Eu fui líder sindical bancário por pelo menos 20 anos, agora
quase dez anos depois do último mandato, vejo um paralelo entre nossa luta de
classe e a luta contra o vírus do COVID-19. Têm algumas semelhanças que
pretendo explorar aqui só para constatar, quem sabe pode fazer sentido.
Uma greve bem sucedida passa por alguns pontos que são
fundamentais no combate a uma praga como essa do corona vírus. Países que entenderam
o momento crucial para decidir entre o enfrentamento ou a conciliação tiveram
sucesso ou fracasso no combate à doença.
Como numa mesa de negociação, do lado patronal está o COVID-19,
do outro a massa de pessoas que temem o desemprego, mas sabem, ou deveriam saber,
que se não lutarem e fizerem uma paralização forte, ficarão por muito tempo em
péssimas condições de vida.
Países são como sindicatos, todos tentam uma negociação para não
paralisar a economia. Mas o COVID-19 mostrou-se um patrão radical, daqueles que
impõem suas condições, ainda que tenha que dizimar pessoas. Só uma paralização
completa pode fazer avançar os direitos dos trabalhadores. Quanto mais forte a
paralização, melhor será o resultado na mesa de negociações. Países europeus,
onde o ataque patronal, quer dizer, viral foi mais intenso, uma paralisação
total reverteu a situação em sete a dez dias e a economia voltou a funcionar.
Por não entenderem a conjuntura ou por má fé mesmo, algumas
lideranças entendem que a luta não deva ser radicalizada e buscam
exaustivamente a conciliação. Com patrões do tipo COVID-19, e tem muitos desses
por aí, é quase um suicídio. O presidente do sindicato Brasil parece ser um
desses líderes, desde o início minimizou a luta social, e desmobilizou os
trabalhadores organizados nos estados e nos municípios. O patrão, no caso o
corona vírus, já gerou, no Brasil, mais de 27 milhões de desempregados e toda a
economia está em forte crise.
No sindicato nós tínhamos a compreensão do medo na hora de fazer
a greve, tínhamos medo da demissão dos colegas que paralisassem as atividades,
mas sabíamos que só uma liderança firme poderia unir os trabalhadores e, unidos
seria impossível a demissão, não se demitem todos. Agora entendo o medo dos
pequenos empresários que temem a falência dos seus negócios, entendo também o
medo dos grandes de perderem sua renda fabulosa. Mas se não tivermos um
enfrentamento adequado, perderemos todos.
Elairton Paulo Gehlen