E se o Brasil não tivesse feito
guerra contra o Paraguai entre 1.864 e 1.870, daí não teríamos, nesta semana,
as comemorações pelos 87 anos de emancipação de Dourados e seríamos um
município paraguaio, falando guarani e espanhol, pertencendo a um país
absurdamente desenvolvido e teríamos orgulho de nossa gente e nosso herói seria
Francisco Solano Lopes Carrilho.
A Poetisa Guerreira, Odila Lange, fez
seu belíssimo canto a esta terra que aniversaria; a lei determinou o feriado e
os políticos se derretem em elogios à Terra de Antônio João e aos “heróis” que
emprestam nomes às principais ruas da cidade e eu fico a me perguntar: Por onde
anda a estátua em homenagem ao ervateiro? Ora, pois, depois de ser retirada do
centro da cidade onde parecia destoar, quase ofender, por representar o
trabalhador que fez esta região se desenvolver, passou algum tempo literalmente
trancada a cadeado no Parque Arnulpho Fioravanti e agora se encontra na Praça
Paraguaia, como a resgatar a história que poderia ter sido, caso o Paraguai
vencesse a guerra.
Não quis a Poetisa citar nomes nem
entrar em polêmicas sobre o heroísmo das personalidades da nossa história, isso
cabe aos historiadores, que ainda discutem se o aniversário da cidade seria
mesmo em 20 de dezembro. Aos poetas faz bem enaltecer o lugar e cantar as
glórias. Fez bem a Guerreira, mesmo assim me atrevo a pensar que se nossa
bandeira tivesse um texto em espanhol, tanto a poetisa quanto os políticos
teriam os mesmos sentimentos de agora, pois o que muda não é o fervor
patriótico nascido dos heróis, mas as oportunidades que dali advieram. Aos
poetas o canto ao povo, e aos políticos o poder, independente de quem tenha
lutado para a grandeza do lugar. Solano Lopez quis um país industrializado e
precisava da matéria prima brasileira, a Inglaterra fazia a revolução
industrial e também queria os produtos daqui, venceu quem tinha mais poder
econômico e o Paraguai foi dizimado numa luta fraticida promovendo “heróis”
como Antônio João, Duque de Caxias e o Conde D’Eu.
É justo celebrar a data,
especialmente porque um feriado é sempre bem-vindo, ainda que os comerciantes
achem desprezível essa ideia de ter que fechar o comércio às vésperas do Natal,
em que se comemora a vida econômica com lucros quase milagrosos num país que se
diz cristão e ama, ama de paixão a deus Mamon. Decididamente o comércio não
fecha e a data é celebrada nas ruas com grandes investimentos públicos para atrair
ainda mais pessoas para a porta das lojas em busca de um colorido apagado para
suas vidas e presentes desnecessários para amigos e familiares que por desgraça
ainda se sentem obrigados a comprar outro, porque presente não se dá, se vende
pelo pagamento de outro que se espera ansiosamente receber.
E as ruas centrais desfilam os nomes
dos heróis de fachada em placas sinalizadoras que enchem o ego da elite de
satisfação porque ainda conseguem se sobrepor ao verdadeiro heroísmo da classe
trabalhadora e dos povos originais que pagaram o preço do “desenvolvimento” com
sofrimento quase indescritível como o representado pela estátua do ervateiro,
rapidamente retirada do centro da cidade, e pela miséria promovida contra os
povos originais, expulsos de suas terras e confinados em aldeamentos desumanos.
Dourados conta hoje com uma das maiores reservas indígenas do país e, segundo
pesquisa feita pela então estudante de letras (em 2.016) Denise de Oliveira Barbosa
Velasco, da Universidade Federal da Grande Dourados, com o título: A Presença e a Motivação de Topônimos Indígenas
nas Ruas de Dourados/MS, e publicada na Revista da Faculdade de Comunicação,
Artes e Letras/UFGD, apenas 7 por cento das ruas da cidade têm em seu topônimo
palavras de origem indígena e apenas uma presta homenagem a uma pessoa humana, MARÇAL
TUPÃ I.
Dourados é a segunda maior cidade de Mato
Grosso do Sul, que tenhamos mais Denises pesquisando sobre nossos verdadeiros
heróis e que nossa elite seja de trabalhadores.
Feliz Natal, sucesso,
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