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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

UM MILHÃO! QUEM QUER?

Tem certas coisas que que são mesmo inacreditáveis. Como pode um programa de televisão oferecer prêmio no valor de um milhão de reais para quem acerte a resposta de algumas questões. Pois é, há alguns anos, um programa da rede globo, chamado Caldeirão do Huck, oferecia aos participantes a possibilidade de ganhar até um milhão de reais. Foi um sucesso de audiência, assim como o foi o filme britano-estadunidense de 2008, que mostrava o jovem indiano de família favelada, vencer o concurso de vinte milhões de rúpias, na versão indiana do programa televisivo. Como chegar ao milhão? Acertando as respostas!

Um milhão é uma referência alta! Quem não se impressiona com um número desses! O Brasil tem mais de duzentos milhões de habitantes e movimenta uma economia que produz um PIB de aproximadamente 7 trilhões e 300 milhões de reais. Quem dera sobrasse aí um milhão para mim, nem que seja uma única vez! E tem gente que se apropria desse milhão todos os anos e não distribui nem no Caldeirão do Huck. Quem quer ganhar um milhão?

Um milhão também é um número de pessoas. Pessoas que morreram por uma única doença no mundo em 2020! Recebi uma mensagem pelo facebook de uma pessoa se dizendo estar triste por causa do coronavírus. Também estou. Não era só uma gripezinha? Não tinha a cloraquina? O programa do Huck era gravado no Rio de Janeiro, onde estão afastados o Governador e o Prefeito, por improbidade administrativa. Se investigar direitinho...

Mas agora estamos em período eleitoral. Todos os candidatos prometem melhorias na saúde, na educação, rigor no trato do dinheiro público, humildade e honestidade. Com certeza teremos um país melhor depois que esse povo tomar posse. Não haverá mais corrupção e os mais necessitados serão atendidos, haverá emprego para todos, distribuição de renda e os ricos deixarão de ter privilégios. De fato, ainda não vi nenhum candidato capitalista, todas as propagandas têm caráter socialista e algumas até bem comunistas.

Mas, não era só acabar com o comunismo? Na hora de pedir o voto, as lagartas estão sempre perto da terra, agem como se defendessem o solo e se alimentam das plantas, depois viram borboletas e põem os ovos como predadoras, assim mesmo, como o capitalismo.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

UM CÂNTICO DE GLÓRIA

             Estamos sempre pedindo algo. Pedimos desconto em cada compra que fazemos porque acreditamos que o dono da loja já estipulou um preço maior do que o real e o dinheiro que temos está abaixo do valor de troca. Pedimos um favor porque acreditamos que alguém tem mais do que precisa e pode nos dar algo que não lhe fará falta. Pedimos amizade porque nos falta algo que não podemos comprar, ainda que tivéssemos poder aquisitivo para tal. Pedimos amor porque queremos algo a mais que não sabemos muito bem o que é, mas parece que é bom. Pedimos alguém em casamento porque não temos a menor ideia do que estamos pedindo.

Ontem à tarde eu estava andando pela Avenida Weimar Gonçalves Torres na esquina com a rua Pedro Celestino e ouvi gritos de Aleluia! Pensei ser alguém que pedia esmolas e teria sido atendido dando graças a Deus como sempre se faz quando se é atendido em alguma necessidade. Não vi ninguém na rua. Os gritos vinham de dentro de um imóvel em reforma e se transformaram em hinos de louvor.

Parei do outro lado da rua, à sombra de uma árvore e fiz o meu pedido silencioso para que aqueles gritalhões se deixassem ver. Logo saiu da construção um carrinho cheio de entulhos empurrado por um jovem de uns vinte e poucos anos que cantava alegremente o seu cântico de glória. De dentro da construção, de onde se podia ouvir batidas repetidas de marreta contra o concreto, saía, em alta voz outro cântico, diferente do primeiro. Dois homens trabalhando juntos e cantando louvores não combinados davam àquela obra um sentido diferente das demais edificações em reforma. Nada eles pediam, apenas davam seus gritos de Aleluia e Glória à Deus! E cantavam seus hinos individuais.

Fiquei mais um pouco observando. Nada mais eu tinha para pedir e nem para fazer nestes meus tempos de quarentena e aposentadoria. Aqueles pedreiros poderiam pedir um tempo de descanso ou aumento nos salários, quem sabe equipamentos de proteção individual, talvez máscaras para se proteger de doenças respiratórias naquele ambiente cheio de poeira e entulho, mas não, eles estavam gritando aleluia!

Continuei meu caminho. Tem algo de errado em algum lugar. Ou esses pedreiros estavam agradecendo por algo que eles não têm, ou quem tem muito está esquecendo de agradecer o muito que tem!

domingo, 27 de setembro de 2020

DE MÃOS DADAS

             Um casal  de idosos fazia sua caminhada vespertina conversando alegremente enquanto balançavam as mãos que se davam e conduziam o ritmo dos passos quase como uma marcha, só que com os movimentos invertidos, a mão direita do marido segurando a esquerda da esposa, empurrando para frente o pé esquerdo do marido e, ao mesmo tempo o pé direito da esposa e daí as mãos iam ficando para trás enquanto o pé direito do marido e o esquerdo da esposa iam adiante. Assim andava o casal em alegre harmonia, enquanto conversavam, o marido olhava para o lado direito e a esposa para o lado esquerdo, um falando e o outro ouvindo, só quando riam o faziam ao mesmo tempo como se esse fosse o código secreto do entendimento, riam e apertavam as mãos para dizer que isso era bom!

A vida toda foi assim! Quando lhes perguntam sobre a vida toda, a resposta bem humorada delimita o início da vida com o dia que se conheceram, ela tinha quarenta e dois anos de idade dois casamentos religiosamente frustrados e três filhos adultos. Com isso no passado, Ana Elza demorou-se no espelho, pôs-se bonita para encontrar o pretendente. Estava decidida a não ter relações sexuais no primeiro encontro, mesmo assim vestiu aquele conjunto lingerie em rendas que encomendara a Femael Body, loja de roupas femininas de marca.

Neste mesmo dia, João Ernesto, quarenta e sete anos de idade, um divórcio bem sucedido, dois filhos casados e três netos maravilhosos que amam o avô, proseou alegremente com o barbeiro, olhando no espelho para conferir se a aparência estava ficando boa para o encontro de logo mais. Só sabia o nome: Ana Elza, tinha visto uma fotografia dela no site de encontros Namoro Online. Estava ansioso, pode-se dizer que já estava apaixonado. Cabelo feito e barba aparada, entrou no carro vestindo camiseta Polo Ralph Lauren Custom Fit preta. Era dia de sábado e a cidade toda se movimentava para todos os lados. João Ernesto ia para uma direção bem definida, o encontro com Ana Elza, a mulher do Namoro Online, o Site que garante o amor para toda a sua vida!

Dezoito de março de dois mil. O que você estava fazendo neste dia de sábado à tarde? Muitos nem se quer tinham nascido, eu mesmo não tenho a menor ideia do que fazia nesta data, mas João Ernesto e Ana Elza jamais irão esquecer do dia em que começaram a contar os anos das suas vidas. Às cinco da tarde se olharam nos olhos pela primeira vez e alguns minutos mais tarde estavam de mãos dadas num caminhar invertido, andando na mesma direção, os olhos se encontrando em olhares opostos e amarrando o futuro num sorriso amável.  Hoje, pouco depois das cinco da tarde, encontrei João Ernesto e Ana Elza, estavam andando pela rua, de mãos dadas!

sábado, 26 de setembro de 2020

LENDO PESSOAS

A leitura é um hábito saudável que permite ao leitor conhecer o universo através dos livros. O real e o imaginário enchem as mesmas bibliotecas sem conflitos de conteúdo, assim também a filosofia mais definitiva aceita o pensamento contrário como importante contribuição para o desenvolvimento das capacidades humanas de formular conhecimento aproveitável para as relações sociais e a proteção da vida humana no planeta.

Não há quem não queira fazer parte dessa filosofia. Tem uma época na vida da gente em que ser notado é importante, parece que na juventude somos um texto a ser lido por alguém especial e depois reconhecido pelos demais. A energia e os hormônios disputam o palco para ver quem é o primeiro da peça no teatro da vida.

O jovem gosta de ser lido como um texto que acabou de ser publicado. As mídias estão cheias de citações, reais e principalmente imaginárias, sobre a vida emocionante e feliz da juventude. Senhoras alisadas pelo botox e senhores que não desistem de encolher a barriga fazem de um tudo para abrir as páginas do seu livro em floreios de alegria e juventude. A vida é bela!

Por mais que desejemos permanecer jovens, ainda que no mundo da fantasia, é certo que a fonte da juventude é mesmo lenda. Ou não! Meus filhos estudaram na mesma escola, em períodos diferentes, de modo que passei vários anos buscando este, aquele ou aqueloutro na mesma escola. Por mais de dez anos frequentei a mesma escola, e por todos esses anos os alunos tinham sempre a mesma idade. Meus filhos cresceram, mas os alunos daquela escola continuam lá, com a mesma idade de vinte anos atrás. Deve ter uma fonte da juventude por lá, assim que voltarem as aulas irei conferir!

Gosto de ler livros, mas gosto de ler pessoas também. Observo, com certa indignação, o conflito existente entre as gerações. Os que já perderam a fogueira das paixões querem a calmaria que só vem com o tempo. Nas arquibancadas, senhores calvos e barrigudos e senhoras com varizes esperam por uma apresentação do clássico E o Vento Levou, enquanto no palco fervem as barrigas de tanquinho empurrando o bumbum contra corpos malhados e nutridos de complementos vitamínicos.

Existe uma espécie de segregação entre jovens e velhos, como se envelhecer tirasse o direito de acesso dos idosos ao mundo que eles mesmo construíram com anos de trabalho. Garotos imberbes e garotas mal saídas das fraldas passam os dias todos trancados no quarto para dali saírem feito heróis da independência, dominando todos os espaços, enquanto idosos sofrem o processo de depreciação, e não adianta o texto bíblico insistir que os anciãos são pessoas respeitáveis. Há mesmo uma idolatria à juventude!

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

AS CRÔNICAS QUE NÃO ESCREVI

Andei meio ocupado por esses dias com uma viagem que fiz até São José do Rio Preto para visitar minha filha Carolina com meus netos. Enquanto viajava, na ida, com as crianças dentro do carro, ia vivendo aquilo que mais gosto de escrever, o comportamento humano em suas relações sociais e com a natureza. Dentro do carro uma intensa relação de amizade entre o Miguel e a Heloisa fizeram da viagem de quase nove horas um tempo mal percebido a não ser pelas poucas vezes que perguntavam se já estávamos chegando. Falta muito ainda vô?

Falta! Neste momento o tempo se apresenta para receber a importância devida. As horas que já haviam passado, mesmo sendo em número maior das que ainda faltavam eram um nada em relação ao porvir. Do tempo passado nada se esperava, mas quando a pergunta surgia, sempre da boca da Heloisa, então o tempo que estava adiante deixava de ser só um tempo e se transformava na mãe que estava à espera no fim da jornada. Estou com saudades da mãe! Para ela, a mãe, que não estava conosco, mas esperava aflita pelos filhos ausentes há mais de um mês, para ela o tempo era marcado pelas mensagens do whatsapp: e aí, onde já estão? Falta muito para chegar?

Se falta muito? Falta! E quando penso estar próximo, o destino vem e dá mais um empurrãozinho no tempo com uma batida da polícia federal que acha quase impossível que um avô viaje sozinho com dois netos numa tão longa viagem, especialmente se o carro tem placa da fronteira com o Paraguai, aí parece que o impossível precisa ser verificado, e detalhadamente, dentro de cada mochila das roupas das crianças e a mala do avô, embaixo do tapete, no pneu reserva, em fim onde se pode suspeitar haver alguma possibilidade de se transportar qualquer ilícito que seja, se verificou. E eu ali, não podendo gravar a conversa do policial para a próxima crônica.

Chegamos. A mãe teve pouco tempo para apreciar a presença dos rebentos, fiz valer meus direitos de idoso e como bom velhinho me tornei criança outra vez e fui andar de skate mini-longue com as crianças. De noite perdi duas partidas de xadrez para o Miguel, depois fui portador de uma bela reivindicação da Heloisa, queria que a mãe a deixasse calçar o tênis novo. Foi atendida e eu ouvi aquilo que todo avô quer ouvir: Obrigado vô, você é legal!

Acho que isso já é o bastante para justificar minha ausência por esta semana. Não pude escrever, estava muito ocupado enchendo-me de conteúdo para as próximas crônicas.

sábado, 19 de setembro de 2020

O QUE IMPORTA O OUTRO LADO?

             Hoje, mais uma vez o telefone chamou e eu atendi. Não era ninguém do outro lado do mundo, nem deste lado e nem de lado nenhum. Não era se quer uma voz! Era só o telefone tocando e depois o silêncio que vem de uma ligação suspeita. Por que ligam, se não for para falar? O que há nessa insistente ligação silenciosa que vez em quando volta a chamar no meu telefone?

O celular que recebe essa esquisita ligação que não diz nada ao meu alô é um aparelho tão popular como as fakenews, o estelionato eletrônico e as promessas de campanha eleitoral, tudo andando meio junto e misturado que é para as pessoas pensar que isso já faz parte normalidade da vida. Não sou o único a receber ligações desse tipo, também sei de muitos que tem o prazer em repassar notícias falsas como se fossem verdadeiras só pelo prazer de afirmar como verdadeira uma mentira que gostaria que tal fosse.

O silêncio que vem com a ligação telefônica traz uma mensagem e tu podes fazer o que quiseres com ela. Eu costumava esbravejar e quando o fiz em alta voz, outra voz, audível e presencial, em silêncio até que silenciei, quebrou o silêncio e falou mansamente, tão mansamente, que me fez ficar com vergonha. Tu acabaste de receber uma das melhores mensagens e estais a esbravejar?

Do outro lado da ‘linha’ não tinha ninguém! Mas, que importa o ‘outro’ lado? Com essa resposta perguntada eu fiquei sem palavras, ou seja, em silêncio. Silenciosamente a voz que me falava também se calou e eu, desta vez, não esbravejei. Percebi que a sabedoria me dava um recado silencioso: O que importa o outro lado?

Aprendi! E quando se aprende dá uma vontade de ensinar! O silêncio da ligação que se cala fala tão alto quanto as notícias mentirosas que vem de uma ligação no whattsapp ou no fazebook, ou em outras mídias sociais. A ideia parece ser a mesma: provocar indignação! Não vês? Essa voz mansa parece que só sabe perguntar quando estou mesmo é precisando de uma resposta, mas a pergunta é uma resposta tão esclarecedora que fico sem argumentos.

Não posso dizer que desse diálogo de duas perguntas se possa produzir um longo texto, mas o que aprendi sobre o silêncio que vem do telefone, das notícias falsas ou das promessas mentirosas das campanhas eleitorais isso, mesmo não dando um texto agradável, servem de lição para meu dia-a-dia: o que importa o outro lado?

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

AS COISAS BONITAS ALGUM DIA SE ACABAM.

             Existem muitas coisas bonitas nessa vida, quem dera durassem para sempre. Quando uma criança nasce não há quem não diga que ela é a coisa mais linda do mundo; A cara do pai! Ou da mãe! Se for a cara do tio ou do vizinho ninguém vai dizer mesmo porque na verdade quando a criança acaba de nascer não é nem ‘tão bonitinha’ e nem se parece com ninguém, ela só se parece consigo mesma, mas a beleza que ela expressa, essa sim, é sempre a cara o pai ou da mãe ou do próprio milagre da vida.

Eloá Marques, 8 anos de idade, é Miss Brasil Mirim 2020. Bom para ela ser eleita, num concurso, a garota mais bonita do país. Mas, ela é bonita (natural) ou ela foi feita bonita (artificial)? Começo logo com uma pergunta que é para gerar intriga com um bocado de gente que tem no belo artístico, que é um produto do espírito, conceito de beleza superior ao belo natural.

Vejo as pessoas na rua ou os atores num programa de televisão e consigo saber se tal ou qual pessoa ou personagem é bonito porque tem um conceito de beleza largamente difundido com um fim comercial, e funciona! É a beleza artística, a representação do belo por uma definição espiritual, exclusivamente humana.

Se tirássemos a maquilagem da Eloá e a deixássemos pelas ruas sem nenhum tipo de propaganda de sua beleza e só então fizéssemos uma eleição espontânea, seria ela, ainda assim, a garota mais bonita? Uma representação da beleza pela arte é sem dúvida agradável e acrescenta valor ao objeto independentemente se uma pintura, uma escultura ou uma pessoa. Num mundo monetizado, acrescentar valor de beleza aos produtos é a regra a ser seguida, pois gera valor de troca e, não fosse a monetização, não haveria concurso de beleza porque ninguém troca uma pessoa bonita por um pacote de arroz. Se bem que arroz agora está tendo valor de salão de beleza!

A arte pode durar para sempre, mas a beleza humana, ainda que produzida pela arte algum dia se acaba, assim como se acaba, também, a capacidade de se apreciar a beleza da arte porque ela perde o sentido para as pessoas que viveram da beleza e já não mais as tem. Mas, tem beleza que parece não acabar nunca. Minha mãe tem 86 anos de idade e é a pessoa mais linda que conheci em toda minha vida!

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

AS LATAS DO LIXO

             Fui levar o lixo da cozinha para a rua e encontrei o seu Zé procurando latas para fazer o extra da renda sobre as diárias de servente de pedreiro. Quanto dá, Seu Zé, de extra por mês? Uns cinco, seis, às vezes até uns dez reais, é que eu recolho as latas só de noite e não é todos os dias, só segunda, quarta e sexta-feira.

É quase um privilégio levar o lixo da cozinha e encontrar pessoas como o Seu Zé. Outro dia encontrei Seu Davi e as histórias que contam são meio parecidas. Não estudaram nas escolas regulares porque a escola da vida exigiu a presença desde muito cedo para que a família pudesse comer quase todos os dias e ter uma celebração qualquer no final de ano. Tornam-se adultos e então vem outra família, a sua, e a história se repete para os filhos.

Não tinha latas no lixo neste dia e eu queria a conversa, então ofereci algo que poderia ser especial para ele, perguntei pela família e surgiram dois filhos menores de cinco anos e uma esposa que não podia trabalhar fora por causa dos pequenos. Voltei para dentro de casa e saí com creme de leite e leite condensado, talvez a esposa faça amanhã uma sobremesa especial, mesmo não sendo final de ano. E o que ele me deu vale milhares de vezes mais, uma história, é disso que vive o escritor. Minha consciência está pesada, estou em débito, quando vê-lo outra vez, vou compensar parte da dívida, mas ai!, ele certamente me contará outra história e ficarei devendo outra vez.

Não sei se é justo fazer comparações, mas lembro do programa Amauri Júnior que exaltava os luxos das festas onde os ricos esbanjavam de um tudo que se podia comprar com dinheiro. Duvido que algum daqueles parasitas sociais fosse capaz de comprar uma história construída nas lixeiras. E eu olho para Seu Zé enquanto ele me fala que veio de Minas com o pai e mais quatro irmãos porque a mãe já tinha vindo com outro há mais tempo e o pai também se casara outra vez e os irmãos eram meio. E essa história me faz mais sentido que toda a riqueza esbanjada em festas privadas de uma elite que não tem ideia do que seja a beleza.

Seu Zé embarca na bicicleta, eles estão sempre de bicicleta, e fica parado me olhando, abaixa o olhar triste depois me olha e continua sua fala. Foi difícil quando veio a doença, o vírus, não tinha trabalho e a ajuda do governo salvou, deu para comer quase todos os dias, tinha dia que faltava, mas Deus cuida. Seu Zé é crente, sabe que Deus vai cuidar. O problema é saber quem é o deus dos governantes. O mundo jaz no maligno!

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O BEM QUE EU PENSEI QUE TINHA FEITO

             Dona Iracema é uma pessoa completamente despojada, vive aquela vida simples que dá inveja a muita gente incapaz de se desapegar sequer dos objetos inservíveis, quiçá dos que dispõe como úteis, ainda que não totalmente necessários. Não é raro andar-se pelas ruas e ouvir alguém dizer: Dona Iracema não compraria isso por nada, não é necessário! Ou, Dona Iracema vive feliz porque vive com simplicidade, ela é que é feliz! Ou, ainda, Dona Iracema vive de fazer o bem, não há mal que se possa encontrar em toda sua vida!

Em tempos de eleição municipal, não há quem não compare Dona Iracema ao prefeito Sérgio Meneguelli, de Colatina, no Espírito Santo. Se ela fosse prefeita a vida ia ser boa, só que os ricos não iam votar nela porque ela é muito simples. E se os ricos não votam, os pobres também não, que pobre gosta de imitar os ricos, só que não tem dinheiro. Dona Iracema é reconhecia como uma pessoa que só faz o bem, isso atrai a simpatia, mas não o compromisso de uma sociedade ávida pelo consumismo.

Mas, o que é o bem que Dona Iracema faz e que não se nota nas outras pessoas em geral senão aquilo que te faz sentir melhor do que era antes? Se não isso, então talvez não seja bem, mas algo que não passe de boa intenção, e delas, como diz o ditado popular: o inferno já está cheio!

Fazer o bem é uma necessidade vital para a humanidade. Não há quem não faça um mal com a verdadeira intenção de fazer o bem, ainda que sabendo que pelo conceito social o que faz é mal, todavia, pelas circunstâncias que se lhe apresentam está seguro de que sua atitude é a melhor a ser tomada naquele exato momento. Até aí, com algum exercício de memória não fica difícil de se entender.

E se o mal, que é o mal, pode ser tido, ainda que provisoriamente como um bem, como analisar o bem que se intentou fazer, e o fez para que seja bem, e acreditando-se tê-lo feito, depois precisa de uma longa e maligna batalha para se provar que o que se fez foi o bem, já que quem o deveria ter recebido como tal não o recebeu e não o reconhece. Talvez esteja aí a diferença entre o bem que Dona Iracema faz e o bem que as muitas outras pessoas dizem fazer.

Dona Iracema faz o bem porque é isso que ela faz, fazendo o bem ela fica em paz e as outras pessoas gostam da paz que ela transparece por ter feito o bem, não precisa de propaganda nem de aprovação popular, simplesmente faz o bem e fica em paz. Me permita uma pergunta capciosa: quando tu fazes o bem, ficas em paz ou buscas a glória?

terça-feira, 15 de setembro de 2020

O CAMINHO INCERTO

             A vida é certa, o caminho nem tanto! Ouvi essa frase na rua e fiquei pensando no que ela poderia significar naquela conversa entre dois homens que passaram por mim em suas bicicletas com a marmita presa à garupeira. Um deles, mais falante, gesticulava com uma das mãos enquanto a outra segurava firme o guidão, o outro cabisbaixo mantinha ambas as mãos no guidão, só tirando uma de vez em quando para assoar o nariz. As botinas manchadas de concreto e as roupas sujas de cimento denunciavam a profissão de operários da construção civil. Passaram e a única frase que ouvi foi essa: A vida é certa, o caminho nem tanto.

Segui com os olhos o filósofo que passara o dia fazendo massa de cimento e provavelmente assentando tijolos de entendimento na triste existência do seu pupilo, a fim de que com as estruturas emocionais concretadas em cima de profundas estacas do conhecimento pudesse erguer as paredes de proteção emocional e dar aquele acabamento com material de primeira qualidade.

Os operários em suas bicicletas carregaram sua filosofia para uma rua transversal e não mais os vi, mas lembrei de já ter lido algo parecido, acho que da poetisa goiana Cora Coralina. O caminho incerto da poetisa durou setenta e cinco anos para só então cultivar seu jardim de versos no quintal da cultura e ser reconhecida como uma das maiores desse meio onde a sensibilidade empresarial é medida pelo potencial de vendas.

Tenho aqui comigo o livro do poeta Geraldo Sanguina, ‘Mixagem de poesia’ escrito com a sensibilidade de um cobrador que virou vigilante de banco. Quantos Geraldo Sanguina estão pendurados em andaimes de construção ou balançando no transporte coletivo ou ainda, andando de bicicleta com a marmita na garupa espalhando sua filosofia e suas rimas para quem se dispõe a ouvir e até para quem casualmente as ouve numa passada ligeira.

Há dias encontrei um poeta na feira, até fiz uma crônica em sua homenagem, Poesia na Feira, vivendo a sua vida, porque a vida é certa. Mas o caminho, a possibilidade de o poeta trocar a porta do banco pela academia, o filósofo descer do andaime e sentar-se à mesa do reconhecimento, esse caminho é incerto, tão incerto quanto reconhecer como intelectual quem compra, a peso de ouro, o caminho na trilha da mediocridade.

sábado, 12 de setembro de 2020

O INFINITO É BEM AQUI.

             Estamos na quarentena e a regra de ouro é manter o distanciamento social e o uso de máscaras, mas não há um que ainda não tenha se assentado na roda dos escarnecedores nem que seja uma vezinha só! Com uma permissão literária para ‘vezinha’ que um dia ainda há de constar no dicionário com o significado de pelo menos uma vez.

O noticiário tem mostrado praias lotadas de gente menosprezando a ciência, que por sua vez, e não só uma vezinha, tem sido incompetente para persuadir os governantes da sua importância. Se o governo que é o governo não respeita a ciência por que o povo que é o povo haveria de respeitar? Então vamos para a praia! Eu não, porque aqui não tem praia, mas tem bar e o povo que é o povo lota os bares enquanto a ciência, que parece ser só ciência, contabiliza os mortos com estatísticas assustadoras que parecem já não mais assustar muita gente.

Parece estar acontecendo o arrebatamento ao contrário, em vez de subir para as nuvens, as pessoas estão sendo arrebatadas para dentro da terra, cento e trinta mil pessoas num país de um pouco mais que duzentos milhões é quase a parábola da porta estreita com um governante que não passa pelo fundo de uma agulha. Cento e vinte mil pessoas mortas por uma única doença é, para mim, um número que tende ao infinito, não consigo imaginar quanto isso é de verdade. E as pessoas indo, nem que seja uma vezinha só, para a praia ou para o bar em aglomerações infinitas.

É uma infinidade de pessoas defendendo a cloraquina e morrendo de Covid, outra infinidade tomando remédio para verme e morrendo também, e outra infinidade ainda maior, se me for permitido mais uma licença literária, morrendo da vezinha que se assentou na roda dos escarnecedores e, junto com o tereré, a cerveja ou a pinga e a conversa fiada beberam o vírus do Covid.

O infinito é um lugar onde você nunca chega durante um tempo que nunca termina, então não há como voltar, pois, voltar é voltar de algum lugar em algum momento. Cento e trinta mil mortes é meio que um indicativo desse lugar que nunca chega e de um tempo que nunca termina. Essa doença veio trazer o infinito para bem aqui!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

UM DIA DAQUELES!

             Algumas expressões da língua portuguesa não precisam de maiores explicações, basta que se diga algo sobre o sentimento e o resto fica por conta do imaginário. Quase não damos importância quando alguém diz que a noite foi longa, pois sabemos de imediato que foi uma noite mal dormida e que mal dormida não foi a noite que noite não dorme, mas a pessoa que, acompanhada de um longo bocejo, disse que a noite foi muito longa.

Os dias também podem não ser muito bons, basta olhar as prateleiras dos supermercados e ver, por exemplo, o preço do arroz. Quem não anda dizendo que os mercados aumentaram muito? Lógico que não foram os mercados, mas os preços que foram elevados e, escondidos atrás da má fama dos mercados, o responsáveis pelos aumentos dos preços, quase sempre divulgam as boas ações que promovem nas associações beneficentes como se caridade fizessem enquanto as contas bancárias engordam com a fama de aumento dos preços do arroz.

E poucos são os que não tem que comprar um pacote de arroz de vez em quando, mesmo esses acabam pagando pelo óleo ou a carne que anda pela hora da morte. Aliás, expressão essa que nada teria a ver com a carne ou óleo já que esses produtos viram a morte há muitas horas já. E nem hora da morte é mesmo, já que o significado, que não precisa ser explicado, expressa mesmo a impotência que o consumidor sente no açougue ao olhar a tabela dos preços da carne.

E a tabela dos preços só anda para cima para os consumidores das mercadorias, especialmente aquelas que não tem como não consumir, tipo assim, comida. Claro que a expressão: ‘tabela dos preços só anda pra cima’ está, de pronto, entendido que não é a tabela, mas os preços, os preços também não andam, deixa para lá que todo mundo entendeu.

E se todo o mundo entendeu, isso parece aquela passagem bíblica onde os apóstolos fazem uma pregação e as pessoas que são de outros países, de língua diferente, entendem e se convertem ao cristianismo. Mas aqui, significa que todos os que conhecem a expressão, e todos que eu conheço conhecem, entenderam.

Agora, convenhamos, depois de uma longa noite, de ver a hora da morte no supermercado e ficar assustado com a subida da tabela dos preços, a melhor parte do meu dia foi escrever este texto, poque de resto, só posso dizer que ‘hoje foi um dia daqueles! ”

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

UM DIA DEPOIS!

             Tem um filme de 1.983 com o título The Day After (O Dia Seguinte), acho que todo mundo já ouviu falar desse filme, do medo que se tinha na época de uma possível guerra nuclear e as consequências disso. O dia seguinte ou, o que poderia acontecer com as pessoas que eventualmente sobrevivessem ao dia do bombardeio é retratado como um alerta à sociedade sobre o comportamento do governo em relação aos interesses sociais.

Estamos sempre vivendo o ‘dia seguinte’ e sofrendo as consequências. As bombas explodem o tempo todo, hoje é o dia seguinte daquela cerveja com churrasco gordo de ontem, da briga em família, do fim do namoro ou do casamento. Para muita gente hoje é o dia seguinte daquela aglomeração de fim de semana sem máscara e distanciamento social ou daquela relação sexual sem a devida proteção...

Poderia não existir o dia seguinte, sabe aquela história de que ontem já foi e o amanhã não existe, viva o dia de hoje como se fosse o último dia da tua vida? O dia seguinte é uma invenção do tempo. Não fosse o calendário, poderíamos fazer todas as coisas que temos vontade sem ter medo das consequências.

O dia seguinte é uma prisão da qual temos que nos libertar se quisermos ter uma vida plena. Já escutei n relatos de apaixonados que não tiveram coragem de se declarar por medo de um possível ‘não’ virar bulling no dia seguinte e depois saber, tarde demais, que a resposta teria sido ‘sim’. Amanhã tenho que acordar cedo é a condenação sem julgamento de muitos momentos felizes ao silêncio tumultuado de noites insones.

Nesses tempos de coronavírus tem quem ache que amanhã terá que acordar cedo para ir ao trabalho e se previne, mas tem quem acha que hoje é o dia a ser vivido e aproveita, que se houver contaminação os efeitos só virão depois de alguns dias, então que se danem os alguns dias e vamos viver hoje como se fosse o último dia da vida, afinal algum dia será mesmo o último.

Já vivi tantos dias da minha vida, já sofri tantos bulling, já perdi tanto por achar que o dia seguinte iria revelar a derrota que eu não tive que estou quase disposto a abolir a possibilidade de o dia seguinte continuar abortando minhas possibilidades de ser feliz hoje.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

O GRITO!!!!

             É no silêncio que se ouve a voz de Deus que fala no espírito como um vento suave que reconforta os corações angustiados trazendo a esperança de vida, e vida plena. O silêncio é a seara fértil do entendimento, razão das atitudes equilibradas. É do silêncio interior que vem a paz exterior e o falar adequado. É do silêncio que vem as palavras de sabedoria e é da sabedoria que vem o conhecimento e do conhecimento a dominação. Adão foi expulso do jardim porque comeu do fruto da árvore do conhecimento.

Não quero fazer uma dissertação sobre o pecado original, mas que tem sentido, ah, isso tem! Quem tem conhecimento domina quem não tem. Não saí de casa hoje, mas vi numa live um sujeito inteligente falando da importância de as pessoas se libertarem pelo conhecimento. Não falou nada sobre a bíblia, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará, falou de conhecimento social, de processo de dominação, de gritar contra a exclusão.

Às vezes tenho vontade de gritar, levantar a voz e me fazer ouvir, pular, bradar pelo meu espaço, ser visto, reconhecido como sujeito social, ator na comunidade, detentor de direitos e merecedor do quinhão de renda necessária para usufruir dos bens que ajudo a produzir e me são de alguma maneira negados. Gritar para dar sentido aos sentimentos e encontrar iguais para acomodar minhas ansiedades e depositar meus projetos de vida em terreno fértil, alimentar minha solidão com outra solidão e fazer o milagre da paz que vem da balbúrdia.

Enquanto carrego meu silêncio pelas ruas ouço gritos que vem do conhecimento em publicidade. Um outdoor me oferece o novo modelo de telefone celular em pré-venda. O telefone ainda não existe e eu já devo comprar! As Casas Bahia gritam comigo, devo trocar imediatamente todos os eletrodomésticos. A Riachuelo está segura de que estou fora da moda. Quando finalmente ligo a televisão para me acalmar, vem o Bonner e grita que o Governo vai congelar os salários dos trabalhadores. É muita gritaria!

Enquanto os banqueiros gritam de euforia pelo aumento fenomenal dos lucros, os excluídos gritam no sete de setembro. Qual é o teu grito?

sábado, 5 de setembro de 2020

MASCARADOS

             A quarentena trouxe à normalidade uma situação de excepcionalidade.  Quem diria que ao saímos para a rua não veríamos os rostos das pessoas, mas somente uma parte não encoberta. Quem diria que para recebermos visitas teríamos que encobrir o rosto e passar álcool nas mãos para cumprimentá-los e ainda manter o distanciamento social de pelo menos um metro e meio. Quem diria que o chimarrão e o tereré não seriam mais compartilhados numa roda de amigos ou familiares. Quem diria que os cinemas ficariam fechado por tanto tempo. Quem diria.

Há que se considerar, porém, que há males vêm para o bem. Não que seja possível um mal ser bom, mas as providências para prevenir um determinado mal podem trazer o bem para outras situações em que não se dava a devida importância. O uso das máscaras certamente diminuiu a infecção de viroses que antes não eram prevenidas. O toque de recolher e proibição de festas desincentivou o consumo de drogas ilícitas, o fechamento do comércio mostrou onde está o deus de muita gente, assim também o fechamento das igrejas trouxe à luz um bando de falsos profetas, fazendo separação entre o joio e o trigo.

As máscaras quase viraram moda! Antes, as empresas aproveitaram para transformá-las em outdoor. É só andar pela cidade que se vê propaganda nos rostos das pessoas, até eu ando com uma, escrito: ELETRO SOLAR! Tem máscaras descartáveis que dá para lavar várias vezes e tem as que não servem porque foram tão mal feitas que se bem usadas cobrem o rosto todo, um verdadeiro desperdício de tecido, e foram feitas para os alunos de uma escola pública de um determinado estado do Norte.

De resto no Brasil, são os mascarados de sempre que estão voltando, usando máscaras de pano em cima da cara de pau de sempre e a gente nem sabia que era só máscara de humilde em tempos de eleição. Este é o ano perfeito, nem precisam forçar aquele sorriso enganador, tomar cafezinho não pode mesmo, tapinhas nas costas é um perigo a ser evitado e abraços falsos nem pensar. Na televisão eles aparecerão com as máscaras tradicionais dizendo que farão tal e tal pela saúde e educação. Se tivessem educação, saberiam que mentir é falta dela! Haja máscara!

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

SENTIMENTOS

Às vezes é um desafio escrever uma crônica porque o assunto é tão particular que qualquer opinião pode ser arriscada. O jeito de superar isso é deixar a pessoa no anonimato e seguir com a história como se fosse mera ficção, daí pode ser que o sujeito ria de si próprio e até venha a criticar o personagem como se fosse outrem totalmente fora de si, mas também pode ser que se veja no espelho do texto e decida por sua autocrítica e, ainda quem sabe aproveite a crônica como ela deve ser aproveitada: lida como um mero passatempo na hora do cafezinho.

Verdade é que um cronista não trata de sentimentos, ainda que estes sejam o guia de todas as histórias, mas são os fatos, os acontecidos que guiam o texto até seu desenlace final, como passo a narrar o caso do casal que tinha se separado por motivos encontrados a nenhures. Esta narrativa vem, evidentemente de alguém que ouviu a história, já que ninguém mais que marido e mulher vivenciaram a intimidade e as infidelidades do relacionamento conjugal, considerando logicamente que no caso de infidelidade haveria pelo menos mais uma pessoa participando.

O que me foi contado é que após anos de sofrimento, decidiu-se que o casal se separaria por incompatibilidade de gênios. Até aí nada de novo, quase todos os casais quando se separam alegam esse mesmo motivo. Ocorre que após alguns meses, os pezinhos daqui e dali começaram a procurar pelos outros pezinhos e, não os encontrando ocuparam a mente com o assunto de tal forma que foi inevitável uma ligação telefônica “só para saber como você está”!

Dali em diante quase não há mais necessidade de narrativas, não fosse um único detalhe: os sentimentos. A esposa, ex-esposa e agora reesposa que passara longos anos dedicados exclusivamente ao trabalho doméstico e sem receber nenhuma remuneração por isso, com o divórcio viu sua jornada diminuir e a remuneração aumentar e se tornar vitalícia, um tipo de aposentadoria. Por outro lado, o marido, ex-esposo, remarido, feliz por não mais ter que cozinhar e limpar a casa, queria pôr fim ao pagamento da pensão que na situação atual não faria mais sentido, além do que pagando pensão estava difícil manter a amante, ou uma ou outra, as duas não dá!

Dizem que os parentes fizeram de um tudo para apaziguar a situação, até as autoridades religiosas deram aconselhamentos, mas não houve argumento forte o bastante para convencer a esposa de que deveria outra vez renunciar ao valor monetário do seu trabalho doméstico. Outra incompatibilidade de gênios! E a esposa agora pede outra pensão, já que esse é outro processo de separação. E a amante, coitada, sentindo-se duplamente traída!

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

AS PALAVRAS E AS FRASES

Eu gosto das palavras, com elas vou construindo os textos como se montasse um quebra cabeça, colocando cada peça no seu devido lugar até formar o quadro todo do pensamento. O vocabulário é o monte das peças de onde tiramos cada uma e vamos experimentando até que sirva, às vezes deixamos uma peça no lugar trocado e nem percebemos e damos graças à linguística se o leitor considerar que aquela troca de peças não tenha comprometido o entendimento e permita uma licença literária que eu considero como uma especial deferência ao escritor que hoje em dia já não tem mais a figura do revisor para corrigir eventuais erros antes da publicação.

E o monte das palavras, o léxico da língua portuguesa é quase infinito, só no dicionário Aurélio temos mais de 435.000 verbetes! Minha cabeça de matemático logo pensa em quantas possibilidades temos de associar essas palavras até que se obtenha todas as frases possíveis. Certamente esse cálculo levaria a pensar em um resultado que tende ao infinito. Ainda bem! Quando estudava matemática ia resolvendo cada problema como se fosse um quebra cabeça até que o resultado pudesse ser anunciado. Quando o problema é muito difícil, transformamos ele em fácil por meio de várias operações e daí resolvemos, assim também a construção dos textos, vamos com os assuntos conhecidos até explorarmos o universo do imaginário.

E haja palavras, tem umas que são verdadeiros palavrões! Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconitico. Ainda bem que não vou precisar dessa! Mas ela existe e é a maior palavra da língua portuguesa e significa doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas. Tudo bem, isso é lá para a medicina e onde existem vulcões ativos, para mim, mera curiosidade e é disso que vive o escritor, de curiosidade.

        Tem quem goste de frases prontas. Minha prima gosta e eu acho muito aproveitável porque as frases prontas são como alavancas do pensamento. A frase move sentimentos depositados na memória, prontos para serem despertos e talvez uma palavra solta não faça tanto sentido, mas uma frase inteira, ah, essa se for bem escrita e contiver uma mensagem adequada, essa faz saltar o sentimento que não sossega até ser exposto de alguma maneira para o público alcançável. Não faço reverência aos poderosos humanos, mas curvo-me à uma frase bem elaborada! 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

EM AGOSTO MAIS UM RECORD!

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CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...