Cada vez que faz frio me lembro de 1.975 quando eu estudava no
Colégio Agrícola de Concórdia, em Santa Catarina, naquele ano fez um dos
maiores frios de século e no dia mais frio do ano eu saí de férias do Colégio e
viajei o dia e a noite toda com gélidas paradas em rodoviárias pelo caminho até
chegar na casa de meus pais, no interior de Toledo, no Paraná às nove horas da
manhã seguinte e ainda encontrar a água congelada no encanamento e o meu pai
desesperado porque tinha perdido a safra de trigo plantada em sua chácara de
pouco mais de dois alqueires.
As pessoas não deveriam morrer! Talvez essa não seja uma
comparação muito agradável, mas é que morrer parece um pouco com o frio de
1.975 que destruiu as lavouras de trigo cacheados e os cafezais do norte do
Paraná. Temos sempre alguém especial em quem pensar como se uma geada tivesse
posto fim numa lavoura fértil, pois a vida sempre nos parece produtiva não
importa a debilidade física, sempre mantemos a vida.
Já vai tarde! Também é um jeito de dizer que o frio levou uma
praga. Em 1.975, enquanto o Brasil contava os mortos pela ditadura de estado,
na Espanha esfriava o corpo do Generalíssimo Francisco Franco Bahamonde,
golpista que governou com mão de ferro o país por quase quarenta anos
estabelecendo um regime fascista e ditatorial.
Que frio é esse que atravessa o Brasil de Sul a Norte? A paisagem
gélida aparenta uma beleza indescritível aos olhos de quem está aquecido. É quase um colírio a neve caindo e a geada se
formando sobre os campos e entrando pelos celulares e enchendo páginas e
páginas do facebook. Mais de cem mil mortos pelo COVID-19, que frio é esse?
Quem pode ver beleza nisso promovendo aglomeração de pessoas e minimizando a
gravidade dessa doença que mata principalmente pobres e idosos?
Esta semana o Brasil experimentou uma massa de ar polar. Esta
semana continuamos contando os mortos e a conta forma uma camada de gelo para
delírio dos corações aquecidos pelo mercado que se recusa a distribuir a renda.
É preciso aquecer a economia para recuperar o lucro, os mortos, é só um
friozinho! Quando iremos dizer: Já vai tarde?
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