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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

PÁTRIA AMADA DOURADOS

Esta idosa cidade que já completou seus oitenta e cinco anos parece estar fazendo jus ao texto bíblico que diz que outra pessoa te vestirá e te conduzirá para onde não queres ir. Se fosse uma pessoa, de fato o é, ainda que não física, mas jurídica, dado que possui CNPJ 03.155.926/0001-44, ainda assim é mesmo uma pessoa e como tal chega a terceira idade como quem não tem mais condições de se cuidar e sofre com os filhos mal-educados que só pensam em dilapidar seu patrimônio acumulado ao longo de anos de trabalho.

O Decreto número 30, do então Governador do Mato Grosso, Mário Correia da Costa registrou o nascimento desta Cidade que gestava desde 1.861 quando foi fundado o Comando Militar de Dourados, sob a batuta de Antônio João Ribeiro, para guerrear contra os irmãos paraguaios que, bastante desenvolvidos, faziam ciúmes aos interesses do capitalismo Inglês. Prenhez de longa duração, contou com a ajuda dos gaúchos, mineiros e paulistas que para cá vieram atraídos pelas terras baratas e altamente produtivas. Já quase para nascer, Dourados viu a barriga crescer com a exploração da erva mate pela companhia Mate Laranjeira que monopolizou a extração desse produto até meados da década de 1.920.

Entrando em trabalho de parto, passa a ser pacienciosamente atendida pela equipe do pecuarista Marcelino Pires, dono de vastíssima área onde criava gado em terras anteriormente ocupadas pelos povos nativos. Hoje, a principal avenida desta octogenária homenageia o Tal! Oficialmente, os heróis do município são destacadamente os que mais contribuíram para a destruição da natureza.

Ainda bebezinha, Dourados já era tutelada com o fim de acolher pessoas aguerridas, dispostas a promover o desenvolvimento local. A Colônia Agrícola de Dourados – CAND, foi o mais generoso projeto de reforma agrária que este país teve, ainda na década de 1.940. Acolheu milhares de famílias nordestinas e de outros estados do Sul e Sudeste, assim também imigrantes que receberam terras e depois foram cuidadosamente expulsos pela ocupação das lavouras de soja e milho, pelo agronegócio que não mais produz alimentos, senão commodities que imediatamente após a colheita deitam em armazéns esperando pelo melhor preço antes de serem exportados.

Deixei passar pelo menos um dia depois do aniversário para publicar este texto, dado que ele destoa um pouco das inumeráveis homenagens elogiando esta belíssima cidade que se encontra cheia de matagal em quase todas as áreas públicas e ao desejado modelo do traçado das ruas esburacadas e, ainda, talvez, só talvez, pela maior reserva indígena brasileira, símbolo da vergonha de nossos governantes que em defesa do progresso material, produziram o caos e a miséria entre os povos nativos, verdadeiros donos deste lugar.

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