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sábado, 26 de dezembro de 2020

AMOR COM HORA MARCADA

O sábado já anoitece o dia e a senhora que ainda se acha senhorita depois do segundo divórcio, esquecida dos cuidados com a saúde em tempos de pandemia, retoca a maquiagem e aperta os lábios para uniformizar o batom, depois olha o espelho virando-se de um lado e do outro, conclui que está tudo bem, calça os salto alto e sai para a sala onde pergunta ao namorado: Pode o amor ser infinito se nem contamos o tempo durante o amor?

Pode, responde o experiente namorado que já se divorciara três vezes. O amor pode ser infinito enquanto dure, segundo o Poetinha, mas pode ser manso e terno, não se irrita e tudo suporta. Pode até ter hora marcada com precisão de minutos e segundos. Sim, o amor não é impreciso, de tão verdadeiro que é, não se atrasa e nem se ufana, mesmo sendo paciente e bondoso. Se passar das 21 horas, 6 minutos e 9 segundos, não é o amor que não se alegra com a injustiça, pois é injusto a quem esteja esperando, esperar além dos segundos combinados.

E tem que ter um abraço pronto a ser dado um minuto após o horário marcado, que entre a chegada e o aperto contra o peito tem a liga do sorriso que vem dos olhos e aperta os lábios no beijo pontual. E aí sim, ah, aí vem o abraço e não tem hora marcada para desabraçar. Os corações se tocam e trocam batidas ritmadas fazendo música para a alma e o sangue jorra o calor do corpo sobre todas as células fazendo os pelos se arrepiarem.

Alguma coisa no cérebro produz um elemento sedativo e as mãos tomam decisões por conta própria e vão alisando as costas e causando arrepio na nuca, até uma se esconder debaixo dos caracóis dos teus cabelos e a outra ir livremente procurando lugares proibidos que censura só existe se a cabeça estiver pensando, e os pensamentos, devidamente instalados no infinito do tempo que deixou de existir já não pensam mais. São 21 horas, 7 minutos e 9 segundos!

O tempo está parado! Nem a física quântica consegue explicar as probabilidades em um tempo que deixou de existir. Assim é o amor num sábado, às 21 horas, 6 minutos e 9 segundos e enquanto o relógio dá uma volta no ponteiro maior, dois corpos são abduzidos para outra dimensão.  Um lugar onde o tempo não conta, por isso pode sim, ser infinito. E, agora que estamos no tempo certo, deixemos a certeza de lado e vamos viver a eternidade de cada momento que amanhã, quando o dia clarear, talvez tenhamos que acertar nosso relógio que não terá marcado mais que um minuto!

Um comentário:

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