E isto são horas? Reclama a garota Anelise ao ver o namorado João chegando às dez da noite quando deveria ter chegado às sete. É que o Pedro me chamou para tomar um tereré, aí chegou o Rodrigo e o Amarildo e nós ficamos conversando. Isso é conversa de Mato Grossense do Sul, se fosse no Rio Grande do Sul seria uma roda de chimarrão, sempre um motivo para o tempo que por um tempo foi não-tempo, que não passou e de repente já tinha passado.
O não-tempo deveria ser objeto de estudos mais acurados por
parte dos sociólogos, com a devida ajuda dos filósofos e apoio incondicional
dos terapeutas ocupacionais. De minha parte, libero a utilização do verbete sem
nenhuma restrição de direitos autorais. Eu diria que o não-tempo seria o
antônimo de tempo e se já estivesse nos dicionários, evitaria qualquer
reclamação da Anelise, pois que o atraso do João não seria um atraso porque o
tempo que passara tomando tereré não seria tempo.
O tempo, disse João, do alto de sua intelectualidade de
estudante da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, o tempo é quando se
tem preocupação com o que possa vir depois, quando se está no tempo sempre tem
as consequências tirando o sossego, tipo a Anelise reclamando do atraso, já o
não-tempo é a possibilidade de se estar fora do tempo, mais ou menos como numa
roda de tereré onde ninguém se lembra de mais nada que não seja a cuia de água
gelada rodando e as conversas que não levam a lugar nenhum e de onde se sai sem
nenhuma preocupação, porque não havendo o tempo, nada pode ser consequente,
tipo o sossego do João às dez da noite como se estivesse adiantado em pelo
menos trinta minutos.
Não sei se os namorados todos já tiveram essa percepção, mas tem momentos da vida, quando a paixão tira completamente de lado os preceitos racionais e a carne vence facilmente o espírito, o coração acelera e nenhuma razão há para se pensar no tempo porque ele não existe mesmo, é neste exato momento que nos tornamos totalmente irracionais e fazemos coisas que nem todo o tempo do mundo seria suficiente para explicar. Então, assim estavam João e Anelise quando os pais dela chegaram em casa depois da festa pelas celebrações das bodas de ouro dos amigos Francisco e Josefina Calmon. Não havendo tempo suficiente para explicar o inexplicável, Anelise olhou para os pais e se saiu com essa: Agora eu acredito na existência do não-tempo! E, já não era sem tempo!
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