Quando você escreve sobre o amor, qual é a medida que você dá para o tempo? Deixei o copo sobre a mesa e olhei para o casal de namorados à minha frente e imaginei quanto tempo mais eles queriam ter para ficar juntos nesta noite. De mãos dadas, tão fortemente, que se o tempo estivesse preso entre as palmas, o próximo segundo seria contado daqui há muito, nem sei o que seria esse muito já tempo não poderia ser, dado ele estar preso entre as mãos dos eternos namorados que o prendiam com a firme determinação de jamais deixar o tempo passar, ainda que fosse um segundo sequer.
A medida que dou para o tempo numa crônica sobre o amor, é o
infinito. De tão grande, já não pode ser medido! Com essa resposta, a garota
que me olhava como uma aluna atenta em aula de revisão de conteúdo antes da
prova, afrouxou a mão, talvez para permitir que o infinito ocupasse o lugar o
não-tempo, mas o rapaz, ainda desconfiado puxou as mãos firmemente para si e
perguntou se o infinito não seria talvez uma loucura. Sim, respondi, loucura de
amor! Seus olhos se abriram enquanto virava o rosto para a bem amada numa
expressão de pavor. Isso é loucura, se não posso prender o tempo para que não
passe, como posso viver o infinito?
Estamos ficando loucos! Falaram isso tão juntos que parecia
terem treinado para uma peça teatral. A garota me olhou desconfiada e
perguntou: o que é a loucura para um escritor? A loucura, respondi, é a
verdadeira expressão da liberdade! Então, se estamos loucos de amor, estamos
completamente livres? Isso é meio apavorante! Sim, respondi como se fosse seu
psicólogo, a liberdade é mesmo apavorante.
Eu quero a liberdade, disse o rapaz tomando as mãos da moça e
olhando fixamente em seus olhos, é a liberdade que me permite o amor e é o amor
que vai me dar o infinito do tempo para estar com você! Esta foi certamente uma
das melhores declarações de amor que já presenciei. A garota tentou racionalizar
e perguntou se ele tinha certeza, ao que ele respondeu sem pestanejar: A
liberdade é a própria incerteza, a liberdade é justamente a possibilidade de
nunca se estar certo.
Para finalizar, vou reproduzir só mais uma fala da garota e
outra do rapaz. Onde foi mesmo que eu achei você? Perguntou a garota como se
estivesse flutuando em toda essa filosofia. Numa expressão qualquer de
liberdade! Foi a resposta mais convincente que ouvi. Eu não sei o que a
liberdade me dá, mas é exatamente isso que me atrai, é quase como uma bebida
forte que tira a gente da realidade!
Café
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