Se eu fosse um escritor escreveria no dia de hoje uma homenagem aos professores pelo seu dia transcorrido oficialmente no último sábado, mas, antes de ser escritor, eu fui professor, então sou muito suspeito para escrever qualquer coisa que seja nesta data. O professor não sabe quase nada do escritor e o escritor sabe muito pouco do professor, então fica difícil eu escrever sobre mim mesmo nesta data que, além de ser feriado nas escolas, neste ano, ainda, por azar, caiu no sábado, que é quando as escolas estão fechadas, e é por aí que começo meus escritos, sobre as escolas fechadas nos sábados.
Quase em frente da minha casa tem uma
praça e ao lado uma escola de nome Aurora
Pedroso de Camargo. A praça está sempre aberta, mas a escola fecha quando
os professores saem depois dos alunos. Até o último aluno sair, os professores
são os desejos mais íntimos dos pais daqueles alunos. Cada professor é a
aliteração na poesia do adolescente recitando versos para a virtual namorada.
Cada professor é a derivada que maximiza os lucros do futuro empresário. Cada
professor é o furo de reportagem do futuro jornalista. Cada professor é a
conjuntura que se atualiza à cada bomba que explode na Ucrânia. Cada professor
é o herói de cada aluno e cada aluna que sabe que uma vida de herói se constrói
em cada aula bem dada na escola Aurora Pedroso de Camargo e em todas as outras
escolas públicas e privadas do mundo.
Ser professor é muito fácil, basta
conhecer todas as regras gramaticais, as funções sintáticas e analíticas,
adjunto adverbial, e adnominal, aposto, sintaxe, léxico das palavras e também
as figuras de linguagem, a metáfora, metonímia, catacrese, sinestesia, etc. e,
claro, saber como explica-las aos alunos que nunca antes ouviram falar delas;
basta conhecer os limites e derivadas e as funções infinitesimais, logaritmo,
geometria, cálculo diferencial e integral, matemática financeira, física e
estatística, sólidos em revolução...; ciências da natureza, química, geografia,
sociologia e, quando ensinar isso tudo levar em consideração que ganha pouco e
é maltratado pelos políticos que não tem interesse na educação das pessoas.
Você quer ser professor? Parabéns, eu
fui por quase vinte anos! Quem dera todas as felicitações que vi no último dia
15 fossem votos de protesto contra pais que não educam filhos em casa e depois
culpam os professores pela burrice dos alunos; quem dera fossem votos de
protesto contra políticos que roubam verbas da educação em aquisições de Kit
Robótica em processo duvidosos e os colocam em escolas que não tem nem água
potável ou internet; quem dera fossem
votos de protesto contra um sistema educacional que privilegia uma elite
estúpida que bota os filhos em escolas particulares no ensino básico e médio
para depois se apropriar das vagas nas melhores universidades públicas. Quem
dera fossem votos de protestos! Professores não precisam de felicitações,
precisam de reconhecimento profissional e escolas mais adequadas!
Se eu fosse um escritor, escreveria
um texto elogioso aos meus pais que nas suas limitações foram meus melhores
professores, mas também um texto apologético aos trabalhadores e trabalhadoras
da educação, que travam uma luta inglória contra a estupidez humana.
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