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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

UM LUGARA NO MUNDO: ÁGUA RICA!

Hoje estou em Campo Grande, cidade Morena! por uma noite, amanhã me vou para o nascimento, não o meu, Natal, no Rio Grande do Norte, só que para chegar aqui, na Morena, vindo de Dourados, claro, tinha que ter uma parada na Água Rica. Os douradenses sabem muito bem o que é esse lugar, ninguém vai à Campo Grande sem parar na Água Rica, lugar meio mágico, lá tem, com certeza, a melhor Chipa do mundo! O que é Chipa? Todo Sul Mato-grossense sabe, o resto do mundo acho que não. Um dia eu estava em Brasília e pedi para a garçonete: dá uma ‘chipa’, ela disse: O quê?

Quisera eu voltar ao tempo em que parei pela primeira vez na Água Rica, ah, quem dera! Tinha eu então vinte e dois anos de idade e me ia num Maverick lotado de sonhos entre Campo Grande e Iguatemi onde meus pesadelos se transformariam em literatura pela primeira vez. Aquele lugar no meio do nada poderia ser só uma lanchonete no meio do caminho, não era, era a Água Rica! Meus sonhos de juventude se transformaram em escritos no jornal A Notícia e os cinco livros adquiridos em Iguatemi se multiplicaram na biblioteca de Amambai onde virei quase literalmente um ‘rato de biblioteca’. Jorge Amado me levou ao comunismo e este a muitas viagens à Cidade Morena, e cada viagem a uma parada na Água Rica: duas chipas e um pingado, café com leite.

Tomei um pingado e perguntei a idade da Água Rica: 63 anos! Os poetas todos que conheço, todos, comeram chipa lá. Muitos comunistas, durante a ditadura que tolerava a lanchonete, mas não as ideias; mitos cronistas que driblavam a censura que parecia nada entender de figuras de linguagem; alguns filósofos que insistiam em pensar quando isso era definitivamente proibido e até músicos que teimavam em ver o dia ser novo apesar de você!

Depois do pingado, entrei na Van como entrara dezenas de vezes na Parati do sindicato dos bancários quando era diretor da CUT MS. Todas segunda-feira saia atrasado de Dourados para chegar cedo em Campo Grande. Não tinha essa loucura de trânsito e andar a cento e setenta por hora era, digamos, natural para um revolucionário que tinha pressa em fazer a revolução! Uma senhora, talvez idosa, calculei uns sessenta anos de idade, sentou-se ao meu lado e não parava de passar o dedo indicador pela tela do celular parecendo adolescente.

- Ooooi, bibibijuju, ela disse para o celular, onde aparecia uma imagem de criança. Que linda, titia tá com saudades, ela dizia para o telefone sem se importar comigo no banco ao lado. Não pude evitar a indelicadeza de olhar para a telinha, Julinana, do outro lado do telefone, parecida nem se importar com a encenação da tia, enfiou o dedo no nariz à procura de uma caquinha qualquer e deixou o dedo lá até que a tia pediu pela n-ézima vez para ela tirar, não tirou e a tia achou ela a sobrinha mais linda do mundo! Um minuto depois e eu olhava a paisagem que passava em alta velocidade pela janela da Van quando pensei estar alguém falando comigo, virei-me imediatamente para dentro e outra vez olhei quase sem querer para a imagem no smartphone e a minha vizinha de assento falava com a mãe, era um recado do Pedrinho. Aí lembrei do Pedro Vitor, meu filho, mas não liguei para ele. Água Rica estava ficando para trás, mas a riqueza da vida fluía em alta velocidade!

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