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terça-feira, 27 de setembro de 2022

LA BARCAROLA

Em 1.967, o maior poeta Latino-americano, Pablo Neruda, publicou em seu LA BARCAROLA, no nono episódio, alguns versos sobre o Brasil, agora, mais de cinquenta anos passados, quase às vésperas das eleições gerais, me encontro e me encanto com toda poesia e em como o poeta, sensível ao povo, consegue nos fazer sentir, como se fosse atual, e é, suas percepções do nosso país. Então observo nossa barcarola e escrevo:

Nossa Barcarola (Barca) navega em mares revoltos e, da praia, olho ao longe enquanto espero notícias que não me chegam do dia em que o vento há de trazer de volta a minha amada, pátria, vestida da brisa que vem do mar sobre as florestas amazônicas e em ventos que voltam ao mar, pelo Sul, levando chuvas Serôdia e Temporã, até que me encontre no horizonte infinito.

Enfraquecido, o Timoneiro já nem sabe o rumo do porto e as ondas que batem de lado enchem os olhos da minha amada, de sal ardente, e ela já não me vê. A bombordo uma luz que brilha na escuridão, a estibordo um sinal de alerta, o fogo se ascende na floresta iluminando as noites tristes. Para onde aponta a proa? Para onde vão minhas esperanças?

Um fino raio de sol tubular indica o Leste e ouço lamentos negros fertilizando canaviais, o açúcar escorre sangue, é doce a vida nas mansões que olham para o mar, a barcarola retesa as velas do mastro, da varanda vai o sinal do farol, pelo telefone celular, mas tem água, tempestade a bombordo.

O mar navega os olhos da minha amada, pátria. Marejam os olhos de água salgada, o coração balança as ondas e o ar suspira uma nuvem sobre a praia. Fecho os olhos para ver o tempo e uma lágrima de sal lava a alma da multidão que se aglomera no bonde. O sangue negro ainda mancha ruas do Nordeste onde o mar cospe o ouro negro no pinico misterioso do capital financeiro internacional. Os bancos têm fome, não importa a cor, o petróleo é sempre preto, o sangue negro sem cor não é mais raça, uma flecha acorda a Estrela Dalva e a Lua Cheia se prostra. O agro tem sede, de sangue que não é negro. Uma faísca desce pelo Amazonas e queima a justiça divina no Sul de Mato Grosso, do Sul. Na barcarola, a minha amada balança a alma e chora.

Um clarão, no céu, no Céu dos céus, a Terra, prometida, adora Baal. Olho da praia, as nuvens fazem o caminho do mar, a água salgada é um rio poluído, os olhos da amada não enxergam, os ouvidos não ouvem, e a boca não fala. Um rio, poluído, sai da boca dos adoradores que enchem a barcarola, o timoneiro, agarrado ao poste ídolo clama ao vento, mas o vento não para! A barcarola se enche à direita e afunda. Onde a esperança? Um fio alimenta o tempo em dois de dez.

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