Está
vendo filho, nem é preciso andar muito para se chegar a cem anos atrás, é só
voltar uns sessenta e tudo se parece! É pai, essa carroça parece que levou a
gente para o século passado. Sim, século passado, talvez até mais. Rodas de
madeira raiada com uma proteção de ferro no perímetro da circunferência para
não quebrar com os choques das pedras e a dureza do chão. Duas juntas de bois
puxando uma carga pesada, uma tora tirada do mato que deve ser levada para a
serraria.
Veja,
meu filho, somos os proprietários e esses escravos aí do lado e atrás da
carroça são nossa propriedade! Eles fazem nosso serviço e tudo o mais que
mandamos, esses negros não pensam, só obedecem. Os bois são muito fortes, hem, pai! É só
bater que eles puxam essa carroça pesadíssima. Se eles soubessem a força que
tem não fariam tanta força! São animais irracionais, por isso a gente pode
bater neles e fazer eles trabalhar.
Bater
até sangrar o lombo quando não obedecem, o corpo amolece, mas o tronco está
firme e a argola de ferro não cede. Sabe por que? O tronco e a argola são o
patrão! E o relho também, vai boi,
toma! Essa canga do pescoço e o cabeçalho da carroça é de quem manda!
O
carro anda lentamente como o tempo, cinco passos do boi para dar uma volta na
roda da carroça. Trezentos e oitenta giros da roda para andar um quilômetro. E
muitos anos até o caminhão descarregar a tora na serraria!
Agora
sim, é só soltar as catracas e deixar as toras rolar da carroceria. No lugar
dos quarenta escravos, agora só preciso de dez trabalhadores com motosserras! E
um caminhão com um motor muito forte, pai. Isso, quanto menos pagar de salário,
mais eles trabalham porque tem que viver. Quanto mais pagar pelo caminhão mais
ele produz, o caminhão é o patrão!
Estou
pensando, pai, e... e... e, se nós fossemos os bois e os bois fossem nós, lá na
carroça do século passado? Ai, era nós pendurados naquele tronco e amarrado
naquela argola, levando pancada nas costas até sangrar!... N Ó S ?!?!?!?!?!?!
Elairton
Paulo Gehlen
ola, eitaaaaaa noisssssss
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