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domingo, 31 de outubro de 2021

CHUVA MENSAGEIRA

Está chovendo

Esta chuva há de chegar até aí

Quando chegar

Molha tua mão

Hei de mandar com a chuva um beijo

Toma-o para ti

Põe em teus lábios

E hás de sentir minha presença

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

RUBEM BRAGA E O PREFEITO DE DOURADOS

             Não sei de onde tirei essa ideia de ler Rubem Braga, mas certo é que pedi uns livros na Amazon e tenho gasto um tempo especialmente com suas crônicas. Algumas delas, escritas há setenta anos, parecem ser destinadas ao momento atual da política em Dourados, talvez ao próprio prefeito Alan Guedes. Teria ele, o Braga, uma bola de cristal ou, sendo um imortal da Academia, esteja ainda vivo e em sua imortalidade transite por tempos futuros para escrever no passado coisas do porvir!!! Ando pensando em me candidatar a uma vaga pela imortalidade. Será o presidente da ADL me aceitaria? Assim poderíamos deixar de lado coisas como a Farra da publicidade e focar em crônicas futuristas onde, quiçá, essa dinheirama toda seja destinada aos produtores rurais familiares e o povo tenha alimentos mais saudáveis.

A crônica ‘Bilhete a um Candidato’ parece ter sido escrita pessoalmente para o Barbosinha, em 1.960!!! Atualíssima! Se o Candidato do DEM tivesse lido, talvez não perdesse a eleição. Na época da eleição eu era presidente da Associação dos Produtores Rurais da Agricultura Familiar do Alto Café, provavelmente a Entidade que mais tenha se dedicado na construção de um projeto viável para o desenvolvimento da piscicultura neste município. Queríamos discutir o projeto com o candidato, mas ele lá não foi e seus representantes diziam que já estava sobrando votos, a eleição estava ganha. Alan Guedes, foi pessoalmente, acreditando na virada. Virou!

Virou Prefeito e rapidamente levou para seu gabinete o cara que fazia a farra, da publicidade, quando o agora alcaide ainda era presidente da Câmara de Vereadores. Talvez o mestre Rubem Braga, com toda a ironia de que era capaz, dissesse ao Alan Guedes que, não sendo tão sábio quanto o prefeito, seria incapaz de apontar todas as maracutaias, mas que elas existem, sim, existem. Eu não sei, mas tem um ditado que onde tem fumaça tem fogo! O Ministério Público, se mexer nessa fumaceira, há de encontrar o braseiro ainda em chamas.

Me permita, Rubem Braga, revolver no teu passado, tão presente, e dele copiar umas ideias críticas. Certamente não hás de revirar-te no túmulo, afinal és um imortal da Academia e as tuas críticas aos poderosos permanecem atualíssimas! Como dirias, não sou tão sábio quanto nosso Excelentíssimo Prefeito, mas em meu humilde entendimento, um milhão de reais, gastos sem nenhum benefício à sociedade, seriam suficientes para custear todo o projeto da tão sonhada piscicultura em Dourados, com produção de, no mínimo, cem toneladas de peixe por ano, processados e embalados com selo do SIM- Serviço de Inspeção Municipal, para o comércio, gerando emprego e renda a dezenas de produtores rurais da agricultura familiar, além de proporcionar a proteína a preços mais acessíveis aos consumidores e ainda girar o dinheiro dentro do município, desenvolvendo o comércio local.

Pois bem, Rubem Braga, não posso dizer que a sabedoria das prioridades seja exclusividade ao Alan Guedes. Herdeiro do Tal, o atual presidente da Câmara de Vereadores, estava animado para contratar uma empresa para transmitir as sessões do legislativo e outras notícias em redes sociais que ninguém, ou quase ninguém vê, pela bagatela de uns oitocentos e cinquenta mil reais por ano, valor suficiente para instalar pelo menos quatro abatedouros de peixe, o suficiente para atender toda a demanda dos agricultores familiares do município.

Bem, não estando eu em cargo algum dessa ou daquela gestão, talvez eu não consiga mesmo entender a importância de se gastar aí uns dois milhões de reais em publicidade. Se fosse na produção de peixe, então teríamos uma crise de superprodução, é isso???

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

AS LOUCURAS NO NEGÓCIO IMOBILIÁRIO

             Já pensou em comprar um apartamento de trinta metros quadrados, num resort de luxo, por um milhão e quinhentos mil reais? Pois é, tem quem compra, e não são poucos. Esse negócio é gigantesco e já se espalha pelo Brasil à fora com a promessa de um excelente investimento financeiro! Afinal, o que um cronista tem a ver com isso?

Às vezes as crônicas servem para se fazer uma denúncia grave de um jeito bem-humorado. Rubem Braga era mestre, escrevia críticas ácidas aos governos em forma de crônica, talvez na próxima eu faça uma referência a ele. Hoje vou relatar o acontecido comigo, já pela segunda vez, quando me fizeram essa proposta imperdível de investimento financeiro. Não que eu tenha um milhão e meio de reais, se tivesse comprava uma fazenda em vez de um apartamento.

As autoridades não ligam nenhum pouquinho para esse negócio, afinal, estamos num país capitalista e liberal, nada mais justo que tirar o dinheiro das pessoas, desavergonhadamente, e receber medalhas de mérito pelo sucesso alcançado nos negócios! Funciona mais ou menos assim: As moças bonitas fazem o papel delas, ficam pela orla, atraem visitantes, oferecem prêmios se algum desavisado concordar em entrar e ver a proposta. O prêmio é real, que me perdoem os malandros milionários, mas sabendo que ia mesmo ganhar o brinde, aceitei gastar uma hora de meu tempo inútil e conhecer o projeto.

Há uns três ou quatro anos atrás quando estive em Caldas Novas, ganhei um almoço, agora o brinde foi de oitenta reais para fazer um passeio turístico. Nada mal para quem tem consciência que não vai mesmo fechar negócio milionário em uma hora de conversa. Por questão moral, antes de entrar avisei que não faria qualquer negócio, a moça deu um sorriso amigável e disse que se eu entrasse, além de ganhar o brinde, ainda a ajudaria a cumprir sua meta, o seu salário depende de quantas pessoas ela é capaz de enganar, quer dizer, convencer a ser iludido, digo, ouvir o que os representantes da empresas tem a dizer. O salário deles também depende de quantos eles conseguem enganar, quis dizer convencer a assinar imediatamente o contrato de compra e venda de pelo menos uma parte de cinquenta e duas de um apartamento de trinta metros quadrados.

A proposta não diz que tu estás comprando um apartamento por um milhão e meio. Também não diz que tu tens que assinar imediatamente o contrato. Mas, se concordares em assinar imediatamente irás pagar a bagatela de trinta mil reais, mais alguma coisa, por uma de cinquenta e duas partes, isso significa que o mesmo apartamento terá cinquenta e dois donos, cada um podendo utilizá-lo por, no máximo, sete dias por ano!

           Bendita hora que fiz o vestibular para matemática: Cinquenta e dois donos, cada um pagando trinta mil reais para ter direito a sete dias de utilização por ano, o apartamento, no fim das contas será vendido por nada menos que um milhão quinhentos e sessenta mil reais! E, ainda, o comprador terá que pagar sessenta reais por mês de condomínio, que, lógico, multiplicados por cinquenta e dois donos, dará para a empresa, a bagatela de três mil cento e vinte reais por mês em cada apartamento. É um negócio da China, quer dizer, do Brasil! E viva o liberalismo!!!!!!

domingo, 10 de outubro de 2021

CAMARÃO NO CARANGUEJO

             Não tenho absolutamente nada para fazer nestes dias de Natal, então fico observando gente, isso enche de ideias um escrevinhador que de repente resolve se perder nos cafundós do Nordeste. E gente não falta, nestes tempos de pandemia o avião falava repetidas vezes da necessidade de se manter o afastamento e tudo o mais para evitar a transmissão do vírus, mas os assentos estavam todos ocupados e o distanciamento era de aproximadamente cinco centímetros entre um passageiro e outro, lucrar é preciso! A refeição, ou seja lá como chamam aquilo que se serve nos aviões hoje em dia, não foi servida por motivo de cuidados com a saúde.

E por falar em refeição, ontem fui almoçar num restaurante chamado Caranguejo, pedi um prato com camarão e fiquei um longo tempo curtindo música nordestina ao vivo até que o garçom trouxe a comida. Podia demorar mais, nenhum problema na espera, além da boa música de forró, na mesa ao lado tinha uma atração mais que especial, daquelas que dá vontade de ficar ali só observando que não cansa. Também esperando pelo pedido, um senhor de uns oitenta anos tomava suco de melão enquanto procurava por algo no celular. Com o celular na mão, sua esposa, talvez com a mesma idade, se deliciava num copo de caipirinha, bebericava, olhava a telinha, esboçava um sorriso e voltava para mais um gole. Só por isso já valeu a espera, a música veio de brinde. Só espero que o Couvert especial que paguei tenha sido para esses artistas!

Do outro lado da rua um mar de gente atraídos pelo mar de Ponta Negra, parecia ter esquecido completamente os perigos da pandemia. Fiz umas contas com minha cabeça de matemático e calculei que seria impossível servir almoço para toda aquela multidão sem que acontecesse por ali o milagre da multiplicação dos pães e peixes, talvez camarão ou quem sabe caranguejos. Observando com cuidado dava para perceber que boa parte esperava mesmo por um milagre, mas pelo comportamento, acho que o Mestre teria ido logo cedo para a outra margem do mar do atlântico.

Muito parecidos com templos religiosos, os restaurantes escalavam seus ministros para receberem os visitantes na porta convidando-os a entrarem onde eram recebidos com alegria e júbilo, participavam do ritual dos pedidos, depois de ingerirem muita bebida muitos confessavam publicamente seus pecados, se fartavam de comida até transbordar e por fim deixavam na maquininha do cartão as suas ofertas abundantes.

Estávamos sem nenhuma pressa, o casal de idosos e eu, eles com suas bebidas e o celular, eu com eles. Meu almoço foi servido, olhei para a mesa ao lado, outro atendente servia uma panela de barro da qual nossa talentosa personagem tirou um caranguejo e foi destruindo no modo esquartejador, primeiro com as mãos e depois com um Socador. Finda a caipirinha, veio a cerveja e eu, que tomava água mineral, fiquei pensando que aos oitenta vou querer uma caipirinha e caranguejo com cerveja, se o destino me presentear uma velhinha de companhia. Talvez eu volte para Natal!

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

UM LUGARA NO MUNDO: ÁGUA RICA!

Hoje estou em Campo Grande, cidade Morena! por uma noite, amanhã me vou para o nascimento, não o meu, Natal, no Rio Grande do Norte, só que para chegar aqui, na Morena, vindo de Dourados, claro, tinha que ter uma parada na Água Rica. Os douradenses sabem muito bem o que é esse lugar, ninguém vai à Campo Grande sem parar na Água Rica, lugar meio mágico, lá tem, com certeza, a melhor Chipa do mundo! O que é Chipa? Todo Sul Mato-grossense sabe, o resto do mundo acho que não. Um dia eu estava em Brasília e pedi para a garçonete: dá uma ‘chipa’, ela disse: O quê?

Quisera eu voltar ao tempo em que parei pela primeira vez na Água Rica, ah, quem dera! Tinha eu então vinte e dois anos de idade e me ia num Maverick lotado de sonhos entre Campo Grande e Iguatemi onde meus pesadelos se transformariam em literatura pela primeira vez. Aquele lugar no meio do nada poderia ser só uma lanchonete no meio do caminho, não era, era a Água Rica! Meus sonhos de juventude se transformaram em escritos no jornal A Notícia e os cinco livros adquiridos em Iguatemi se multiplicaram na biblioteca de Amambai onde virei quase literalmente um ‘rato de biblioteca’. Jorge Amado me levou ao comunismo e este a muitas viagens à Cidade Morena, e cada viagem a uma parada na Água Rica: duas chipas e um pingado, café com leite.

Tomei um pingado e perguntei a idade da Água Rica: 63 anos! Os poetas todos que conheço, todos, comeram chipa lá. Muitos comunistas, durante a ditadura que tolerava a lanchonete, mas não as ideias; mitos cronistas que driblavam a censura que parecia nada entender de figuras de linguagem; alguns filósofos que insistiam em pensar quando isso era definitivamente proibido e até músicos que teimavam em ver o dia ser novo apesar de você!

Depois do pingado, entrei na Van como entrara dezenas de vezes na Parati do sindicato dos bancários quando era diretor da CUT MS. Todas segunda-feira saia atrasado de Dourados para chegar cedo em Campo Grande. Não tinha essa loucura de trânsito e andar a cento e setenta por hora era, digamos, natural para um revolucionário que tinha pressa em fazer a revolução! Uma senhora, talvez idosa, calculei uns sessenta anos de idade, sentou-se ao meu lado e não parava de passar o dedo indicador pela tela do celular parecendo adolescente.

- Ooooi, bibibijuju, ela disse para o celular, onde aparecia uma imagem de criança. Que linda, titia tá com saudades, ela dizia para o telefone sem se importar comigo no banco ao lado. Não pude evitar a indelicadeza de olhar para a telinha, Julinana, do outro lado do telefone, parecida nem se importar com a encenação da tia, enfiou o dedo no nariz à procura de uma caquinha qualquer e deixou o dedo lá até que a tia pediu pela n-ézima vez para ela tirar, não tirou e a tia achou ela a sobrinha mais linda do mundo! Um minuto depois e eu olhava a paisagem que passava em alta velocidade pela janela da Van quando pensei estar alguém falando comigo, virei-me imediatamente para dentro e outra vez olhei quase sem querer para a imagem no smartphone e a minha vizinha de assento falava com a mãe, era um recado do Pedrinho. Aí lembrei do Pedro Vitor, meu filho, mas não liguei para ele. Água Rica estava ficando para trás, mas a riqueza da vida fluía em alta velocidade!

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O REFLORESTAMENTO

 


Dia 27 de setembro aconteceu um debate com as lideranças indígenas e o foco eram os jovens associados da AJI- Associação dos Jovens Indígenas das Aldeias de Dourados. Esse evento faz parte da mobilização anual que ocorre sempre em setembro para que se alcancem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável definidos pela Assembleia Geral das Nações unidas.

Eu tive a alegria de ser um dos poucos convidados a assistir calado a cada uma das falas dos representantes dos povos originais. Fiquei sabendo, por exemplo, que o Brasil é um dos países que têm o maior número de línguas indígenas do mundo. Conheci a Graciela Guarani que é, talvez, a mais importante cineasta indígena da atualidade. A Lucimar e a Tatiane que são assistentes sociais e fazem um belíssimo trabalho nas Aldeias. A Diana e a Rosilene que são professoras e outros vários participantes, todos com seu saber e, ficar calado, para mim não foi nenhuma dificuldade, as duas horas do debate passaram muito rapidamente e só no final, no finalzinho mesmo, dei um pitaco de opinião.

Os jovens indígenas da AJI, através das suas lideranças, nos trouxeram para o debate, talvez a sua mais dura realidade. Herdeiros de povos de vida livre e historicamente preservadores da natureza, das quais sempre tiraram seu sustento, esses jovens agora são nascidos em Aldeias devastadas, não há matas, falta o alimento e até a água. O contato com o “branco” é inevitável. Daí entram para as Aldeias as doenças, as drogas ilícitas, a exploração da mão-de-obra, o preconceito, a miséria, a criminalidade, a política partidária, a violência e até o ódio de quem gostaria de lhes tirar até esta que é a última reserva de terras que lhes abriga o sonho.

Acrescentei aí acima alguns itens por minha conta. O debate foi de altíssimo nível e tratou de questões essenciais aos povos nativos. Dentre os temas apresentados para se visualizar uma perspectiva à essa juventude, o reflorestamento parece ter alcançado unanimidade, até porque essa palavra pode ter seu significado ampliado, além do plantio das árvores para devolver ao ambiente seu estado original de mata, também se pode pensar em reflorestar as ideias, devolvendo ao povo seu estado original de preservação da natureza e convivência equilibrada com os demais habitantes do ambiente, os outros animais, aves, peixes, insetos, enfim tudo que a natureza produz e com o que vive em harmonia.

Quando me deram a palavra, no último minuto, o Itacir, um dos coordenadores, me apresentou, dizendo que eu era escritor e poeta. Imediatamente me apropriei do debate e gastei meu minuto pensando alto e aí acabou o tempo e eu continuei pensando até de madrugada sobre esse tal reflorestamento. Sim, haveria de ser um reflorestamento com muitas árvores, frondosas para sombra e abrigo dos animais e aves; frutíferas para alimento; floridas para embelezar o ambiente e alimentar o beija-flor e dar sustento às abelhas; arbustos para proteção do solo e abrigo aos animais rasteiros.

Seria necessário que o reflorestamento invadisse as pessoas para que estas pudessem reaprender a viver livres na natureza. Livres de quê?? Da razão, pecado original descrito no livro de Gêneses quando Eva e Adão comeram do fruto da árvore do conhecimento e foram expulsos do Jardim. Reflorestar é a possibilidade de voltar ao Jardim. Só os jovens da AJI podem fazer isso, os “brancos” estão tão contaminados com a racionalidade que não suportam a ideia de preservação ambiental.

Reflorestar as ideias também é saber que no entorno estão os inimigos, beligerantes, estúpidos e absurdamente arrogantes. Sim, os “brancos”. Decididos a eliminar o último bastião de floresta, não saberão jamais o significado de reflorestamento até que a última gota d’água seque na última raiz de planta vendida em commodities internacionais. O homem “branco” expulso do Jardim do Éden, fatalmente sofrerá dos males do Apocalipse.

De repente fiquei me perguntando: Por que eu estava lá? Talvez como Cazuza, que dizia que a burguesia fede e que ele também era burguês, mas era poeta; não sei, talvez: Ser poeta, para Cazuza pode ter sido a sua tomada de consciência de que os seus burgueses já estavam apodrecidos, fedendo. Quem sabe este “branco” não tenha descoberto a mesma coisa. Pois bem, Cazuza, eu sou branco, mas sou poeta!


ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...