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domingo, 31 de janeiro de 2021

6.000

 


DESNUDO


Mais que desnudo
Depilado
Exposto ao ridículo
E ao prazer
Que não vem
Pelo telefone
Onde me permito
Onde me demito!
Não gosto de ver
Na T.V.
Desnudo
Não vejo.
Se o amor é lindo
Se estiver desnudo
Se estiver depilado

Que falta me faz! 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

NÃO SOU


Me permita um favor
Um tempo de loucura
E morrer de amor
Num sonho de ternura
Não morro de amor por ti
Não vivo para te amar
Não quero mesmo
Te amar!
Não quero!
Não sou teu amor.
Não mereço viver
Não sou o que sou

Não sou... 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

FIZ TUDO SOZINHO


Ninguém me ajudou
Quando não te amei
Agora você quer ajuda
Para consertar?
Já fiz a minha parte
Não posso te ajudar
E tu dizes que errei!
Não, não errei
Acertei no erro
Fiz certo o errado
Exatamente como errado se faz
E não tive ajuda.
De errar
Sozinho fui capaz!

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

XUCRO, DE MINAS, DE DEUS!

 


Só fiz requeijão uma vez na vida! É muito trabalhoso e demorado, exige muita dedicação e cuidado com cada detalhe em sua preparação, mas o resultado é maravilhoso! UAI, SÔ! O conhecimento vem das Minas Gerais, esparramado entre as fazendas de gado e as prostitutas da cidade, na lida bruta do xucro peão de fazenda irrequieto que vira investigador de polícia e não tem dó, nem um pouquinho do abestado que ousa enfrentar as leis do sistema que põe em ordem as injustiças institucionalizadas.

Para fazer o requeijão, só se lavar a coalhada umas quatro vezes na água e na brancura do leite até um sinal de pureza aparecer e daí passar no fogo com manteiga e mexer, mexer, mexer, até dar o ponto! Quem me ensinou? UAI, SÔ, foi um mineiro xucro sem pai nem mãe, lapidado na lida do campo, tirando leite de vaca nelore e juntando três litros por dia até ter os vinte necessários para o queijo de requeijão. Era dura a vida? Era! Tão dura quanto abandonar a prostituição e assumir a santidade. Santidade! O coalho separa o soro da coalhada e o leite que vira queijo encontra o útil e o inútil de si. O soro, vai para os porcos.

Passa nas águas Mineiro xucro e vai fazer queijo de requeijão com tua belíssima princesa! Agora investiga, SÔ, se teu patrão tem fazenda de gado ou de ovelhas e faz a tua escolha! Não há mal que nunca se acabe! Tem manadas de ovelhas procurando águas de remanso! Tu vês, parecem burros xucros. Quem já foi domado conhece o caminho da doma! Hora de organizar o chicote. A massa de mexer não é mais o leite, a fonte do leite não é mais a vaca. UAI, SÔ! Hora de deixar Minas para trás. A messe é grande e os operários são poucos!

Quem diria Zé Olímpio que o cajado viria direto para as tuas mãos? Eu, sim, eu mesmo, andava procurando águas de remanso em rios de cachoeira. Nunca pensei em fazer queijo de requeijão. Só senti algo tocando de leve em mim, era o cajado, mal sabia por onde andava e deixei-me levar, quando vi estava lá, UAI! Palavras de sabedoria que me levaram numa linguagem chula! Por que devo seguir um pregador que prega mal e não sabe terminar um discurso sem começar outro inútil e irritar o aprisco? Foi no particular que te corrigi, justo eu, pobre pecador que agora anda pelo vale das sobras. Não me leve a mal, mas naquele dia tu te colocaste muito abaixo de mim, humilhação de quem só pode ser muito, mas muito maior que eu, e tu sempre foste!

Só uma vez fiz queijo de requeijão. E tu foste meu professor. Só uma vez vi a Glória e tu foste meu pastor! E agora te vás? Não vou ficar triste, tu nos deixaste um rastro de alegria! Recuso vestir o luto, tu nos mostraste o caminho da vida! Mas estou chateado, ah, estou. Quando te foste daqui para o Mato Grosso te fizemos uma belíssima despedida, e agora te vais, assim, sem se despedir? Caro Pastor José Olímpio, não gostávamos de você, mas te amávamos mesmo assim! Já que te vás, vá em paz, a Glória está diante de ti!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

VENDENDO SONHOS: QUATRO POR CINCO

           


 

             - Oi moço, compra uns docinhos para ajudar?

Uma moça bonita, morena, aparentando uns vinte anos de idade, com um pote de doces na mão e máscara no rosto, vestindo calça jeans e camiseta branca abordava cada passante, para oferecer quatro doces por cinco reais.

- Por que você está vendendo doces? Perguntei e ela imediatamente respondeu que era para ajudar ‘aquela’ moça que estava ali próximo e que estava precisando. Então comprei os doces, mas não os peguei, comprei para ganhar confiança, disse que gostaria de falar com a beneficiária desse projeto. Alcançamos ela, que já andava há uns dez metros a nossa frente e ela disse que me contaria sua história e me pediu um sorvete.

Olhei para a rua e só vi gente andando de um lado e de outro, parecia que cada um carregava penosamente seus problemas como se fosse um fardo bem pesado, raramente a vida parecia leve e os poucos sorrisos pareciam aqueles que costumamos dar quando algum conhecido nos encontra e sorrimos para ele falando que está tudo bem, quando na verdade não está. O sorvete chegou num copo descartável e a moça sorriu para mim, por algum motivo naquele exato momento ‘tudo estava bem’!

Eu sou escritor, disse a ela e dei-lhe um livro. Então iniciamos a conversa e logo fiquei em silêncio para que ela falasse dos seus sentimentos, matéria prima para meus textos mais preciosos.

Eu também me droguei e tive que sair de casa na adolescência, disse comparando sua história com a personagem do meu livro. Comecei a usar maconha quando tinha treze anos, a droga me fazia bem, a droga traz um alívio tão gostoso para a gente, ai eu me acostumei e sentia cada vez mais necessidade, daí meus amigos não me davam mais de graça e eu tive que comprar, gastava tudo o que tinha e começou a dar confusão em casa com minha mãe.

Olhou-me com tristeza, ajeitou a máscara sobre o rosto e continuou: Depois conheci um cara que usava cocaína. Ele me ofereceu, eu experimentei, nós namoramos e eu fiquei grávida, tive que sair de casa, minha filha nasceu e nosso casamento não deu mais certo, faz catorze anos que não vejo minha filha. Larguei tudo lá em Minas Gerais e vim embora para cá, minha filha ficou. Casei de novo e me separei, tenho uma filha de oito meses.

Tomou o resto do sorvete e me contou o resto da história. Uma mistura de fé e desespero. Pediu ajuda para o aluguel atrasado há três meses e o leite para a filha. Quando mostrei a crônica que escrevi há alguns dias sobre um morador de rua, com o título “A espera da felicidade”, ela disse: E o meu título como será?

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

LIVROS, UMA AMEAÇA NO SHOPPING

             Eu já sabia que livros são uma arma perigosíssima na mão de pessoas comuns, mas só hoje percebi o quanto! Eu já publiquei dois livros e o terceiro deve ser editado logo, então eu pensei em distribuir gratuitamente alguns que ficaram comigo, das publicações anteriores. De vez em quando pego alguns livros e distribuo nas ruas ou em algum comércio e isso é muito legal porque as pessoas perguntam se é de graça, aí eu digo que sim e isso parece algo incrível, inacreditável. Como alguém pode distribuir livros de graça?

Eu tenho plena consciência da rebeldia dessa atitude. O livro é um produto comercial, nele há um grande investimento de trabalho do autor, muitas horas de revisão e o custo da gráfica. Não é difícil calcular o custo individual e então acrescentar um percentual de lucro e vende-lo por um preço final. Disso o capitalismo não pode me acusar, tudo eu fiz e até vendi uma boa quantidade de livros, o suficiente para cobrir as despesas de produção.

Hoje eu decidi que ia distribuir gratuitamente alguns livros, poucos na verdade, uns vinte, dentro do Shopping Center daqui de Dourados. Entreguei um para a moça que media a temperatura na porta, daí outro para a vigilante e continuei andando pelos corredores entregando um exemplar para cada cliente que encontrava. Mal distribui meia dúzia de exemplares e a vigilante me alcançou, pediu que eu parasse imediatamente a distribuição e até me devolveu o livro que recebera com alegria minutos antes.

- O senhor não pode distribuir livros aqui no Shopping.

Desculpou-se várias vezes, mas foi bastante enfática ao dizer que o chefe da segurança lhe havia solicitado providências imediatas quanto a minha atitude. Parecia ser algo muito perigoso! Confesso que fiquei bastante confuso, acho que ela também, mas a ordem era expressa para eu parar a distribuição imediatamente ou ela teria que fazer com que eu me retirasse do ambiente.

- Foi o chefe da segurança, pediu para eu devolver até o livro que o senhor me deu, é uma questão da segurança do Shopping.

Me dirigi até a porta de saída do empreendimento, devidamente acompanhado pela segurança e antes de sair ainda tentei mais alguns esclarecimentos, ao que a moça da guarda acionou pelo rádio o chefe que veio para me dizer que livros não podem mesmo ser distribuídos, não é seguro permitir isso nesse lugar!

Numa última tentativa de ganhar a simpatia do chefe da segurança, perguntei se podia deixar alguns exemplares para que, ao final do expediente ele pudesse distribuir aos funcionários da vigilância, seus subordinados.

- O senhor está querendo saber informações sobre a segurança? Não posso se quer receber seu livro, são normas do Shopping!

O Shopping Center é o Outdoor do capitalismo, um lugar onde as pessoas podem comprar de um tudo que de alguma forma gere lucro no sistema, até livros, desde que sejam comprados, mas quando eles chegam de graça, para pessoas que não os comprariam, isso parece muito perigoso. Livro são uma ameaça, são muito perigosos!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

EM JANEIRO NÃO SE PAGA SALÁRIO

             Já eram quase sete da noite quando o marido chegou em casa e a empregada ainda estava lá aguardando pelo pagamento que deveria ter sido feito no dia anterior, não dava mais para esperar porque as contas estavam vencidas e cada dia o juro ia aumentando.

- Diga a ela que em janeiro não se paga salário, que as despesas do final de ano foram altas e não sobrou nada no caixa para o pagamento de salário.

- Mas a Maria precisa pagar suas contas!

- Em janeiro não se pagam contas, esse é o exemplo que vem de cima, do prefeito, a maior autoridade do município!

E autoridade não se discute, nem do Prefeito e nem do Marido, quando este ou aquele fala, melhor não discutir! Também não se discute quando quem fala é o presidente do Sindicato dos Servidores Municipais que orientou aos funcionários que não paguem nenhuma de suas contas neste mês, e entrou com uma ação coletiva na justiça para garantir a equiparação com o Poder Executivo Municipal, do direito de não pagar as contas.

- A empregada disse que não trabalha mais aqui se não receber o salário!

- Calma, Janete! Meu amor, você já viu algum funcionário da prefeitura faltar ao trabalho porque não recebeu o salário? Não! Eles continuam trabalhando. Amanhã a Maria vai estar aqui fazendo tudo que sempre faz, e sem receber o salário!

- Mas, agora é diferente, o juiz autorizou, em caráter liminar que nenhuma conta atrasada poderá ser executada até que todos recebam seus salários! Será um caos! Sem receber os pagamentos, o comércio não tem lucro, a Enersul terá prejuízo e até as igrejas perderão nos dízimos. Me diz, como um trabalhador irá pagar o dízimo se não recebeu o salário? Quanto é dez por cento de zero?

- Lucro e prejuízo são próprios do capitalismo! Se as empresas não têm lucro, e ainda têm prejuízo, alguém está ganhando com isso. Se não são as empresas, que são capitalistas, então só podem ser os trabalhadores. Percebeu, isso deve ser coisa dos comunistas! Esse prefeito está querendo destruir o capitalismo!

- E você também! Não pagou o salário da Maria.

- Pensa bem Janete, se as empresas não têm lucro, também não pagarão os salários dos seus empregados, que não pagarão suas contas para os empresários que outra vez não terão lucros...

- Isso é uma revolução, homem! Os comunistas estão tomando o poder!

- Sim, agora só falta avisar os comunistas!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

À ESPERA DA FELICIDADE

             


Quem não quer ter um amor verdadeiro? O Fábio quer! Há poucos dias fiz referência a esse homem barbudo que encontrei sentado na calçada da Avenida Marcelino Pires. Confesso que fiquei intrigado e meio confuso com a serenidade com que me falava sobre suas peripécias dos tempos da juventude e também da idade adulta e, claro do momento atual em que vivia tranquilamente, isso, sem traumas, sua vida de rua.

Eu o encontrei sentado no chão, as costas encostadas num muro com propaganda de aluguel de betoneiras, andaimes e escadas, as pernas cruzadas uma sobre a outra e a mudança toda em duas malas ao seu lado. Vestia roupas limpas, calçava tênis e na cabeça um boné. Não fazia frio, mesmo assim estava de blusa e tinha as unhas das mãos pintadas de azul. Abri a minha bolsa a tiracolo e tirei dois livros que lhe ofereci, uma bela desculpa para iniciar um bate-papo.

Sem se comprometer nenhum milímetro com meus livros ele pegou e devolveu dizendo que não conseguia ler por que seus olhos estarem ruins, depois de ter trabalhado como soldador de ferragens em construções, também fora pintor e por quinze anos trabalhou num lava-jato, limpando carros. Ganhou muito dinheiro, tivera sua casa própria, seu carro e até uma moto. Minha família é tudo daqui, mas nenhum presta!

Com essas informações todas fiquei pensando: por que está “desse jeito”? Não foi difícil de compreender, na década de 1.980, quando desembarquei na rodoviária desta cidade, passei, eu também, por situação semelhante, como diz o ditado: faltou ‘isso’ para botar as roupas na mochila e dormir no pátio da rodoviária! Fábio se animou de me contar mais sobre seus desejos e sentimentos, então sentei-me ao seu lado e fiquei ouvindo uma história surreal! Os detalhes que me contou não posso publicar, mas tu podes bem imaginar!

Interrompia de vez em quando para pedir dinheiro a um transeunte depois voltava ao assunto, parando outra vez para tomar um gole de pinga e então continuava. De que falava? De mulheres! Passara a vida toda procurando o amor! Agora estava apaixonado pela secretária da clínica onde dormia em frente, às vezes chegava lá mais cedo só para vê-la. Estava apaixonado também pela dona da lojinha, próximo do local onde estava agora, mas ela, depois que deixara o marido, ajuntou-se com um funcionário da loja, parece que não vê! E fez um elogio impublicável à beleza da mulher.

Nenhuma delas dava bola para ele, nem nenhuma outra também. Tivesse um carrão, tava todas em cima! Mas, não tenho, já tive, gastei tudo na zona! Disse isso, tomou mais um gole, respirou e, meio desiludido confessou estar faltando só uma coisa. Queria uma japonesa, gastara todo seu dinheiro pegando mulheres na zona, mas nunca conseguira uma japonesa!

Fábio só tem uma ambição, aliás três, namorar a secretária da clínica, casar com a dona da lojinha e pegar uma japonesa! Enquanto isso, ganha dinheiro cuidando de carros no estacionamento do supermercado, dorme em frente da clínica e sonha acordado ao lado da lojinha. Dei a ele quatro livros, que ele vendeu a dois reais cada!

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

EU NÃO POSSO FAZER NADA?

Às vezes eu me sinto assim, incapaz de tomar uma decisão que sei ser importante, mas que exige de mim um esforço maior do que estou em condições de realizar ou capacidade intelectual ou física para o que não me sinto preparado. Semana passada parei para conversar com um homem que estava sentado na calçada da principal avenida da cidade. Dediquei um bom tempo de atenção ao moço, mas não fui capaz de mudar um centímetro se quer a sua situação de rua.

Eu não gosto dos moradores de rua! Se gostasse, faria de tudo para que houvesse mais deles, mas não, não gosto que eles existam, apenas tenho compaixão e às vezes, só às vezes, paro o relógio do tempo e fico ouvindo suas histórias nem sempre compreensíveis, às vezes tão reais que doem na consciência, outras tão fantásticas que substituem filmes de ficção, ou ainda surreais como a que me foi contada há poucos dias na calçada da Avenida Marcelino Pires.

Já escrevi sobre catadores de latinhas, imigrantes que buscam migalhas de dignidade longe dos familiares e da sua pátria, artistas do semáforo e pedintes que esmolam com um sorriso triste e até poetas da feira livre. Não foi difícil produzir um texto, cada um tinha uma história coerente, lutava pelo sustento da família, buscava um bem-estar que, mesmo impossível, mas imaginável, amarrado num fio de esperança num horizonte qualquer. Agora me debato sobre esse teclado que não me dá palavras que possam minimamente transformar em literatura a conversa que em grande parte gravei sentado ao lado do homem barbudo que tinha a mudança em duas malas.

Talvez eu deva dizer, como o presidente da república: Não posso fazer nada! O nome do rapaz da rua é Fábio. Não é uma história de ficção como a que escrevi no meu primeiro livro intitulado Josafá; nele imaginei uma garota de família que, na adolescência é atraída pelo crime organizado e pelas circunstâncias que se seguem acaba completamente excluída da sociedade, pedindo esmola pelas ruas da cidade, com duas crianças pequenas ao seu lado.

Até esse ponto, Fábio se parece um pouco com história de ficção, contou-me que tinha emprego, carro, moto e até uma casa, agora ganha o pão cuidando de carros no estacionamento do supermercado e dorme na calçada em frente à uma clínica. Talvez em publique sua história ainda esta semana, mas, o que mais eu posso fazer?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

UM CALENDÁRIO AO CONTRÁRIO

Já tem quatro dias que o novo prefeito tomou posse e eu estou pensando que poderíamos estar a quatro dias do final do mandato. Não quero, com isso, dizer que o novo mandatário será tão ruim que melhor seria não o ter na prefeitura! Mas, sendo ele advogado, já é motivo bastante para imaginar que os processos poderão ser excessivamente burocráticos e, quanto mais demora o procedimento mais se paga de honorários! E se tem uma classe que é unida e excessivamente corporativa, é a dos advogados, só os médicos conseguem ser um pouco piores!

Voltando ao calendário do mandato, a política parece com aquele filme em que o filho já nasce idoso e com o passar do tempo vai rejuvenescendo até que no final é uma criancinha. O Curioso Caso de Benjamin Buttun é uma belíssima metáfora dos alcaides daqui de Dourados. Só os daqui, claro! Há menos de uma semana tínhamos a senilidade no comando do executivo. Como uma boa velhinha, nada mais ela via. As ruas esburacadas, as máquinas sem manutenção, funcionários da saúde sem receber os salários, praças e escolas tomadas pelo matagal, secretarias sem verbas, enfim, como nenhum dos filhos cuidava da casa, até mofo parecia ter nas gavetas da cozinha.

Eu moro em Dourados desde 1.985! A história se repete até para o caso mais otimista em que partido de oposição assumiu o poder para mudar o jeito de governar! Até eu me empolguei! Poucos anos depois as velhas raposas estavam às portas do galinheiro! E por falar em velhas raposas, um dos atuais secretários, atuais mesmo, tomando posse nestes dias, já foi prefeito por aqui! E o sobrinho dele é só o vice-prefeito!

Uma frase, do comediante iconoclasta George Carlin, vai um pouco além do filme e é a perfeita metáfora dos políticos: Imagine ser possível nascer-se velho e morrer como a felicidade de uma ejaculação. Se pudéssemos inverter o calendário dos mandatos teríamos a perfeição dessa frase. Quando o mandato está prestes a morrer, parece um asilo público onde mandatários envelhecidos só fazem tomar sopa e assistir filmes antigos na televisão, mas antes do início, quando acontece a ejaculação, nas convenções partidárias, é só felicidade e prazer. Que tal terminar o mandato com uma bela ejaculação?

sábado, 2 de janeiro de 2021

CONSULTORIA DE CASAMENTO: TODOS OS JEITOS DE DAR ERRADO!

             Há dias que percebo um sobe e desce nas escadarias de um não morador do prédio. Como tenho tempo de sobra fui saber do que se tratava. Vou me mudar para aí no dia 9 de janeiro! Me disse o entusiasmado futuro habitante do apartamento acima do meu. Seria normal se isso não fosse em novembro, quase dois meses de preparação para a mudança tinha mesmo que ter um motivo muito especial.

Por ser o dito apartamento exatamente acima do meu e, por eu ter tido um tanto de incômodo com a antiga moradora que amava fazer barulho que me incomodava de manhã, de tarde e de noite, decidi me apresentar e, gentilmente, informar ao proponente morador, sobre a falta de vedação de ruídos na estrutura do prédio, quem sabe, para um bom entendedor... como diz o ditado: cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça! Eu de barulho na laje!

Até agora tudo tranquilo, a mudança vai subindo as escadas aos poucos e a animação do jovem vizinho também. Volta e meia encontro o moço, cada dia mais alegre e ansioso. Estou organizando tudo, dia 9 vou me mudar! “Vou me mudar”, é uma expressão que passei a entender no plural! Tem coisas que não precisam ser ditas, basta ver a expressão do olhar, a inquietação do corpo e as mãos que não deixam nenhuma dúvida, tem um ‘vou’ em cada mão e as duas juntas confirmam que ‘vou’ significa ‘vamos’. De qualquer forma, quando dois se casam, de alguma forma se tornam ‘um’, talvez ‘vou’ faça sentido!

Hoje tive a confirmação, enquanto carregava minha bicicleta escadaria acima, alcancei uma moçoila carregando uma pesada caixa de papelão com o apoio do seu pai. Não pude evitar e perguntei se era mudança. Uma nova inquilina, disse a moça com um sorrisão denunciando a felicidade marcada para o dia nove. A senhora que acompanhava o cortejo três degraus abaixo olhou-me e perguntou se eu era professor. Não só me reconheceu como lembrou meu nome e até a escola onde lecionei matemática quando ela foi minha aluna. Alunos sempre lembram dos professores!

Identificado o apartamento para onde iria aquela grande caixa, fiquei pensando se aquele jovem casal, prestes a fazer juras eternas de amor, gostaria de receber consultoria de casamento. Sendo eles meus vizinhos e, dada minha vasta experiência em casamentos malsucedidos, seria muito simples, bastaria não seguirem nenhum dos meus conselhos e seu casamento duraria, mesmo, até que a morte os separe!

ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...