Algumas expressões da língua portuguesa não precisam de maiores explicações, basta que se diga algo sobre o sentimento e o resto fica por conta do imaginário. Quase não damos importância quando alguém diz que a noite foi longa, pois sabemos de imediato que foi uma noite mal dormida e que mal dormida não foi a noite que noite não dorme, mas a pessoa que, acompanhada de um longo bocejo, disse que a noite foi muito longa.
Os dias também podem não ser muito bons, basta olhar as
prateleiras dos supermercados e ver, por exemplo, o preço do arroz. Quem não
anda dizendo que os mercados aumentaram muito? Lógico que não foram os
mercados, mas os preços que foram elevados e, escondidos atrás da má fama dos
mercados, o responsáveis pelos aumentos dos preços, quase sempre divulgam as
boas ações que promovem nas associações beneficentes como se caridade fizessem
enquanto as contas bancárias engordam com a fama de aumento dos preços do
arroz.
E poucos são os que não tem que comprar um pacote de arroz de
vez em quando, mesmo esses acabam pagando pelo óleo ou a carne que anda pela
hora da morte. Aliás, expressão essa que nada teria a ver com a carne ou óleo
já que esses produtos viram a morte há muitas horas já. E nem hora da morte é
mesmo, já que o significado, que não precisa ser explicado, expressa mesmo a
impotência que o consumidor sente no açougue ao olhar a tabela dos preços da
carne.
E a tabela dos preços só anda para cima para os consumidores das
mercadorias, especialmente aquelas que não tem como não consumir, tipo assim,
comida. Claro que a expressão: ‘tabela dos preços só anda pra cima’ está, de
pronto, entendido que não é a tabela, mas os preços, os preços também não
andam, deixa para lá que todo mundo entendeu.
E se todo o mundo entendeu, isso parece aquela passagem bíblica
onde os apóstolos fazem uma pregação e as pessoas que são de outros países, de
língua diferente, entendem e se convertem ao cristianismo. Mas aqui, significa
que todos os que conhecem a expressão, e todos que eu conheço conhecem,
entenderam.
Agora, convenhamos, depois de uma longa noite, de ver a hora da
morte no supermercado e ficar assustado com a subida da tabela dos preços, a
melhor parte do meu dia foi escrever este texto, poque de resto, só posso dizer
que ‘hoje foi um dia daqueles! ”
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