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sábado, 29 de agosto de 2020

A FLOR DA FORTUNA!

             As flores tem uma linguagem própria para se comunicar com os seres humanos e no fim de semana elas aparecem em todas as mídias dos românticos que as buscam antes de fazer outras pesquisas no google e mandam floristas fazerem entregas especiais para a bem-amada ou para acalmar alguém que eventualmente deixou de amar por algum motivo fútil, certamente falta de comunicação adequada pois não há o que não possa ser explicado e nem pecado que não possa ser perdoado mediante um belíssimo buquê de rosas.

As rosas são mesmo as rainhas do jardim e não há quem não queira viver em um mar de rosas. Rainhas são admiráveis e seu perfume atrai os súditos como feromônio atrai o macho para o acasalamento e os beija-flor para o néctar de onde tiram todo o alimento mais precioso numa sequência invejável de beijos. As flores, o jardim e o fim de semana, um arranjo bem feito cura feridas do amor que não teve tempo nos outros dias.

Não gosto das rosas! Sim, tem quem não goste das rosas. Elas traíram pelo menos um amigo que comprava flores e recusava a sugestão da florista. Não gosto porque foi uma rosa que me traiu! A frase saiu incontida, quase sufocada. O jovem cliente que recusava as rosas era certamente um romântico, escolhia cada flor como se escolhesse palavras para a bem amada e ia qualificando-as: Girassol é a felicidade; Orquídea pureza espiritual; Lírio prosperidade; Astromélias afeto; Margaridas juventude; Cravos fidelidade... ela foi infiel recebendo aquelas rosas!

Não pude evitar o olhar quase curioso sobre meu amigo e quando ele flagrou minha curiosidade tentei desconversar e perguntei o que achavam daquele buquê de flores na prateleira um pouco atrás da florista quando o jovem pegou outro arranjo e me alcançou. Este, este é perfeito para você! Flor da fortuna! Um afortunado como você nunca foi traído pelas rosas! Disse isso e saiu calmamente sem levar nenhuma flor. Não gosto das rosas, ainda repetiu.

Talvez eu seja mesmo um afortunado. Comprei as flores e agora elas estão num belo vasinho e sorriem para mim enquanto escrevo esta crônica, quem sabe possam passar um pouco de fortuna para quem estiver lendo o texto!

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

UM TEMPO PARA CONVERSAR!

             Passei uns dias praticamente isolado aqui no meu apartamento. É bom estar só de vez em quando e fazer companhia para si mesmo. Tenho que confessar que foi um tempo de paz! Conversei serenamente comigo mesmo sobre vários assuntos e tivemos acordo, eu e eu mesmo, sobre a maioria, até fizemos planos para tirar férias depois da vacina. Agora é assim, férias não são mais para o final do ano ou outra data qualquer, mas para depois da vacina. Então está decidido, vou tirar umas férias para descansar, afinal já estou aposentado há três anos e preciso sair da rotina. Quem sabe arrumo um emprego por trinta dias?

Conversar consigo mesmo é uma das coisas mais estimulantes que alguém pode fazer para si mesmo. Claro que vez ou outra surge uma grande divergência de opiniões e até uma luta e alguns arrependimentos por decisões precipitadas ou deliberadas que por algum tempo tiram o sossego e até podem gerar prejuízos econômicos quando não de saúde física. É a tal da luta da carne contra o espírito. Quando isso acontece, apelamos para a bondade eterna e pedimos perdão. Ultimamente aprendi a me perdoar com mais facilidade e isso tem aliviado um peso grande que carreguei por muitos anos.

Depois de alguns diálogos, monólogos, sei lá, decidimos, nós ‘eus’ que deveríamos fazer mais coisas juntos, tipo ouvir música com o volume mais alto e dançar abraçados, cantar mesmo fora do tom, gastar mais tempo na cozinha aplicando aquelas receitas da internet e fazer mais exercícios físicos, na hora de dormir evitar qualquer discussão conflituosa que nessa hora ninguém resolve nada ou não dorme. De noite passamos mais tempo na cama com o Vinicius de Morais, Carlos Drummond de Andrade, alguns poetas douradenses e uns belos trechos bíblicos.

Assunto não falta! Quatro casamentos dão conversa para muito tempo. Quatro filhos mais outros tantos de tempo ainda e agora faço planos para visitar os cinco netos, depois da vacina, claro. Mas, de vez em quando tiro um tempinho para escrever essas crônicas, o que não deixa de ser uma boa prosa com um ou outro leitor que se anime a ler isso. Hoje meu filho voltou do sítio e aproveitamos para pôr em dia os assuntos familiares, agora eu mesmo saio da conversa para que eu possa ter mais tempo com o garoto.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

TODAS AS CIDADES DEVERIAM TER UMA ORLA!

             Tem coisa melhor do que dar um passeio pela orla no final da tarde para ver o pôr do sol? É quase um desperdício de vocabulário fazer uma pergunta dessas! Cidade que se prese tem pelo menos um lago em um parque com um grande gramado e árvores e uma pista de caminhada onde os cidadãos de bem fazem seus passeios vespertinos com o intuito de manter o corpo saudável e a mente descongestionada dos excessos de preocupação diurna.

Tem sempre uma moça que caminha distraída balançando o corpo enquanto fala ao telefone atraindo a curiosidade dos meninos que apressam o passo para ouvir pelo menos um pouquinho da conversa e saber se ela já tem namorado. É um desespero se ela filma a superfície do lago onde o pôr do sol reflete toda a paixão de corações apaixonados e ela diz em alto e bom som: Olha, amor, eu sei que a distância que me separa de ti é maior que a do sol mas o amor que me aproxima é como o reflexo sobre este lago, posso entrar nele e estarás dentro de mim! Bom, pelo menos serve de inspiração.

A orla é uma ilha de paz em meio à guerra campal estrategicamente planejada e executada no campo de batalha do capitalismo.  Civis deitam-se sob as árvores e falam amenidades, namorados trocam juras de amor num banco providencialmente colocado à beira de uma cachoeira, mães dão gritos de alegria com seus filhos no parquinho, idosos andam calmamente enquanto homens e mulheres de meia idade correm contra o tempo para manter seus corpos saudáveis e bonitos.

A orla é um lugar de paz, ou deveria ser. Como diz o ditado: Não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe. Quanto ao mal que uma boa estratégia de maximizar os lucros pode causar no pobre coitado do desavisado consumidor não quero aqui fazer referência, mas o bem que esse oásis produz, esse às vezes tem lá o seu fim de trégua.

Daqui a pouco vai completar seis meses que os parques estão fechados para prevenir a contaminação do corona vírus. Só não consigo entender muito bem, ou será que consigo? Os parques são áreas abertas e bem ventiladas com grandes espaços para as pessoas se distraírem e estão fechados enquanto o comércio e as indústrias e o transporte coletivo onde as pessoas se aglomeram em lugares fechados continuam funcionando normalmente. Alguém pode, por favor, me explicar que estratégia de guerra é essa?

terça-feira, 25 de agosto de 2020

BOM DIA FUTURO!

Quem nunca pensou em dar um salto no tempo e continuar vivendo dali em diante sem ter que passar os perrengues do tempo que se avizinha? Pois é, eu muitas vezes! Mas o tempo que não está nem aí para a minha vontade vai contando cada segundo individualmente nos dias mais difíceis e dando saltos nos dias alegres. É um pouco da sensação que temos de que não somos capazes de controlar o tempo e de alguma maneira é o tempo que nos controla.

O relógio marca o tempo exatamente igual para o mundo todo, mas todo mundo quer mesmo é ter um tempo livre! No íntimo, todos desejam mesmo é privatizar o tempo, o patrão compra o tempo do trabalhador como se comprasse a matéria-prima para a indústria ou o produto para o comércio ou a ferramenta para o serviço a ser prestado. A mídia vende o tempo para promover os produtos e os serviços. O trabalhador vende o seu tempo e o desempregado perde muito tempo procurando quem queira comprar seu tempo ainda não perdido.

É quase uma infinidade o tempo que a garota gasta se arrumando para sair com o namorado que não gastou mais que cinco minutos para tomar banho, vestir calça jeans e uma camiseta polo. Meu amor! Paixão da minha vida! Tenho todo o tempo do mundo para te dar se você me quiser! Você é o meu céu! Minha lua cheia! O tempo para, quanto estou com você! Sou tua o tempo todo! Nem um temporal pode me tirar de ti! Eternamente tua! Eternamente teu! Nem o infinito é tempo suficiente para eu ficar contigo! Infinitamente mais eu quero ficar!

Já ouviu falar em TMG Tempo Médio de Greenwich (GMT Greenwich Mean Time)? É a média do horário solar aparente no Observatório Real, em Greenwich, Londres. Se você acessar a internet no endereço https:/time.is/pt_br/GMT dá para ver a hora exata de Greenwich. É quase uma perda de tempo, pois isso para nada serve na prática! Certo é que escrevo isso pensando em ter algum tempo para ver se encontro alguém que talvez possa ter um tempinho para eu chamar de minha lua cheia. Tem uma música romântica tocando há uns três minutos. Olho para o futuro e não vejo o tempo. Amanhã é o futuro, então, bom dia!

sábado, 22 de agosto de 2020

AS PESSOAS NÃO DEVERIAM MORRER!

Cada vez que faz frio me lembro de 1.975 quando eu estudava no Colégio Agrícola de Concórdia, em Santa Catarina, naquele ano fez um dos maiores frios de século e no dia mais frio do ano eu saí de férias do Colégio e viajei o dia e a noite toda com gélidas paradas em rodoviárias pelo caminho até chegar na casa de meus pais, no interior de Toledo, no Paraná às nove horas da manhã seguinte e ainda encontrar a água congelada no encanamento e o meu pai desesperado porque tinha perdido a safra de trigo plantada em sua chácara de pouco mais de dois alqueires.

As pessoas não deveriam morrer! Talvez essa não seja uma comparação muito agradável, mas é que morrer parece um pouco com o frio de 1.975 que destruiu as lavouras de trigo cacheados e os cafezais do norte do Paraná. Temos sempre alguém especial em quem pensar como se uma geada tivesse posto fim numa lavoura fértil, pois a vida sempre nos parece produtiva não importa a debilidade física, sempre mantemos a vida.

Já vai tarde! Também é um jeito de dizer que o frio levou uma praga. Em 1.975, enquanto o Brasil contava os mortos pela ditadura de estado, na Espanha esfriava o corpo do Generalíssimo Francisco Franco Bahamonde, golpista que governou com mão de ferro o país por quase quarenta anos estabelecendo um regime fascista e ditatorial.

Que frio é esse que atravessa o Brasil de Sul a Norte? A paisagem gélida aparenta uma beleza indescritível aos olhos de quem está aquecido.  É quase um colírio a neve caindo e a geada se formando sobre os campos e entrando pelos celulares e enchendo páginas e páginas do facebook. Mais de cem mil mortos pelo COVID-19, que frio é esse? Quem pode ver beleza nisso promovendo aglomeração de pessoas e minimizando a gravidade dessa doença que mata principalmente pobres e idosos?

Esta semana o Brasil experimentou uma massa de ar polar. Esta semana continuamos contando os mortos e a conta forma uma camada de gelo para delírio dos corações aquecidos pelo mercado que se recusa a distribuir a renda. É preciso aquecer a economia para recuperar o lucro, os mortos, é só um friozinho! Quando iremos dizer: Já vai tarde?

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A MENINA

             Como posso saber quais são os sentimentos de uma menina de dez anos que brinca de boneca e a boneca come ela desde os seis. Como posso saber? A boneca se transforma e de repente está grudada no gigante e ela tem que continuar a brincar. Como posso saber se ela pensou que era só um sonho que se transformou em filme de terror ou era um filme de terror que virou sonho. Como posso saber?

E a menina que brincava de boneca de repente virou uma boneca de brinquedo nas mãos do gigante. Era uma criança grande brincando? Como posso saber? Brincava, se divertia com a boneca de seis anos até ela ter dez e fazer a sua própria boneca. Era bom? Como posso saber? Ela queria falar, mas não podia, uma boneca não fala se não for programada. Só brinca, brinca de boneca e é a boneca da brincadeira!

De onde veio essa brincadeira? Como posso saber? Da televisão que enche os lares de promiscuidade e pornografia? Do machismo estrutural? Da miséria que faz o bruto brincar de boneca porque não precisa pagar? Como posso saber? Tem mais meninas brincando de boneca e virando bonecas ou era só uma? Quem inventou essa brincadeira? Como posso saber?

Como posso saber quais são os sentimentos de quem julga a menina que virou boneca nas mãos do brutamontes? Cristãos? Não há uma única referência bíblica que autoriza a acusação. Eram do capeta? Como posso saber? Quem acusa é o diabo! E o bruto que brincou de boneca? Quem fez ele se tornar um bruto? Como posso saber?

Talvez eu e você tenhamos falhado e ajudado os brutos. Não falta a Lei. Você já leu? Estatuto da Criança e do Adolescente, “Artigo 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.  Todos esses “à” estão na Lei. Quem faz cumprir a Lei? Para quem você votou? Como posso saber?

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

PROFESSOR

             É sabido que para ser professor são necessários anos de estudo em graduação e pós-graduação onde se aprende, além dos conteúdos específicos da matéria a ser lecionada no futuro, muitas outras que dão suporte ao profissionalismo do educador na sua atividade de sala de aula. Ninguém sai diplomado sem estudar psicologia, gramática, sociologia, filosofia, linguística, didática e outras tantas disciplinas complementares, e pode ter certeza que cada uma delas é aplicada em todas as salas de aula e até fora delas.

Neste mês em que se comemora no Brasil o dia do estudante há que se pensar se o sistema educacional tem aproveitado todo o investimento que se faz para que o aluno possa usufruir de todas as capacitações que os professores receberam enquanto eram eles também alunos. Se perguntarmos para os alunos se eles gostam da escola, a maioria diz que não, se fizermos a mesma pergunta para os professores, a resposta não é diferente e, não é porque alunos não gostem de aprender ou que professores não gostem de ensinar, ao contrário, tanto alunos como professores gostariam de ter uma escola melhor, mais acolhedora e democrática.

Eu fui professor por quase vinte anos, lecionei para alunos de quinta a oitava série, para alunos do ensino médio, em cursinhos pré-vestibular, cursos preparatórios para concurso e no ensino superior. Por muito tempo me senti apenas um empregado do sistema que me contratou para lecionar, mas por outro tanto de tempo me senti um sujeito transformador da realidade vivida por aqueles alunos ansiosos pelo conhecimento que poderia de alguma maneira poderia abrir-lhes as portas de uma vida melhor que a que fora destinada a seus pais.

O mundo inteiro comemora o dia do aluno em novembro, no dia 17, já no Brasil a data é o dia 11 de agosto, dia da criação das faculdades de direito de Olinda e de São Paulo. Acho mais significativo o dia 17 de novembro, data que homenageia a resistência dos estudantes da antiga Tchecoslováquia à ocupação nazista. Poderíamos deixar o dia 11 de agosto para os advogados que comemora também essa data como sua, está muito mais para homenagear que ganha dinheiro com a falta do direito do que o direito de se ter um sistema educacional que respeite tanto alunos como professores à uma escola pública, gratuita e de qualidade.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

QUERO VER ISSO

             Nem todas as coisas se pode ver, mas a curiosidade é tanta! E ver, nem sempre significa trazer a imagem até a retina dos olhos, às vezes pode ser simplesmente ver com a imaginação e, ainda que seja com os olhos, esse órgão responsável pelo sentido da visão, quando vemos, os raios de luz entram nos olhos, atravessam as estruturas oculares, que são a córnea, a pupila, os humores e o cristalino antes de chegarem até a retina. Não inventei, isso está tudo na internet para quem quiser ver, assim mesmo, com todas aquelas estruturas.

Não consigo ver o que está acontecendo! Essa expressão é comum quando os casais entram em crise e já não sabem mais como compreender o caminho dado ao relacionamento. Certamente não é o mesmo da luz da visão. Pode até ser, mas quando chega no humor a luz se desfaz e o relacionamento perde o sentido.

Queria um amigo tomar confidência comigo e pediu conselho sobre sua visão do relacionamento que estava prestes a ficar na escuridão para sempre. Nessas horas precisamos ser bem camaradas e ouvir todas as lamúrias com a segurança de que toda a verdade esteja sendo dita sem ter nenhuma necessidade de se ouvir a outra parte, pois isso levaria certamente a uma total desconfiança o que impediria que se pudesse ter uma visão, ainda que parcial do acontecido.

Tentei uma passagem bíblica e disse que talvez ele devesse tirar a trave do olho para ver o cisco que pudesse estar atrapalhando a visão da esposa. Cisco não, é problema na córnea! Não procurei explicações sobre isso, também não sei até onde vai seu conhecimento de biologia, sugeri que buscasse um especialista em restauração de casamentos e a surpresa foi grande quando ele disse que me considerava o melhor e por isso viera até mim. É a minha última esperança!

Já fiz análise de conjuntura econômica e palestras sobre globalização e neoliberalismo, mas o desafio que se me apresentava ainda não fora obra de nenhum trabalhado do qual possa acrescentar um milímetro em meu currículo. Pedi que tivesse um pouco de paciência, fiz um café e servi umas bolachas e gaguejei umas possibilidades de reconciliação que nem eu mesmo acreditava, por fim me confessei incapaz de apresentar qualquer solução viável para o caso. Veja, eu disse, meus quatro casamentos foram um fracasso, talvez eu seja mesmo um especialista em como o casamento dá errado. Isso, ele disse, quero ver isso, é esse o conselho que eu quero, quero saber como faço para acabar logo esse casamento que eu já não vejo mais a existência!

sábado, 15 de agosto de 2020

DA NUVEM

             Todo mundo já sabe que as informações que você possui no seu computador ou celular podem ser transferidas para uma nuvem, essa tecnologia permite que as pessoas compartilhem seus desejos com mais facilidade sem perda de informações e de sentimentos nessa viagem por milhares de quilômetros em frações de segundos permanecendo em total segurança e privacidade apesar da velocidade da informação.

Ainda não estou muito afeito à essas nuvens de informação, para mim, nuvens continuam sendo aquelas que trazem a chuva ou pelo menos um frescor em dias de sol quente enquanto ando de bicicleta pela rodovia em meu exercício vespertino. Às vezes a chuva tão esperada vem na hora inesperada, no meio do caminho sem um abrigo num dia frio!

Acabei de assar uma cuca e a massa não cresceu, fui buscar na nuvem de informações entendimento para o motivo e encontrei milhares de arquivos, uma verdadeira chuva de soluções para minha cuca que já não podia mais crescer por já estar assada. Aí escutei um ‘plinc’.

Já estou começando a me acostumar com a linguagem da internet, plinc é um trovão anunciando uma chuva de algum tipo de informação que estamos esperando ou não, mas chega por alguma mídia e nos molha se estamos no meio do caminho sem um abrigo por perto. Plinc. Fui ver e era a chuva mais refrescante e desejada que podia vir neste tempo de seca.

Sabe aquele dia cheio de fumaça e poeira, pois é nem meu computador queria aceitar as palavras que eu estava tentando escrever, acessei e fechei dezenas de vezes a página do facebook, cada acesso, mais poeira nos olhos, até que: plinc, dá vontade de nem ver, vai que é tempestade!

O relógio me dizendo que é hora de mandar a crônica para o jornal e eu sem o mínimo de capacidade intelectual para escrevê-la. Plinc, tinha quatro mensagens seguidas no Messenger, olhei a última e imediatamente abri o word para escrever este texto. Não precisa tempo melhor do que ver uma mensagem escrita: Você é bonito! Veio da nuvem de informações, só pode ser um milagre!

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

VENEZUELANOS

             Há mais ou menos um ano e meio eu recebi, em casa, por três dias, um casal de Venezuelanos que para cá vieram em busca de uma nova vida e, enquanto a empresa que prometera o emprego não efetivara a contratação ficaram conosco nesse tempo precioso. São pessoas maravilhosas com as quais mantenho amizade até hoje, por isso me dou a liberdade de citar os nomes: Mauricio e Julii.

Venezuelanos vem para o Brasil como vieram japoneses, árabes, poloneses, paraguaios, de outros tantos países e até os alemães dos quais sou descendente. Vem em busca de uma vida digna que seu país por algum motivo não lhes consegue mais garantir, mas trazem consigo uma riqueza cultural que demora a ser percebida e valorizada porque vem desprovida dos recursos materiais necessários para despertar o interesse da mídia e dos “fazedores de cultura”.

Não sei nas demais cidades, mas aqui em Dourados muitos desses imigrantes venezuelanos estão desempregados e ocupam as ruas com placas de ‘Sou Venezuelano e preciso de ajuda’ feitas de papelão escritas com pincel atômico. Curiosidade mata! Mas também alimenta a alma. Parei numa dessas esquinas, dei uns trocados e puxei uma conversa para entender a situação daquele moço que pedia ajuda para alimentar a família que passava necessidade por ele ser venezuelano, como se milhares de brasileiros não estivessem nessa mesma situação.

Cada vez que o sinal abria e os carros arrancavam ele voltava com algumas moedas e me dava alguma explicação. Viera por conta própria para o Brasil, em Roraima e de lá fora trazido para cá por uma organização religiosa que o apoiara até conseguir o emprego, mal começou a trabalhar e veio a pandemia daí foi demitido, as igrejas fecharam e nenhuma porta se abrira em seu favor, então foi parar no semáforo, tinha mesmo uma esposa e um filho pequeno de dois anos de idade e planos para trazer os pais e quem sabe a avó que ficaram na Venezuela.

Semana passada Mauricio me ligou pedindo ajuda porque a Julii sofreu um acidente de motocicleta e quebrou o braço e a perna, estava internada e os médicos não davam informações suficientes sobre seu estado de saúde e quando ela seria operada. Ambos foram demitidos da empresa onde trabalhavam e fazem planos de voltar para seu país, mas não tem dinheiro para as passagens. A Julii foi operada e já teve alta.

Ficou fácil falar dos venezuelanos porque houve uma grande publicidade quando eles migraram em massa para o Brasil. Parecia que éramos um país maravilhoso até então. Não éramos, ainda não somos e só seremos se quiçá algum dia nos tornarmos mais humildes e solidários, podemos experimentar ajudando Los Hermanos, quem sabe aprenderemos a ajudar também os brasileiros.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

ONOMATOPEIA

             Hoje decidi ficar em casa e buscar inspiração exclusivamente na memória para o texto da minha crônica, mas foi da rua, justo hoje, foi da rua que me veio um inesperado questionamento: O senhor sabe me explicar o que é uma onomatopeia? Antes de responder, claro perguntei quem era o interessado em tão peculiar entendimento. Eu quero ser escritor, me disse e continuou falando de seu interesse pela literatura ao mesmo tempo em que tinha lá as suas dificuldades com a compreensão das figuras de linguagem.

Onomatopeia é uma curiosa figura de linguagem muito útil nos textos escritos e usada para se reproduzir sons encontrados na natureza. A estas alturas eu ainda não sabia donde veio a curiosidade do futuro escritor, mas escritores vivem de curiosidade mesmo então dei-lhe minhas modestas explicações e alguns exemplos, pelo que, depois de uns segundos de silêncio respondeu sorrindo que estava presenciando uma cena de onomatopeia ao vivo. Mas não está muito claro ainda!

Enquanto a situação por lá não ficava ‘muito clara’ ficamos falando de figuras de linguagem. Escritores se valem muito de figuras de linguagem, disse o jovem candidato a essa bela profissão e quis saber o segredo para decorar todas as figuras, são muitas! Falou com admiração. São, respondi, só numa listinha que tenho cá comigo tem mais de vinte.

Perguntei se em seus textos costumava usar muitas dessas figuras, não, disse animado, mas tem uma que uso frequentemente: a Ironia! É que gosto de ouvir notícias como fonte de inspiração. Aí pensei que talvez estivesse acontecendo uma profícua discussão política que ele esperava por mais clareza nas ideias, não ele disse, aqui é mesmo onomatopeia!

Confesso que ainda não decorei todas as figuras de linguagem, então quando preciso de alguma eu dou o nome genérico de ‘metáfora’. E dá certo? Então posso chamar isso aqui de metáfora? Bem, não sei o que está acontecendo aí, mas se quiser e não tiver nenhum gramático por perto, não vejo problema. Aí o jovem escrevinhador do qual ainda não sei o nome resolveu descrever a situação onomatopaica que estaria acontecendo em lugar mais ou menos público, relativamente discreto. Eu estou aqui numa praça do meu bairro que está fechada por causa do corona vírus, mas eu entrei por um buraco da tela para descansar perto de uma matinha que cerca uma nascente, aí comecei a escutar uns gemidos parecendo miado de gato, aproximei-me devagarinho para não ser notado pelo casal que ali se encontra. E adivinha o que era? Uma metáfora, Onomatopeia!

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

MADRUGADA

             Tem coisas na vida que não se pode fazer uma afirmação segura, tipo quando se diz que um copo está meio cheio, pode muito bem estar meio vazio com a mesma quantidade de líquido. Assim também parece que é na madrugada quando se perde o sono e fica-se olhando pela sacada para ver se pelo menos mais uma alma viva esteja acordada para fazer companhia, mesmo que de muito longe, uma luz acesa numa janela já é um sinal de esperança de que a solidão não irá depositar todo seu peso nas costas de uma só pessoa.

Perder o sono de madrugada não é bom, mas ficar acordado nessas horas pode ser aquele privilégio que poucos tem de ouvir o silêncio da noite enquanto vive a cidade que dorme quase como se fosse o único morador. Nessa hora daria para dar um golpe de estado e proclamar a sua própria independência sem que houvesse resistência alguma. Foi na madrugada de primeiro de abril de 1964 que os militares deram o golpe contra a democracia.

Às vezes fico acordado até de madrugada e não sei se daí já é tarde da noite ou cedo do dia. Ontem acordei às três da madrugada e achei que era cedo do dia, fiz chimarrão e assumi o controle político da nação. Revoguei a Constituição e fiz uma nova com leis que servem para sociedade em vez de leis que servem para os homens que escrevem as leis. Declarei constituído um Congresso de pobres, revoguei todas as classes dos nobres e institui no Senado todas as classes de favelados, ao lado dos Sem Terra e dos abandonados. Para relator, um analfabeto, Artigo primeiro: É proibido baixar decreto!

 Consta, ainda no regulamento, que farão parte do novo parlamento pessoas que não dependam da razão: Poetas, poetisas e cronistas, contistas, chargistas, mas nunca Charlatão. E o segundo artigo antes da publicação no diário oficial proíbe a vida em solidão sob pena de grande mal. Publique-se. Cumpra-se!

Feita a publicação, tomei meu café da manhã e fui ver o noticiário matinal na televisão. Depois de anunciar que o Brasil teve mais de mil mortes pelo COVID, mostrou o Bolsonaro reafirmando o acordo com o Centrão. Então percebi que a madrugada se acabara é seria melhor eu ir dormir.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

TRAZ OU TRÁS?

         Fui atrás de um dicionário para resolver uma questão que às vezes me traz grande dor de cabeça. A questão é que tem palavra da língua portuguesa que inferniza o escritor porque traz consigo esse homófono que deixa para trás um rastro de erros nas publicações que não são devidamente revisadas, felizmente isso acontece com qualquer um, especialmente quando esse ‘qualquer um’ costuma publicar quase que diariamente seus textos. Como diria Vinicius: Escrever prosa é uma tarefa ingrata.

Só posso concordar com o Vinicius porque ele certamente disse ‘ingrata’ sem querer dizer literalmente ‘ingrata’! Se o fosse não passaria sua vida inteira escrevendo. Português também tem isso de literal ou figurado, ainda bem! Não acho que escrever seja ingrato, mas a língua portuguesa, essa sim, de vez em quando faz o escritor tropeçar e quando vê, o texto já foi publicado e ai! não dá mais para corrigir.

Talvez eu não seja o único a plantar uma palavra no canteiro errado, ainda que seja uma hortaliça da mesma espécie e muitas vezes consumida sem ser percebida, mesmo assim, se o canteiro é de alface, melhor que não se plante um pé de almeirão no meio. Já me disse uma professora de linguística que o importante na comunicação é que a mensagem seja compreensível.

Gramática, linguística e política tudo se parece, há mais de um sentido para as palavras e a mensagem que se passa, nestes tempos de campanha eleitoral, traz um otimismo que tem por trás interesses não muito claros na mensagem, questão de semântica, ou de linguística. Que importam os meios?

MUDANÇA

         De manhã gosto de ficar por um tempo olhando da sacada do apartamento e tem sempre uma moça que passa pela calçada da rua, hoje ela usava calça jeans e camiseta amarela e os cabelos estavam lisos e o andar era balançado, usava sapatos de salto baixo então não ia a compromisso formal, também parecia não estar feliz com seu olhar baixo e preocupado. Tudo isso pude observar da sacada, fiquei examinando e não consegui compreender o porquê daquela moça passar na rua.

Isso não é da tua conta, me disse o vizinho meio apressado porque o caminhão da mudança logo chegaria e ele ainda não estava com tudo encaixotado. Perguntei se queria ajuda, disse que não e foi-se para dentro com duas caixas vazias. Não pude deixar de espirar porta adentro para ver o amontoado de caixas cheias, de que? E eram muitas caixas aguardando a mudança!

Desci as escadas e fui ver as infinitas possibilidades que a rua me dava para a mudança que eu mesmo estava precisando fazer e talvez não precisasse de um caminhão, quem sabe apenas seguir os passos da moça de calça jeans e blusa amarela, se a seguisse, para onde me levaria? Seus passos ficaram lentos e quase despercebidamente pararam para que ela seguisse mais segura pelo caminho do telefone, não falava com ninguém, apenas olhava a tela.

Dá licença moço? Era uma pergunta daquelas que não aceita uma negativa. Dei três passos para o lado e os móveis entraram no caminhão, primeiro os maiores, depois os menores e daí as caixas, muitas caixas! A moça agora andava calma e sorridente com seus sapatos de salto baixo e o olhar a levava de volta pela mesma calçada em frente do meu prédio, o que a fizera voltar? Enquanto isso, o destino me perguntava: Vai ficar aí parado?

Decidi saber por que a moça desistira de sua ida triste e agora voltava mais feliz, isso sempre da uma crônica! Tive que me explicar longamente, e já que ela parecia estar com tempo sobrando isso não pareceu um grande problema. Por fim ela me devolveu uma resposta breve e definitiva: Voltei porque onde eu ia não tinha um destino para mim, deu um sorriso meio de lado e seguiu seu caminho, balançando o corpo e mexendo nos cabelos lisos.

Voltei para meu prédio e o caminhão fechou a porta de trás com estrondo, disposto a levar meu vizinho definitivamente para seu novo destino. Tchau vizinho! Tchau. Nem tchau a moça me dera, talvez porque não fora embora, estava voltando. Subi as escadas lentamente pensando: Para onde vou?

sábado, 8 de agosto de 2020

APRENDENDO NADAR

Escrevo minha crônica e vou andar de bicicleta, e hoje o faço como um poeta a escavar sentimentos afundados no rio das lembranças onde não deve mexer senão com a maior das maiores das precauções. Esse lugar fixo como um porto seguro, também é perigoso como um campo minado onde eventuais vitórias, deixaram tantas bombas ainda armadas que nem sempre vale a pena o risco de um retorno desavisado.

Aprendi a nadar num domingo, não sei se dia dos pais ou outro qualquer, e aprendi como o fiz muitas outra vezes, pulando na água sem a ajuda de ninguém. Se era dia dos pais? Não me lembro! Nesse dia fizemos um piquenique na barranca do Arroio Fundo. Mergulho fundo nos pensamentos como se mergulha até o fundo de um rio, com o cuidado de nele mexer o mínimo possível pois há muita lama e é do meio dela que tiro esse dia. Era dia dos pais? Não me lembro!

Fomos de Jeep e acabrunhado no banco de trás um menino timidamente olha a paisagem que balança e vai ficando como ficam os tímidos ao largo da vida que se move pela aventura e camaradagem. Ao volante a figura paterna, todo orgulhoso do Jeep e da família dentro dele! Era dia dos pais? Não sei, mas ele estava lá dirigindo a família para o rio, o Arroio Fundo e era dia de piquenique.

Também era dia de jogo de futebol! Não era o Grêmio que ia jogar, nem o Inter, era o Ouro Verde e precisava se defendido. Eu tinha, talvez seis anos de idade, não podia jogar, mas estava lá, o jogo ia começar. Depois do jogo fomo para o rio, onde aprendi a nadar, foi assim, assim mesmo, saí correndo e pulei nas águas profundas do Arroio Fundo e me pus a nadar! Como aprendi? Não sei. Também não sei se aquele dia era dia dos pais!

Talvez eu devesse mesmo admitir que aquele foi o meu dia! Dia de herói que pulou e se pôs a nadar como se já o soubesse. Não, de nada eu sabia, mas naquele dia, pela primeira vez que nadei, também pela primeira vez vi meu pai jogar futebol. Antes do rio teve jogo. O resultado do jogo melhor não lembrar, prefiro garimpar desse fundo de rio das lembranças somente o que de mais precioso encontrar, se do jogo todo nada mais me lembro, uma lembrança nunca mais há de acabar, se era dia dos pais? Não me lembro, mas o goleiro era o meu herói, o meu herói estava lá! 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

PERGUNTAS

     Não sou daqueles que fica escutando conversas dos outros para fazer fofoca, nada disso, mas tem hora que a conversa se dá de tal forma que é quase impossível não dar atenção e torna-la pública, com o devido cuidado para não criar qualquer embaraço. Veja o curioso diálogo que presenciei entre dois homens, esta semana no calçadão enquanto as suas esposas faziam compras nas barracas de artesanato.

Estou pensando tirar umas férias. Férias? É, quando a gente para de fazer o que está fazendo por trinta dias é férias, não é? Mas, me diga por que tu estás querendo tirar férias justo agora que estamos no meio dessa pandemia? Se eu tirar férias quando a pandemia acabar, não vai todo mundo querer tirar férias também? Sim, mas quando todo mundo tirar férias fica mais animado, não fica? Fica, mas daí será que os preços não vão ficar tudo mais caro?

Quando ouvi seis perguntas seguidas para uma única resposta que foi dada antes mesmo da primeira pergunta, fiquei me perguntando, com perdão do trocadilho, se tanta pergunta poderia ser um diálogo que apresentasse alguma resposta. Não deu tempo de ficar pensando, pois a mútua interrogação continuou e eu não podia perder o fio do questionário.

Me diga: De que é que tu trabalhas? Eu? Te perguntei, não perguntei? Sim, mas tu és fiscal do trabalho? Não, tu disseste que irias tirar férias, não disseste? Disse, sim, não disse? Não queres me responder? Isso é do teu interesse? Pois vou dizer de mim para ver se facilita esse diálogo, sabias que estou aposentado? Então não estás mais trabalhando? Que achas? Não trabalhas e queres saber se trabalho?

Doze perguntas para nenhuma resposta chega a ser irritante. Fiquei ouvindo por puro dever de ofício. Notei que cada vez que um dos inquiridores pensava estar em vantagem demonstrava-o elevando o corpo ante a próxima interrogação e fazia gestos expansivos e então se sentava outra vez à espera do seu oponente inquiridor que procedia da mesma maneira.

Tu não achas perigoso tirar férias agora que a doença está se espalhando? Você sabe onde acontece o maior índice de contaminação? Onde tem aglomeração, não é? E onde é que o trabalhador se aglomera? No transporte coletivo? Então, se eu tirar férias, não vai ser menos perigoso? Bom, tenho que concordar, mas tu vais viajar? Não vais?

Mais oito perguntas, e eu me peguei contando cada uma delas como se contasse os carros que passam pela rua. Confesso que esse interrogatório de respostas perguntadas não ajudou a entender as afirmações que poderiam estar subentendidas, então resolvi perguntar o porquê de tantas perguntas e nenhuma resposta e a resposta veio em uníssono: E tem alguém que dá respostas neste país? Você já viu o governo dar alguma resposta para o povo?

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

DEI ALTA PARA MINHA PSICÓLOGA.

Antigamente se ouviam os recados na secretária eletrônica dos telefones fixos, donde conhecidos e desconhecidos depositavam todo tipo de informação, desde mensagens de amor até pedidos de favores ou reclamações pelos textos mal escritos. Sim, eu sou do tempo das secretárias eletrônicas, comecei meus escritos ainda antes de ter uma, mesmo antes de possuir um telefone e até mesmo antes de adquirir uma máquina de escrever. Em 1.984 escrevia textos à mão e mandava para o jornal A Notícia de Amambai, aqui em Mato Grosso do Sul e o jornal, acredite era montado letra por letra na tipografia. Não, você não tem ideia de como isso era!

Hoje em dia, é assim que se fala, né? Hoje em dia e de noite também, os recados vêm no WhatsApp, no Facebook e outras mídias nas redes sociais. Há poucos dias recebi um recado meio confuso que dizia: Não aguento mais a minha psicóloga, o que é que eu faço? Isso lá é pergunta que se faça para um escritor? Não achei resposta para nenhuma das duas perguntas, mas aproveitei a dica para um texto e fui buscar inspiração noutra história, a corrida dos ratos.

No dia seguinte publiquei uma longa história tentando mostrar a infindável e inútil busca que quase todos fazemos dedicando muito mais tempo ao trabalho ou outras atividades em busca de um objetivo que nunca iremos atingir: a felicidade ou a riqueza com a qual eventualmente poderíamos alcançar a tal da felicidade. Trabalhar mais, para quê? Dentre essas ‘outras’ atividades mencionei o tratamento psicológico feito em consultórios particulares e perguntei se alguém conhecia um paciente que tivera alta dada pela terapeuta. No imediato dia seguinte meu blog teve um salto no número de acessos e meu WhatsApp chegou a faltar com o respeito comigo.

Tive que me redimir e aceitar que eventualmente um ou outro paciente recebe alta e o profissional de psicologia dá por findo o tratamento. Parece não ser esse o caso da minha ansiosa leitora. Voltou com outra mensagem insistindo que seu caso já demorava por demais e que ultimamente era ela quem parecia estar tratando a psicóloga que mais falava do que ouvia. Aconselhei que cobrasse pelas sessões! Uma semana depois voltou com outra mensagem agradecendo meus conselhos e informando que não havendo progresso no tratamento resolvera dar alta para a psicóloga, mesmo esta insistindo na necessidade de se dar continuidade ao tratamento, sem explicar exatamente quem é que estava sendo tratada.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

SEU DAVI

E as namoradas, seu Davi? Fiz esta pergunta para um senhor de quase setenta anos de idade que verificava cuidadosamente cada sacola na lixeira do prédio. Claro que essa pergunta não foi assim, de supetão, ela veio depois de um precioso tempo explorando a alegria daquele senhor que virava o lixo em procura de valores desprezados pelos moradores do condomínio. Estou achando dinheiro, me disse o simpático senhor enquanto pegava uma sacola cheia de latinhas vazias, até agora já encontrei dezesseis reais, contabilizou com um sorriso no rosto e amarrou mais uma sacola na garupa da bicicleta.

Seu Davi é o típico cidadão de bem. Trabalhou a vida inteira de caminhoneiro para dar o sustento à família e agora vive com o dinheiro da aposentadoria e para as pingas revira cada lixeira que encontra, em busca de algo que tenha algum valor no mercado de reciclagem.

Não dá para dizer que faz um trabalho consciente para a preservação do meio ambiente, mas esse extra que o Davi ganha para tomar suas pingas, duas de manhã e três à tarde conforme me disse sorrindo, é de dar inveja aos governantes que, apesar de existir uma lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010, não se importam com um problema ambiental gravíssimo como é o caso dos lixões.

Moro sozinho, disse o alegre senhor e danou a falar dos filhos e de como os pais devem fazer. Quando o filho chegar nos dezoito anos tem que mandar ele se virar, filhos crescem e não respeitam mais os pais. Quantos filhos o senhor tem? Essa foi a pergunta mais difícil que fiz em nossa breve conversa. Seu Davi abriu as duas mãos e continuou uma conta que começava no oito: nove, ... dez, ... onze, ... doze é são doze, tenho doze filhos, e repetiu o ‘doze’ como a confirmar que esse era mesmo o resultado da conta, mas eu não visito meus filhos, se vou lá eles me perguntam se eu quero alguma coisa, então nem vou mais.

A máscara cobrindo o queixo indicava que ele sabia bem da obrigação de tê-la, ainda que não a usasse corretamente, mas as mãos revirando cada sacola do lixo, sem uma luva, informavam que não era bem a consciência que contava, mas talvez o medo da fiscalização quanto ao uso da máscara. Continuamos conversando alegremente até que fiz a última pergunta: E as namoradas, seu Davi? Os olhos brilharam acima do sorriso e a resposta foi uma evasiva que me deixou em dúvida: Com essa pandemia não dá nem para beijar na boca... Riu e riu de novo, embarcou na bicicleta e foi levando seu sorriso para o próximo prédio onde haveria de encontrar mais algum dinheiro na lixeira.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

O SOL NASCE PARA TODOS

Um cronista não deveria se meter em questões políticas ideológicas porque tem sempre alguém que vai dizer que isso atrapalha a finalidade para que se escrevem esses tipos de publicações. Com permissão da redundância, eu concordo, discordo e desconcordo ao mesmo tempo. Política é para os políticos e o escritor que se vire.

Mesmo assim vou falar um pouquinho, só um pouquinho de política. O mês de agosto vem cheio de candidatos, todos dispostos a agradar tanto a gregos quanto troianos, tipo assim um escritor de crônicas! Agosto também é conhecido como o mês dos desgostos. Tem quem acredite que a comida só fica bem temperada nesta época, pois a receita sempre diz: ‘Sal a gosto’! Não sou muito exigente, nem quanto aos candidatos nem quanto ao sal, quando se gasta em excesso, ambos fazem muito mal à saúde pública. Prefiro o sol.

E o sol de agosto é uma maravilha para esquentar o inverno que já vai pela metade, trazendo esperanças da primavera, flores, poesias e aquela vacina contra o corona vírus! Como se diz: esperança não tem prazo de validade! Quem sabe até a chuva vai normalizar e o meu jardim vai finalmente ter uma rosa em especial para eu colher ainda neste restinho de ano!

Promessas não faltam, tem aglomeração de candidatos no escritório de um político prá lá de denunciado na polícia que garante que até o sol é sua propriedade particular, foi privatizado, é o liberalismo! quem quiser se esquentar na convenção partidária tem que correr o risco da sua contaminação, e se quiser ir fundo no fundo eleitoral vai ter que usar máscara. Muita máscara!

Estou esperando pela chuva que já está em falta há mais de ano, e ainda não foi privatizada, ou foi? Hoje temperei uma costela com sal ‘a gosto’ e liguei a televisão na esperança de ver candidatos em campanha prometendo nem que seja uma garoa! Tomei sol morrendo de medo da conta chegar muito alta pelo registro do medidor de consumo, o solímetro. Se o fornecimento de sol for cortado pela empresa fornecedora, como vou cultivar a rosa do meu jardim?

Está vendo? Um cronista precisa se meter em política de vez em quando, afinal o sol nascer para todos!


sábado, 1 de agosto de 2020

AS CONFUSÕES DO SÁBADO

O sábado é talvez o dia mais equilibrado da semana. Por estar entre a sexta-feira e o domingo pode-se dizer que está entre a alegria do fim de semana e a ansiedade pelo fim do fim de semana. Tem até poesia para o sábado e entre os que dizem: hoje vou tomar uma! e os que dizem que não bebem nem nesse dia podemos contar quase toda a humanidade! Não se diz isso do domingo ou qualquer outro dia da semana.

É no sábado! Sim. É no sábado que se fazem as maiores aglomerações na fila do açougue dos supermercados, não há decreto que afaste as pessoas da carne que vai ser assada no domingo. Tem gente que pede o preço da picanha e vai logo comprando três olhando para os lados como que a espera dos aplausos,  mas tem quem pede o preço do filé, daí pede o preço da alcatra, do coxão mole, finalmente lembra de uma receita espetacular para uma costela: aquela, por favor!

Sábado é o único dia da semana que começa em dois horários diferentes. Oficialmente começa à meia-noite, exatamente quando finalmente acaba a sexta-feira, mas há quem afirme por fé que começa às seis horas da tarde ou meio imprecisamente quando o sol se põe.

Além dos horários para o início do dia, há uma grande dúvida mundial sobre se sábado é o sexto ou o sétimo dia da semana. Ainda que a Bíblia garanta que é o sétimo, existe uma norma internacional ISO 8601 (International Organization for Standardization) que assegura que sábado é o sexto dia da semana, vá lá entender!

Certo é que culturalmente o sábado é Dia de Saturno, Saturday em inglês, mas são os escandinavos que tiveram a maior inspiração para denominar esse dia: laurdag, que vem da palavra laugr/laug, que levou os Islandeses a chamar de Laugardagur que significa, nada mais nada menos que “banho”. Logo, laurdag é dia de banho. Parece que aí há um acordo quase generalizado, sábado é dia de tomar banho, há menos que esteja muito frio!

E porque hoje é sábado, independente de ser o sexto ou o sétimo dia da semana, eu estou com vontade de me aglomerar numa churrasqueira junto com meus filhos e amigos para comemorar o fim do mês de julho que já foi. Ah! Não fosse a pandemia!


ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...