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sábado, 22 de agosto de 2020

AS PESSOAS NÃO DEVERIAM MORRER!

Cada vez que faz frio me lembro de 1.975 quando eu estudava no Colégio Agrícola de Concórdia, em Santa Catarina, naquele ano fez um dos maiores frios de século e no dia mais frio do ano eu saí de férias do Colégio e viajei o dia e a noite toda com gélidas paradas em rodoviárias pelo caminho até chegar na casa de meus pais, no interior de Toledo, no Paraná às nove horas da manhã seguinte e ainda encontrar a água congelada no encanamento e o meu pai desesperado porque tinha perdido a safra de trigo plantada em sua chácara de pouco mais de dois alqueires.

As pessoas não deveriam morrer! Talvez essa não seja uma comparação muito agradável, mas é que morrer parece um pouco com o frio de 1.975 que destruiu as lavouras de trigo cacheados e os cafezais do norte do Paraná. Temos sempre alguém especial em quem pensar como se uma geada tivesse posto fim numa lavoura fértil, pois a vida sempre nos parece produtiva não importa a debilidade física, sempre mantemos a vida.

Já vai tarde! Também é um jeito de dizer que o frio levou uma praga. Em 1.975, enquanto o Brasil contava os mortos pela ditadura de estado, na Espanha esfriava o corpo do Generalíssimo Francisco Franco Bahamonde, golpista que governou com mão de ferro o país por quase quarenta anos estabelecendo um regime fascista e ditatorial.

Que frio é esse que atravessa o Brasil de Sul a Norte? A paisagem gélida aparenta uma beleza indescritível aos olhos de quem está aquecido.  É quase um colírio a neve caindo e a geada se formando sobre os campos e entrando pelos celulares e enchendo páginas e páginas do facebook. Mais de cem mil mortos pelo COVID-19, que frio é esse? Quem pode ver beleza nisso promovendo aglomeração de pessoas e minimizando a gravidade dessa doença que mata principalmente pobres e idosos?

Esta semana o Brasil experimentou uma massa de ar polar. Esta semana continuamos contando os mortos e a conta forma uma camada de gelo para delírio dos corações aquecidos pelo mercado que se recusa a distribuir a renda. É preciso aquecer a economia para recuperar o lucro, os mortos, é só um friozinho! Quando iremos dizer: Já vai tarde?

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