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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

MELHOR JEITO DE DEIXAR SEU CACHORRO AMARRADO


Anoiteceu, mas o calor não dava trégua. Bem que poderia chover, mas o céu estrelado denunciava tempo ‘bom’. Bom se chovesse! Consultou a previsão do tempo: ‘tempo bom, com muito calor e baixa umidade do ar’. E isso é tempo bom? Andou de um lado para outro pela casa, carregando pensamentos aquecidos de preocupação. O cachorro amarrado no quintal, com todos aqueles pelos, e esse tempo que não chove, por nada!

Ligou a TV e viu dois homens se beijando. Seu homem já não a beija faz um tempão! Mudou o canal, talvez devesse mudar de homem. Vinte anos nesse relacionamento, virou uma espécie de prisão. O cachorro amarrado e o calor sufocante. Abriu a porta da cozinha, soltou a corrente mas segurou-o pela coleira, queria deixa-lo ir. A coleira era bonitinha, mas estava puída, melhor comprar outra, amanhã. Ia soltar, mas ficou com medo da liberdade.

Voltou para dentro com a firme promessa de fazer uns ajustes na casa, arejar um pouco, mudar os móveis de lugar, quadros na parede, um colchão novo. No dia seguinte comprou uma coleira da moda que viu no programa Dogs and the new fashion. Trocou a coleira e prendeu firme a corrente. Fiscalizou até onde iria, então decidiu que não tinha perigo. Pegou o celular do marido para ver as mensagens, pode ser que a corrente tenha se rompido sem que ela percebesse.

Nos últimos tempos andava com a pulga atrás da orelha. Comprou um antipulgas, fechou o WhatsApp e prometeu que teria mais cuidado para não se contaminar outra vez. O cachorro até que gostou do tratamento. As coisas pareciam estar melhorando, mas aquela sensação de que a corrente estava ficando fraca com o tempo e o uso!...

 Ligou a TV, estava passando a novela das oito. Detesto essas correntes do WhatsApp!, berrou o marido, do sofá, com o celular na mão. Não dava mesmo para segurar. Quanto mais se prende mais se solta. Decidiu não olhar mais o celular dele. Saiu ao quintal, tirou a corrente que prendia a coleira nova. Pensou: ‘a melhor maneira de se prender um cachorro é solta-lo’. O cachorro se foi e ela estava livre!

 

Elairton Pulo Gehlen

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

POESIA: HOJE É NATAL!


Mataram os meninos na minha infância,
Roubaram das meninas o prazer.
Regras são cadeias,
Onde os sonhos vão morrer!


É mais um dia qualquer,
O tempo que passa,
A vida, assim, sem graça,
E seja o que der e vier!


Os hormônios do adolescente
Foram roubados na euforia,
Negociados em valores inúteis,
Nas bolsas de mercadorias.


Já nem mais se sente
A idade que avança,
O objetivo que não se alcança
E o passado, agora é o presente.


Lucraram com minhas energias,
Me largaram aposentado,
Meio traste, meio triste,
Meio estranho, meio abandonado!


O futuro não existe,
Dele nada se espera.
Não importam as primaveras,
Nem tudo o que se disse.


De que me serve o natal,
Se nasci para ser explorado!
Dos meus dias, afinal,
É pouco o que me resta.


São migalhas que caem
Da mesa da abastança,
Dos que fazem festa de caridade,
Para enganar adultos e crianças.


E ENTÃO? É NATAL!!!!!!!!


Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

DESERTO


 Andava de cá para lá e de lá para cá descontando os dias que ainda lhe faltava. Não tinha celular, mas se comunicava o tempo todo com o mentor desse projeto em que se engajara totalmente.

A solidão, ah!, a solidão às vezes faz tão bem que desejamos estar sós por um tempo. Quarenta dias talvez seja um tempo razoável para quem precisa estar preparado para executar um projeto onde o erro máximo permitido é zero.

Comida boa, quem não quer? Há quem a tenha na mesa, posta de manhã, à tarde e à noite, com fartura! Também há quem a tenha na míngua e muitas vezes sem a mesa para pô-la. Não havia mesa, por quarenta dias não tinha comida e nem água para beber.

Uma boa companhia, faz tão bem que enche nossas horas de prazer! Gente que vai: até logo! Gente que vem: bom dia! Gente que passa: “e ae?’ Uma conversa para jogar fora, andar nas ruas, ver o movimento das cidades... No deserto não tem cidades, nem gente.

Quarenta dias, trinta e nove, trinta e oito,..., dez, nove, oito, ... sem alimento, sem água, sem amigos, nem gente, nem trânsito.

Quarenta dias em oração e vem o capeta para atentar oferecendo pão. O Príncipe deste mundo se põe em Sua presença e oferece poder e glória, promove um espetáculo no pináculo.

Depois de quarenta dias no deserto, seria o momento da glória. Reinar sobre o povo e transformar pedras em pães!

Mas a palavra, ah, a palavra: “Retira-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele prestarás culto”.

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

POESIA: BOAS NOVAS QUE VEM


Nasceu em Belém,
Mas de lá não era.
Veio de Nazaré,
Onde fica Sua Terra.


Não teve acolhida
Para vir a este mundo.
E continua sem guarida
No coração de muitos.


De boas novas,
O coração está cheio.
Fala com sabedoria,
Ao povo que lhe veio.


No primeiro milagre,
Transformou água em vinho.
Não para beberagem,
Mas para mostrar o caminho.


Caminho de sangue e glória,
Só compreendido no final.
Que o acompanhou na trajetória,
Neste mundo desigual.


Na Sua Terra não creram,
Nem em muitos outros lugares.
Mas para salvação de todos,
Deu a vida em pesares.


Dono de toda glória,
Era filho do Rei.
Viveu com humildade,
E obedeceu toda a Lei.


É o nosso salvador!
Nasceu da Virgem.
Viveu sem ser pecador,
Ai de mim que preciso
Ser Seu imitador!





Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A CARROÇA


Está vendo filho, nem é preciso andar muito para se chegar a cem anos atrás, é só voltar uns sessenta e tudo se parece! É pai, essa carroça parece que levou a gente para o século passado. Sim, século passado, talvez até mais. Rodas de madeira raiada com uma proteção de ferro no perímetro da circunferência para não quebrar com os choques das pedras e a dureza do chão. Duas juntas de bois puxando uma carga pesada, uma tora tirada do mato que deve ser levada para a serraria.

Veja, meu filho, somos os proprietários e esses escravos aí do lado e atrás da carroça são nossa propriedade! Eles fazem nosso serviço e tudo o mais que mandamos, esses negros não pensam, só obedecem.   Os bois são muito fortes, hem, pai! É só bater que eles puxam essa carroça pesadíssima. Se eles soubessem a força que tem não fariam tanta força! São animais irracionais, por isso a gente pode bater neles e fazer eles trabalhar.

Bater até sangrar o lombo quando não obedecem, o corpo amolece, mas o tronco está firme e a argola de ferro não cede. Sabe por que? O tronco e a argola são o patrão!    E o relho também, vai boi, toma! Essa canga do pescoço e o cabeçalho da carroça é de quem manda!

O carro anda lentamente como o tempo, cinco passos do boi para dar uma volta na roda da carroça. Trezentos e oitenta giros da roda para andar um quilômetro. E muitos anos até o caminhão descarregar a tora na serraria!

Agora sim, é só soltar as catracas e deixar as toras rolar da carroceria. No lugar dos quarenta escravos, agora só preciso de dez trabalhadores com motosserras! E um caminhão com um motor muito forte, pai. Isso, quanto menos pagar de salário, mais eles trabalham porque tem que viver. Quanto mais pagar pelo caminhão mais ele produz, o caminhão é o patrão!

Estou pensando, pai, e... e... e, se nós fossemos os bois e os bois fossem nós, lá na carroça do século passado? Ai, era nós pendurados naquele tronco e amarrado naquela argola, levando pancada nas costas até sangrar!... N Ó S ?!?!?!?!?!?!

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

POESIA: I AM THE BEST

Não, a poesia não é em inglês,
Mas bem que poderia,
Já que o estrangeirismo
É boa parte do nosso português.


Eles até que se acham os melhores,
Nos dizem o que vestir e o que comer.
Cantam músicas para a gente ouvir
E fazem filmes para a gente ver.


Falam com superioridade,
Como se o melhor do mundo fosse
E a gente bate continência
Até para o iracundo deles!


Hi-tech é a palavra da moda,
Pop star é o que no cinema se vê.
Sex-appeal é o principal da cultura
Que a internet traz para você.


Superman, Incrível Hulk ou o Pateta
Fique livre para escolher.
Qualquer um vai salvar o mundo deles
E o nosso cada vez mais empobrecer.


Dominam o mundo com alta tecnologia
E tem gente que baba no seu poder!
Estuda inglês todos os dias
Para melhor servir ao seu querer.


Nos obrigam a dizer ferry boat
Em vez de barco de passagem,
Mas é no happy end
Que nos deixam na vassalagem.






Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

PATRICINHA


Aproximou-se do espelho para ver detalhes da sobrancelha que fizera no salão, mas afastou-se rapidamente. Melhor olhar de mais longe! A sobrancelha ficara maravilhosa. Lavou o rosto com o sabonete facial e limpou a pele com água micelar, passou o creme hidratante, o creme antirrugas e o filtro solar. Aproximou-se novamente do espelho. Melhor olhar de longe!

Virou para o lado onde estava o espelho de corpo inteiro. Passou as mãos pelo cabelo, viu-os em câmera lenta esvoaçando pelo ar. Nada como uma tinta para rejuvenescer! Abriu um sorriso e foi abrindo o roupão. Lentamente soltou o cordão que o prendia pela cintura, as cortinas se abriram e surgiram dois seios, firmes, redondos, a barriga de tanquinho recebeu um elogio e os seios um acolhimento com as mãos. Com o indicador e o polegar seguros, a cortina se abriu por completo e a estrela mostrou seu espetáculo! Olhos fixos na musa, percorreu todo o perímetro para conferir as curvas e as ondas. É muito sacrifício: academia, lojas, salão de beleza! Mas vale a pena. Se eu fosse homem, me apaixonava imediatamente!

Como bom psicólogo, o terapeuta aguardava tranquilamente que o tempo do atraso fosse vencido. Ela paga para me fazer esperar. Catorze minutos desperdiçados e a porta se abriu. Hoje eu quero deitar no divã! Não tinha divã, mas tinha uma poltrona reclinável e um apoio para os pés. Sentou-se quase deitada e fechou os olhos. Desde o banho da manhã vinha flutuando em sua própria admiração. Eu me acho uma mulher muito bonita! Isso é narcisismo?

- Hum...

Hum... significa... não sei o que significa. Não queria mesmo saber a opinião dele, estava vendo sua própria imagem flutuando nas nuvens. Imagem em HD, 3D. 360 graus. Tinha todo o céu ao seu redor.

- Hum...

Então narrou, sem nem saber que estava narrando, tudo o que via, e tudo o que via, era o que tinha visto no espelho. Fazia caretas, mexia com as mãos, esfregava as pernas uma na outra. Por vinte e cinco minutos teceu todos os elogios possíveis e imaginários ao seu próprio corpo.

- Hum... – disse o terapeuta pela terceira vez e emendou – você está vendo o que tem por fora, mas.... e por dentro, quando é que você vai olhar?

Despencou das nuvens com aceleração muito superior à da gravidade, estatelou no chão e ergueu-se da poltrona esperneando e com os olhos arregalados, o coração aos solavancos, o apoio dos pés voou para longe.

- Dentro! – ela disse – dentro não tem nada!

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

POESIA: INFINITO


O que faz a liberdade
Que ainda não me libertou
Será ela verdade
Ou foi só um caso de amor.


Infinito é o espaço,
Muito restrito meu caminho.
O que não quero eu faço,
A não ser só um pouquinho.


Infinito é o tempo,
Mas dele só tenho um pedaço.
De perde-lo muito me arrependo,
Vem daí o meu fracasso.


Infinita é a sabedoria,
E eu a busquei tão pouco.
O saber a outro plano releguei,
Meus ouvidos fiz de mouco.


Infinita é a tristeza,
Tal qual é a alegria.
Quem me dera tivesse eu escolhido
Viver bem a cada dia.


Infinita é a compaixão
Mas eu sou muito egoísta.
Se tivesse aberto mais meu coração
Do amor teria sido um expansionista.


Infinito é o amor,
Dele não podemos prescindir.
Seja lá por que motivo for,
Não amei como deveria agir.


Infinita é a liberdade,
Mas eu vivo numa prisão.
De preconceitos e ativismo
Que limitam minha ação.


Infinita é a ilusão
Que me faz pensar
Que no capitalismo
Algum dia vou me realizar.


Infinito é Deus,
Que no mundo existe sua crença.
E eu só me liberto
Se estiver em Sua presença!







Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O GERENTE ESTA?


         Quero falar com o gerente! Ela falou confiante de que desta vez afrontaria o caixa do banco que recusara liberar o dinheiro. Entrou no banco com passos firmes, olhar altivo, embraçando papéis clipsados pela mão esquerda enquanto que a direita ia adiante do corpo com o dedo indicador um pouco acima dos demais como se estivesse pedindo a palavra. O vestido até o meio da canela, desta vez não era colorido com estampa de cor predominantemente vermelha, donde seu apelido: melancia.

         Pois não, senhora, disse o caixa, na mesa do gerente, com olhar sério e um sorriso contido saltitando entre as bochechas forçando os lábios a se abrirem para os dentes. ‘A melancia’, pensou ironicamente com o olhar firme sobre a advogada que ainda guardava a esperança de que o gerente aparecesse.

         Eu quero falar com o gerente, insistiu a douta advogada. Ainda há pouco havia ligado para a agência para se certificar da presença dele, viera confiante de que desta vez encontraria um aliado para seu pleito. Os olhos quase incrédulos percorreram toda a agência bancária. Mas eu liguei há pouco e o gerente disse que estava aqui!

         Sim, respondeu o caixa, confortavelmente sentado à mesa do gerente. Fui eu que atendi o telefone, em que posso ajuda-la? De soslaio viu os colegas segurando o riso. Não podia rir, estava diante de uma cliente desconcertada, olhos marejando, rosto vermelho de raiva. Da última vez que viera, quisera sacar dinheiro de um seu cliente sem a devida documentação, ameaçara o caixa dizendo que era advogada e que ia falar com o juiz, e etecetera e tal. Apelou para outra atendente, nada. Agora, pelo telefone, entendera que havia um novo gerente na agência.

         Largou os papeis que trazia em cima da mesa, pensou uns arabescos e murmurou alguma coisa como se fosse um padrão infinito que vai muito além do mundo real. Ajuntou os papeis, deu uma volta completa sobre si, olhou para o nada muito próximo do teto e foi embora. Não que ela fosse islâmica ou entendesse minimamente que fosse do arabesco. Também advogava sem conhecer minimamente da legislação e ainda assim tinha pelo menos um cliente, o qual tentava representar, ainda que sem a documentação devida.

         Mas, e o gerente? Estava em viagem e no momento era substituído pelo caixa, seu eventual.


        Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

LAND ROVER


Estou pensando em comprar uma LAND ROVER. Já andei a pé, de carrinho de mão, de bicicleta, mobilete, moto, fusca, corcel II, …. Todos esses veículos eu tive para andar pela vida, agora eu quero uma Land Rover. 

A pé eu andava sozinho seguindo as leis de trânsito ditada por meus pais, irmãos mais velhos, tios, professores, políticos, qualquer autoridade ou pessoa que fosse maior que eu. Mas, andando eu estava sempre sozinho, os que iam de carona comigo estavam sempre cuidando de suas vidas e raramente me ajudavam. 

De carrinho de mão fiz muitos fretes para ganhar um pouco de atenção, pagamento justo pelo trabalho realizado. Não tinha banco para outros passageiros, então a viagem era sempre necessariamente solitária. Fiz muitas viagens para receber míseros pagamentos de reconhecimento e aprendi bem cedo o valor do dito: muita areia para minha caçamba! 

Na bicicleta eu demorei nas aulas de aprendizado. Quando consegui me equilibrar entre a solidão da viagem e a conquista do veículo, percebi que os outros ciclistas eram mais espertos que eu. Fiquei para trás, mas fui em frente. 

Mobilete tem motor, é quase uma moto. Sempre dando problemas de carburador que enche de carvão pela combustão incompleta do óleo misturado com a gasolina, me levou por caminhos desconhecidos, arriscados, mas excitantes o bastante para arriscar a viagem. Montei nela para ter prazer, fiquei pelo caminho várias vezes, sem contar os pedaços que perdi para nunca mais achar peça de reposição. 

Moto anda rápido e tem agilidade se o piloto for minimamente capaz de gerir os equipamentos e estabelecer o equilíbrio levando em consideração a força centrípeta e centrífuga. Muito concentrado na força centrípeta deixei que oportunidades sempre entrassem em fuga. O motor tem uma batida forte, acelerada, mas não havia equilíbrio emocional que desse conta de racionalizar o sentimento. O motor sempre vazando, o coração apertado, a velocidade diminuindo, o foco na força centrípeta, todos fugindo e eu andando em círculo até cair em cima de mim mesmo. 

O fusca é o carro que todo mundo teve por primeiro. Barato, pouca manutenção, relativamente econômico e dá prazer. Achei meu fusquinha numa zona muito popular. O coração acelerado. Minha primeira vez. Carro usado, muito usado. Não tenho cacife para carro novo. Estava lá. Peguei. Troquei o óleo. Estava vazando. Custou caro. Muito caro. 

Comprei meu corcel II. Cabe mais gente. Usado também, meio estragado, mas a gente vai dando manutenção. Fiz algumas reformas até não ter mais conserto, deixei para lá, outro está usando, deve gostar. 

De carro em carro fui renovando as esperanças. Não tive a paz que eu esperava. Agora estou no site da Land Rover, estou montando o carro para viver o resto da minha vida. Não quero mais carro usado. Nunca tive um novinho para ser somente meu e eu dele. Estou empolgado com a direção segura e leve, não precisa muito esforço nem insistência, é só guiar que o carro segue comigo como se fossemos uma só carne. Câmbio automático, não vai ter necessidade de mudança de marcha o tempo todo, basta seguir a direção combinada e o carro anda macio porque o amor, os amortecedores são de qualidade. Tem espaço, posso entrar com tudo o que tenho sem nenhuma restrição. É uma caminhonete, então eu devia chama-la de a Land Rover. Ela é muito linda, estou empolgado, mas desta vez vou com calma, das outras vezes eu me empolguei e errei. Quero ela só para mim. Andar macio, elegante, traz conforto e não gera confusão. Acho que desde o início eu devia ter pensado em uma Land Rover, nada de ficar experimentando e sofrendo.

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Poesia: VIAGEM? VIAJEM?


Se eu tentar fazer uma viagem
E não conseguir,
Pode ser por falta de dinheiro,
Falta de tempo ou
De ter com quem ir.

Mas se eu tentar fazer uma viajem
E não conseguir.
Não será por falta de dinheiro,
Nem de tempo ou com quem ir.

Mas por um erro de gramática
Que não permite eu de ir.

Ainda que eu quisesse viajar,
Não viajaria porque é imperativo,
Viajem só serve para falar
Se for na terceira pessoa do subjuntivo.

Mas antes que eu me esqueça
E programe visitar mais algum atrativo,
Também posso dizer: Viajem eles,
Na terceira pessoa do imperativo.

Mas se quiser ir sozinho,
Saiba que viajem é só no plural.
Então vá acompanhado
Ou faça a viagem igual.

Elairton Paulo Gehlen






sexta-feira, 16 de novembro de 2018

NO PODER


Estava confortavelmente sentado em sua cadeira naquela sala ampla acarpetada, uma mesa enorme de trabalho para amenizar a preguiça, plantas para amenizar o concreto, quadros na parede para amenizar a rudeza do poder e claro secretárias lindas para amenizar as lembranças de casa. Tinha sofás e poltronas para amenizar a dureza do coração, até um padre benzeu o gabinete para amenizar a abundância de pecados. A depressão se alegrava em garrafas de uísque escocês e o povo estava sempre do lado de fora, dele não se precisa de nada para amenizar. Só uma empresa de segurança terceirizada.

Ainda era cedo da tarde e o sol iluminava o bosque realçando o amarelo vivo dos jacarandás e os jardins onde as primaveras esbanjam milhares de flores rosas. Bora trabalhar que hoje é dia de branco! De negro também! Igualmente explorados, viviam cada dia como se aquele dia específico fosse o dia decisivo para todos os outros dias de suas vidas. Só por Deus, compadre, falta uma semana para o salário.

No lusco fusco o espanéfico circuncisfláutico temulento suplica por Asclépio que lhe envie Panaceia. Alguém precisa trazer um remédio para mim, acho que estou ficando hipocondríaco! Você está ficando afetado de um mal que provém de um recipiente para líquidos, geralmente de vidro e de forma alongada e cilíndrica, cuja abertura é mais estreita do que o bojo. A reunião tinha acabado. O uísque também, mas o sentimento ruim que apertava o peito e causava falta de ar todo fim de dia não perdera a hora.

Simbora que o dia já foi! Vou ao mercadinho do Zé Colonial vê se ele me vende mais um fiado. Vendo, sim, sei que vai pagar semana que vem.

Boa noite doutor, se precisar é só chamar. Só se for para me levar pro hospital! Maria! Sim doutor. Esquenta a janta que ainda não comi. Sim doutor. A patroa... . Já se recolheu doutor. Não precisa avisar, eu vou dormir no meu quarto.

Tá aqui muié, trouxe o que me pediu. Que mais que tu trouxe? Ainda não posso contar, bota a janta que eu vou tomar banho e gastar um pouco daquele perfume do camelô. Tá cheroso homem, foi esse que tu comprou foi? Continua com essas mãos que essa é a melhor paga que um homem pode dar quando o dia deixa de ser dia e a noite passa a ser noite, vai clareando o entendimento que nem precisa de palavras e anuviando os pensamentos que são feitos do entendimento das palavras. Nessas horas não preciso dos pensamentos, só dos sentimentos...

 

 

Elairton Paulo Gehlen

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CONVERSA COM CRENTES


(E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.
E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, de acordo com a necessidade de cada um.
Atos 2:44,45)

Na última postagem, vimos que a expressão ‘minoria’ e ‘maioria’ na fala do presidente eleito, tinham significação diferente para o ouvinte comum e para a realidade política. No estudo de semântica isso pode ser classificado como homonímia, ou seja, uma palavra pode ter a mesma grafia e o mesmo som, mas significado diferente. Muitos políticos se utilizam da semântica para enganar o povo comum.

Hoje vou escrever um pouco sobre outra expressão muito utilizada por lideranças evangélicas: Comunismo. Esse substantivo tem levado crentes a acreditar que isso é obra do diabo. Não se pode negar que regimes ditos comunistas tem usado poder de estado para impedir que crenças cristãs se disseminem. Em muitos lugares, Fanáticos religiosos que nada tem a ver com comunistas também. Mas não é bem verdade que todos países ditos comunistas proíbem a religião cristã. Eu sou testemunha do que falo. Em 1997 visitei Cuba onde fui fazer um curso na Escola Nacional de Quadros Sindicais, em La Lisa, na grande Havana. Uma das funcionárias da escola era crente, evangélica mesmo, e eu vi igrejas funcionando normalmente. Ainda sobre Cuba, talvez fosse interessante ler o livro FIDEL E A RELIGIÃO, do religioso Frei Betto.

Falsos profetas, que se locupletaram em templos humanos, diziam que Bolsonaro deveria ter apoio dos crentes porque ia combater os comunistas do PT. Bolsonaro defende claramente que os ricos devem ser protegidos e os pobres cada vez mais desprotegidos de seus direitos. O presidente eleito, em entrevista ao vivo no SBT, dia 16, disse que ‘os ricos estão sufocados”, por isso não dá para taxa-los, mas para os pobres afirmou que devem escolher entre ter direitos ou emprego. Acho que entendi porque pastores milionários colocaram suas igrejas em defesa do seu deus mamom.

 

“Jesus disse a ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. Ao ouvir essa palavra, o jovem afastou-se pesaroso, pois era dono de muitas riquezas. Mt 19: 21, 22”

Se você é contra o comunismo, talvez você não tenha entendido o verdadeiro significado da palavra ou, ainda não tenha lido a tua bíblia, ou você acha que o livro de Atos é o que?

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Poesia: VOCÊ

Faz tempo que não olho para você!
Te vejo todos os dias,
Mas não sei bem descrever
Se com tristeza ou alegria.


Faz tempo que não vejo em você,
O jeito gostoso de viver!
Madeixas negras encobrindo os seios,
E o tesouro escondido no teu ser.


Faz tempo que nem eu, nem você,
Enxergamos a vida dentro de nós.
Cada um vê a vida a sós, pois
Tem um mundo inteiro para se ver!


O mundo nos vê e nos consome,
Faz propaganda da beleza que não temos.
Cria milhões de possibilidades,
Para fazermos o que, de fato, não queremos.


Fomos enganados pela propaganda,
Que dizia para andarmos sorrindo.
Não com nossa própria alma,
Mas com o espírito do capitalismo!


Faz tempo,
Faz tempo,
Que não olho para você!

 
Elairton Paulo Gehlen

ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...