Não fosse a quarentena e se poderia aproveitar a liberdade que os parques
e praças proporcionam. Esta cidade, como de resto as demais, tem muitos parques
e praças onde se pode ver a juventude domingueira sorridente exibindo seus
corpos atraentes como moeda de grande valor na troca por mercadorias do mesmo
quilate que andam tal e qual. É o vigor
da idade pela qual todos passamos, desperdiçando grande parte da riqueza
natural consumindo produtos de qualidade duvidosa em troca de um prazer
ilusório e de altíssimo risco.
Parques e praças são lugares convidativos ao exercício da vida
saudável. Os parquinhos infantis se enchem de mercadorias que ainda mal saídas
do processo de acumulação primitiva de capital, logo, logo ditarão as leis de
mercado para o grande público ávido pelo consumismo desenfreado de sexualidade.
Mal se dão conta os pais de seus erros, mas apostam todas as fichas que
educarão seus filhos para a vida saudável que a natureza oferece pela extensão
das áreas verdes e nascentes de água puríssima.
À sobra das frondosas árvores as famílias buscam o entendimento
que não conseguem dentro das casas. Ali, aos aplausos da vizinhança e
curiosidade dos demais, a tolerância e a cordialidade dão o tom dos
relacionamentos até que o sol anuncia a hora dos preparativos para os cultos
religiosos de domingo.
Sem quase serem notados, às vezes nem querendo ser e muitas
vezes ignorados propositalmente, os mais idosos fazem seus passeios pelos
parques a passos lentos observando os frutos da inovação tecnológica num misto
de saudade e nostalgia, com pitadas de tristeza e decepção, aquele sentimento
de que teria feito melhor se fosse jovem com o conhecimento que agora possui.
- Vamos, disse a senhora já idosa puxando o marido pelo braço,
me ajuda a levantar que está na hora de irmos para casa.
Em casa, tomado o banho e terminado o jantar, o marido pega na
mão da esposa e diz que precisa lhe confessar uma coisa.
- Vai me dizer que ficou olhando para aquelas novinhas
desfilando no parque. Nem precisa, eu vi você olhando para elas, mas eu não
ligo, elas não querem pessoas da nossa idade.
- Fiquei olhando, mas não é isso. É que na minha juventude eu
fiz tudo que hoje eu acho que não devia ter feito, e você é essa mulher tão
pura. Eu me sinto culpado.
- Pois não se sinta, disse a bondosa companheira de cinquenta
anos, nós todos já fomos jovens!
Elairton Paulo Gehlen
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