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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

DOURADOS, 87 ANOS. MAS, E SE...



E se o Brasil não tivesse feito guerra contra o Paraguai entre 1.864 e 1.870, daí não teríamos, nesta semana, as comemorações pelos 87 anos de emancipação de Dourados e seríamos um município paraguaio, falando guarani e espanhol, pertencendo a um país absurdamente desenvolvido e teríamos orgulho de nossa gente e nosso herói seria Francisco Solano Lopes Carrilho.

A Poetisa Guerreira, Odila Lange, fez seu belíssimo canto a esta terra que aniversaria; a lei determinou o feriado e os políticos se derretem em elogios à Terra de Antônio João e aos “heróis” que emprestam nomes às principais ruas da cidade e eu fico a me perguntar: Por onde anda a estátua em homenagem ao ervateiro? Ora, pois, depois de ser retirada do centro da cidade onde parecia destoar, quase ofender, por representar o trabalhador que fez esta região se desenvolver, passou algum tempo literalmente trancada a cadeado no Parque Arnulpho Fioravanti e agora se encontra na Praça Paraguaia, como a resgatar a história que poderia ter sido, caso o Paraguai vencesse a guerra.

Não quis a Poetisa citar nomes nem entrar em polêmicas sobre o heroísmo das personalidades da nossa história, isso cabe aos historiadores, que ainda discutem se o aniversário da cidade seria mesmo em 20 de dezembro. Aos poetas faz bem enaltecer o lugar e cantar as glórias. Fez bem a Guerreira, mesmo assim me atrevo a pensar que se nossa bandeira tivesse um texto em espanhol, tanto a poetisa quanto os políticos teriam os mesmos sentimentos de agora, pois o que muda não é o fervor patriótico nascido dos heróis, mas as oportunidades que dali advieram. Aos poetas o canto ao povo, e aos políticos o poder, independente de quem tenha lutado para a grandeza do lugar. Solano Lopez quis um país industrializado e precisava da matéria prima brasileira, a Inglaterra fazia a revolução industrial e também queria os produtos daqui, venceu quem tinha mais poder econômico e o Paraguai foi dizimado numa luta fraticida promovendo “heróis” como Antônio João, Duque de Caxias e o Conde D’Eu.

É justo celebrar a data, especialmente porque um feriado é sempre bem-vindo, ainda que os comerciantes achem desprezível essa ideia de ter que fechar o comércio às vésperas do Natal, em que se comemora a vida econômica com lucros quase milagrosos num país que se diz cristão e ama, ama de paixão a deus Mamon. Decididamente o comércio não fecha e a data é celebrada nas ruas com grandes investimentos públicos para atrair ainda mais pessoas para a porta das lojas em busca de um colorido apagado para suas vidas e presentes desnecessários para amigos e familiares que por desgraça ainda se sentem obrigados a comprar outro, porque presente não se dá, se vende pelo pagamento de outro que se espera ansiosamente receber.

E as ruas centrais desfilam os nomes dos heróis de fachada em placas sinalizadoras que enchem o ego da elite de satisfação porque ainda conseguem se sobrepor ao verdadeiro heroísmo da classe trabalhadora e dos povos originais que pagaram o preço do “desenvolvimento” com sofrimento quase indescritível como o representado pela estátua do ervateiro, rapidamente retirada do centro da cidade, e pela miséria promovida contra os povos originais, expulsos de suas terras e confinados em aldeamentos desumanos. Dourados conta hoje com uma das maiores reservas indígenas do país e, segundo pesquisa feita pela então estudante de letras (em 2.016) Denise de Oliveira Barbosa Velasco, da Universidade Federal da Grande Dourados, com o título: A Presença e a Motivação de Topônimos Indígenas nas Ruas de Dourados/MS, e publicada na Revista da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras/UFGD, apenas 7 por cento das ruas da cidade têm em seu topônimo palavras de origem indígena e apenas uma presta homenagem a uma pessoa humana, MARÇAL TUPÃ I.



Dourados é a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, que tenhamos mais Denises pesquisando sobre nossos verdadeiros heróis e que nossa elite seja de trabalhadores.

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