De manhã gosto de ficar por um tempo olhando da sacada do apartamento e tem sempre uma moça que passa pela calçada da rua, hoje ela usava calça jeans e camiseta amarela e os cabelos estavam lisos e o andar era balançado, usava sapatos de salto baixo então não ia a compromisso formal, também parecia não estar feliz com seu olhar baixo e preocupado. Tudo isso pude observar da sacada, fiquei examinando e não consegui compreender o porquê daquela moça passar na rua.
Isso não é da tua conta, me disse o vizinho meio apressado
porque o caminhão da mudança logo chegaria e ele ainda não estava com tudo
encaixotado. Perguntei se queria ajuda, disse que não e foi-se para dentro com
duas caixas vazias. Não pude deixar de espirar porta adentro para ver o
amontoado de caixas cheias, de que? E eram muitas caixas aguardando a mudança!
Desci as escadas e fui ver as infinitas possibilidades que a rua
me dava para a mudança que eu mesmo estava precisando fazer e talvez não
precisasse de um caminhão, quem sabe apenas seguir os passos da moça de calça
jeans e blusa amarela, se a seguisse, para onde me levaria? Seus passos ficaram
lentos e quase despercebidamente pararam para que ela seguisse mais segura pelo
caminho do telefone, não falava com ninguém, apenas olhava a tela.
Dá licença moço? Era uma pergunta daquelas que não aceita uma
negativa. Dei três passos para o lado e os móveis entraram no caminhão,
primeiro os maiores, depois os menores e daí as caixas, muitas caixas! A moça agora
andava calma e sorridente com seus sapatos de salto baixo e o olhar a levava de
volta pela mesma calçada em frente do meu prédio, o que a fizera voltar?
Enquanto isso, o destino me perguntava: Vai ficar aí parado?
Decidi saber por que a moça desistira de sua ida triste e agora
voltava mais feliz, isso sempre da uma crônica! Tive que me explicar longamente,
e já que ela parecia estar com tempo sobrando isso não pareceu um grande
problema. Por fim ela me devolveu uma resposta breve e definitiva: Voltei
porque onde eu ia não tinha um destino para mim, deu um sorriso meio de lado e
seguiu seu caminho, balançando o corpo e mexendo nos cabelos lisos.
Voltei para meu prédio e o caminhão fechou a porta de trás com
estrondo, disposto a levar meu vizinho definitivamente para seu novo destino. Tchau
vizinho! Tchau. Nem tchau a moça me dera, talvez porque não fora embora, estava
voltando. Subi as escadas lentamente pensando: Para onde vou?
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