Sabe o que eu quero agora? Perguntou a moça pelo WhatsApp. Não
sei, disse o rapaz, mas se você me der uma dica... Não posso, respondeu a moça
fazendo suspense como dever ser quando o relacionamento está perto de um
compromisso maior e vale mais o desejo do desconhecido que a certeza da
insegurança. Hummm... escreveu o rapaz no WhatsApp enquanto pensava em como escolher
uma entre as mil possibilidades do querer da moça.
Apaixonados tem essas conversas desentendidas e parece que
quanto mais desentendido mais eles se entendem porque os signos que realmente
dão sentido não são os códigos linguísticos mas as sensações que o não
entendido das palavras provoca fazendo com que esta ou aquele fique
absolutamente envolvido com o não saber do outro e o desejo de realizar o
desejo. Oi, disse a moça esperando pela resposta do rapaz. Oi, disse o rapaz e
perguntou se o que ela queria era medido em centímetros ou em valores
monetários.
Não querendo dar a dica, para a brincadeira continuar, mas tendo
que responder à pergunta, ela disse que o comprimento existia, mas tinha outros
valores de medida e que dinheiro era importante, mas usado de outra maneira que
em pagamento direto.
Taí a simplicidade das coisas de quem ama! Se o amor pode ser
descrito em cinco linguagens, talvez essa do WhatsApp seja a que vem antes da
primeira. Não é uma linguagem propriamente dita, é mais uma espécie de murmúrio
quase ininteligível à comunicação verbal, mas tão agradável que é capaz de
manter nesse diálogo um casal de namorados por horas a fio.
Tentando racionalizar o pedido, o rapaz pensou em comprar uma pulseira
com pedras brilhantes, mas a mesada que recebia dos pais não seria suficiente e
a moça sabia disso, de modo que não deveria estar pedindo isso. Talvez um boné
de marca que custa cem reais ou um anel. Pensou em quase tudo que ela
demonstrara algum interesse na última semana, mas racionalizou que tudo seria
pago diretamente com dinheiro, condição descartada por ela quando perguntou
sobre o valor monetário.
Com o celular ligado na tomada e o pai chamando da porta para
que fosse dormir, a moça chamou o rapaz de meu bobo e completou dizendo que
tinha que desligar, mas mandou ainda uma última mensagem para decifrar a
charada: O que eu quero, ela disse, já está dentro de mim!
P@z
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