Às vezes eu me sinto assim, incapaz de tomar uma decisão que sei
ser importante, mas que exige de mim um esforço maior do que estou em condições
de realizar ou capacidade intelectual ou física para o que não me sinto
preparado. Semana passada parei para conversar com um homem que estava sentado
na calçada da principal avenida da cidade. Dediquei um bom tempo de atenção ao
moço, mas não fui capaz de mudar um centímetro se quer a sua situação de rua.
Eu não gosto dos moradores de rua! Se gostasse, faria de tudo
para que houvesse mais deles, mas não, não gosto que eles existam, apenas tenho
compaixão e às vezes, só às vezes, paro o relógio do tempo e fico ouvindo suas
histórias nem sempre compreensíveis, às vezes tão reais que doem na
consciência, outras tão fantásticas que substituem filmes de ficção, ou ainda
surreais como a que me foi contada há poucos dias na calçada da Avenida
Marcelino Pires.
Já escrevi sobre catadores de latinhas, imigrantes que buscam
migalhas de dignidade longe dos familiares e da sua pátria, artistas do
semáforo e pedintes que esmolam com um sorriso triste e até poetas da feira
livre. Não foi difícil produzir um texto, cada um tinha uma história coerente,
lutava pelo sustento da família, buscava um bem-estar que, mesmo impossível,
mas imaginável, amarrado num fio de esperança num horizonte qualquer. Agora me
debato sobre esse teclado que não me dá palavras que possam minimamente
transformar em literatura a conversa que em grande parte gravei sentado ao lado
do homem barbudo que tinha a mudança em duas malas.
Talvez eu deva dizer, como o presidente da república: Não posso fazer nada! O nome do rapaz da
rua é Fábio. Não é uma história de ficção como a que escrevi no meu primeiro
livro intitulado Josafá; nele
imaginei uma garota de família que, na adolescência é atraída pelo crime
organizado e pelas circunstâncias que se seguem acaba completamente excluída da
sociedade, pedindo esmola pelas ruas da cidade, com duas crianças pequenas ao seu
lado.
Até esse ponto, Fábio se parece um pouco com história de ficção,
contou-me que tinha emprego, carro, moto e até uma casa, agora ganha o pão
cuidando de carros no estacionamento do supermercado e dorme na calçada em
frente à uma clínica. Talvez em publique sua história ainda esta semana, mas, o
que mais eu posso fazer?
Você pode, continuar a escrever.
ResponderExcluirConte-me:
Uma boa História