Eu estou escrevendo um Livro de Memórias, é chegou o tempo! São muitas histórias e eu quase ia me esquecendo de escrever sobre o tempo quando tomávamos Daiqiri. Hoje, quando fui ao supermercado, vi na prateleira umas garrafas de Rum Montilla, daí me lembrei, era com essa bebida que fazíamos ‘daiquiri nos tempos de militância no Partido Comunista Brasileiro. Essa bebida, assim como a Cuba Livre que tomava quando era ainda muito jovem, são como uma bandeira hasteada a meio mastro na Praça da Liberdade, para lembrar vidas que deixaram de existir, mortas junto com uma época da qual ainda se ouvem ecos nas músicas dos Beatles, Credence, Rolins Stones, Rita Lee, Caetano, Gil e o psicodélico Pink Floyd.
Cuba Livre, lógico
era uma referência à revolução liderada por Fidel Castro que libertou Cuba da
ditadura de Fulgêncio Baptista e do domínio norte americano, também nos
libertava das agruras da Ditadura Militar nos anos setenta, não era importante
saber o significado, só beber e dançar Rock
In Roll, com o copo na mão rodando o corpo e balançando a cabeça com os pés
aflitos sobre o soalho da pista e os olhos filmando as garotas revisitadas em
sonhos por longos dias da próxima semana.
Daiquiri é símbolo
de uma nova era, nos anos oitenta os militares tiravam as tropas do campo de
batalha da política, onde nunca deveriam ter se mobilizado e nós, os comunistas, travávamos a eterna
luta inglória contra o império norte
americano. Naqueles tempos, ainda pensávamos que a luta armada seria uma
possibilidade e nos preparávamos para isso, o Brasil engatinhava sua democracia
e nós pensávamos a revolução! Mas, como diria Chê Guevara: ‘Hay que endurecerse pero sin perder la ternura’. E la ternura eram Las chicas quando a solidão batia forte, e um Daiquiri sempre que havia motivo para festejar, e haja motivos! Comunistas
e Crentes são muito fiéis às suas causas, mas na hora de celebrar as vitórias,
haja daiquiri, não para os Crentes,
comunistas tomam daiquiri, crentes
tomam refrigerante, ambos fazem mal para a saúde, crentes buscam o sobrenatural
tomando refrigerante, comunistas tomam daiquiri.
Feita com limão, rum, gelo, muito
gelo, e açúcar, tudo batido no liquidificador, Daiquiri é quase uma memória afetiva desses tempos de luta por
justiça social. Uma delícia! Não a luta, a memória. Foi tomando daiquiri que li livros que me
despertaram para a literatura e para a escrita, foi tomando daiquiri que pilotava minha moto e ia
organizar as associações de moradores junto com o Walter Hora, foi tomando daiquiri que me tornei poeta, foi
tomando daiquiri que fiz a luta política
mais importante, foi tomando daiquiri
que me tornei um ator social, foi tomando daiquiri
que me perdi no sistema para me achar só. Daiquiri
é a metáfora de um tempo.
Hoje fui no supermercado e vi, na
prateleira, várias garrafas de Rum Montilla, andei mais alguns passos e comprei
uma Coca-cola.
linda, Poesia.#LLARA@
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