Há mais ou menos um ano e meio eu recebi, em casa, por três dias, um casal de Venezuelanos que para cá vieram em busca de uma nova vida e, enquanto a empresa que prometera o emprego não efetivara a contratação ficaram conosco nesse tempo precioso. São pessoas maravilhosas com as quais mantenho amizade até hoje, por isso me dou a liberdade de citar os nomes: Mauricio e Julii.
Venezuelanos vem para o Brasil como vieram japoneses, árabes,
poloneses, paraguaios, de outros tantos países e até os alemães dos quais sou
descendente. Vem em busca de uma vida digna que seu país por algum motivo não
lhes consegue mais garantir, mas trazem consigo uma riqueza cultural que demora
a ser percebida e valorizada porque vem desprovida dos recursos materiais
necessários para despertar o interesse da mídia e dos “fazedores de cultura”.
Não sei nas demais cidades, mas aqui em Dourados muitos desses
imigrantes venezuelanos estão desempregados e ocupam as ruas com placas de ‘Sou
Venezuelano e preciso de ajuda’ feitas de papelão escritas com pincel atômico.
Curiosidade mata! Mas também alimenta a alma. Parei numa dessas esquinas, dei
uns trocados e puxei uma conversa para entender a situação daquele moço que
pedia ajuda para alimentar a família que passava necessidade por ele ser
venezuelano, como se milhares de brasileiros não estivessem nessa mesma
situação.
Cada vez que o sinal abria e os carros arrancavam ele voltava
com algumas moedas e me dava alguma explicação. Viera por conta própria para o
Brasil, em Roraima e de lá fora trazido para cá por uma organização religiosa
que o apoiara até conseguir o emprego, mal começou a trabalhar e veio a
pandemia daí foi demitido, as igrejas fecharam e nenhuma porta se abrira em seu
favor, então foi parar no semáforo, tinha mesmo uma esposa e um filho pequeno
de dois anos de idade e planos para trazer os pais e quem sabe a avó que
ficaram na Venezuela.
Semana passada Mauricio me ligou pedindo ajuda porque a Julii
sofreu um acidente de motocicleta e quebrou o braço e a perna, estava internada
e os médicos não davam informações suficientes sobre seu estado de saúde e
quando ela seria operada. Ambos foram demitidos da empresa onde trabalhavam e
fazem planos de voltar para seu país, mas não tem dinheiro para as passagens. A
Julii foi operada e já teve alta.
Ficou fácil falar dos venezuelanos porque houve uma grande
publicidade quando eles migraram em massa para o Brasil. Parecia que éramos um
país maravilhoso até então. Não éramos, ainda não somos e só seremos se quiçá
algum dia nos tornarmos mais humildes e solidários, podemos experimentar
ajudando Los Hermanos, quem sabe aprenderemos a ajudar também os brasileiros.
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