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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

VENDENDO SONHOS: QUATRO POR CINCO

           


 

             - Oi moço, compra uns docinhos para ajudar?

Uma moça bonita, morena, aparentando uns vinte anos de idade, com um pote de doces na mão e máscara no rosto, vestindo calça jeans e camiseta branca abordava cada passante, para oferecer quatro doces por cinco reais.

- Por que você está vendendo doces? Perguntei e ela imediatamente respondeu que era para ajudar ‘aquela’ moça que estava ali próximo e que estava precisando. Então comprei os doces, mas não os peguei, comprei para ganhar confiança, disse que gostaria de falar com a beneficiária desse projeto. Alcançamos ela, que já andava há uns dez metros a nossa frente e ela disse que me contaria sua história e me pediu um sorvete.

Olhei para a rua e só vi gente andando de um lado e de outro, parecia que cada um carregava penosamente seus problemas como se fosse um fardo bem pesado, raramente a vida parecia leve e os poucos sorrisos pareciam aqueles que costumamos dar quando algum conhecido nos encontra e sorrimos para ele falando que está tudo bem, quando na verdade não está. O sorvete chegou num copo descartável e a moça sorriu para mim, por algum motivo naquele exato momento ‘tudo estava bem’!

Eu sou escritor, disse a ela e dei-lhe um livro. Então iniciamos a conversa e logo fiquei em silêncio para que ela falasse dos seus sentimentos, matéria prima para meus textos mais preciosos.

Eu também me droguei e tive que sair de casa na adolescência, disse comparando sua história com a personagem do meu livro. Comecei a usar maconha quando tinha treze anos, a droga me fazia bem, a droga traz um alívio tão gostoso para a gente, ai eu me acostumei e sentia cada vez mais necessidade, daí meus amigos não me davam mais de graça e eu tive que comprar, gastava tudo o que tinha e começou a dar confusão em casa com minha mãe.

Olhou-me com tristeza, ajeitou a máscara sobre o rosto e continuou: Depois conheci um cara que usava cocaína. Ele me ofereceu, eu experimentei, nós namoramos e eu fiquei grávida, tive que sair de casa, minha filha nasceu e nosso casamento não deu mais certo, faz catorze anos que não vejo minha filha. Larguei tudo lá em Minas Gerais e vim embora para cá, minha filha ficou. Casei de novo e me separei, tenho uma filha de oito meses.

Tomou o resto do sorvete e me contou o resto da história. Uma mistura de fé e desespero. Pediu ajuda para o aluguel atrasado há três meses e o leite para a filha. Quando mostrei a crônica que escrevi há alguns dias sobre um morador de rua, com o título “A espera da felicidade”, ela disse: E o meu título como será?

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