Andei meio ocupado por esses dias com uma viagem que fiz até São
José do Rio Preto para visitar minha filha Carolina com meus netos. Enquanto
viajava, na ida, com as crianças dentro do carro, ia vivendo aquilo que mais
gosto de escrever, o comportamento humano em suas relações sociais e com a
natureza. Dentro do carro uma intensa relação de amizade entre o Miguel e a
Heloisa fizeram da viagem de quase nove horas um tempo mal percebido a não ser
pelas poucas vezes que perguntavam se já estávamos chegando. Falta muito ainda
vô?
Falta! Neste momento o tempo se apresenta para receber a
importância devida. As horas que já haviam passado, mesmo sendo em número maior
das que ainda faltavam eram um nada em relação ao porvir. Do tempo passado nada
se esperava, mas quando a pergunta surgia, sempre da boca da Heloisa, então o
tempo que estava adiante deixava de ser só um tempo e se transformava na mãe
que estava à espera no fim da jornada. Estou com saudades da mãe! Para ela, a
mãe, que não estava conosco, mas esperava aflita pelos filhos ausentes há mais
de um mês, para ela o tempo era marcado pelas mensagens do whatsapp: e aí, onde
já estão? Falta muito para chegar?
Se falta muito? Falta! E quando penso estar próximo, o destino
vem e dá mais um empurrãozinho no tempo com uma batida da polícia federal que
acha quase impossível que um avô viaje sozinho com dois netos numa tão longa
viagem, especialmente se o carro tem placa da fronteira com o Paraguai, aí
parece que o impossível precisa ser verificado, e detalhadamente, dentro de
cada mochila das roupas das crianças e a mala do avô, embaixo do tapete, no
pneu reserva, em fim onde se pode suspeitar haver alguma possibilidade de se
transportar qualquer ilícito que seja, se verificou. E eu ali, não podendo
gravar a conversa do policial para a próxima crônica.
Chegamos. A mãe teve pouco tempo para apreciar a presença dos
rebentos, fiz valer meus direitos de idoso e como bom velhinho me tornei
criança outra vez e fui andar de skate mini-longue com as crianças. De noite
perdi duas partidas de xadrez para o Miguel, depois fui portador de uma bela
reivindicação da Heloisa, queria que a mãe a deixasse calçar o tênis novo. Foi
atendida e eu ouvi aquilo que todo avô quer ouvir: Obrigado vô, você é legal!
Acho que isso já é o bastante para justificar minha ausência por
esta semana. Não pude escrever, estava muito ocupado enchendo-me de conteúdo
para as próximas crônicas.
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