Há dias que percebo um sobe e desce nas escadarias de um não morador do prédio. Como tenho tempo de sobra fui saber do que se tratava. Vou me mudar para aí no dia 9 de janeiro! Me disse o entusiasmado futuro habitante do apartamento acima do meu. Seria normal se isso não fosse em novembro, quase dois meses de preparação para a mudança tinha mesmo que ter um motivo muito especial.
Por ser o dito apartamento exatamente acima do meu e, por eu ter
tido um tanto de incômodo com a antiga moradora que amava fazer barulho que me
incomodava de manhã, de tarde e de noite, decidi me apresentar e, gentilmente,
informar ao proponente morador, sobre a falta de vedação de ruídos na estrutura
do prédio, quem sabe, para um bom entendedor... como diz o ditado: cachorro
mordido de cobra tem medo de linguiça! Eu de barulho na laje!
Até agora tudo tranquilo, a mudança vai subindo as escadas aos
poucos e a animação do jovem vizinho também. Volta e meia encontro o moço, cada
dia mais alegre e ansioso. Estou organizando tudo, dia 9 vou me mudar! “Vou me
mudar”, é uma expressão que passei a entender no plural! Tem coisas que não
precisam ser ditas, basta ver a expressão do olhar, a inquietação do corpo e as
mãos que não deixam nenhuma dúvida, tem um ‘vou’ em cada mão e as duas juntas
confirmam que ‘vou’ significa ‘vamos’. De qualquer forma, quando dois se casam,
de alguma forma se tornam ‘um’, talvez ‘vou’ faça sentido!
Hoje tive a confirmação, enquanto carregava minha bicicleta
escadaria acima, alcancei uma moçoila carregando uma pesada caixa de papelão
com o apoio do seu pai. Não pude evitar e perguntei se era mudança. Uma nova
inquilina, disse a moça com um sorrisão denunciando a felicidade marcada para o
dia nove. A senhora que acompanhava o cortejo três degraus abaixo olhou-me e
perguntou se eu era professor. Não só me reconheceu como lembrou meu nome e até
a escola onde lecionei matemática quando ela foi minha aluna. Alunos sempre
lembram dos professores!
Identificado o apartamento para onde iria aquela grande caixa,
fiquei pensando se aquele jovem casal, prestes a fazer juras eternas de amor,
gostaria de receber consultoria de casamento. Sendo eles meus vizinhos e, dada
minha vasta experiência em casamentos malsucedidos, seria muito simples,
bastaria não seguirem nenhum dos meus conselhos e seu casamento duraria, mesmo,
até que a morte os separe!
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