O que deu errado no modelo liberal? Essa foi a
grande pergunta dos economistas após a quebra na bolsa de mercadorias de Nova
York que gerou o período da Grande Depressão. Hoje, distante daquela situação e
com todas as informações disponíveis é mais fácil compreender as causas da
crise. Naquela época também, antes da crise, vários economistas ‘avisaram’
sobre os perigos do modelo. Mas que perigos eram eles e para que servem essas
informações hoje, quase cem anos depois?
O que acontecia,
como muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com os
salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcionalmente, e os
prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional. Mas como a demanda da
massa não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento do sistema
industrial nos grandes dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e
especulação. Isso, por sua vez, provocou o colapso. (Eric John Ernest
Hobsbawm 1917 - 2012).
Essa análise de Hobsbawm vem da observação do
comportamento na sociedade mais desenvolvida na década de 1920, os EUA. Lá a
economia se desenvolvia rapidamente e gerou grande euforia no consumo de bens e
mercadorias pela ampliação do crédito sem nenhuma regulamentação, gerando uma
sensação de bem-estar que fez surgir a expressão American way of life, ou o estilo americano de viver. Mas, ao mesmo tempo que se
expandia o crédito, os salários dos trabalhadores diminuíam. O rápido
crescimento da economia e a expansão do crédito levou as pessoas a investirem
no mercado especulativo, ou seja, na bolsa de valores. Tendo muitas pessoas
interessadas em comprar ações, estas se valorizaram muito acima da capacidade
produtiva e, com o alto endividamento das pessoas e a estagnação dos salários,
o poder de consumo das famílias diminuiu, fazendo com que o consumo não
acompanhasse o crescimento da indústria, gerando excesso de produtos no
mercado. Com menos dinheiro os investidores passaram a vender as ações o que
levou a baixar os preços até que a situação se tornou insustentável.
E, o que isso tem a ver com os dias atuais? No
Brasil, desde 04/05/2012 as cadernetas de poupança passaram a ter rendimentos
vinculados a taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), hoje a
taxa SELIC está em 3% ao ano e a poupança (que é 70% da taxa SELIC) rende 2,1%
ao ano ou 0,17% ao mês. Essa regra estimula as pessoas a buscar outros tipos de
investimentos mais rentáveis.
Nos últimos anos temos visto uma enxurrada de
informações de como ganhar dinheiro no mercado de ações e é para lá que foram
milhões de reais que estavam na poupança. Por outro lado, desde o ano passado,
o governo vem implementando reformas, como a da previdência e a trabalhista,
que diminuem o poder de compra das famílias. Não bastasse isso, estamos vivendo
a paralisação da economia, pela crise na saúde, gerando alto índice de
desemprego e falência de muitas empresas, além de gastos públicos muito acima
do esperado, proporcionando grande déficit orçamentário.
O consumo caiu bruscamente, os investidores
internacionais direcionam seus investimentos para lugares mais seguros, muitas
empresas perdem valor de mercado, outras abrem falência ou entram em
recuperação judicial, o desemprego aumenta e o Produto Interno Bruto cai
vertiginosamente. Então temos uma situação parecida com a de 1929, excesso de
produtos e baixo consumo. Nestas condições, o modelo liberal não dá conta de se
sustentar, porque ele está baseado na ausência do estado. As empresas privadas
não atendem os interesses da sociedade se não puderem lucrar com isso.
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