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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

LAND ROVER


Estou pensando em comprar uma LAND ROVER. Já andei a pé, de carrinho de mão, de bicicleta, mobilete, moto, fusca, corcel II, …. Todos esses veículos eu tive para andar pela vida, agora eu quero uma Land Rover. 

A pé eu andava sozinho seguindo as leis de trânsito ditada por meus pais, irmãos mais velhos, tios, professores, políticos, qualquer autoridade ou pessoa que fosse maior que eu. Mas, andando eu estava sempre sozinho, os que iam de carona comigo estavam sempre cuidando de suas vidas e raramente me ajudavam. 

De carrinho de mão fiz muitos fretes para ganhar um pouco de atenção, pagamento justo pelo trabalho realizado. Não tinha banco para outros passageiros, então a viagem era sempre necessariamente solitária. Fiz muitas viagens para receber míseros pagamentos de reconhecimento e aprendi bem cedo o valor do dito: muita areia para minha caçamba! 

Na bicicleta eu demorei nas aulas de aprendizado. Quando consegui me equilibrar entre a solidão da viagem e a conquista do veículo, percebi que os outros ciclistas eram mais espertos que eu. Fiquei para trás, mas fui em frente. 

Mobilete tem motor, é quase uma moto. Sempre dando problemas de carburador que enche de carvão pela combustão incompleta do óleo misturado com a gasolina, me levou por caminhos desconhecidos, arriscados, mas excitantes o bastante para arriscar a viagem. Montei nela para ter prazer, fiquei pelo caminho várias vezes, sem contar os pedaços que perdi para nunca mais achar peça de reposição. 

Moto anda rápido e tem agilidade se o piloto for minimamente capaz de gerir os equipamentos e estabelecer o equilíbrio levando em consideração a força centrípeta e centrífuga. Muito concentrado na força centrípeta deixei que oportunidades sempre entrassem em fuga. O motor tem uma batida forte, acelerada, mas não havia equilíbrio emocional que desse conta de racionalizar o sentimento. O motor sempre vazando, o coração apertado, a velocidade diminuindo, o foco na força centrípeta, todos fugindo e eu andando em círculo até cair em cima de mim mesmo. 

O fusca é o carro que todo mundo teve por primeiro. Barato, pouca manutenção, relativamente econômico e dá prazer. Achei meu fusquinha numa zona muito popular. O coração acelerado. Minha primeira vez. Carro usado, muito usado. Não tenho cacife para carro novo. Estava lá. Peguei. Troquei o óleo. Estava vazando. Custou caro. Muito caro. 

Comprei meu corcel II. Cabe mais gente. Usado também, meio estragado, mas a gente vai dando manutenção. Fiz algumas reformas até não ter mais conserto, deixei para lá, outro está usando, deve gostar. 

De carro em carro fui renovando as esperanças. Não tive a paz que eu esperava. Agora estou no site da Land Rover, estou montando o carro para viver o resto da minha vida. Não quero mais carro usado. Nunca tive um novinho para ser somente meu e eu dele. Estou empolgado com a direção segura e leve, não precisa muito esforço nem insistência, é só guiar que o carro segue comigo como se fossemos uma só carne. Câmbio automático, não vai ter necessidade de mudança de marcha o tempo todo, basta seguir a direção combinada e o carro anda macio porque o amor, os amortecedores são de qualidade. Tem espaço, posso entrar com tudo o que tenho sem nenhuma restrição. É uma caminhonete, então eu devia chama-la de a Land Rover. Ela é muito linda, estou empolgado, mas desta vez vou com calma, das outras vezes eu me empolguei e errei. Quero ela só para mim. Andar macio, elegante, traz conforto e não gera confusão. Acho que desde o início eu devia ter pensado em uma Land Rover, nada de ficar experimentando e sofrendo.

 

Elairton Paulo Gehlen

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