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terça-feira, 11 de agosto de 2020

MUDANÇA

         De manhã gosto de ficar por um tempo olhando da sacada do apartamento e tem sempre uma moça que passa pela calçada da rua, hoje ela usava calça jeans e camiseta amarela e os cabelos estavam lisos e o andar era balançado, usava sapatos de salto baixo então não ia a compromisso formal, também parecia não estar feliz com seu olhar baixo e preocupado. Tudo isso pude observar da sacada, fiquei examinando e não consegui compreender o porquê daquela moça passar na rua.

Isso não é da tua conta, me disse o vizinho meio apressado porque o caminhão da mudança logo chegaria e ele ainda não estava com tudo encaixotado. Perguntei se queria ajuda, disse que não e foi-se para dentro com duas caixas vazias. Não pude deixar de espirar porta adentro para ver o amontoado de caixas cheias, de que? E eram muitas caixas aguardando a mudança!

Desci as escadas e fui ver as infinitas possibilidades que a rua me dava para a mudança que eu mesmo estava precisando fazer e talvez não precisasse de um caminhão, quem sabe apenas seguir os passos da moça de calça jeans e blusa amarela, se a seguisse, para onde me levaria? Seus passos ficaram lentos e quase despercebidamente pararam para que ela seguisse mais segura pelo caminho do telefone, não falava com ninguém, apenas olhava a tela.

Dá licença moço? Era uma pergunta daquelas que não aceita uma negativa. Dei três passos para o lado e os móveis entraram no caminhão, primeiro os maiores, depois os menores e daí as caixas, muitas caixas! A moça agora andava calma e sorridente com seus sapatos de salto baixo e o olhar a levava de volta pela mesma calçada em frente do meu prédio, o que a fizera voltar? Enquanto isso, o destino me perguntava: Vai ficar aí parado?

Decidi saber por que a moça desistira de sua ida triste e agora voltava mais feliz, isso sempre da uma crônica! Tive que me explicar longamente, e já que ela parecia estar com tempo sobrando isso não pareceu um grande problema. Por fim ela me devolveu uma resposta breve e definitiva: Voltei porque onde eu ia não tinha um destino para mim, deu um sorriso meio de lado e seguiu seu caminho, balançando o corpo e mexendo nos cabelos lisos.

Voltei para meu prédio e o caminhão fechou a porta de trás com estrondo, disposto a levar meu vizinho definitivamente para seu novo destino. Tchau vizinho! Tchau. Nem tchau a moça me dera, talvez porque não fora embora, estava voltando. Subi as escadas lentamente pensando: Para onde vou?

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