- Oi moço, compra uns docinhos para ajudar?
Uma moça bonita, morena, aparentando uns vinte anos de idade,
com um pote de doces na mão e máscara no rosto, vestindo calça jeans e camiseta
branca abordava cada passante, para oferecer quatro doces por cinco reais.
- Por que você está vendendo doces? Perguntei e ela
imediatamente respondeu que era para ajudar ‘aquela’ moça que estava ali próximo
e que estava precisando. Então comprei os doces, mas não os peguei, comprei
para ganhar confiança, disse que gostaria de falar com a beneficiária desse
projeto. Alcançamos ela, que já andava há uns dez metros a nossa frente e ela
disse que me contaria sua história e me pediu um sorvete.
Olhei para a rua e só vi gente andando de um lado e de outro,
parecia que cada um carregava penosamente seus problemas como se fosse um fardo
bem pesado, raramente a vida parecia leve e os poucos sorrisos pareciam aqueles
que costumamos dar quando algum conhecido nos encontra e sorrimos para ele
falando que está tudo bem, quando na verdade não está. O sorvete chegou num
copo descartável e a moça sorriu para mim, por algum motivo naquele exato
momento ‘tudo estava bem’!
Eu sou escritor, disse a ela e dei-lhe um livro. Então iniciamos
a conversa e logo fiquei em silêncio para que ela falasse dos seus sentimentos,
matéria prima para meus textos mais preciosos.
Eu também me droguei e tive que sair de casa na adolescência,
disse comparando sua história com a personagem do meu livro. Comecei a usar
maconha quando tinha treze anos, a droga me fazia bem, a droga traz um alívio
tão gostoso para a gente, ai eu me acostumei e sentia cada vez mais
necessidade, daí meus amigos não me davam mais de graça e eu tive que comprar,
gastava tudo o que tinha e começou a dar confusão em casa com minha mãe.
Olhou-me com tristeza, ajeitou a máscara sobre o rosto e
continuou: Depois conheci um cara que usava cocaína. Ele me ofereceu, eu
experimentei, nós namoramos e eu fiquei grávida, tive que sair de casa, minha
filha nasceu e nosso casamento não deu mais certo, faz catorze anos que não
vejo minha filha. Larguei tudo lá em Minas Gerais e vim embora para cá, minha
filha ficou. Casei de novo e me separei, tenho uma filha de oito meses.
Tomou o resto do sorvete e me contou o resto da história. Uma
mistura de fé e desespero. Pediu ajuda para o aluguel atrasado há três meses e
o leite para a filha. Quando mostrei a crônica que escrevi há alguns dias sobre
um morador de rua, com o título “A espera da felicidade”, ela disse: E o meu
título como será?
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