Depois que a mãe
se foi para casa, Aninha foi ‘convidada’ a tomar banho, depois foi o vô Júlio e
só então a vó foi para o banheiro. Enquanto a vó tomava banho e se arrumava,
Ana ficou no quarto arrumando suas roupas.
O vô queria ajuda-la na arrumação, mas ela disse que não precisava.
- Eu já sou grande
– ela disse – já sei arrumar as minhas coisas, pode deixar que eu me viro.
Então colocou as roupas que estavam na mala
sobre uma cômoda e foi guardando as peças uma a uma nas gavetas. Quando
concluiu, estava cansada da arrumação e das andanças com o avô e o sono ficou
maior do que a vontade de assistir televisão, então deitou-se na cama e pediu
para o vô contar uma historinha que ela queria dormir.
- Historinha? –
Perguntou o vô como se isso fosse algo totalmente absurdo. - Isso é para
crianças pequenas.
- Mas, será que
meu vô não vê que eu ainda sou pequena? – Questionou Ana mostrando seu corpo
ainda juvenil.
- Bem, – disse o
vô – ainda agorinha você falou que não precisava de ajuda porque já era
grande...
- Eu era grande
para arrumar as minhas roupas porque eu queria arrumar elas sozinha, mas para
contar historinha quem é grande é o vô, eu sou pequena.
- Ah, sim. Nesse
caso eu vou contar. Pode ser a do gato de botas?
- Não, dessa eu já
estou enjoada, meu pai contou ela um milhão de vezes, acho que ele só sabe
essa.
- Então a da
menina do chapeuzinho vermelho.
- Essa também não.
Meu pai sempre conta essa também.
- Eu quero ouvir
aquela que os macacos encontram uma plantação de chocolate.
- Ué, mas essa,
teu pai, que só conhece a história do gato de botas, já não contou um milhão de
vez para você?
- Não, vô. Essa,
meu pai nunca me contou, mas a mãe disse que você sabe essa história e que é
muito legal.
- Bom, para essa
eu preciso da ajuda do autor. Vamos ver: Era
uma vez, está ouvindo?
- Estou, vô. Era uma vez.
- Isso, era uma vez numa floresta que tinha
aqui no sítio, lá perto do lago dos peixes onde fomos pescar hoje. Para baixo,
tinha uma floresta grande e tinha muitos bichos do mato por lá. No meio da
bicharada e morando na copa das árvores tinha um bando de macacos com cara de
gente.
- Os macacos são
gente? - Perguntou Aninha.
- Não – disse o vô
– eles não são gente, são animais da floresta.
- Mas tem cara de
gente. – Observou a neta.
- É, mas tem rabo
como os outros animais. – Disse o vô estabelecendo uma diferença
inquestionável.
- Às vezes a mãe
faz um rabo de cavalo com meu cabelo. - Disse a neta e riu.
O vô riu e
continuou:
-Então, aqueles macacos com rabo de animais
da floresta estavam com fome, daí se reuniram e o chefe deles falou:
-Eu estou com fome e parece que não temos comida
suficiente por aqui, então vamos empreender uma jornada para o interior da
floresta para procurar alimentos. Vamos chamar essa jornada de Entradas e
Bandeiras.
- Entradas eu entendi – disse um macaco – mas,
bandeira? – Falou meio perguntando.
- Eu também não sei o que significa, - disse o chefe -
mas eu sei que os bandeirantes quando foram caçar índios para serem escravos e
procurar muitas riquezas minerais para Portugal eles entraram no mato e
chamaram de Entradas e Bandeiras. Então vai se chamar assim.
- Nós vamos caçar índios? - Perguntou outro macaco.
- Não, seu burro, nós só vamos procurar alimentos.
- Eu não sou burro, sou macaco. – Disse o macaco.
- Deixa prá lá. – Disse o chefe. - Agora vamos
enfrentar todos os perigos da floresta e trazer os alimentos de que precisamos.
Todos em forma, podem ir que eu fico e espero vocês em dois dias.
Depois de perguntarem uns para os outros se não era o
líder que deveria liderar a expedição, e depois de uns para os outros não
saberem responder, foram em busca dos alimentos que estariam escondidos em
algum lugar daquela floresta atrás de todos os perigos que a floresta oferecia.
Sem um líder que pudessem chamar de chefe, foram
pulando de árvore em árvore até que de repente viram muitas árvores com frutas
penduradas. Os que estavam na frente esperaram a chegada dos demais para
perguntar se alguém conhecia aqueles frutos. Após alguns minutos de indecisão
resolveram verificar mais de perto o que seriam aqueles frutos e logo um macaco
gritou a todo pulmão: CHO-CO-LA-TE!
- Chocolate? – Perguntou um macaco faminto.
- Isso. Isso aqui é uma plantação de cacau e chocolate
é feito de cacau.
- Oba, vamos comer chocolate no pé!
E assim os macacos atacaram a plantação de cacau que
ficou totalmente destruída. No dia seguinte os macacos estavam comemorando a
fartura de alimentos enquanto que o fazendeiro que plantava cacau chorava de
raiva, doido para saber quem é que tinha destruído sua safra de cacau.
Elairton Pulo Gehlen