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sexta-feira, 24 de maio de 2019

LIBERDADE


Há mais de trinta anos que a liberdade procura guarida em mim. Não que eu não a queira, muito pelo contrário do contrário do contrário. Com trinta anos, há trinta anos atrás, meu sonho de liberdade entrava definitivamente em contradição. Ao entrar em um emprego público, fiquei definitivamente preso por quase outros trinta anos que é o prazo máximo que um detento pode ficar detido neste país. Esse foi o meu segundo ‘contrário’, isso, o segundo, o primeiro fica para depois do terceiro.
Pelos últimos trinta anos, evidentemente não há que se falar em liberdade, mas agora estou definitivamente aposentado e aquele sonho de liberdade adormecido em berço esplêndido parece acordar em longos bocejos espiando em volta se a babá se encontra desencontrada. Não, não se encontra... desencontrada. Se encontra como se ficasse de plantão por vinte e quatro horas, todos os dias da semana, inclusive sábados, domingos e feriados a me dizer que ‘agora’ é hora de pensar na estabilidade porque a velhice bate à porta e é preciso estar à porta para atende-la e parece que ela vem carregada de dores e remédios para dores, doenças e remédios para doenças e um papel muito comprido com todas as parcelas do seguro sepultamento que devem ser pagas antes de morrer.
Antes que as parcelas vincendas se tornem vencidas, vamos ao primeiro contrário. Claro que é antes dos trinta anos! O que era mesmo que eu estava procurando naquele tempo? Ah, sim: Liberdade... sem medo! Depois de ser vigiado pelos pais, torturado pelos professores e explorado pelo patrão, descobri algo fantástico que alimenta sonhos de liberdade: L I V R O S! Você já leu Summerhill, Liberdade sem medo? Pois é. Encontrei esse livro quando eu já era um ‘rato de biblioteca’. Quanto mais eu dedicava tempo para os livros, menos eu procurava emprego. As ideias fartas e a barriga... com fome, muita fome.
Eu ia morrer se eu ficasse livre, o sistema não aceita pessoas livres. Esse foi o primeiro contrário. Eu sei que é uma péssima ideia ficar olhando para trás, mas tem uma pergunta que não cala: Não seria melhor ter morrido livre?
Elairton Paulo Gehlen

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