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sexta-feira, 17 de maio de 2019

O PRESENTE

 Não sei como alguém recusa um presente que alimentaria seus sonhos mais lindos. Aquilo que seria como combustível para a máquina da existência. Ou será que estou enganado?

Natan é um presente a ser entregue. Especial. Cheio de magia e poderes. Natan está pronto. Só lhe falta aquele momento especial. Momento para ser aceito e repetido. A emoção procurando caminhos nas veias e saindo pelos poros. E o presente ali para ser entregue.

Mara nunca está pronta. Tão ocupada está em seus afazeres que nem percebe Natan. Já é tarde da noite, a casa ainda desarrumada. É preciso dormir.

O presente não pode ser entregue assim. Existe uma condição. Para ser entregue, o presente tem primeiro que ser aceito. Natan se esforça. Ele sabe que o presente deve ter prioridade. O presente tem poderes inimagináveis. Só o fato de recebê-lo faz com que todas as coisas fiquem belas. Tudo fica bonito. É a magia do presente.

Mara vai dormir. Natan não pode dormir. Precisa cuidar. Toda sua atenção está voltada para ele. As outras coisas só fazem sentido se o presente for entregue.

Mara está dormindo. Há dias que ela dorme mais cedo para repor as energias. As ocupações do emprego, da casa, academia, salão. Tantas coisas. É preciso dormir. Natan pode esperar. Por que será que ele não sossega e vem dormir? Bem que ele poderia ajudar com a arrumação da casa.

  • - Vem dormir Natan!

Natan não pode dormir. Está cuidando o presente. Já não sabe mais o que fazer. Quando fala do presente, Mara desdenha. Agora não . Estou cansada, preocupada. Outra hora... O presente precisa ser entregue. Está sufocando a vida de Natan. Sai da cama, olha o quintal. Vai jogar fora. Liga a TV, oferece-o à personagem da cena. Vai para a rua encontrar alguém que queira. Em algum lugar acha. Não dá para entender. Aquele presente não parece ter sido feito para ser entregue ali. Natan vai embora. Volta para casa.

Mara vai trabalhar, ganhar dinheiro necessário para as despesas de convênio médico, roupas novas, calçados, academia para ficar mais atraente, salão de beleza para ficar mais bonita. Tão dedicada ela é que fica irritada quando os filhos desobedecem suas orientações. Mal Natan acaba de chegar e Mara já vai relatando sua indignação com as coisas que não deram certo. Ela parece um leão. Quer tudo à sua maneira. Ela queria que a casa estivesse perfeita.

Natan fora trabalhar e acaba de chegar com o presente para ser entregue. Não pode entregar se Mara estiver reclamando. Mais tarde, quem sabe. Melhor seria não ter esse presente para entregar. O sábado vem e Natan vai se distrair, tomar sauna, beber cerveja. Depois carrega seu presente pelas ruas da cidade.

Mara volta do salão de beleza. A casa está arrumada. A roupa escolhida. Hoje está tudo bem. Mara agora é Maravilhosa. Não sei por que mas a paz apareceu. Já estou com saudades de Natan...

Natan se distrai com seu presente e acaba reencontrando aquele local que outrora achara. Nenhuma preocupação, nenhuma reclamação..., nem sono. Ali está alguém de braços abertos para receber o presente. Natan resiste. Não podia ser. Ainda resiste. Não resistea mais. Entrega o presente.

Um comentário:

  1. A dormência do ser dentro de uma realidade criada traz pra cada um sua própria cela...

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