A vida é certa, o caminho nem tanto! Ouvi essa frase na rua e fiquei pensando no que ela poderia significar naquela conversa entre dois homens que passaram por mim em suas bicicletas com a marmita presa à garupeira. Um deles, mais falante, gesticulava com uma das mãos enquanto a outra segurava firme o guidão, o outro cabisbaixo mantinha ambas as mãos no guidão, só tirando uma de vez em quando para assoar o nariz. As botinas manchadas de concreto e as roupas sujas de cimento denunciavam a profissão de operários da construção civil. Passaram e a única frase que ouvi foi essa: A vida é certa, o caminho nem tanto.
Segui com os olhos o filósofo que passara o dia fazendo massa de
cimento e provavelmente assentando tijolos de entendimento na triste existência
do seu pupilo, a fim de que com as estruturas emocionais concretadas em cima de
profundas estacas do conhecimento pudesse erguer as paredes de proteção
emocional e dar aquele acabamento com material de primeira qualidade.
Os operários em suas bicicletas carregaram sua filosofia para
uma rua transversal e não mais os vi, mas lembrei de já ter lido algo parecido,
acho que da poetisa goiana Cora Coralina. O caminho incerto da poetisa durou
setenta e cinco anos para só então cultivar seu jardim de versos no quintal da
cultura e ser reconhecida como uma das maiores desse meio onde a sensibilidade
empresarial é medida pelo potencial de vendas.
Tenho aqui comigo o livro do poeta Geraldo Sanguina, ‘Mixagem de
poesia’ escrito com a sensibilidade de um cobrador que virou vigilante de
banco. Quantos Geraldo Sanguina estão pendurados em andaimes de construção ou
balançando no transporte coletivo ou ainda, andando de bicicleta com a marmita
na garupa espalhando sua filosofia e suas rimas para quem se dispõe a ouvir e
até para quem casualmente as ouve numa passada ligeira.
QUANTO TEMPO, HOJE ESTOU AQUI COMO SUA LEITORA,
ResponderExcluirESTOU LENDO AS SUAS POESIAS, QUANDO ME SOBRA UM TEMPINHO.
HOJE RESOLVI,
DIZER; COMO ESTÁ A SUA TARDE
HOJE.
ME CHAMO
vera Ribeiro