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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

RUM MONTILLA

         Eu estou escrevendo um Livro de Memórias, é chegou o tempo! São muitas histórias e eu quase ia me esquecendo de escrever sobre o tempo quando tomávamos Daiqiri. Hoje, quando fui ao supermercado, vi na prateleira umas garrafas de Rum Montilla, daí me lembrei, era com essa bebida que fazíamos ‘daiquiri nos tempos de militância no Partido Comunista Brasileiro.  Essa bebida, assim como a Cuba Livre que tomava quando era ainda muito jovem, são como uma bandeira hasteada a meio mastro na Praça da Liberdade, para lembrar vidas que deixaram de existir, mortas junto com uma época da qual ainda se ouvem ecos nas músicas dos Beatles, Credence, Rolins Stones, Rita Lee, Caetano, Gil e o psicodélico Pink Floyd.

Cuba Livre, lógico era uma referência à revolução liderada por Fidel Castro que libertou Cuba da ditadura de Fulgêncio Baptista e do domínio norte americano, também nos libertava das agruras da Ditadura Militar nos anos setenta, não era importante saber o significado, só beber e dançar Rock In Roll, com o copo na mão rodando o corpo e balançando a cabeça com os pés aflitos sobre o soalho da pista e os olhos filmando as garotas revisitadas em sonhos por longos dias da próxima semana.

Daiquiri é símbolo de uma nova era, nos anos oitenta os militares tiravam as tropas do campo de batalha da política, onde nunca deveriam ter se mobilizado e nós, os comunistas, travávamos a eterna luta inglória contra o império norte americano. Naqueles tempos, ainda pensávamos que a luta armada seria uma possibilidade e nos preparávamos para isso, o Brasil engatinhava sua democracia e nós pensávamos a revolução! Mas, como diria Chê Guevara: ‘Hay que endurecerse pero sin perder la ternura’. E la ternura eram Las chicas quando a solidão batia forte, e um Daiquiri sempre que havia motivo para festejar, e haja motivos! Comunistas e Crentes são muito fiéis às suas causas, mas na hora de celebrar as vitórias, haja daiquiri, não para os Crentes, comunistas tomam daiquiri, crentes tomam refrigerante, ambos fazem mal para a saúde, crentes buscam o sobrenatural tomando refrigerante, comunistas tomam daiquiri.

 

Feita com limão, rum, gelo, muito gelo, e açúcar, tudo batido no liquidificador, Daiquiri é quase uma memória afetiva desses tempos de luta por justiça social. Uma delícia! Não a luta, a memória. Foi tomando daiquiri que li livros que me despertaram para a literatura e para a escrita, foi tomando daiquiri que pilotava minha moto e ia organizar as associações de moradores junto com o Walter Hora, foi tomando daiquiri que me tornei poeta, foi tomando daiquiri que fiz a luta política mais importante, foi tomando daiquiri que me tornei um ator social, foi tomando daiquiri que me perdi no sistema para me achar só. Daiquiri é a metáfora de um tempo.

Hoje fui no supermercado e vi, na prateleira, várias garrafas de Rum Montilla, andei mais alguns passos e comprei uma Coca-cola.

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