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quinta-feira, 18 de junho de 2020

MAS, O QUE É O CAPITALISMO? A crise de 1929 (Conjuntura parte 10)

O que deu errado no modelo liberal? Essa foi a grande pergunta dos economistas após a quebra na bolsa de mercadorias de Nova York que gerou o período da Grande Depressão. Hoje, distante daquela situação e com todas as informações disponíveis é mais fácil compreender as causas da crise. Naquela época também, antes da crise, vários economistas ‘avisaram’ sobre os perigos do modelo. Mas que perigos eram eles e para que servem essas informações hoje, quase cem anos depois?

O que acontecia, como muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com os salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcionalmente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional. Mas como a demanda da massa não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento do sistema industrial nos grandes dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e especulação. Isso, por sua vez, provocou o colapso. (Eric John Ernest Hobsbawm 1917 - 2012).

Essa análise de Hobsbawm vem da observação do comportamento na sociedade mais desenvolvida na década de 1920, os EUA. Lá a economia se desenvolvia rapidamente e gerou grande euforia no consumo de bens e mercadorias pela ampliação do crédito sem nenhuma regulamentação, gerando uma sensação de bem-estar que fez surgir a expressão American way of life, ou o estilo americano de viver. Mas, ao mesmo tempo que se expandia o crédito, os salários dos trabalhadores diminuíam. O rápido crescimento da economia e a expansão do crédito levou as pessoas a investirem no mercado especulativo, ou seja, na bolsa de valores. Tendo muitas pessoas interessadas em comprar ações, estas se valorizaram muito acima da capacidade produtiva e, com o alto endividamento das pessoas e a estagnação dos salários, o poder de consumo das famílias diminuiu, fazendo com que o consumo não acompanhasse o crescimento da indústria, gerando excesso de produtos no mercado. Com menos dinheiro os investidores passaram a vender as ações o que levou a baixar os preços até que a situação se tornou insustentável.

E, o que isso tem a ver com os dias atuais? No Brasil, desde 04/05/2012 as cadernetas de poupança passaram a ter rendimentos vinculados a taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), hoje a taxa SELIC está em 3% ao ano e a poupança (que é 70% da taxa SELIC) rende 2,1% ao ano ou 0,17% ao mês. Essa regra estimula as pessoas a buscar outros tipos de investimentos mais rentáveis.

Nos últimos anos temos visto uma enxurrada de informações de como ganhar dinheiro no mercado de ações e é para lá que foram milhões de reais que estavam na poupança. Por outro lado, desde o ano passado, o governo vem implementando reformas, como a da previdência e a trabalhista, que diminuem o poder de compra das famílias. Não bastasse isso, estamos vivendo a paralisação da economia, pela crise na saúde, gerando alto índice de desemprego e falência de muitas empresas, além de gastos públicos muito acima do esperado, proporcionando grande déficit orçamentário.

O consumo caiu bruscamente, os investidores internacionais direcionam seus investimentos para lugares mais seguros, muitas empresas perdem valor de mercado, outras abrem falência ou entram em recuperação judicial, o desemprego aumenta e o Produto Interno Bruto cai vertiginosamente. Então temos uma situação parecida com a de 1929, excesso de produtos e baixo consumo. Nestas condições, o modelo liberal não dá conta de se sustentar, porque ele está baseado na ausência do estado. As empresas privadas não atendem os interesses da sociedade se não puderem lucrar com isso.


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