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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

MEGA DA VIRADA



Apostei! E já estou fazendo a distribuição do prêmio: R$ 20 milhões para cada filho; R$ 20 milhões para cada irmão; R$ 50 milhões para distribuir entre os netos; R$ 100 milhões para financiar projetos sociais, incluindo aí projetos políticos e religiosos progressistas. O resto vou gastar à toa. Se eu vou ganhar? É claro que vou. É deste tipo de esperança que vive o povo brasileiro e eu sou um.

Ganhar na mega sena é tão bom quanto aquele primeiro beijo na primeira namorada no primeiro baile na primeira vez que as nuvens estavam sobre o assoalho enquanto a banda tocava Rock And Roll Lullaby nos anos setenta e dançávamos e eu nem sabia do que se tratava a letra da música mas era como se tivesse ganho na mega sena que nem existia ainda e já distribuía o prêmio para o resto dos anos da minha vida e teria a mais linda mulher e filhos e uma fazenda e um carro bacana e seria o homem mais rico e feliz do mundo!

A mega sena é assim: capaz de enricar e empobrecer qualquer um, mais empobrecer do que enriquecer, a probabilidade de acertar as seis dezenas é de 1 em 50.063.860, tipo assim, quase a mesma probabilidade de ficar para a vida toda com aquela primeira namorada do primeiro beijo no primeiro baile e ela ser a mulher mais linda e agradável do mundo e ainda comprar uma fazenda e se o mais rico e feliz dos homens. Mesmo assim apostamos, tanto na mega sena quanto na namorada, sempre dá errado, mas sempre tentamos de novo e temos a esperança de acertar e assim vamos perdendo, perdendo e perdendo até que a morte nos separe de vez.

Mas, tem gente que acerta. Por que não eu? Na mega do ano passado, foram feitas 333 milhões de apostas e teve dois ganhadores. A CAIXA garante que alguém sai do baile com a garota mais linda do ano e pode sonhar com a fazenda, é só pagar o ingresso e piscar o olho: R$ 4,50 por aposta. Bom mesmo é apostar um mês antes e ficar sonhando com a valsa do dia 31! Só de pensar no prêmio já dá um frio na barriga e as ideias flutuam pelo salão imaginário sobre nuvens de algodão e vão subindo ao infinito e além saltitando de estrela em estrela até o Céu se abrir num portal de luzes coloridas, damos piruetas e a garota está sempre sorrindo e entramos no Céu enquanto ela me beija ardentemente e vamos para um lugar ultra secreto fazer planos para vida eterna e quando a Lua escorre o mel a CAIXA nos diz que o sorteio premiou dois ganhadores e não foi eu e o Céu abre um buraco enorme e o despertador toca e é ano novo e a vida velha despenca sobre minha cabeça que dói de tanta cerveja que tomei na festa da família e passei mal e nem sei como fui parar na minha cama.

Esfrego os olhos e tomo um copo de água para curar a ressaca, parece que fui enganado, a cerveja que prometia alegria na festa trouxe dor de cabeça e a mega sena só criou uma ilusão para tomar o dinheiro de 333 milhões de pessoas. Quem ganhou de verdade foram os donos da cervejaria e o banco do governo e eu estou aqui, sonhando com a garota mais linda do baile.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

DOURADOS, 87 ANOS. MAS, E SE...



E se o Brasil não tivesse feito guerra contra o Paraguai entre 1.864 e 1.870, daí não teríamos, nesta semana, as comemorações pelos 87 anos de emancipação de Dourados e seríamos um município paraguaio, falando guarani e espanhol, pertencendo a um país absurdamente desenvolvido e teríamos orgulho de nossa gente e nosso herói seria Francisco Solano Lopes Carrilho.

A Poetisa Guerreira, Odila Lange, fez seu belíssimo canto a esta terra que aniversaria; a lei determinou o feriado e os políticos se derretem em elogios à Terra de Antônio João e aos “heróis” que emprestam nomes às principais ruas da cidade e eu fico a me perguntar: Por onde anda a estátua em homenagem ao ervateiro? Ora, pois, depois de ser retirada do centro da cidade onde parecia destoar, quase ofender, por representar o trabalhador que fez esta região se desenvolver, passou algum tempo literalmente trancada a cadeado no Parque Arnulpho Fioravanti e agora se encontra na Praça Paraguaia, como a resgatar a história que poderia ter sido, caso o Paraguai vencesse a guerra.

Não quis a Poetisa citar nomes nem entrar em polêmicas sobre o heroísmo das personalidades da nossa história, isso cabe aos historiadores, que ainda discutem se o aniversário da cidade seria mesmo em 20 de dezembro. Aos poetas faz bem enaltecer o lugar e cantar as glórias. Fez bem a Guerreira, mesmo assim me atrevo a pensar que se nossa bandeira tivesse um texto em espanhol, tanto a poetisa quanto os políticos teriam os mesmos sentimentos de agora, pois o que muda não é o fervor patriótico nascido dos heróis, mas as oportunidades que dali advieram. Aos poetas o canto ao povo, e aos políticos o poder, independente de quem tenha lutado para a grandeza do lugar. Solano Lopez quis um país industrializado e precisava da matéria prima brasileira, a Inglaterra fazia a revolução industrial e também queria os produtos daqui, venceu quem tinha mais poder econômico e o Paraguai foi dizimado numa luta fraticida promovendo “heróis” como Antônio João, Duque de Caxias e o Conde D’Eu.

É justo celebrar a data, especialmente porque um feriado é sempre bem-vindo, ainda que os comerciantes achem desprezível essa ideia de ter que fechar o comércio às vésperas do Natal, em que se comemora a vida econômica com lucros quase milagrosos num país que se diz cristão e ama, ama de paixão a deus Mamon. Decididamente o comércio não fecha e a data é celebrada nas ruas com grandes investimentos públicos para atrair ainda mais pessoas para a porta das lojas em busca de um colorido apagado para suas vidas e presentes desnecessários para amigos e familiares que por desgraça ainda se sentem obrigados a comprar outro, porque presente não se dá, se vende pelo pagamento de outro que se espera ansiosamente receber.

E as ruas centrais desfilam os nomes dos heróis de fachada em placas sinalizadoras que enchem o ego da elite de satisfação porque ainda conseguem se sobrepor ao verdadeiro heroísmo da classe trabalhadora e dos povos originais que pagaram o preço do “desenvolvimento” com sofrimento quase indescritível como o representado pela estátua do ervateiro, rapidamente retirada do centro da cidade, e pela miséria promovida contra os povos originais, expulsos de suas terras e confinados em aldeamentos desumanos. Dourados conta hoje com uma das maiores reservas indígenas do país e, segundo pesquisa feita pela então estudante de letras (em 2.016) Denise de Oliveira Barbosa Velasco, da Universidade Federal da Grande Dourados, com o título: A Presença e a Motivação de Topônimos Indígenas nas Ruas de Dourados/MS, e publicada na Revista da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras/UFGD, apenas 7 por cento das ruas da cidade têm em seu topônimo palavras de origem indígena e apenas uma presta homenagem a uma pessoa humana, MARÇAL TUPÃ I.



Dourados é a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, que tenhamos mais Denises pesquisando sobre nossos verdadeiros heróis e que nossa elite seja de trabalhadores.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

PARQUE ALVORADA: A PRAÇA

         


    

Quantas praças públicas com alguma infraestrutura de lazer tem em Dourados eu não sei, mas tem uma bela praça no Parque Alvorada, ao lado da Escola Municipal Aurora Pedroso de Carmargo que, além de proporcionar espaço de lazer para a comunidade, com pista de caminhada, campo de areia, quadra de esportes, pista de Skate e parque infantil tem um belo gramado para a comunidade se divertir e até fazer piquenique com a família e amigos, tem, ainda uma boa quantidade de árvores que proporcionam boa sombra para os visitantes. Tererê, chimarrão, refrigerante e até alguns atrevidos tomando o que não deve e fumando o que não pode, se pode, eventualmente, encontrar no local onde entrar com bicicleta e proibido assim como animais, tanto uns como outros circulam livremente pelo local e não tem causado problemas, nem mesmo os racionais.

 


Esse belíssimo espaço, quase um cartão postal da cidade, desde há muito reservado para a praça quase se transformou em um conjunto habitacional pelas ideias de um prefeito fazedor de obras de construção civil mas que se atrapalhou no projeto quando a comunidade dos moradores do Bairro reivindicou a construção da praça. Era década de 1.990, já no segundo mandato do Ex-Prefeito Braz Melo, quando foi criada a Associação dos Moradores do Parque Alvorada - AMPA que substituiria o condomínio até então instituído que limitava as construções a um determinado conjunto de regras e excluía da organização pelo menos metade do Bairro que não tinha asfalto e quase nada de atenção do poder público.

A AMPA, que eu tenho o orgulho de ter participado da fundação e também da primeira diretoria, tinha como presidente à época o Engenheiro Agrônomo Mario Urchei e um grupo de moradores que se associaram para reivindicar melhorias para o Bairro, dentre elas o asfaltamento das ruas, a urbanização das passarelas e claro a Praça, para isso, foi apresentado pela Associação, ao então alcaide Braz Melo vários projetos realizados pelos alunos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tanto para a praça como para as passarelas, sendo posteriormente feita a praça enquanto as passarelas continuam sendo apenas um lugar de passagem, para pedestres, sem investimento público. Os moradores têm se esforçado por manter limpas, a maioria delas, com gramados e árvores frutíferas.



A praça é um dos poucos espaços públicos realmente democráticos. Em meio a espaços privados, cercados por muros, portões eletrônicos, cercas elétricas, câmaras de segurança e chaves, muitas chaves e dispositivos eletrônicos de todo tipo onde moradores se escondem com medo do povo, é nos espaços públicos que todas as classes se encontram e usufruem, especialmente nas praças onde se joga futebol de salão, areia, se anda de skate, faz-se piquenique, se leva as crianças para brincar e fazemos exercícios físicos e caminhadas e até piquenique, tudo democraticamente.



terça-feira, 13 de dezembro de 2022

PÊNFIGO (Antropofagia)

A boca vai sendo engolida

Pela boca

                       dos anticorpos

que deveriam proteger a boca

 

A cabeça vai sendo engolida,

                      o pescoço, as costas

Um corpo que se destrói

Vai comendo o próprio corpo

 

Antropofagia

A carne humana comendo

                         carne humana

o pênfigo ataca os próprios tecidos

autoimune, perdeu a noção do bem

 

A carne viva morre um corpo

O corpo vivo morre a alma

O corpo se alimenta

                 Do próprio corpo.

 

E se desfaz!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

EM DEZEMBRO, ATÉ EU ACREDITO EM PAPAI NOEL!

Amanhã, dia 06, é dia do Neuropsicopedagogo. Esse palavrão quer dizer que existe uma profissão que estuda o funcionamento do cérebro para entender como o ser humano aprende, memoriza e processa as informações. Mais do que compreender o processo de elaboração do pensamento, o profissional se de dedica ao cuidado com a aprendizagem.

Tem uma doença na sociedade corroendo o processo de aprendizagem, não só dos alunos em sala de aula, mas principalmente dos pais em casa que dão celulares nas mãos dos filhos para que eles não os incomodem enquanto estão com seu próprios celulares nas mãos olhando mensagens nas redes sociais sem ao menos se perguntarem se existe algum profissional que possa analisar o estrago que tantas informações pode causar ao cérebro de quem fica horas a fio perdido entre o real e o imaginário das vaidades e das mentiras.

Antigamente se acreditava em Papai Noel e era lindo ficar esperando a noite da véspera do Natal e acordar cedo no dia seguinte para achar os presentes que o bom velhinho gordo, barbudo e barrigudo com uma roupa de frio e um saco nas costas tinha deixado na porta de casa ou no pé da árvore na sala. A gente nunca via ele entrando nas casas, mas era certo que descia pela chaminé e por ali também saia silenciosamente, às vezes batia na porta e quando íamos ver tinha um presente do lado de fora mas o bom velhinho já tinha ido embora, certamente tinha pressa em distribuir presentes para milhares de residências ainda e tinha que ser naquela noite!

Hoje em dia ninguém mais acredita em Papai Noel, mas nas mensagens do Telegram e do WhatsApp, ah! Nessas, todo mundo parece acreditar. Pais que nunca comparecem a uma reunião de escola acreditam que agora os banheiros são unissex e o kit gay está sendo distribuído aos alunos das escolas públicas; Militantes distribuíram à exaustão informações de que as urnas eletrônicas direcionavam os votos para candidatos de esquerda quando os eleitos foram os da extrema direita; Crentes fervorosos e conservadores idolatraram a perversa família Bolsonaro crendo ser um exemplo de vida cristã. E as ruas se encheram de pessoas bem intencionadas, iludidas por uma indústria de mentiras, crendo nas mensagens distribuídas intensamente em grupos de WhatsApp e Telegram, dizendo que haveria uma intervenção militar para “salvar” o Brasil da ameaça comunista. Pessoas marchando, crentes orando e grupos tentando contato com extraterrestres, todos adultos, numa cruzada contra moinhos de vento.

Se tem uma ciência que precisa urgentemente entrar em campo e essa tal de Neuropsicopedagogia, não para explicar aos jovens o porquê de estarem tão perdidos nas redes, mas para acordar os adultos que sempre acreditaram em Papai Noel, que a maioria das informações que se passa em grupos ideológicos são perigosas para o convívio social e atendem a pequenos grupos enclausurados nos Palácios Central ou no Qatar assistindo os jogos do Brasil com um pen drive no bolso.


domingo, 27 de novembro de 2022

VARONI NO CASULO

 

Varoni é uma cachaça artesanal produzida em Três Lagoas pelo ex empresário da construção civil Paulo Cesar Varoni e CASULO é um espaço de cultura e arte localizado à Rua Reinaldo Bianchi, 398 no Bairro Parque Alvorada em Dourados. O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada, até o Show “Menestrada” do artista Maringa Borget começar no último sábado, pontualmente as oito horas e trinta e dois minutos da noite, com um pouco mais de meia hora de atraso, sem nenhuma reclamação, para um público quase intimista de vinte e poucas pessoas.

A cachaça Varoni estava lá no palco, devidamente acomodada no fundo de um balaio virado de boca para baixo, fazendo parte do show, literalmente. É que o artista precisa molhar a garganta e água serve só para isso, mas a ‘mardita’ irriga os pensamentos e inspira umas conversas a mais entre uma música e outra e pelo tanto que era bebericada dava para ver que era de boa qualidade! Se o produtor ainda não é patrocinador, deveria ser, a propaganda é boa e a bebida também, no final do espetáculo fui até o palco e provei: deu vontade de adquirir uma garrafa!

No terceiro andar das arquibancadas onde me instalei para assistir ao espetáculo dava quase para sentir o cheiro da música. O espaço é muito bonito, com alguns móveis rústicos, arranjos de flores e objetos de arte, a presença dos artistas é quase um detalhe entre as cores das luzes que fazem um efeito maravilhoso em todo o ambiente, mas quando o show começa, aí logo se vê que valeu os R$45,00 do ingresso. Música brasileira de boa qualidade com canções autorais e interpretações de cantores consagrados da música popular, a viola, o violão de seis cordas, os instrumentos de percussão e claro, Maringa Borget tocando e cantando e encantando davam a impressão que o dinheiro investido no ingresso tinha se multiplicado. Se fosse possível monetizar emoções, eu diria que ficamos ricos em uma hora!

 


Uma hora que passou assim: num estalar de dedos! Uma hora de canções, histórias, aplausos e risos. Uma hora que passou e o artista se despede para voltar em seguida porque o público pede “mais uma”. E o artista volta para cantar mais uma e mais cinco e o público começa a pensar que o show não vai mesmo acabar. Mas o artista se despede pra valer e o show que ia acabar não acaba, continua ali mesmo no palco com o público descendo das arquibancadas, conversando com os músicos, tirando fotos e até tomando uns goles da Varoni, afinal, a propaganda foi convincente!

O show continua porque fora da sala de espetáculos está o pátio, dos espetáculos também. Metade do público se despede e vai para suas casas, outra metade fica porque tem um barzinho da dona Solange que é uma graça e tem um jardim onde estão várias mesas e os artistas se misturam ao público e do público surgem artistas e um novo show de cantorias começam para só terminar... não sei bem que horas, eu “só” fiquei até às três da madrugada e ainda nem paguei minha conta no bar da dona Solange porque ela fechou antes e foi dormir.



Este texto parece propaganda do CASULO, e é, tem coisas que vale a pena divulgar. O simpaticíssimo casal Walter, que conheci sábado e Graciela, que não estava lá mas que conheço há mais de trinta anos, são os donos do local, merecem o elogio, também, a coordenadora dos eventos Júlia e toda a galera que cuida para que tudo fique bem e os convidados tenham um lugar bacana desses onde se pode levar a família sem medo. No local também funciona uma escola de artes, música e teatro e outros eventos, como A feira das Pulgas.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A MISERÁVEL COPA MILIONÁRIA



“Já que tá, que vá” era o nome do nosso time quando disputamos um torneiro de futebol num domingo qualquer de 1.976. Éramos estudantes em Concórdia, SC, e dos trezentos e vinte internos, quase metade torcia para o Internacional e outro tanto para o Grêmio. Disputávamos ‘peladas’ em um campo de futebol society e o campo de futebol sempre estava ocupado com algum time disputando uma partida amistosa. Nosso bom e velho Colégio Agrícola era uma boa metáfora esportiva do nosso Brasil tricampeão mundial de 1.970.

A Seleção que fazia ‘noventa milhões em ação’ tinha vinte e dois jogadores convocados, onze de times paulistas, seis cariocas, quatro de clubes mineiros e um gaúcho, detalhe: Todos jogadores de times brasileiros! O “Guadalajara” invadiu o Brasil” e a Copa do México não tinha um brasileiro sequer torcendo para outro time que não a nossa seleção. Gremistas e colorados torciam por Everaldo do Grêmio, corintianos e palmeirenses torciam pelos jogadores santistas e vice-versa, o país inteiro vibrava porque se sentia representados por jogadores ‘brasileiros’.

Agora, em 2.022, o Brasil só não está fora da Copa do Mundo de Futebol porque três, apenas três jogadores brasileiros foram convocados, dois do Flamengo e um do Palmeiras, nenhum outro time brasileiro teve jogador convocado para a Seleção que vai disputar o título mundial deste ano no Qatar. Isto não é exatamente uma novidade, nas últimas disputas, milhares de brasileiros torceram para outras seleções contra os canarinhos porque não se sentiram representados pelos ‘estrangeiros’ convocados pela CBF. Para ser bem honesto, eu sou desses torcedores descontentes.

A distância que se criou entre torcedores e jogadores não é só geográfica, é também de identidade. Totalmente elitizado, o futebol mundial criou uma casta esportiva que não representa mais nem o futebol amador nem mesmo o profissional da maioria dos campeonatos regionais e mesmo os nacionais, com exceção de pouquíssimos clubes milionários. Patrocinadores e donos de grandes clubes mundiais “exigem” que seus atletas sejam convocados para agregar valor monetário ao jogador e, por conseguinte, ao clube e os milionários dirigentes da bilionária CBF aparentemente entram no jogo e levam para Qatar um bando de riquinhos que nem se importam em cravar as traves de suas chuteiras na alma de dezenas de milhares de operários escravizados na construção dos estádios.

A Anistia Ampla Internacional levantou dados de imigração na última década ao Qatar e informa que em dez anos mais de 15.000 imigrantes morreram naquele país. A imprensa internacional tem verificado que milhares dessas mortes e ainda mais no último ano tem tido relação com trabalho extenuante na construção dos estádios de futebol, com trabalhadores em regime de semiescravidão, vivendo em alojamentos precários, trabalhando até dezesseis horas por dia e recebendo salários indignos.

Entre a miséria e a ostentação, a Copa da FIFA mais se parece com o Coliseu onde Gladiadores divertem as galeras enquanto o Imperador conquista a amizade o povo com Pão e Circo!


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

ENGOLINDO O SAPO

             Em 1.987 a maioria de vocês nem tina nascido e eu já estudava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tive que entrar num curso de ciências para depois ser habilitado em matemática, era assim que funcionava e eu topei e, numa aula de biologia a professora nos levou para o laboratório e abriu um frango para estudarmos os órgãos internos dessa ave e depois da aula perguntou se alguém queria levar os restos mortais para casa e eu me candidatei imediatamente, eu era o mais pobre daquela turma e ninguém se opôs. Enquanto embalava a vítima do meu próximo banquete uma colega de turma perguntou para a professora se era verdade que se colocássemos um sapo numa panela e aquecêssemos a água o sapo não reagiria até ser morto pela fervura e a professora disse que sim, o sapo morreria na própria fervura e sem perceber.

Nesse tempo eu já escrevia uns textos e publicava no jornal, fundamos o Centro Acadêmico e eu fui eleito diretor de cultura e logo criei o jornal do CAM e eu mesmo escrevia tudo que se publicava ali e fui me tornando mais escritor do que cientista, mas jamais me esqueci da fábula do sapo que morre pelo aquecimento da própria água.  Em 1.989 me formei em Ciências e no mesmo ano teve eleições para presidente da República, no segundo turno o saudoso Brizola cravou uma expressão que parecia não fazer nenhum sentido com minha aula de ciências: “Vamos ter que engolir o sapo barbudo! ”.

Agora que todos vocês já nasceram e foram escolarizados e leem os meus textos, é justo dizer que o tempo passou e a fábula do sapo fervido era mesmo verdadeira. Enquanto Brizola morria de enfarto agudo do miocárdio no Rio de janeiro o Sapo Barbudo se banhava em Brasília na banheira do “Mensalão”, devidamente aquecida pelas chamas das vaidades da tendência “Articulação”. Alimentando a fogueira brindavam alegremente em suas capas pretas figurões como José Dirceu, Palocci, Berzoini e outros mais que viriam a formar a Tendência Majoritária, a mesma que acreditava que o ‘Centrão’ pudesse ser domesticado e que políticos canalhas como Michel Temer ou o terrivelmente evangélico Eduardo Cunha poderia ter limite para suas ambições. Haja ingenuidade!

Meu jornalzinho de poesias já está na décima sétima edição e eu continuo escrevendo, até já publiquei alguns livros, minha professora de biologia está aposentada, o Brizola na saudade e a cobra bem alimentada, cobras comem sapos, não comem? Quando o Juiz percebeu que o sapo não morrera na fervura, tratou de apanha-lo p engordar sua própria ambição política. Se o profeta Jonas sobreviveu três dias na barriga da baleira, por que o sapo não sobreviveria 580 dias na barriga do Juiz? Vivo, muito vivo, e fora da panela o sapo assiste de longe a estrema direita botando lenha na fogueira das vaidades. Tomara a água ferva essa nova estupidez e o Brasil engula em paz o Sapo Barbudo!

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

NÃO SEI MAIS ONDE ESTÁ

Meu Neruda

Que me era tão caro

Meu Vinicius

Que eu tanto amava

 

Não sei onde anda

O Drummont e sua Boca de Luar

O Ferreira Gullar e Toda a Poesia!

Por onde tudo isso andará?

 

Esquecido na Utopia do Thomas More

No existencialismo de Sartre

No estranhamento de Camus

Ou na música do Legião Urbana?

 

Não sei por onde está

O humanismo que se perdeu

Entre as bandeiras desfraldadas

De loucura

 

Não sei onde está

Minha utopia

Minha poesia

 

Minha religião

Sangra nas ruas

Verde/amarelas

 

Meu país

Sangra

           Sangra

                           Sangra!

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O DIA QUE TEIMA EM CLAREAR

           


          Nem todo dia é teimoso, às vezes ele clareia tão mansamente que quando percebemos já é quase meio dia e vamos tomar café da manhã como se ainda fosse o alvorecer de mais uma esperança firmemente amarrada à estrela d’alva. Vênus esqueceu-se do raiar do Sol e dorme docemente espremendo a conchinha cheia das delícias e o leite derramado nas delícias do fruto proibido esfria a fervura do café. Às onze, os primeiros raios entram pela porta entreaberta, é hora do brunch!

A estrela d’alva não suporta claridade. Estrela é feminina, é dona do amanhecer; estrela d’alva é Vênus, é masculino, é dono do anoitecer; feminino e masculino, o amor não tem sexo, o amor é o sexo! O dia entra pela porta e pela janela, o dia não é amor, é confusão. Os carros na rua entram pelas janelas e a porta leva mais um carro para as ruas. As ruas não têm estrelas, tem buracos, poeira e destinos capitalistas. O mercado celebra mais um dia!

60 trilhões de dólares acordam cada dia 7 bilhões de pessoas. Oito mil dólares para cada um se tudo fosse gasto em leite para ser distribuído em conchinha, masculino e feminino, sobre o fruto da árvore do bem e do mal. O mal acorda o dia e recolhe sessenta trilhões de dólares e faz sete bilhões de pessoas ligarem seus carros e o barulho entrar pelas janelas e o carro sair pelas portas em ruas esburacadas e poeirentas enquanto vênus dorme a quarenta milhões de quilômetros de distância. Vênus é um planeta, é masculino; Vênus é a deusa do amor, é feminino; masculino e feminino, o amor não suporta o capitalismo!

O dia teima em clarear! Todo dia amanhece um ditador adorado e idolatrado na claridade que expulsa Vênus, ditador que jura ser a estrela de Belém! Deus acima de tudo e sessenta trilhões de dólares fazendo o milagre da multiplicação dos fiéis que dormem de conchinha e acordam com as mãos para o alto clamando por leite para o bebê que nasceu miseravelmente e agora já não são mais 7 bilhões, mas sete bilhões e mais um, miseravelmente acrescentando dados estatísticos para mais um dia que teima em clarear.

Se o dia teimar em clarear outra vez, vamos fazer uma revolução. Já sabemos dos bichos que agem por instinto, o dia que clarear suas percepções e eles souberem que existe o bem e o mal escolherão se revoltar e farão a revolução dos bichos; Sabemos que os pobres acreditam que qualquer ajuda suficiente para manter sua pobreza viva parece bastante para louvar quem lhe ajudou, o dia que clarear suas percepções e souberem que 60 trilhões de dólares são muito mais do que as esmolas que recebem escolherão se revoltar e farão a luta de classes; Sabemos que os crentes em geral acreditam em milagres e se mantém de joelhos diante do Espírito, o dia que clarear suas percepções e entenderem que a bíblia tem um livro chamado Atos dos Apóstolos, se revoltarão contra o poder dominante e lutarão por igualdade e o milagre será real; Então o dia será de Vênus e a Estrela d’alva verá um rastro de ódio na porta do Exército e as bandeiras da hipocrisia tremularão em vão!

Viu? Olha pró Céu, a Estrela d’alva! É Vênus, a deusa do amor! Celebremos esta noite e quando estivermos saciados, vamos dormir de conchinha e o leite derramado será de prazer, o prazer da inocência do instinto, da gratidão, da vida e da crença no bem. Amanhã, se o dia ainda teimar em clarear, então será a vez do mal vencer e tudo será como é no mercado!

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

UM SUJEITO IGNÓBIL!

Você deve estar pensando que eu vou falar do presidente Bolsonaro. Não! Desse sujeito nem é preciso falar, né? Quero falar de um sujeito coletivo que, de alguma maneira muito bem definida defende esse sujeito, também ignóbil. E nem é preciso muito esforço mental para entender, basta escorar o sovaco na bengala do tal: “Deus, família e Pátria”. Essas três palavrinhas são muito caras ao povo evangélico. Deus, o todo poderoso, onisciente, onipresente e eterno; Família, estabelecida por Deus e formada por homem, mulher e filhos e indissolúvel; Pátria, país em se nasceu e onde se exerce a cidadania.

O sujeito coletivo a que me refiro não são os cristãos evangélicos em geral, os ditos Crentes, estes são pessoas de boa fé que seguem seus líderes acreditando que eles, tendo estudado teologia, têm uma melhor compreensão do texto bíblico, expressão da verdade, escrito por humanos, inspirado por Deus, útil para o ensino, repreensão, correção e justiça a fim de que o homem seja preparado para toda boa obra.

Eu frequentei igreja evangélica por quase duas décadas! Fui batizado e dizimista por anos, acredito que realmente a palavra bíblica tem orientações muito claras para a vida plena e que Jesus foi o grande exemplo da nova mensagem contida no Novo Testamento. Dito isto, faço agora referência ao Sujeito Ignóbil a que me referi no título. Ignóbil, segundo o dicionário Michaelis, significa: “Que desrespeita as normas sociais, a decência e os bons costumes; abjeto, infame, torpe, vergonhoso”. Coloco no rol desse Sujeito a “Direita” e os líderes religiosos que se identificam com a orientação política do presidente Bolsonaro.

A Direita, que na verdade é extrema direita, é esse amontoado de pessoas muito ricas e estúpidas que usam dinheiro, público e privado, para fazer política a favor de um pequeno grupo social que vai se tornando uma Casta e conta com o apoio de formadores de opinião que se comunicam com os mais pobres a fim de obter apoio popular para seu projeto. Entre o objetivo da elite e a mensagem que chega ao cidadão comum existe um fosso de hipocrisia.

Entre os formadores de opinião estão políticos, empresários, jornalistas, comunicadores sociais, artistas especialmente sertanejos universitários, youtubers, influenciadores digitais, religiosos e uma máquina de fake News, todos alimentados com promessas de dinheiro fácil, fama e poder. Não há nenhuma possibilidade de haver democracia quando quem joga está nos extremos.

Eu já fiz análise de conjuntura muitas vezes e não me surpreende que formadores de opinião sejam cooptados para este ou aquele projeto político, faz parte do jogo, só não posso aceitar que religiosos, teoricamente conhecedores da Palavra, se deixem levar por promessas do Céu no meio do Inferno!

Para ser pastor, é necessário cursar teologia, um curso de estudos bíblicos que prepara o futuro líder religioso com conhecimento profundo dos sessenta e seis livros que compõe o texto base da fé. São quatro anos de estudos e espera-se que os formandos tenham capacidade de compreender pelo menos o básico da palavra de Deus, mas parece que uma doença religiosa tomou de conta das grandes instituições, de modo a que a palavra ficou relegada a segundo plano em questões muito caras ao texto original e as igrejas estão acreditando mais nas fake News da extrema direita do que no Evangelho cristão. É esse sujeito coletivo, o de líderes religiosos que seguem cegamente a extrema direita, que eu chamo de Ignóbil, porque: 1) Segue um líder vergonhoso que desrespeita as regras de sociedade; 2) Idolatra um ser humano e lhe presta culto como se a um deus; 3) Defende uma política de violência contra os mais pobres e oprimidos; 4) Usam o texto bíblico para se locupletar às custas da miséria dos fiéis e 5) Defendem uma economia Liberal, concentradora e excludente quando o texto bíblico (livro de Atos) manda distribuir tudo igualmente para todos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

PINTOU UM CLIMA

             Fim de semana chegando e está pintando um clima que me deixa esperançoso, afinal estou divorciado pela quarta vez e sempre que pinta um clima é sinal de que pode ter um quinto divórcio e divórcios são emocionantes, mesmo não sendo muito lucrativos, aliás bem prejudiciais às contas bancárias. Pensando bem, só com o divórcio é que deveria ‘pintar um clima’ com as garotas venezuelanas, mas eu não moro no Planalto onde tudo parece permitido, até mesmo chamas ardentes que nunca se apagam numa eterna fogueira imbrochável, então melhor me contentar com um clima mais ameno e deixar a imaginação esquentar o travesseiro enquanto escrevo cartas no SLOWLY.

E por falar em fogueira, tem um ‘clima’ nas igrejas evangélicas que parece ter acendido fogo muito estranho entre os filhos de Arão. Um igreja do Evangelho Quadrangular de Dourados fazia campanha explícita para um candidato “da igreja” que defendia nada mais, nada menos, que a candidata Soraya Thronicke, até aí tudo normal, não fosse o fato de a candidata ser sócia proprietária de uma rede de Motéis, que no Brasil não são só lugares para se passar a noite, mas efetivamente símbolos de relacionamentos, digamos, não muito aceitos pelos ‘crentes’, bem, até o ‘clima’ esquentar e Nadabe e Abiú começarem a fazer arminha com as mãos, aí liberou geral.

Mas eu sou escritor e quando pinta um clima dá logo vontade de fazer um texto ou uma poesia. Um clima romântico, claro, daqueles que deixa a gente assim meio sem jeito e sem noção. E olha que nem precisa ser a bonitona que passa na rua em direção à praça como se fosse a Garota de Ipanema indo para a praia, às vezes o ‘clima’ vem de longe e eu fico procurando no teclado do computador as letras certas para a poesia e na distribuidora a bebida certa para dar um clima para as ideias, lá no Planalto é tudo ao vivo e em cores, basta ser imbrochável e ver as garotas de São Sebastião, mesmo sendo menores de idade. Que que tem se pintou um clima?

 As ruas estão cheias de pessoas e o clima, que é de primavera, esquenta quando o assunto é futebol ou política, meu grêmio já está na primeira divisão  e eu divido meu tempo entre as letras, o quintal e uma boa caminhada pelo Parque Alvorada onde tem muitas bandeiras do Brasil estendidas do lado de fora das casas simbolizando que os moradores não são exatamente patriotas, mas bolsonaristas e eu tento memorizar cada uma dessas casas porque, se acaso pintar um clima a primeira coisas que eu vou tentar saber é se a incendiária é moradora de uma dessas casas, estou muito velho para radicalismos e meu sangue é vermelho. Por hora, estamos pintando a casa, eu e meu filho, mais ele do que eu, e está pintando um clima de mais alegria, aproximação e felicidade nesta nossa ‘nova’ casa. Domingo tem eleição e está pintando um clima de esperança!

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

A COPA DO BRASIL E A METÁFORA DO CAPITALISMO

             Eu não sou corintiano e nem flamenguista, sou gremista e o time está na série B do brasileirão, mas já foi cinco vezes campeão da Copa e ganhou muito, muito! dinheiro. A bola da vez é o flamengo, o atual campeão da Copa acabou de levar a bolada de R$ 60.000.000,00, isso mesmo, sessenta milhões de reais e tem uma leva de 32.500.000 torcedores que, além de não ganhar nada com o título, ainda pagam valores altíssimos para entrar no estádio e ver os jogos do time do coração. São, na maioria, trabalhadores assalariados que guardam parte do suado dinheiro para abastecer os cofres do clube, muitos deles são sócios e pagam mensalidade que varia de R$ 43,00 a R$ 321,00 por mês.

Em 2.021 os vinte maiores times de futebol faturaram quase 7 bilhões de reais. E, o que foi que eles produziram mesmo?

Ilusão, talvez seja a resposta mais adequada. O torcedor é iludido a pensar que faz parte daquele time, que de alguma maneira aquele time é “seu”, aí ele defende o time, idolatra os jogadores, briga com amigos que torcem por outra equipe, deixam a família de lado porque tem que assistir ao jogo, pagam caro para rir ou chorar nas arquibancadas, postam selfies com jogadores nos aeroportos depois de esperar por horas a chegada do time e o que é ainda pior, aceitam que dinheiro público, muito dinheiro público, seja drenado para os clubes enquanto postos de saúde não tem o básico para atender esses próprios torcedores e seus familiares.

Time de futebol e banco são a mesma coisa, só os valores são maiores. O flamengo dos bancos é o Itaú/Unibanco com ativos de R$ 2,1 trilhões e lucro (em 2.021) de R$ 24,9 bilhões. E, o que é mesmo que os bancos produzem para a sociedade?

Isso mesmo: Ilusão! O cliente é levado a pensar que deixando o dinheiro no banco ele vai ter, no futuro, uma vida tranquila, que a especulação financeira é boa e melhor que investir em conforto para a família é investir no mercado financeiro. Mas, se a grana está curta e o cliente quiser refinanciar a conta do cartão de crédito os juros variam de 7,78% a 1.153,38% ao ano, segundo dados do banco central (https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuros?parametros=tipopessoa:1;modalidade:204;encargo:101), e o susto não para por aí, pelos dados levantados pelo site Brasil de Fato, entre agosto de 2.021 e julho de 2.022, em um ano, portanto, o governo pagou aos banco a bagatela de R$ 586 bilhões de jutos da dívida pública. E o sistema financeiro garante que, se esse dinheiro for para os postos de saúde e para a educação será pior para o povo e o povo acredita!

Ilusão é a palavra de ordem do capitalismo. A mesma ilusão que leva torcedores a defender seu time e investir nele é a mesma que leva o povo a crer que o sistema financeiro merece o lucro que tem, e que a televisão deve ser trocada de tempos em tempos, e que a casa nunca está boa o bastante, os eletrodomésticos estão ‘ultrapassados’, o colchão ideal é o que custa R$7 mil reais o celular está vencido e as roupas e os calçados têm que ter a marca Nike, Zara, Adidas, Gucci, Cartier, etc., senão são “feias”.

Jogadores de futebol que ganham R$2 milhões por mês e bancos que lucram R$ 20 bilhões por ano são essenciais para o capitalismo, assim como a ilusão de que a pobreza é culpa do pobre, a miséria do miserável e a fome do faminto, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso.

Futebol não é só uma ilusão em si, é uma metáfora do capitalismo.

domingo, 16 de outubro de 2022

PROFESSOR

             Se eu fosse um escritor escreveria no dia de hoje uma homenagem aos professores pelo seu dia transcorrido oficialmente no último sábado, mas, antes de ser escritor, eu fui professor, então sou muito suspeito para escrever qualquer coisa que seja nesta data. O professor não sabe quase nada do escritor e o escritor sabe muito pouco do professor, então fica difícil eu escrever sobre mim mesmo nesta data que, além de ser feriado nas escolas, neste ano, ainda, por azar, caiu no sábado, que é quando as escolas estão fechadas, e é por aí que começo meus escritos, sobre as escolas fechadas nos sábados.

Quase em frente da minha casa tem uma praça e ao lado uma escola de nome Aurora Pedroso de Camargo. A praça está sempre aberta, mas a escola fecha quando os professores saem depois dos alunos. Até o último aluno sair, os professores são os desejos mais íntimos dos pais daqueles alunos. Cada professor é a aliteração na poesia do adolescente recitando versos para a virtual namorada. Cada professor é a derivada que maximiza os lucros do futuro empresário. Cada professor é o furo de reportagem do futuro jornalista. Cada professor é a conjuntura que se atualiza à cada bomba que explode na Ucrânia. Cada professor é o herói de cada aluno e cada aluna que sabe que uma vida de herói se constrói em cada aula bem dada na escola Aurora Pedroso de Camargo e em todas as outras escolas públicas e privadas do mundo.

Ser professor é muito fácil, basta conhecer todas as regras gramaticais, as funções sintáticas e analíticas, adjunto adverbial, e adnominal, aposto, sintaxe, léxico das palavras e também as figuras de linguagem, a metáfora, metonímia, catacrese, sinestesia, etc. e, claro, saber como explica-las aos alunos que nunca antes ouviram falar delas; basta conhecer os limites e derivadas e as funções infinitesimais, logaritmo, geometria, cálculo diferencial e integral, matemática financeira, física e estatística, sólidos em revolução...; ciências da natureza, química, geografia, sociologia e, quando ensinar isso tudo levar em consideração que ganha pouco e é maltratado pelos políticos que não tem interesse na educação das pessoas.

Você quer ser professor? Parabéns, eu fui por quase vinte anos! Quem dera todas as felicitações que vi no último dia 15 fossem votos de protesto contra pais que não educam filhos em casa e depois culpam os professores pela burrice dos alunos; quem dera fossem votos de protesto contra políticos que roubam verbas da educação em aquisições de Kit Robótica em processo duvidosos e os colocam em escolas que não tem nem água potável ou internet;  quem dera fossem votos de protesto contra um sistema educacional que privilegia uma elite estúpida que bota os filhos em escolas particulares no ensino básico e médio para depois se apropriar das vagas nas melhores universidades públicas. Quem dera fossem votos de protestos! Professores não precisam de felicitações, precisam de reconhecimento profissional e escolas mais adequadas!

Se eu fosse um escritor, escreveria um texto elogioso aos meus pais que nas suas limitações foram meus melhores professores, mas também um texto apologético aos trabalhadores e trabalhadoras da educação, que travam uma luta inglória contra a estupidez humana.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

SE EU TIVESSE

  

Se eu tivesse

Feito o amor que não fiz

Talvez tivesse vivido

A vida que não vivi

 

Se tivesse cuidado

O que não cuidei

Talvez tivesse colhido

O que plantei

 

Se tivesse

Estudado o que não estudei

Talvez tivesse aprendido

O que não sei

 

Se tivesse

Transado quando não transei

Talvez tivesse gozado

O que não gozei

 

Se tivesse

Vivido ....................

Talvez .....................

............... não sei......

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A CRIANÇA

 

Anoitece a criança deste dia 12

de um dia qualquer de outubro

sem brinquedo e sem graça

descalça de entendimento

despida de sentimento

ausente de tudo

 

Na roda viva do jogo do amor

a ciranda gira a roleta fatal

da criança que chora de fome

não tem identidade

não tem nome

não terá um dia de Natal

 

Ganha de presente a criança chorona

num dia qualquer de um mês qualquer

da vida que roda no sistema

como em um filme de cinema

onde tem tiros e pipoca

miséria de dar pena

 

Brinca de respeitar no dia 12

de uma dia qualquer de outubro

um adulto solitário e sem graça

que nada entende da criança

                                           descalça

nem ainda aprendeu que a vida

                                    pode valer a pena

 

Bebe a criança anoitecida de um dia

                                                            de outubro

esquecida de viver a vida

.........................................

...........................................

De um dia de outubro!


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O PADRE KELMON E O AZOLA DO BURRO

81.129, esse é o número de votos que o candidato do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro, teve na eleição do último domingo para Presidente da República. Azola do Burro teve 1.022 votos para vereador em Dourados no ano de 1.992 e foi eleito. Mal comparando, já que estamos há trinta nos da eleição do Azola, mas mantendo a proporção de votos em relação à população, se o Padre Kelmon fosse candidato a vereador teria tido a confiança de 77 eleitores Douradenses!

Depois dos últimos debates em que o tal Padre participou, eu vi os jornalistas quase se desculpando por ter que convida-lo para estar ali, justificando que só o fizeram por força da legislação que obriga convidar candidatos cujo partido tenha um certo número de deputados eleitos nas últimas eleições e tal. Eu achei ótimo ele estar lá, apesar de ter se passado por ridículo quando defendia outro candidato, só o fato de estar lá foi a prova mais inconteste da democracia brasileira que não permite que as emissoras convidem somente quem eles querem para o debate.

Já estamos meio acostumados ao ridículo, Azola do Burro, o vereador, comia mandioca crua no plenário da Câmara Municipal, o palhaço Tiririca foi reeleito deputado federal e o estrela pornô Alexandre Frota foi eleito em 2.018 e compôs a bancada do terrivelmente evangélico Jair Bolsonaro. O belo disso é que esses tipos representam a sociedade brasileira, milhares de pessoas amam ir ao circo e se veem nos palhaços, outro tanto é viciado em pornografia e as igrejas estão infestadas de crentes tomados pelo espírito durante o culto e pelo capeta fora do templo.

Agora estamos no segundo turno das eleições e inimigos declarados se juntam na esperança de poderem dar pelo menos uma mordida na mandioca, quer dizer no poder, e quase dizem amar este ou aquele desafeto de poucos dias atrás. E o povo que aplaudia o Tiririca, agora acha que tudo isso é uma palhaçada! Nós somos assim mesmo! Quem nuca trabalhou para um empresário sabidamente desonesto e defendeu, com honestidade, a empresa, ou quem nunca puxou o saco de um ditadorzinho qualquer só porque este lhe fez um favorzinho? E os que mais foram favorecidos, agora odeiam os mais necessitados por votarem pelos seus interesses. Quem nunca foi um injusto juiz só para ser ministro?

Nessa catedral não tem santo. O mais honesto que se aproxima do altar da política é capaz de roubar a hóstia e comer o coroinha enquanto os irmãos se embriagam de vinho no arraial da hipocrisia cultuando vênus e promovendo orgias com as prostitutas cultuais. O valor gasto pelos partidos nesta campanha eleitoral, com dinheiro público, foi de R$ 5,7 bilhões e não tem fiel que tenha recusado essa oferta!

Quando o Azola do Burro era vereador eu era sócio de uma empresa de Entregas Rápidas, o serviço era feito com motos. Um dia o Vereador me perguntou se eu entregava qualquer coisa, eu disse que sim, a responsabilidade pelo conteúdo era do contratante. Depois fiquei pensando que talvez o “conteúdo” não fosse aceitável, penso isso hoje dos políticos.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

LA BARCAROLA

Em 1.967, o maior poeta Latino-americano, Pablo Neruda, publicou em seu LA BARCAROLA, no nono episódio, alguns versos sobre o Brasil, agora, mais de cinquenta anos passados, quase às vésperas das eleições gerais, me encontro e me encanto com toda poesia e em como o poeta, sensível ao povo, consegue nos fazer sentir, como se fosse atual, e é, suas percepções do nosso país. Então observo nossa barcarola e escrevo:

Nossa Barcarola (Barca) navega em mares revoltos e, da praia, olho ao longe enquanto espero notícias que não me chegam do dia em que o vento há de trazer de volta a minha amada, pátria, vestida da brisa que vem do mar sobre as florestas amazônicas e em ventos que voltam ao mar, pelo Sul, levando chuvas Serôdia e Temporã, até que me encontre no horizonte infinito.

Enfraquecido, o Timoneiro já nem sabe o rumo do porto e as ondas que batem de lado enchem os olhos da minha amada, de sal ardente, e ela já não me vê. A bombordo uma luz que brilha na escuridão, a estibordo um sinal de alerta, o fogo se ascende na floresta iluminando as noites tristes. Para onde aponta a proa? Para onde vão minhas esperanças?

Um fino raio de sol tubular indica o Leste e ouço lamentos negros fertilizando canaviais, o açúcar escorre sangue, é doce a vida nas mansões que olham para o mar, a barcarola retesa as velas do mastro, da varanda vai o sinal do farol, pelo telefone celular, mas tem água, tempestade a bombordo.

O mar navega os olhos da minha amada, pátria. Marejam os olhos de água salgada, o coração balança as ondas e o ar suspira uma nuvem sobre a praia. Fecho os olhos para ver o tempo e uma lágrima de sal lava a alma da multidão que se aglomera no bonde. O sangue negro ainda mancha ruas do Nordeste onde o mar cospe o ouro negro no pinico misterioso do capital financeiro internacional. Os bancos têm fome, não importa a cor, o petróleo é sempre preto, o sangue negro sem cor não é mais raça, uma flecha acorda a Estrela Dalva e a Lua Cheia se prostra. O agro tem sede, de sangue que não é negro. Uma faísca desce pelo Amazonas e queima a justiça divina no Sul de Mato Grosso, do Sul. Na barcarola, a minha amada balança a alma e chora.

Um clarão, no céu, no Céu dos céus, a Terra, prometida, adora Baal. Olho da praia, as nuvens fazem o caminho do mar, a água salgada é um rio poluído, os olhos da amada não enxergam, os ouvidos não ouvem, e a boca não fala. Um rio, poluído, sai da boca dos adoradores que enchem a barcarola, o timoneiro, agarrado ao poste ídolo clama ao vento, mas o vento não para! A barcarola se enche à direita e afunda. Onde a esperança? Um fio alimenta o tempo em dois de dez.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

RUM MONTILLA

         Eu estou escrevendo um Livro de Memórias, é chegou o tempo! São muitas histórias e eu quase ia me esquecendo de escrever sobre o tempo quando tomávamos Daiqiri. Hoje, quando fui ao supermercado, vi na prateleira umas garrafas de Rum Montilla, daí me lembrei, era com essa bebida que fazíamos ‘daiquiri nos tempos de militância no Partido Comunista Brasileiro.  Essa bebida, assim como a Cuba Livre que tomava quando era ainda muito jovem, são como uma bandeira hasteada a meio mastro na Praça da Liberdade, para lembrar vidas que deixaram de existir, mortas junto com uma época da qual ainda se ouvem ecos nas músicas dos Beatles, Credence, Rolins Stones, Rita Lee, Caetano, Gil e o psicodélico Pink Floyd.

Cuba Livre, lógico era uma referência à revolução liderada por Fidel Castro que libertou Cuba da ditadura de Fulgêncio Baptista e do domínio norte americano, também nos libertava das agruras da Ditadura Militar nos anos setenta, não era importante saber o significado, só beber e dançar Rock In Roll, com o copo na mão rodando o corpo e balançando a cabeça com os pés aflitos sobre o soalho da pista e os olhos filmando as garotas revisitadas em sonhos por longos dias da próxima semana.

Daiquiri é símbolo de uma nova era, nos anos oitenta os militares tiravam as tropas do campo de batalha da política, onde nunca deveriam ter se mobilizado e nós, os comunistas, travávamos a eterna luta inglória contra o império norte americano. Naqueles tempos, ainda pensávamos que a luta armada seria uma possibilidade e nos preparávamos para isso, o Brasil engatinhava sua democracia e nós pensávamos a revolução! Mas, como diria Chê Guevara: ‘Hay que endurecerse pero sin perder la ternura’. E la ternura eram Las chicas quando a solidão batia forte, e um Daiquiri sempre que havia motivo para festejar, e haja motivos! Comunistas e Crentes são muito fiéis às suas causas, mas na hora de celebrar as vitórias, haja daiquiri, não para os Crentes, comunistas tomam daiquiri, crentes tomam refrigerante, ambos fazem mal para a saúde, crentes buscam o sobrenatural tomando refrigerante, comunistas tomam daiquiri.

 

Feita com limão, rum, gelo, muito gelo, e açúcar, tudo batido no liquidificador, Daiquiri é quase uma memória afetiva desses tempos de luta por justiça social. Uma delícia! Não a luta, a memória. Foi tomando daiquiri que li livros que me despertaram para a literatura e para a escrita, foi tomando daiquiri que pilotava minha moto e ia organizar as associações de moradores junto com o Walter Hora, foi tomando daiquiri que me tornei poeta, foi tomando daiquiri que fiz a luta política mais importante, foi tomando daiquiri que me tornei um ator social, foi tomando daiquiri que me perdi no sistema para me achar só. Daiquiri é a metáfora de um tempo.

Hoje fui no supermercado e vi, na prateleira, várias garrafas de Rum Montilla, andei mais alguns passos e comprei uma Coca-cola.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

STAND BY ME

 

Quando você estiver só

Não se sinta triste

Eu estou com você

 

Ainda que o mundo

Não faça mais sentido

Eu estou com você

 

Eu amo você

Você é um anjo

Que veio do Céu

 

E já me satisfaz

Você é um anjo de luz

No meu caminho

 

Eu estou ligado em você

Como um fio de luz

Que ilumina o caminho

De uma vida eterna

 

Você me satisfaz

Em meus sentimentos

Como uma refeição

No melhor restaurante

 

Eu bebo uma cuba libre

Para viver um tempo

Com você

Enxugue aquela lágrima

 

Há de existir

Um tempo em que

O amor se fará

Isso é possível

 

Esse tempo sem você

Tem muita nostalgia

Mas agora é você

E eu voltarei a ser feliz

 

Com você

Hei de ser

Mesmo que em sonhos

Hei de se feliz!

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...