Esta idosa cidade que já completou seus oitenta e cinco anos
parece estar fazendo jus ao texto bíblico que diz que outra pessoa te vestirá e te conduzirá para onde não queres ir. Se
fosse uma pessoa, de fato o é, ainda que não física, mas jurídica, dado que
possui CNPJ 03.155.926/0001-44, ainda assim é mesmo uma pessoa e como tal chega
a terceira idade como quem não tem mais condições de se cuidar e sofre com os
filhos mal-educados que só pensam em dilapidar seu patrimônio acumulado ao
longo de anos de trabalho.
O Decreto número 30, do então Governador do Mato Grosso, Mário
Correia da Costa registrou o nascimento desta Cidade que gestava desde 1.861
quando foi fundado o Comando Militar de Dourados, sob a batuta de Antônio João
Ribeiro, para guerrear contra os irmãos paraguaios que, bastante desenvolvidos,
faziam ciúmes aos interesses do capitalismo Inglês. Prenhez de longa duração,
contou com a ajuda dos gaúchos, mineiros e paulistas que para cá vieram
atraídos pelas terras baratas e altamente produtivas. Já quase para nascer,
Dourados viu a barriga crescer com a exploração da erva mate pela companhia Mate
Laranjeira que monopolizou a extração desse produto até meados da década de
1.920.
Entrando em trabalho de parto, passa a ser pacienciosamente
atendida pela equipe do pecuarista Marcelino Pires, dono de vastíssima área
onde criava gado em terras anteriormente ocupadas pelos povos nativos. Hoje, a
principal avenida desta octogenária homenageia o Tal! Oficialmente, os heróis
do município são destacadamente os que mais contribuíram para a destruição da
natureza.
Ainda bebezinha, Dourados já era tutelada com o fim de acolher
pessoas aguerridas, dispostas a promover o desenvolvimento local. A Colônia
Agrícola de Dourados – CAND, foi o mais generoso projeto de reforma agrária que
este país teve, ainda na década de 1.940. Acolheu milhares de famílias nordestinas
e de outros estados do Sul e Sudeste, assim também imigrantes que receberam
terras e depois foram cuidadosamente expulsos pela ocupação das lavouras de
soja e milho, pelo agronegócio que não mais produz alimentos, senão commodities que imediatamente após a
colheita deitam em armazéns esperando pelo melhor preço antes de serem
exportados.
Deixei passar pelo menos um dia depois do aniversário para
publicar este texto, dado que ele destoa um pouco das inumeráveis homenagens
elogiando esta belíssima cidade que se encontra cheia de matagal em quase todas
as áreas públicas e ao desejado modelo do traçado das ruas esburacadas e,
ainda, talvez, só talvez, pela maior reserva indígena brasileira, símbolo da
vergonha de nossos governantes que em defesa do progresso material, produziram
o caos e a miséria entre os povos nativos, verdadeiros donos deste lugar.
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