Nossa Barcarola (Barca) navega em mares revoltos e, da praia, olho ao
longe enquanto espero notícias que não me chegam do dia em que o vento há de
trazer de volta a minha amada, pátria, vestida da brisa que vem do mar sobre as
florestas amazônicas e em ventos que voltam ao mar, pelo Sul, levando chuvas
Serôdia e Temporã, até que me encontre no horizonte infinito.
Enfraquecido, o Timoneiro já nem sabe
o rumo do porto e as ondas que batem de lado enchem os olhos da minha amada, de
sal ardente, e ela já não me vê. A bombordo uma luz que brilha na escuridão, a
estibordo um sinal de alerta, o fogo se ascende na floresta iluminando as
noites tristes. Para onde aponta a proa? Para onde vão minhas esperanças?
Um fino raio de sol tubular indica o
Leste e ouço lamentos negros fertilizando canaviais, o açúcar escorre sangue, é
doce a vida nas mansões que olham para o mar, a barcarola retesa as velas do
mastro, da varanda vai o sinal do farol, pelo telefone celular, mas tem água,
tempestade a bombordo.
O mar navega os olhos da minha amada,
pátria. Marejam os olhos de água salgada, o coração balança as ondas e o ar
suspira uma nuvem sobre a praia. Fecho os olhos para ver o tempo e uma lágrima
de sal lava a alma da multidão que se aglomera no bonde. O sangue negro ainda
mancha ruas do Nordeste onde o mar cospe o ouro negro no pinico misterioso do
capital financeiro internacional. Os bancos têm fome, não importa a cor, o
petróleo é sempre preto, o sangue negro sem cor não é mais raça, uma flecha
acorda a Estrela Dalva e a Lua Cheia se prostra. O agro tem sede, de sangue que
não é negro. Uma faísca desce pelo Amazonas e queima a justiça divina no Sul de
Mato Grosso, do Sul. Na barcarola, a minha amada balança a alma e chora.
Um clarão, no céu, no Céu dos céus, a
Terra, prometida, adora Baal. Olho da praia, as nuvens fazem o caminho do mar, a
água salgada é um rio poluído, os olhos da amada não enxergam, os ouvidos não
ouvem, e a boca não fala. Um rio, poluído, sai da boca dos adoradores que enchem
a barcarola, o timoneiro, agarrado ao poste ídolo clama ao vento, mas o vento não
para! A barcarola se enche à direita e afunda. Onde a esperança? Um fio
alimenta o tempo em dois de dez.
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