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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O GERENTE ESTA?


         Quero falar com o gerente! Ela falou confiante de que desta vez afrontaria o caixa do banco que recusara liberar o dinheiro. Entrou no banco com passos firmes, olhar altivo, embraçando papéis clipsados pela mão esquerda enquanto que a direita ia adiante do corpo com o dedo indicador um pouco acima dos demais como se estivesse pedindo a palavra. O vestido até o meio da canela, desta vez não era colorido com estampa de cor predominantemente vermelha, donde seu apelido: melancia.

         Pois não, senhora, disse o caixa, na mesa do gerente, com olhar sério e um sorriso contido saltitando entre as bochechas forçando os lábios a se abrirem para os dentes. ‘A melancia’, pensou ironicamente com o olhar firme sobre a advogada que ainda guardava a esperança de que o gerente aparecesse.

         Eu quero falar com o gerente, insistiu a douta advogada. Ainda há pouco havia ligado para a agência para se certificar da presença dele, viera confiante de que desta vez encontraria um aliado para seu pleito. Os olhos quase incrédulos percorreram toda a agência bancária. Mas eu liguei há pouco e o gerente disse que estava aqui!

         Sim, respondeu o caixa, confortavelmente sentado à mesa do gerente. Fui eu que atendi o telefone, em que posso ajuda-la? De soslaio viu os colegas segurando o riso. Não podia rir, estava diante de uma cliente desconcertada, olhos marejando, rosto vermelho de raiva. Da última vez que viera, quisera sacar dinheiro de um seu cliente sem a devida documentação, ameaçara o caixa dizendo que era advogada e que ia falar com o juiz, e etecetera e tal. Apelou para outra atendente, nada. Agora, pelo telefone, entendera que havia um novo gerente na agência.

         Largou os papeis que trazia em cima da mesa, pensou uns arabescos e murmurou alguma coisa como se fosse um padrão infinito que vai muito além do mundo real. Ajuntou os papeis, deu uma volta completa sobre si, olhou para o nada muito próximo do teto e foi embora. Não que ela fosse islâmica ou entendesse minimamente que fosse do arabesco. Também advogava sem conhecer minimamente da legislação e ainda assim tinha pelo menos um cliente, o qual tentava representar, ainda que sem a documentação devida.

         Mas, e o gerente? Estava em viagem e no momento era substituído pelo caixa, seu eventual.


        Elairton Paulo Gehlen

4 comentários:

  1. Nada como ser gentil sempre, o dia de amanhã a Deus pertence.

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  2. ola se um dia você voltar, leia com atenção, em 2025,talvez não esteja mais, aqui, mas li todas as suas poesias, e gostei muito.

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