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sexta-feira, 25 de março de 2022

A MARCA DA BESTA

 


                                      (Nero Cesar em hebraico – Foto BBC)

Depois do meu último texto falando do JAYDIN DO EDENN, lembrando do Paraíso descrito no primeiro livro da Bíblia, agora volto meus pensamentos para o último livro bíblico onde tem uma passagem que muitos crentes tentam, sem sucesso, desvendar, está no livro de Apocalipse, especificamente entre os versículos 15 e 18 do capítulo 13. Andei lendo esse livro e não está fácil compreender o conteúdo, aí fui perguntar para o google. Quando escrevi “o número da besta”, em menos de 1 segundo me deu 5.730.000 resultados, ou seja, é um assunto de muitíssimo interesse.

Não vou interpretar e nem explicar o Apocalipse, mas que a guerra na Ucrânia parece um pouco com o armagedom, ah, parece! Ainda que originalmente a referência bíblica seja a Colina de Megido (Her Megido), que hoje fica em Israel. Quando o livro do Apocalipse foi escrito, por João, o Monte Megido era um campo de batalha sangrento que abrigava uma das legiões mais cruéis de Roma contra os cristãos. Aí eu começo a pensar que a guerra da Rússia não é bem o apocalipse. Ali parece mais uma dessas guerras com interesses absolutamente comerciais.

Já vi crentes, e não são poucos, achando que o Putim é a besta lutando contra o ocidente cristão. Uma coisa é certa, o Putim é uma besta mesmo, tem um histórico horroroso na inteligência russa e governa como se fosse o Imperador de Roma. Segundo a BBC NEWS Brasil, o número da besta poderia ser o nome de Nero. Pelo símbolo de cada uma das letras e sua equivalência numérica, o nome do imperador, Nero Cesar, seria o número 666,  (https://www.bbc.com/portuguese/geral-36480815). A loja Magazine Luiza viu uma oportunidade de negócios e vende o livro: Armagedon – A Batalha Final por R$ 37,00! (https://m.magazineluiza.com.br › Livros › Religião). Quanto ao Putin, o nome não chega nem perto do número 666, se é que tem alguma equivalência matemática.

Mas, a guerra na Ucrânia parece estar recriando a ideia de que o santo do trono de Israel mora mesmo nos Estados Unidos da América! Em viagem pela Europa, Biden clama ao mundo pela união contra o anjo da morte. Até pouquíssimo tempo, o Rei da América, o Trump, adorado por muitos crentes brasileiros, era amicíssimo do Putin.

Não importa quem seja o presidente nos Estados Unidos, o fato de eles controlarem o modelo capitalista, os faz admirados. E o discurso é o mesmo: fazer guerra para promover a paz e a democracia. Com isso já invadiram Vietnam, Iraque, Afeganistão, Iêmen, Ilha de Granada, Kuwait, e muitos outros países. Se vocês querem uma besta para decifrar, os Estados Unidos estão bem aí. Sejam felizes!


domingo, 20 de março de 2022

O JARDIM DO ÉDEN

             O Jardim do Éden bíblico estaria localizado entre os rios Tigre e Eufrates, mais ou menos numa região onde atualmente se localiza o Iraque e o Kuwait. O jornal britânico Daily Express publicou matéria de pesquisadores da Universidade de Colônia que afirmam ter encontrado fortes evidências de que o Jardim do Éden tenha existido no topo de uma colina no sudeste da Turquia, num local chamado Gobekli Tepe. Outros pesquisadores afirmam poder ser até na Armênia. Tudo suposições, segundo o texto bíblico, o jardim foi fechado aos humanos, então não dá mesmo para saber onde é, a não ser que se tenha outro Jardim do Éden por aí, por exemplo, em Cascavel, no Paraná, onde eu fui com tomar uma cerveja e comer uns petiscos com a Clara e o português Joaquim.

Pode não ser o Paraíso bíblico, mas tinha vários Adãos e Evas passeando entre as árvores enquanto o dia que já virara noite produzia frutos deliciosos para serem saboreados em pratos colhidos em cardápios quase exclusivos do lugar e uma banda tocava Rock antigos numa pregação quase religiosa para fiéis que cantavam junto tomados por algum espírito que não sei definir muito bem, talvez da bruxa, quem sabe dos gatos, da própria natureza, exuberante ali, ou por causa da cerveja que se consumia ao sabor da música, do bate papo e do valor disponível nos cartão de crédito.

Já não preciso mais explicar que o Jardim do Éden, neste caso, é um bar encravado no meio da natureza. Quando não chove, pode-se acender uma fogueira e queimar nela horas de conversa e ascender às alturas depois de umas cervejas e pelo menos uma mordida no fruto da árvore proibida. Caso esteja muito cansado, o cliente pode repousar por um tempo numa das redes a um canto do Jardim ou queimar os infortúnios na Fogueira da Desilusão, a casa da Bruxa!

O Joaquim, filho de português, não perdoa uma publicação com erros de gramática ou de grafia. Mas este escrevinhador é matemático, e estes, são pouco afeitos à gramática. Certamente, a estas alturas, já devo ter sofrido duras críticas do Joaquim por conta do nome do lugar, já que o mesmo se chama JAYDIN DO EDENN!! Parece um pouco com o original, assim como parece sofrerem os habitantes do lugar com as tentações. Fosse de dia, se podia distrair as ideias no balanço sobre o córrego de água limpas, mas de noite... não há quem não esteja à procura de um corpo para chamar de seu e no conhecimento do bem e do mal fazer a escolha mais prazerosa possível e depois ser expulso do paraíso. Ou ficar eternamente colhendo o mel!

Lugares como esse deveriam ser declarados patrimônio cultural imaterial. Ali tem arte, cultura, música e coisas inimagináveis como dar nome de Rua Tim Maia, para um estreito caminho que não leva a lugar nenhum, tipo as músicas do cantor e compositor.

Por fim, não fomos expulsos como Adão e Eva que não resistiram às tentações. Cá estamos, fora do Jardim, buscando o sustento entre cardos e abrolhos. Um pouco de ilusão não faz mal a ninguém. Se cada cidade tivesse um Jaydin, este mundo seria melhor!!

sábado, 19 de março de 2022

VEÍCULO

 Move-se

                 lentamente

                 em busca de sedução

 

Não tem combustível

                 está invisível

                 o combustível

 

Move-se

                  lentamente

                                      meu veículo

                                       em tua direção

 

Não tem combustível

                  outdoor, fotografia

                  mensagem no WhatsApp

 

Não tem uma imagem

                 mensagem

                 combustível

 

Meu veículo

                dorme

                              parado

 

Você

                esquecida

                a imagem,

                                      o combustível

 

Não posso guiar

               meu veículo

                                     até você

 

Uma cerveja

               meu combustível

                vou dormir

 

Se puder

                se conseguir.

domingo, 13 de março de 2022

AS MULHERES SÃO DIFERENTES

          


             E tem um dia especial para lembrar que além de diferentes, elas, as mulheres, são especiais. O dia é oito de março, mas pode ser qualquer dia. Não quero dizer especiais com esse significado que agora inventaram para se referir a pessoas com alguma deficiência cognitiva ou locomotora, mas especiais porque diferentes mesmo, sensíveis, muito além dos que os homens sejam capazes de compreender, sentimentais o suficiente para incutir sentimento de culpa no mais durão dos varões e vulneráveis o bastante para sofrerem abusos de incautos desprezíveis, mas fortes o suficiente para que valentões de plantão acabem tendo algum tempo de descanso sob a égide da Lei Maria da Penha. E elas ainda sofrem de TPM!!

As mulheres em geral são belas. Não adianta os homens quererem posar de Mauricinhos, ou pagar uma de Metrossexual, nunca conseguirão se igualar a elas e, quando conseguem, já não são mais homens, fizeram escolhas para serem elas também e está tudo bem, podem comemorar o oito de março também para si. A beleza a que me refiro tem a ver com a das passarelas, boa para os olhos. Tem também a ver com o gingado, aquele bamboleio do corpo que anda pelas ruas, exclusividade das mulheres. O jeito de vestir, sempre combinando as peças das roupas e os calçados, às vezes para se sentir bonita, às vezes para se sentir confortável e às vezes para atrair olhares indiscretos do público masculino e o ciúme terrível de mulheres que imediatamente apertam o braço do companheiro trazendo-o de volta à realidade!

Mas, se é para homenagear as mulheres, deixemos as rançosas de lado, também as rixentas e as pedantes. Quem somos nós, os homens, para adjetiva-las? Sejamos amáveis e falemos das amáveis! E as mulheres são capazes de amar com tanta intensidade que costumam proteger os filhos a ponto de atrapalhar o Sistema Social que precisa de pessoas muito racionais para gerir o capitalismo. Não podendo destruir esse amor tão grande, o sistema criou, para a elite que comanda, um modelo onde as crianças são cuidadas por terceiros, primeiro em casa por babás, depois, logo depois, por escolas particulares onde aprendem que amor de mãe é importante sim, mas nas horas vagas, o resto do tempo deve ser ocupado com produção de riquezas. As mães mais pobres depositam seus filhos em escolas públicas, quando tem vagas.

Mulheres são inspiradoras. Vinícius de Moraes não economizou elogios às mulheres em seus infinitos sonetos, cantou a beleza das mulheres em centenas de poemas em parcerias inesquecíveis com Baden Powel, Edu Lobo, Toquinho, Carlos Lyra e Tom Jobim. Jurou fidelidade:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

....

Casou-se doze vezes, bebeu todo o whisky que pode e eternizou a Garota de Ipanema.

Que mais posso dizer das mulheres? Que são de Vênus! Deusas do erotismo, da beleza e do amor. Os homens são de Marte, frios, mas basta uma olhadela qualquer numa descuidada foto venusiana e se transformam num ferro elétrico ligado na tomada.

As mulheres parecem ainda não terem percebidos que os homens estão sempre aos seus pés, clamando por sua atenção. Se fossem capazes de monetizar seus “adjetivos”, certamente seriam muito melhor remuneradas que os homens. As mulheres podem controlar os homens e mudar o mundo! Mas com isso, talvez percam seu encanto!

quarta-feira, 9 de março de 2022

DE LETRAS E DE MORTE SE FAZ A VIDA

          Eu gostaria de escrever uma crônica sobre a Poetisa Guerreira, Doutora Odila Lange, mas eu ainda não tenho nem sequer as informações que preciso, talvez ela ainda me conceda a honra de uma entrevista. Digo isso, porque hoje toma posse, de vinte e uma cadeiras, dentre as quarenta disponíveis, os vinte e um escritores que aceitaram o convite dessa Guerreira para compor a Academia de Letras do Brasil, secção Dourados.

Hoje é dia de dar vida às letras, as letras da Academia, as letras dos jornais, as letras dos livros de poesia, de contos, de romance. Letras, as mesmas que falam de vida, as mesmas que falam de morte. A vida de um tempo que não existe; a morte do exato momento em que o tempo deixou de existir. As letras vão para a Academia hoje para serem imortais, a morte vai para a Academia para se fazer vida. De morte e de vida, de letras se fazem imortais que buscam no imaginário de suas histórias as histórias para sua própria imaginação de imortalidade.

Às vezes sou duro nas críticas, hoje quero ser suave, afinal, devemos acreditar. A Igreja acolhe os pecadores, ensina-os com bondade e prepara-os para a vida eterna. Não basta ser membro de uma igreja para alcançar a imortalidade, é preciso produzir frutos, a fé sem as obras é morta! Parece um pouco com a Academia. Tenhamos fé, certamente alguns dos acadêmicos que hoje tomam posse serão imortais, não por terem se batizados na ALB-Dourados, mas pelas obras que produziram e ainda hão de produzir. Mas, convenhamos, a porta é estreita e poucos são os que entrarão por ela.

Dourados agora tem duas Academias, a ADL e ALB, Academia Douradense de Letras e Academia de Letras do Brasil. As duas juntas abrigam menos de cinquenta escritores nas oitenta vagas disponíveis. Fora da Academia, centenas de escritores fazem suas pesquisas, desenvolvem seus textos, publicam seus trabalhos e, dia após dia, vão costurando seu fardão, sem o qual ninguém alcançará a imortalidade.

Exemplos não falam, vejamos: Dante Alighieri morreu? Não, está eternamente vivo em sua Divina Comédia. Castro Alves? Viverá para sempre em sua poesia. Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Paulo Leminski, nenhum desses imortais da literatura são imortais da Academia.

Por outro lado, e aqui eu gostaria de não cometer a indelicadeza de citar nomes, mas existe um sem número de nomes gravados na imortalidade, com suas fotos expostas nos muros da Academia e que estão devidamente mortos e sepultados em cemitérios totalmente desconhecidos nos meios literários ou escolares, mal se lembram alguns familiares que fulano ou sicrano fora um dia escritor.

Penso eu que as Academias devam ser imortais, sim, ajudar na publicação de obras que se imortalizam pela importância do conteúdo, motivar novos escritores a se desenvolverem e assegurar que a língua portuguesa seja um instrumento de valorização das pessoas e defesa do meio ambiente e tenhamos muitos cordéis, varais de poesia, noites de autógrafos e festas literárias. Quem sabe acabemos com essa bobagem de ser imortal pelo simples fato de se acadêmico!

sábado, 5 de março de 2022

MATE-ME COM TEU DESEJO



Mate-me

                         suavemente

com o som do

                         desejo

ecoando nas

                                     entranhas

 

Mate-me

                         deseje-me

                                        ardentemente

 

Mas,

                         seja suave

                                        como a pluma

 

Mate-me

                        com o fogo

                                        ardente

que derrete o ferro

                        e suaviza a arte

 

Quero morrer

                       suavemente

no desejo

                        desse amor!


quinta-feira, 3 de março de 2022

JOÃO E JOÃO, IRMÃOS



João Renato e João Constantino são irmãos gêmeos e estão prestes a celebrar seus setenta e nove anos de idade, nasceram no dia 14 de março de 1943, exatos nove meses depois que o pai, João Modesto, homem de 1,60 metro de altura foi convocado pelo exército para lutar na Guerra. A Itália parecia Golias diante dos Pracinhas brasileiros à espera de um Davi. João Modesto armou a funda e apresentou-se ao comando. Desembarcou na Itália em setembro para libertar aquele país e, quando voltou para casa, com o peito estufado de medalhas, encontrou os meninos batizados em sua homenagem, João e João já estavam andando pela casa e até balbuciavam algumas palavras. Papai estava orgulhoso, desfeito o contingente militar, João Modesto continuou a exibir seu uniforme em todos os desfiles de sete de setembro até que finalmente morreu, herói, em 1985, aos sessenta e cinco anos de idade, vítima de uma bala perdida numa troca de tiros entre a polícia e ladrões que tentaram assaltar a casa vizinha.

Em 1964, quando deixou outra vez a casa para atender o convite do comandante da polícia militar e participar da caça aos comunistas, por precaução, escriturou e deu posse aos filhos, de uma casa para cada um, casas boas, construídas em bairro nobre onde morava com a família. Fez testamento também e, caso morresse defendendo a revolução, os demais bens, uma casa e a loja de produtos agrícolas ficariam para sua esposa, aos filhos dera os estudos, os empregos e uma boa casa. Não houve questionamentos e João Modesto não morreu, viveu mais vinte e poucos anos e viu seus filhos fazerem as escolhas que relato a seguir.

Um ano caçando comunistas e o exército dispensou seus trabalhos, João Modesto, de volta à casa, encontrou os negócios andando normalmente, mas quando perguntou por João Renato, ficou sabendo que este vendera a casa que recebera e comprara outra na Vila Alvorada, bairro distante e pobre onde estaria vivendo da renda do dinheiro que lhe sobrara dos negócios das casas, enquanto João Constantino continuava em seu emprego na loja de produtos agrícolas e planejava casar-se e morar definitivamente na casa que herdara do pai.

- Meu filho, disse João Modesto, por que vendeste a casa que lhe dei?

- Deste-me bons estudos, disse o filho, formei-me administrador de empresas, estou administrando a minha.

- A tua? Não estou sabendo!

- A minha. Vendi a casa por um milhão de reais, comprei esta por cento e dez mil, estou administrando os outros oitocentos e noventa mil.

- Mas, não tens um emprego, uma empresa...

- Tenho, oitocentos e noventa mil reais. Vou investir mais noventa mil na reforma e terei uma boa casa, com o restante compro mais quatro casas para alugar e ainda irá me sobrar algum dinheiro para comprar um carro usado.

 

Cinco anos depois, enquanto a Revolução contava os mortos, assassinados pela tortura no DOI CODI, João Constantino já assumira de vez a gerência da loja e trabalhava pelo menos dez a doze horas por dia para garantir os lucros esperados e fazer os investimentos desejados. Não precisava de uma casa maior, a que recebera do pai era grande o bastante para a família que já contava com dois netos para orgulho do avô, herói da segunda guerra. Fazia muitos planos, todos para a empresa, seu salário aumentara consideravelmente e o dinheiro extra ficava guardado para adquirir ao pai uma parte da loja, queria ser sócio com o pai, mais quatro ou cinco anos de dedicação e teria condições de comprar-lhe a metade da empresa. Enquanto isso, João Renato continuava vivendo de renda, também se casara e todo seu trabalho era o quintal onde tinha um belo jardim e uma horta para colher verduras e legumes, tinha também algumas frutíferas. Diariamente ia ao parque fazer exercícios enquanto as crianças brincavam no parquinho. Ficara sócio do clube de lazer da AABB, onde ia tomar sauna e nadar na piscina com a família. Em casa tinha tempo para ler livros e até cozinhar. Comprou um carro popular e vivia em paz.

Mais cinco anos se passaram e João Constantino finalmente tornou-se sócio da loja que gerenciava. Não tinha mais salários, agora recebia Pró-labore, abriu uma filial da loja na cidade vizinha e fazia planos para expandir os negócios, talvez comprar uma fazenda. Todo seu tempo e o dinheiro era dedicado aos negócios, a esposa reclamava. João Renato, um belo jardim na frente da casa, horta produzindo e fruteiras carregadas, via o bairro crescer junto com a cidade que expandia rapidamente. A Vila Alvorada, antes um bairro pobre da periferia, agora tinha muitas casas bonitas e estava muito valorizado. Sua casa, que lhe custara cento e dez mil, mais noventa que gastara na reforma, agora valia, pela avaliação da imobiliária Americana, quatrocentos mil reais, valor parecido tinham as outras quatro que comprara cinco anos antes. Não teve dúvidas, pôs todas à venda e cuidou de procurar imóveis residenciais em outro bairro mais afastado. Seis meses depois carregava a mudança para a Vila Independência, loteamento recente onde comprou dez terrenos e construiu dez casas, uma para morar e nove para alugar, trocou seu fusca vermelho por um corcel branco. Era o ano de 1.974.

A agricultura se modernizava rapidamente e João Constantino estava feliz ao inaugurar sua quarta loja em janeiro de 1.980. Engordara, é verdade, os médicos lhe recomendavam cuidados especiais com a saúde, deveria fazer exercícios, ir à academia, praticar esportes, mas o trabalho exigia muito do seu tempo, os filhos mal o viam e a esposa já arrumara um amante, achava isso direito, o marido não lhe tinha mais tempo. Estava rico de dinheiro, pobre de saúde, miserável de afeto. Quando o pai morreu, em 1.985, João Constantino parecia ter sessenta anos, quando na verdade tinha quarenta e dois, mesma idade de seu irmão gêmeo que continuava vivendo da renda dos alugueis e cuidando do jardim, da horta e das frutíferas.

Os filhos de João Constantino, quando terminaram a faculdade foram trabalhar com o pai e logo assumiram a gerencia de uma das lojas, estão trabalhando duro para comprar uma parte e se tornarem sócios do pai. Quando fizeram trinta anos de idade, o pai deu a cada um uma boa casa num bairro muito valorizado. João Constantino deixou a administração da empresa no ano dois mil, e vive em casa tomando remédio para o coração, pressão alta e diabetes, sofre de artrite, artrose, trombose e a mulher o abandonou há tanto tempo que nem se lembra mais quando foi. Quer fazer uma festa de aniversário, só não sabe que cardápio ainda há de lhe proporcionar algum prazer.

João Renato vai fazer a festa de seu aniversário na Vila Independência, a cidade continua crescendo, os imóveis estão valorizados, mas ele não quer mais vender. Com a valorização dos imóveis, os alugueis também aumentaram e a renda é suficiente. Continua cuidando do jardim e da horta, para o serviço pesado paga um diarista. Anda de bicicleta e toma sauna e umas cervejas na AABB. Comprou um Logan 2.005. Deu uma casa para cada um de seus filhos, mês passado descobriu que o mais novo tinha vendido a casa para mudar-se para outro bairro na periferia da cidade. Procurou-o para conversar:

- Meu filho, disse João Renato, por que vendeste a casa que lhe dei?

 

(Observação: os valores estão atualizados para melhor compreensão)

ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...