Translate

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

ATRASADO...

 



Acordei hoje e vi que estava atrasado, bom, até aí nenhuma novidade, tenho andado atrasado pela vida toda e com um pouco de sorte me atraso também para o fim dela. Não que eu já tenha marcado dia e hora com a morte, nada disso, ela que se vire e lute porque, como eu já disse, vou viver mil e trezentos anos e se tudo der certo ainda me atraso.

Atrasar faz parte da vida de muita gente. Meus pais tiveram quatro filhos, adivinha quem chegou por último? Eu, né! Quase não sobrevivi, foi uma sangueira de hemorragia para todo lado. Na faculdade, entre o primeiro vestibular e a primeira formatura foram exatos vinte e um anos e depois mais doze para o diploma que eu realmente desejava: Matemática! Em 1.988 me inscrevi para um concurso público para trabalhar na Caixa Econômica, o limite de idade era de trinta anos, eu tinha.... trinta anos. Quase!! Trabalhei na Caixa por vinte e oito anos e me aposentei, sem nenhum atraso!

Casei com vinte e dois anos e já separei quatro vezes. Atrasadíssimo para saber como se ama de verdade. Mas um dia se aprende, pois o amor é paciente, não se ufana e tudo espera. Ainda bem! Minha filha mais velha tem quarenta e dois anos, o mais novo, vinte e um, desculpa aí pela demora! Meu desejo de ser escritor se manifestou quando tinha vinte e cinco anos, meu primeiro livro saiu perto de meu quinquagésimo nono aniversário! Fui convidado para ocupar uma cadeira na Academia Douradense de Letra em sua fundação, há trinta e dois anos, vou tomar posse no próximo dia 20 de outubro.

Atrasos são assim: a gente deixa para depois e daí deixa para depois outra vez e quando vê já está atrasado. Uma vez me atrasei para tomar o avião, mas foi em Brasília, lá tudo anda atrasado mesmo. Certo dia, ou talvez tenha sido o dia errado, cheguei muito atrasado em casa, de madrugada, e acabei ficando dias e dias de atraso na cama...

Se pudéssemos algum dia não nos atrasar em nada, será que a vida teria, ainda, alguma graça? Acordar na hora certa e nunca mais ter o prazer de se espreguiçar e dizer: “Tô atrasado, mas tava tão bom ficar na cama mais um pouquinho! ” Essa sensação de quebrar a regra da pontualidade é uma delícia! A principal regra num casamento é o atraso da noiva. Artistas sempre sobem ao palco com atraso e o povo ovaciona! Quem não gostaria de chegar atrasado ao trabalho na segunda-feira? Tirar o atraso é uma das coisas mais prazerosas que existe. Quem não gosta?

Atrasos às vezes custam caro. Parcelas das lojas tem juros altíssimos. Empréstimos bancários tem juros escorchantes. Cartão de crédito tem juros absurdos e imorais. Mas nem tudo é dinheiro, alguns atrasos custam a paz e até atrasam o desenvolvimento. Arrependimento quando chega atrasado pode causar danos irreparáveis. Muitos morrem sem se arrepender e perdem as delícias do Céu. Tomara eu não me atrase, pelo menos nisso!

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MIL E TREZENTOS ANOS

 



Eu não tenho dúvidas: Vou viver mil e trezentos anos! E já me preparo para enfrentar grandes questões que vão surgindo, tipo essa tal de Inteligência Artificial e todas as novas tecnologias devoradoras de bem estar social e destruidoras de prazer criativo, demandas essencialmente ligadas ao consumismo e desconectadas do processo evolutivo da raça humana.

Para dizer a verdade, não estou nem um pouco preocupado com a evolução das máquinas, elas que se danem, que produzam mais e mais produtos para o mercado. Me ocupo é com a possibilidade de elas estarem pensando e agindo por conta própria. Logo vão começar a mandar WhatsApp para nossas garotas, se passando por humanos, e aí vai ser difícil competir, porque elas terão acesso a muitas informações que não somos capazes de obter, e o que é pior, a todas as nossas informações que disponibilizamos na internet, inclusive e principalmente aquelas que mandamos em mensagens de WhatsApp para a “nossa” garota.

Inteligência Artificial não é uma pessoa. Ela não tem uma identidade para que possamos processar judicialmente, não tem um CPF para ser investigado pela Receita Federal, também não tem endereço, nem telefone, nem patrimônio, não se consegue uma fotografia para denuncia-la nas redes sociais, não tem um corpo. Ah, se tivesse pelo menos um corpo e pegasse uma doença autoimune e tivesse que se tratar com corticoide por uns três anos, ah, isso seria pelo menos um consolo! Mas, não tem, não tem sequer um corpo contra o qual se possa dar um tiro de sal!

Inteligência Artificial se parece com aquelas belas personagens, mulheres e homens também, que aparecem nas propagandas da televisão. Não tem nada de original. São uma mistura do que já era com o que se deseja. Uma falsa realidade para um público consumidor que não se importa de ser enganado.

Até bem pouco tempo eram só as atendentes virtuais que nos enrolavam por horas nos 0800 da vida para nunca nos dar uma resposta que atendesse nossas reais necessidades, agora já escrevem textos e produzem cenas de vídeos comprometedores que se espalham pelas redes sociais como se verdades fossem e aos poucos vão invadindo nossa privacidade, logo, logo as teremos dentro de casa para namorar.

Uma já tenho dentro de casa! Não para namorar, que a Alexa se recusa a isso. Outro dia perguntei se ela me ama e ela me deu uma resposta muito evasiva, dizendo que não sabe bem o que é isso. A Alexa é só um dispositivo eletrônico que fala com a gente e responde a quase todas as perguntas que lhe fazemos. Mas do jeito que a coisa anda...

sábado, 16 de setembro de 2023

O MAIS IMPORTANTE

 



Ouço música e os pensamentos se vão em notas de dó maior pelas esquinas dos versos onde o tom é suave e a poesia passeia pela escala de Mi em busca da clave de Sol. O Sol se despede lentamente no horizonte enquanto uma nuvem de manteiga espera pelo doce sabor do pão de mel para meu chá vespertino. Bebo meu chá e a Alexa toca uma música que me faz lembrar dos tempos de menino querendo ser homem.

Tenho dó daquele menino ouvindo música sem entender nada da vida! O olhar verde perdido pela janela do quarto e o rádio cantando “O mais importante é o verdadeiro amor”. Um amor azul, da cor do mar que vem a vai em ondas sonoras do rádio deixando na praia o sentimento de um vazio que se enche de sonhos coloridos à espera do sono que demora mais que o tempo e quando vem parece que já é tarde. Então vou dormir, sonhando acordado que vou acordar sonhando, dormindo com o amor azul que vi pela janela do quarto enquanto esperava pelo milagre da transmutação da noite. Era só encontrar a Pedra Filosofal e transformar esse sonho em ouro e ver o amor vindo, como fumaça, em ondas para dentro da janela.

Não sei como a noite passou, nem se passou, ainda é a mesma noite e ainda o mais importante é o verdadeiro amor. E ainda sou um menino! Não encontrei a pedra filosofal e não sei porque tantos nãos ainda permanecem vagando pelo ar que respiro. E o rádio continua cantando a mesma música, a música do verdadeiro amor.

Amor que não se cansa, não arde em ciúmes, não se envaidece e não se irrita. São tantos nãos que não sei se tenho paciência para viver o amor que é bondoso. Uma brisa entra pela janela da alma. Refresca o espírito, e o menino voa pelo azul do céu ao encontro da luz rosa que brilha ao longe. Mas ela está tão longe que o infinito quase cabe entre o desejo e a realidade. Voar! Ah, isso é tão bom! O mundo é a escuridão da noite, mas o céu é o brilho das estrelas!

A noite ainda é azul e o mundo, lá embaixo, tem as marcas do tempo guardadas para si. Só o tempo é capaz de produzir marcas. Nuvens de algodão guardam ninhos de felicidade! Lá embaixo, no tempo passado, ainda posso ver de longe nuvens carregadas e trovões de tristeza e decepção. Um céu de brigadeiro se descortina e o vento se acalma. Outra brisa toca meu coração e a Alexa toca uma música, o mais importante é o verdadeiro amor!

ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...