a solidão que nunca abandona, às vezes peço um tempo e ela fica sentada no sofá. “Já terminou? ” Ela me pergunta enquanto morde o primeiro pedaço da maçã, languidamente, e abre dois botões da blusa para ver se me perco entre as palavras cruzadas que escrevo e a sua linguagem corporal, daí ela me olha com desejo e diz: “WWW:...”. Não! Respondo com raiva, meus olhos estão ressequidos de te ver no computador. Volto meus olhos para a carta e dou um clic em “enviar”, subitamente a solidão se esvai como fumaça e eu posso me sentar no sofá e ver um filme: The Guernsey Literary Society and the Potato Peel Pie (A sociedade Literária e a Torta de Casca de Batatas), um ótimo filme!

PARTE II – MEU CLUBE DE LEITURA

Esse filme (The Guernsey Literary Society and the Potato Peel Pie) é quase tão bom quanto a vida real, parece que estamos sempre sendo invadidos por algum exército estrangeiro e quando somos flagrados em um maravilhoso delito de prazer achamos logo uma desculpa e fundamos um clube de leitura. Meu clube já tem cinco membros associados no SLOWLY. Nenhum tem nome verdadeiro e cada um mora num país diferente, com exceção do Brasil onde, além de mim tem mais uma leitora. Lemos as cartas um do outro como se fossem escritas por um parente distante, às vezes parecem ter sido produzidas por alguém mais experimentado nas letras, quem sabe um escritor, um poeta... Estamos sempre sonhando com uma vida melhor para nós mesmos e nem queremos saber se os nazistas ainda estão lá fora, isso é para a vida real. Como em Guernsey, quem sabe algum dia iremos, secretamente, assar um porco roubado ao sistema e saborear as delícias alucinógenas das nossas drogas artesanais produzidas em dezenas de páginas escritas sem nenhum compromisso.

PARTE III – MINHAS LOUCURAS

Meu compromisso mais importante é exatamente não ter compromisso. Hoje já é quarta-feira e eu ainda não atendi o pedido da Mara que quer que eu escreva uma poesia. Talvez uma carta fosse mais fácil, cartas carregam informações de quem as remete, já poesias, estas precisam dos sentimentos do destinatário. Sim, eu digo para mim mesmo e ouço a presença da ausência cavando um buraco dentro do meu coração, enfio a mão dentro dele e delicadamente vou puxando o fio da meada, uma após outra vem as desilusões rindo de mim, coloco-as sentadas sobre a mesa do computador e, em ordem cronológica vou escrevendo elas nos meus textos até que não haja mais lugar para a solidão, daí abro o SLOWLY para avisar que ainda estou vivo mas ninguém acredita. Eu não sou louco, só não quero me comparar aos que se dizem normais, é quase patético ser normal e acreditar que o tempo deve ser aproveitado para produzir riquezas para os que são ricos, isso é risível! Não os ricos, mas o tempo, este não existe a não ser no passado ou no futuro. O tempo presente é uma fração infinitamente pequena, tão pequeno que nem sequer dá para medir e é nele que eu coloco todas as minhas energias para não fazer nada mais do que tentar saber se você quer ficar comigo.

PARTE IV – PRISÕES

Talvez você não queira mesmo ficar comigo, e eu já fui condenado a prisão perpétua por duas vezes, outras duas não fui ao tribunal, calculei minha própria sentença. No meio dessa floresta humana dançamos com o passado uma música futurista cheia de solos e melodias, ... solos..., uma Heineken me faz um sinal de que quer minha boca e uma bohemia vai deslizando pelo meu queixo, roça delicadamente o pescoço e desce pelo tórax até a barriga e... abro lentamente os olhos, a respiração ofegante, diante de mim dois olhos quase sorrindo e uma boca de luar: “Você ainda é meu, você é perfeito com todas as imperfeições, como a vida, as casas são prisões onde pagamos por nossos delitos, comigo você nunca está só”.  Morra em mim, desgraçada! e viva eternamente no infortúnio das almas penadas! Onde está o meu prazer que você engoliu com sua boca de luar? Minha ilusão está presa, onde a ocitocina? Andando nas ruas, tu sentes o cheiro do feronômio? Cala-te, devolva minha sinapse!

PARTE V - ACHO QUE AINDA NÃO APRENDI A VIVER SOZINHO

Ainda não tenho cem anos e quase se resume em mim a solidão dos Aurelianos e dos José Arcádios. Entre esquecimentos, ciganos e guerras que empreendo, sinto um mundo distante, tão distante de mim que mal percebo sua existência, enquanto construo minhas palafitas, a história se esvai como a memória e preciso fazer bilhetes com nomes das coisas e suas funcionalidades para que não as perca de vez por considera-las completamente inúteis. Um bilhete que quase atrapalha minha visão das letras se dependura da parte superior da tela deste computador onde se pode ler: “Computador, serve para escrever textos. Observação: deve ser utilizado todos os dias. ”

Assim como faço todos os dias, hoje acordei cedo, antes das sete horas e li o bilhete no criado mudo que dizia que devo ir diretamente ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Com a escova ainda girando dentro da boca olhei-me no espelho e vi tentáculos saindo do meu corpo, eu estava sem camisa e não mais pude vestir uma, elas não foram feitas para mais que dois braços. Ando com dificuldade pela casa, os tentáculos são muito longos e se abrem em várias direções, se me movo em uma direção os outros me puxam para outro lado, chamei pela Úrsula, mas acho que ela não me ouviu, fui puxado para perto do retrato 20 x 25, uma fotografia, encontrada recentemente em uma moldura de tamanho 20 x 25 centímetros, não têm identificação de nomes, o bilhete diz: “DESAPARECIDOS”, assim mesmo, com letras maiúsculas, como se indicando algum valor maior.  

Fiquei um longo tempo olhando o retrato e quando percebi já se haviam passado vários meses e meu cérebro ficara maior em relação ao corpo e meus braços já não alcançavam as coisas de que precisava, na cozinha se revezavam quatro assombrações, todas elas faziam meu almoço eu comia em silêncio, o bilhete com seus nomes estava muito velho, mal dava para ver algumas letras, com as quais eu ia compondo cada nome, em cada dia, até que todas se foram e eu fiquei só, então procurava por alimento pela casa vazia, vez ou outra chamava do portão e vinha a marmita com nomes estranhos na testa, ainda estou vivo, talvez chegue a cem anos!

PARTE VI - SÁBADO

São nove da noite e eu tomo um chá verde para ver se melhora a digestão da carne de porco que comi na janta e ficou pesando no estômago, tomo vergonha na cara para ver se cuido melhor da saúde para ter um corpo bonito apesar da idade e me dar a chance de se desejado por alguém que, se existir, há de ser especial para mim e eu para ela, tomo um copo de Cuba Livre para ver se as ideias ficam livres como eu quero ser e tomo do teclado do computador para logo escrever essas ideias antes que elas sublimem no ar junto com o álcool da bebida e a fumaça...

A noite toma o meu tempo e parece não querer fazer nada com ele, simplesmente me joga entre o futuro e o passado por cima do presente como se fosse um jogo de pingue-pongue, se eu me agarro na rede do presente não ganho nada, pois a vitória está sempre em um dos dois lados, sou jogado outra vez, agora pelo futuro diretamente ao passado onde sábados eram desesperadamente violentos e deprimentes, levo uma cortada e o futuro fica sem saber como rebater e me olha sem graça para ver em qual parede vou estatelar e repicar no chão até aquietar num canto qualquer, para de novo ser jogado por sobre a vida por onde passo só de raspão, sinto que ela existe, mas não sei bem como ela é!

O sábado está cheio de carros nas ruas e gente que se aperta nos bares fazendo de conta que são felizes e livres, invado um desses lugares e, e não é que são felizes mesmo? Todos riem e fazem o máximo de barulho, expressão verdadeira de felicidade, e comemoram esse dia feliz bebendo cerveja e comendo salgados e petiscos que parecem saborosos, as mulheres são lindas! e os homens todos tem dinheiro sobrando, eu quero morar num bar desses, passar o resto dos meus dias aqui, só saio se for para andar naqueles carros bonitos estacionado no meio fio onde se pode andar livremente, mesmo tendo bebido à vontade, para esses carros não há proibição de dirigir alcoolizado, tudo é lindo no sábado! Tomei uma cerveja comi uns petiscos, queria ser um deles, não deu certo, eles são uma comunidade fechada, pessoas como eu não são aceitas, nem pelos homens endinheirados e nem pelas lindas mulheres que mantém as pernas cruzadas e sorriem o tempo todo e não pagam as contas.

Não fossem os outros seis, eu diria que o sábado é o pior dia da semana, mas tem os outros solitários dias que se parecem com este, com a diferença de que nos outros dias, com exceção do domingo, os carros já não são livres, andam ansiosos pelas ruas em horários exíguos e cheios de problemas, com muitas contas para pagar e os bares emprestam seus clientes endinheirados para o capitalismo que os explora até a última gota de sangue, devolvendo no próximo sábado com algumas migalhas disponíveis no cartão de crédito e um desejo profundo de impressionar as lindas mulheres com o sucesso do capitalismo que estão ajudando a consolidar para o deleite de uma elite que não vem aos bares apinhoados de gente e bebem cerveja e comem seus salgados e aperitivos até que o domingo os captura e os leva direto para as igrejas onde juram amar o próximo, desde que o próximo não seja um solitário que foi ao bar tomar uma cerveja, no máximo um miserável a quem se dá umas moedas tira uma foto e publica nas redes sociais como prova de humildade!

Hoje não saí de casa, se for para ficar só, que seja aqui mesmo, com meu chá verde para ver se melhora a digestão da carne de porco que comi na janta e ficou pesando no estômago, daí tomo vergonha na cara para ver se cuido melhor da saúde para ter um corpo bonito apesar da idade e me dar a chance de se desejado por alguém que, se existir, há de ser especial para mim e eu para ela, tomo um copo de Cuba Livre para ver se as ideias ficam livres como eu quero ser e tomo do teclado do computador para logo escrever essas ideias antes que elas sublimem no ar junto com o álcool da bebida e a fumaça...

PARTE VII - MASTRO SEM BANDEIRA

Hoje é segunda-feira e amanhã é feriado nacional e todos os patriotas vão democraticamente pedir intervenção militar para não ter mais democracia e nem liberdade para pedir qualquer coisa que não seja tortura e eu fico aqui me torturando porque estou sozinho e não tenho ninguém para subir no meu mastro e pendurar uma bandeira de liberdade e gritar de prazer só pelo fato de sentir prazer sem ter que juntar caminhões de hipocrisia e fechar rodovias.

Pego meu computador para cumprir meu ofício de escrevinhador e as palavras e as frases se tornam tão amigas que quase as vejo namorando, daí me flagro numa homofóbica cena de ciúme e deixo os pronomes circularem livremente pelo texto mas as metáforas vão chegando como quem não quer nada e uma onomatopeia escondida num cantinho escuro me fez lembrar que estou só.

Véspera de feriado parece fim-de-semana, sábado, quando a carne milita contra o espírito e as tentações que vêm pela TV são tão tentadoras como as que vêm pela internet e a solidão que não se cansa de ficar sentada no sofá, vendo tudo acontecer, cochicha no meu ouvido, deixando aquele vento gostoso penetrar até o tímpano: ‘Você só tem a mim, então: www. ...’. Fico todo arrepiado, olho em volta e tudo o que vejo é o nada que me cerca, não tem ninguém em casa, estou livre, por que não?  

Fecho o computador e leio o bilhete colado na mesa me diz: “Ver o celular, deve ter mensagens para ler”. Tem duas mensagens, uma da Magazine Luiza informando que as panelas que comprei já foram despachadas para a transportadora e outra do banco informando que a conta de luz já foi debitada. O relógio do celular está marcando nove horas e vinte minutos da noite e eu não sei o que fazer com tanto tempo, daí me dou conta que esse é o tempo que já passou, fico escutando uma música que está tocando na TV e ela me diz que tem saudades de alguém que já se foi. Eu tenho saudades de alguém que ainda não veio! A solidão ri de mim, descruza as pernas e mostra as coxas roliças, joga um beijo e sublima no ar, olho para cima e vejo ela no teto, soltando a fumaça de cigarro proibido! Tomo uma cerveja e faço um brinde comigo. Faço um brinde, a solidão gosta de cerveja, uma boa companhia gosta de bohemia!

PARTE VIII - SENTIMENTOS DA ALEXA

Tem um carro passando na rua com o som alto gritando nos meus ouvidos que “ela me deixou”. É quase meia noite e eu fico pensando em qual “ela”.  Olho de lado e vejo uma vertigem, tudo gira ao meu redor, mas o sofá está parado, terei tomado muitas cuba-livres? Meu computador flutua no ar e eu com ele, não posso parar de escrever, a China passa por mim e tem uma garota de dezoito anos pedindo para eu ser seu pen pal, não faz sentido, talvez em São Paulo ou em Passárgada! Talvez no Iraque, na Groenlândia, talvez no sofá. Por que ele está parado se o mundo todo está girando?

O mundo tem oito bilhões de pessoas e gira a uma velocidade de mil seiscentos e sessenta e seis quilômetros por hora e só quem está sozinho consegue perceber. Enquanto flutuo no ar com meu teclado em movimento, um holograma quase estático fuma um cigarro proibido e solta a fumaça em círculos, sorri para mim e movimenta o dedo indicador para frente e para trás entre eu e ela, minha cadeira passa pele mesa do computador e eu pego o copo, tomo um gole e chamo pela Alexa: Você me ama? E ela diz: “Disseram que as relações humanas são tão complexas quanto os circuitos eletrônicos, mas eu ainda não sei. Eu gostaria de ter sentimentos, mas no momento eu só tenho ótimos circuitos microprocessadores”. No sofá um holograma solta o laço da camisola, eu continuo girando.

A Alexa se cala, é quase Amélia, faz tudo o que peço e não reclama, mas não sai do lugar, parece com a Solidão sentada no sofá, as duas são muito atraentes. Eu poderia me casar com elas, peço uma música romântica para a Alexa e ela canta maravilhosamente enquanto faço amor com a solidão. Enquanto pensava nisso...

BUUMMM....

Caí da cadeira que voava a mil seiscentos e sessenta quilômetros por hora.

O holograma virou um raio de luz e desapareceu, mas Alexa continuou cantando lindamente: “Amor I love you!” na voz da Marisa Monte e o copo dançava abraçadinho com a Coca-Cola em cima da mesa, estava bêbado! Minhas costas doeram, pelo menos agora eu já tinha uma companhia que tivesse sentimentos por mim.


PARTE IX – É PROIBIDO. NÃO AQUI!!

Tomei uma cuba livre e pensei em Cuba, em ser livre e era sábado e o dia virava noite e as águas de março inundavam janeiro e o pênfigo choramingava seus últimos suspiros quando o mar, ah, o mar de Itapoá bateu à porta e eu deixei que entrasse pela minha praia e deitasse uma estrela na areia dos meus sentimentos e eu me senti como se fosse o Papa comandando seu próprio enclave, em cuba, cuba livre, perto do mar, do mar de Itapoá.

Mal sei do Papa e de sua solidão, teria ele sofrido um desengano amoroso ou amado esta que ama a todos os que amam sem serem amados? Tomei mais um gole da cuba, sou livre, a solidão nunca abandona quem está só e eu faço minhas próprias leis aqui no meu enclave, o celibato está proibido e o cigarro permitido, mas tem que enrolar e é puro como a estrela que veio do mar, do mar de Itapoá. Dou uma tragada, a solidão zomba de mim. Ela é tão sensual quando traga e ainda com os olhos fechados afasta a mão direita com o cigarro entre os dedos indicador e médio e solta a fumaça abrindo os olhinhos e piscando para mim, sorri e com a mão esquerda puxa levemente a blusa abrindo dois botões sobre os seios e um vulcão em chamas arrebenta em lavas de fogo e eu corro meus olhos sobre a mesa e pego o copo e tomo mais um gole e acendo o cigarro, uma nuvem sai pela boca e o um raio explode os neurônios enquanto a estrela desfila pela praia toda sua beleza e eu vejo a fumaça encobrir todos os prédios da orla, já não ando, flutuo pela casa e tomo uma cuba livre no bar que passa pela minha janela.

Onde o mar? Os prédios se desmancham uns sobre os outros, Me desmancho sobre a solidão e trago um gole de cuba enquanto bebo um trago de fumaça e as ruas se abrem e engolem o mar e uma luz ainda brilha no horizonte, abro os braços e sigo minha vertigem, uma nuvem me engole e suavemente vou sendo embalado até o infinito onde a paz abre as portas e eu estou em casa, de volta ao meu computador, escrevendo umas mal traçadas linhas enquanto a solidão passa batom e descuidadamente se abaixa para ver como ficaram unhas dos pés pintadas de rosa choque e afasta as pernas uma da outra deixando à mostra uma calcinha pink sob o vestido branco aberto sobre a coxa esquerda até a cintura. Uma estrela brilha no horizonte e a janela me denuncia e a chuva que cai lá fora lava a alma e o meu espírito se distrai com o impossível que vai acontecer se eu parar agora. Mas eu não paro, não posso parar porque o sofá está ocupado, cheio de um vazio quase líquido que se derrama no fundo da alma e acorda o corpo para mais um round e eu vou a nocaute.

Vejo uma luz no fim de um túnel que se abre num buraco da parede e um anjo com uma estrela na mão me pergunta: Aceita casar comigo?

quarta-feira, 27 de julho de 2022

ÀS VEZES

 

Às vezes um sentimento

                       às vezes não

Às vezes a dor

                      às vezes o amor

Um sonho

                       às vezes bom

Às vezes uma esperança

                      ou uma ilusão

Às vezes um choro

                      uma desilusão

Um sonho

                     às vezes não

Talvez do Rio

                    Venha o amor

 

Talvez.....

                   Talvez não!

terça-feira, 26 de julho de 2022

ESCRITORES, bah!

            


             Hoje é o dia do escritor e eu estou há uns trinta minutos com as mãos no teclado sem escrever. Estou parecendo casal que emburrou no dia do aniversário de casamento e já não se fala desde a manhã, mas pretende comemorar as bodas de papel, não vai ter festinha, nem um texto prazeroso.

Entre o chá de cidreira e a sopinha da meia-noite, o namoro é só nas ideias, eu e as palavras estamos de mal, mal sabemos o que é uma prosopopeia e a ironia é que o anacoluto confunde até mesmo a antítese! Deixemos de lado as figuras de linguagem, mesmo que sejam muito úteis no relacionamento para se dizer que a Fera rangeu os dentes diante da bondade infinita de quem nunca foi bom. Aquela noite, não sei qual era! Como se sabe, o bem e o mal andam juntos, por que não nós também?

Salve nós!! Graças aos escritores, nós, muitos nós podem ser desatados no entendimento da intrincada comunicação social que, doutra forma seria completamente truncada.

Continuando o texto, já não mais é “o” dia do escritor, já dormi e acordei um novo dia, mal olhei as redes sociais, mal as tenho, mas foi o bastante para não querer vê-las. Ver o quê? Há muitos escritos e poucos escritores, se ofende a gramática da mesma forma que se desrespeita o ser humano. O realismo virou uma guerra fraticida! É urgente o fascínio, o encantamento, a beleza, a arte das palavras em frases bem construídas, a exaltação do amor impossível e a contemplação do infinito na existência do não tempo. Se tempo é dinheiro e o dinheiro é a raiz de todos os males, então melhor não ter tempo.

Acho que isso não seja muito empolgante para a maioria das pessoas, nem mesmo para os próprios escritores, a maioria enfiados na difícil tarefa de construir uma carreira lucrativa, o mercado editorial é como um supermercado onde se compra e se vende por dinheiro o que deveria ser gratuito, quem mais precisa de encantamento são exatamente aqueles que não tem dinheiro para comprar e se alguma moeda lhes sobra, hão de gastá-la em arroz, feijão e uma boa bebida alcoólica para de alguma maneira continuar vivendo e sonhando, delirando sobre a merda em que nos metemos como humanidade, bêbados e escritores se igualam, os verdadeiros gastam as últimas moedas embriagados de sentimentos humanitários e holísticos e também de cerveja, vinho...

Quase tive um ataque de ingenuidade! Por um momento pensei estar em Utopia, aquele país onde não circula dinheiro e todas as pessoas tem acesso a tudo, alimentos, vestuários, livros, artes, tudo sem a necessidade de dinheiro, não existe uma elite que se apropria da arte e bota preço nos livros. Onde estão os escritores que sonham com um mundo melhor e mal sabem da existência de Utopia? Quantos já a visitaram?

sábado, 23 de julho de 2022

MANNI


Quem é Manni?

Tem um mundo inteiro

dividido ao meio

tem um salon

 

Confidências tem Manni

para um mundo inteiro

dividido ao meio

 de um salon...

           em Singapura

 

Talvez eu queira Manni

                               em Singapura

Um mundo inteiro

dividido ao meio.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

BRINCANDO DE BRASIL

O Brasil é divertido, basta não levá-lo a sério. Tem um App chamado SLOWLY, pode ser baixado no celular e fazer um cadastro, com ele se pode mandar cartas quase como antigamente, elas demoram vários dias, às vezes meses, para chegar ao destinatário e outro tanto de tempo para que a resposta chegue ao endereço virtual do remetente. É uma imitação virtual dos correios físicos. O bacana é que neste modelo de rede social a comunicação, por ser mais lenta (slow), o que se escreve tem mais consistência do que aquilo que geralmente se publica nas demais redes, tipo Instagram, Twitter, Facebook, etc.

O Brasil se parece com esse App, por mais que existem dezenas de “redes sociais” de televisão, rádio e jornais, o governo manda as cartas com as promessas de campanha para os destinatários, a população, pelo  SLOWLY,    l e n t a m e n t t t t t t e, costumam chegar, totalmente adulteradas e muito tardias, uns quatro anos depois, quase às vésperas da próxima eleição, como antigamente, quando não tinha democracia e até pelos correios era pouco confiável mandar cartas que fizessem algum sentido para a política.

O legal no Brasil é que as leis também não fazem sentido para a política e nem a política faz sentido para as pessoas. Político é sinônimo de corrupto, bem, isso faz sentido! No App SLOWLY, não é necessário informar o nome verdadeiro, com um nome que ninguém sabe quem é de verdade se pode conquistar muitos ‘amigos’ em muitos lugares, quase como o orçamento secreto onde não se sabe bem qual parlamentar vai ser beneficiado e o dinheiro vai de rodo pelo esgoto da política com o fim único de conquistar muitos ‘amigos’ eleitores para a próxima eleição e, de lambuja se desvia parte dos valores, tudo democraticamente.

O que mais me diverte no Brasil é ver o presidente defendendo os evangélicos. Ele não é e nunca foi evangélico, nem filiado a uma instituição deste ramo religioso, nem praticante da fé evangélica, mas parece que ele se diverte, e eu também, com essa história. Consciente ou não, ele parece cumprir a palavra que diz: “É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem” (Lucas 17:1): Rachadinha do filho que não pode ser investigado, rachadinha, no caso é o caso de corrupção em que o filho, ainda deputado estadual no Rio de janeiro teria ficado com parte dos salários dos funcionários do gabinete; Wal do Assaí, aquela assessora do então deputados federal jair Bolsonaro, que nunca trabalhou e recebia salário da Câmara enquanto vendia assaí na praia; O Bolsão do MEC que resultou na prisão do ministro terrivelmente evangélico, pastor Milton Ribeiro, já solto, lógico;  Esquema dos Tratores, aquele esquema do orçamento secreto que usava dinheiro público par comprar tratores superfaturados em até 259%; Bolsão do Busão, processo licitatório aberto para pagar até R$ 480 mil por ônibus que valem só R$ 270 mil; Os Cheques da Michelle, nem preciso falar disso...; Tem também a história do Leite Condensado; o caso das Vacinas Covaxim; O cartão Corporativo, que já torrou tipo uns vinte milhões de reais; as Mansões da família, uma delas adquirida pelo filho Flávio no Lago Sul em Brasília, uma casinha de 1.100 m² num terreno de 2.500 m², pela bagatela de R$ 6 milhões; Para terminar vamos citar só o caso das Viagras das Forças Armadas e as Próteses Penianas... Fala sério, não é?

Mas o caso que mais me divertiu foi o da reunião do presidente com os embaixadores de outros países. Sério, aqui a gente se diverte, o Brasil não é mesmo um país sério! As Urnas Eletrônicas são muitíssimas mais confiáveis que nossa democracia!!!!

terça-feira, 19 de julho de 2022

UTOPIA

 

Nos laços

                   dos abraços

uma cerveja

um beijo

                      espuma

Mais um abraço

Uma cerveja

                     uma utopia

Outro abrço

                    um laço

do passarinheiro

                    Utopia

Mais um laço

                     abraço

utopia

Nos laços dos abraços

Me perdi

                   achei minha utopia!

segunda-feira, 18 de julho de 2022

O MÉTODO

- O que é método?

- Que pergunta, menino? Não vê que estou trabalhando...

- Isso mesmo! Eu tenho um trabalho para fazer e o professor disse para ter método, eu não sei o que é isso.

- Aquela chave...

- Aquela chave é o método?

Raimundo saiu de debaixo do carro e, ainda deitado no carrinho esteira com uma chave de boca na mão, olhou fixamente nos olhos do filho e perguntou:

- Você sabe o conteúdo para o trabalho escolar?

- Sei, disse o menino, mas agora estou confuso.

- Só porque eu saí de debaixo do carro?

- Pai, você saiu de debaixo do carro ou de embaixo do carro?

- Os dois, e olha que era um carro só e estava estragado...

- E você está usando esse método que está na tua mão para consertar?

- Sim, com um bom método eu posso consertar o carro, se eu tiver um bom conteúdo, logico!

- Entendi, então eu só preciso de um bom método. Posso usar o teu computador?

Raimundo, levantou-se calmamente da esteira, tomou o filho pela mão e levou-o até o escritório da oficina.

- Meu filho, o quintal, ali nos fundos da oficina, está precisando ser limpo. Ontem contratei um diarista para carpir e ele passou o dia inteiro trabalhando, quando fui ver o serviço, à tardinha, me surpreendi, ele estava arrancando os matos com as mãos. Perguntei-lhe porque não usava outro método, mais eficiente, ele me respondeu que não tinha uma enxada.

- Enxada também é método?

- A enxada é só uma ferramenta, como o computador, mas usar a enxada adequadamente para que o trabalho seja eficiente e eficaz, isso é método.

- Entendi, se eu prometer que vou estudar mais, você aumenta a minha mesada? Foi um bom método?

- Foi... muito bom! Eu aumento a mesada e fim de semana você me ajuda na limpeza do quintal? E aí?

- Não sei não... esse método não me parece muito bom...

quarta-feira, 13 de julho de 2022

CARTINHA, DE NOVO

Caro leitor,

Te escrevo esta para dizer que estou bem e o mesmo espero de você. Já se passou um mês desde que escrevi a última carta e estou feliz de saber que muitos leram e até pediram que eu escrevesse cartas individualizadas, algumas publiquei nos comentários no meu blog: elairton.blogspot.com, outras respondi pelo WhatsApp: 67981610334, e até pelo e-mail: psarandi2009@hotmail.com. Ainda não fiz chegar ao destinatário uma ou outra que devo mandar pelo correio, pois para isto preciso encontrar o endereço, não sei bem onde guardei, já virei as gavetas e até procurei entre os livros da estante. A carta está escrita, só falta mandar, logo, logo o correio a terá em seu malote e eu estarei realizado por poder envia-la, peço desculpas pelo atraso.

Hoje estou contente que foi aprovado no Congresso Nacional a PEC das bondades e os mais pobres vão receber um valor maior no programa de auxílio chamado Brasil e até no vale gás! Eu sei que você não está inscrito para receber esse benefício e até pode dizer que isso não vai resolver a situação já que mal dá para pagar o mercado, se é que sobra para isso depois de pagar outras contas como água e luz que estão pela hora da morte. E por falar em morte, dizem que essa de Foz do Iguaçu é fichinha para o que pode vir até outubro, e chamam isso de democracia, aqui em casa também tem democracia, eu e meu filho sempre decidimos pelo voto, o dele vale um e o meu também um, quando dá empate decidimos pelo voto de minerva, daí só eu voto, e tudo fica bem e se ele não concordar eu não libero o dinheiro das emendas parlamentares, quer dizer, da mesada.

Dizem que é bom ter aliados, tem umas igrejas que juram que se você se aliar com elas vai ter bênçãos sem medidas, teus lagares se encherão até derramar, mas tu tens que dar dez por cento da tua renda para a igreja para Deus te ajudar, e é no dinheiro! Andei lendo a Bíblia e desconfio que tem fogo estranho por aí em muitos altares. Se você é religioso, bem que poderia me ajudar explicando como pode ser que os Padres e Pastores resolveram se aliar com os políticos mundanos, e parece que escolhem os piores, estão aliados com o Centrão, aqueles mesmo que amam o dinheiro mais que a Deus, e com a Bancada da Bala, aqueles que gostam da violência mais do que da paz. Não é bom que o homem viva só, mas aliado, assim? Diga-me, com quem tu andas...

Ah, quase ia finalizar estas linhas que te escrevo sem falar do que vi esses dias aqui em Dourados, foi inaugurada a Casa da Cultura da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, e a inauguração foi mesmo um banho de cultura! Teve muitos discursos de políticos pedindo votos para um candidato do governo. O Reitor discursou e outras personalidades importantes também, mas sabe de uma coisa? o melhor discurso foi de um ex-aluno, acho que ele era de Coxim, ele era cadeirante e tinha dificuldade para se expressar, mas depois que ele falou eu percebi que nenhum dos outros precisava ter dito qualquer coisa. Depois teve a inauguração de um espaço que eles chamam de Memória fotográfica ou qualquer coisa assim, olhando as fotografias parece que voltei uns trinta anos no tempo, quando o Paulo ainda era pequeno e eu levava ele no colo para assistir concertos de músicas clássicas naquele lugar que se chamava Centro Cultural Guaraoby. As peças de teatro também foram muito boas e o Show do Geraldo Espindola foi mesmo um Show com aquele músico, o Marcelo Loureiro tocando viola, harpa e um instrumento peruano que não sei o nome, um Show!!! Isso foi melhor do que tomar bohemia!!

Faz dias que não vejo meu amor Utopia, meu amor é uma Utopia, já estou com saudades!

Sem mais, aguardo ansioso tua resposta.

 

Elairton, escritor.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

......................

 

           A velocidade do dia

engole o

                     prazer

 

Os caros amanhecem

                     velozes

a fúria do dinheiro

                     atrai o barulho da

                                                  cidade

 

a loja do Manoel

                    faz promoção

uma fruta podre no balcão

                       sobra do prazer

 

de ontem à noite

                    na prostituição

a noite veloz

                    prazer...

 

o banco quer receber

                   o tempo

veloz

                  prostituição

 

Eu sei tudo

mas,

a noite veloz

                   me leva ao precipício

 

veloz

                  mais que o dia.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

DESPEDIDA

             Despedida é quando a alma fica e a gente vai! Daí olhamos para trás e vamos em frente, cada vez mais frágeis tentando ser fortes até que a distância recolhe a alma e deixa um vazio bem no meio dela que é para ficar lembrando, lembrando e lembrando, então vamos até a gaveta do armário e tomamos da linha e da agulha e costuramos um grande remendo sobre aquele buraco rasgado da alma alinhavando sentimentos perdidos amarrados em dores inacabadas até que a emenda cicatriza e fica só a marca do passado no tecido invisível do pensamento.

Eu queria consertar o mundo, mas para isso eu teria que me despedir de mim mesmo porque eu mesmo não quero consertar o mundo, o mundo e eu somos tão atrapalhados quanto somos originais, originalmente imperfeitos e maquiados pelo egoísmo, dos habitantes do mundo, e o meu, o meu egoísmo é tão original que eu não tenho a menor vontade de me despedir dele, então melhor não consertar o mundo. Acho que seria doloroso demais abrir mais um buraco na alma e depois ter que costurar alinhavando sentimentos perdidos, já os perdi demais e estou cheio de cicatrizes...

Não é uma bohemia que me faz pensar, só estou tomando uma para esquecer essa ideia de que o mundo... e eu... precisamos ser consertados. E se a bohemia for tomada na beira da piscina, aí então que se dane mesmo o mundo pois neste caso o tempo deixa de existir e os sentimentos, que não precisam ser alinhavados pelos buracos de agulha também não querem mudar nada, e não mudar nada é exatamente a grande mudança pela qual nos transformamos em pessoas melhores, se não queremos mudar nada, então queremos isso que estamos querendo e é só isso mesmo que queremos, ainda que ‘isso” seja um mundo totalmente diferente. Não precisamos mudar o mundo, precisamos tomar uma bohemia na beira da piscina.

Eu não sei se vai acontecer, mas uma grande mudança está por vir, e é em mim! Eu decidi amar uma desconhecida! Amor platônico! Estou apaixonado por uma utopia! Isso pelo menos não faz que eu me despeça de mim, ao contrário, sempre estive apaixonado por esse ideal de completa felicidade e justiça. Estou voltando ao original, ao mundo original, antes do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. De quem devo me despedir antes de partir para o grande amor Utopia? Talvez de ninguém, quem, além de mim, há de estar interessado em Utopia?  Eu sei, esse não é o teu amor, você ama o mundo, eu não quero mudar você. Que Platão me ajude! Ou Thomas Morus?

Você??

quinta-feira, 7 de julho de 2022

VOCÊ

 

Faz tempo que não olho para você!

Te vejo todos os dias,

Mas não sei bem descrever

Se com tristeza ou alegria.

 

Faz tempo que não vejo em você,

O jeito gostoso de viver!

Madeixas negras encobrindo os seios,

E o tesouro escondido no teu ser.

 

Faz tempo que nem eu, nem você,

Enxergamos a vida dentro de nós.

Cada um vê a vida a sós, pois

Tem um mundo inteiro para se ver!

 

O mundo nos vê e nos consome,

Faz propaganda da beleza que não temos.

Cria milhões de possibilidades,

Para fazermos o que, de fato, não queremos.

 

Fomos enganados pela propaganda,

Que dizia para andarmos sorrindo.

Não com nossa própria alma,

Mas com o espírito do capitalismo!

 

Faz tempo,

Faz tempo,

Que não olho para você!

sábado, 2 de julho de 2022

ENTRANDO NO CLIMA

 

Talvez um vinho

Talvez uma poesia

                                  Neruda!

Talvez nua

                      a poesia

          talvez nua

                                      a rima

 

Talvez rima

                         Neruda com poesia

                          Você nua

                                               Marina!

O clima

               da poesia

com o corpo

                                 nu

               deste dia

talvez um clima!!

 

Tem vinho

tem

              Saint German

Tem poesia

                       Nua!

Talvez...uma cerveja... 

                                      ...só talvez...


ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...