“Já que tá, que vá” era o nome do nosso time quando disputamos um torneiro de futebol num
domingo qualquer de 1.976. Éramos estudantes em Concórdia, SC, e dos trezentos
e vinte internos, quase metade torcia para o Internacional e outro tanto para o
Grêmio. Disputávamos ‘peladas’ em um campo de futebol society e o campo de futebol sempre estava ocupado com algum time
disputando uma partida amistosa. Nosso bom e velho Colégio Agrícola era uma boa
metáfora esportiva do nosso Brasil tricampeão mundial de 1.970.
A Seleção que fazia ‘noventa milhões
em ação’ tinha vinte e dois jogadores convocados, onze de times paulistas, seis
cariocas, quatro de clubes mineiros e um gaúcho, detalhe: Todos
jogadores de times brasileiros! O “Guadalajara” invadiu o Brasil” e a Copa do México
não tinha um brasileiro sequer torcendo para outro time que não a nossa seleção.
Gremistas e colorados torciam por Everaldo do Grêmio, corintianos e
palmeirenses torciam pelos jogadores santistas e vice-versa, o país inteiro
vibrava porque se sentia representados por jogadores ‘brasileiros’.
Agora, em 2.022, o Brasil só não está
fora da Copa do Mundo de Futebol porque três, apenas três jogadores brasileiros
foram convocados, dois do Flamengo e um do Palmeiras, nenhum outro time
brasileiro teve jogador convocado para a Seleção que vai disputar o título
mundial deste ano no Qatar. Isto não é exatamente uma novidade, nas últimas
disputas, milhares de brasileiros torceram para outras seleções contra os
canarinhos porque não se sentiram representados pelos ‘estrangeiros’ convocados
pela CBF. Para ser bem honesto, eu sou desses torcedores descontentes.
A distância que se criou entre
torcedores e jogadores não é só geográfica, é também de identidade. Totalmente
elitizado, o futebol mundial criou uma casta esportiva que não representa mais
nem o futebol amador nem mesmo o profissional da maioria dos campeonatos
regionais e mesmo os nacionais, com exceção de pouquíssimos clubes milionários.
Patrocinadores e donos de grandes clubes mundiais “exigem” que seus atletas
sejam convocados para agregar valor monetário ao jogador e, por conseguinte, ao
clube e os milionários dirigentes da bilionária CBF aparentemente entram no
jogo e levam para Qatar um bando de riquinhos que nem se importam em cravar as
traves de suas chuteiras na alma de dezenas de milhares de operários
escravizados na construção dos estádios.
A Anistia Ampla Internacional
levantou dados de imigração na última década ao Qatar e informa que em dez anos
mais de 15.000 imigrantes morreram naquele país. A imprensa internacional tem
verificado que milhares dessas mortes e ainda mais no último ano tem tido relação
com trabalho extenuante na construção dos estádios de futebol, com
trabalhadores em regime de semiescravidão, vivendo em alojamentos precários,
trabalhando até dezesseis horas por dia e recebendo salários indignos.
Entre a miséria e a ostentação, a Copa
da FIFA mais se parece com o Coliseu
onde Gladiadores divertem as galeras enquanto o Imperador conquista a amizade o
povo com Pão e Circo!
Mal iniciou e está sendo considerada a copa mais perversa de todos os tempos...
ResponderExcluirverdade DPK
ResponderExcluir