Estamos na quarentena e a regra de ouro é manter o distanciamento social e o uso de máscaras, mas não há um que ainda não tenha se assentado na roda dos escarnecedores nem que seja uma vezinha só! Com uma permissão literária para ‘vezinha’ que um dia ainda há de constar no dicionário com o significado de pelo menos uma vez.
O noticiário tem mostrado praias lotadas de gente menosprezando
a ciência, que por sua vez, e não só uma vezinha, tem sido incompetente para
persuadir os governantes da sua importância. Se o governo que é o governo não
respeita a ciência por que o povo que é o povo haveria de respeitar? Então vamos
para a praia! Eu não, porque aqui não tem praia, mas tem bar e o povo que é o
povo lota os bares enquanto a ciência, que parece ser só ciência, contabiliza
os mortos com estatísticas assustadoras que parecem já não mais assustar muita
gente.
Parece estar acontecendo o arrebatamento ao contrário, em vez de
subir para as nuvens, as pessoas estão sendo arrebatadas para dentro da terra,
cento e trinta mil pessoas num país de um pouco mais que duzentos milhões é
quase a parábola da porta estreita com um governante que não passa pelo fundo
de uma agulha. Cento e vinte mil pessoas mortas por uma única doença é, para
mim, um número que tende ao infinito, não consigo imaginar quanto isso é de
verdade. E as pessoas indo, nem que seja uma vezinha só, para a praia ou para o
bar em aglomerações infinitas.
É uma infinidade de pessoas defendendo a cloraquina e morrendo
de Covid, outra infinidade tomando remédio para verme e morrendo também, e
outra infinidade ainda maior, se me for permitido mais uma licença literária,
morrendo da vezinha que se assentou na roda dos escarnecedores e, junto com o
tereré, a cerveja ou a pinga e a conversa fiada beberam o vírus do Covid.
O infinito é um lugar onde você nunca chega durante um tempo que
nunca termina, então não há como voltar, pois, voltar é voltar de algum lugar
em algum momento. Cento e trinta mil mortes é meio que um indicativo desse
lugar que nunca chega e de um tempo que nunca termina. Essa doença veio trazer
o infinito para bem aqui!
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