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sexta-feira, 31 de maio de 2019

O QUE IGUALA SÃO JUSTAMENTE AS DIFERENÇAS


À noite, diante do meu computador, tomando meu café com açúcar orgânico e comendo umas bolachas maria, fui escrever minha crônica. O silêncio noturno parecia não trazer nenhuma inspiração, liguei o som e deixei tocando Pink Floyd, liguei também a TV e deixei num filme da net flix, em japonês que é para não entender nada do que estavam falando. O som psicodélico e o filme em japonês eram tão diferentes que eu nem sequer tentava entender um ou outro. Deixei o barulho tomar conta do ambiente e fixei os olhos na tela do computador. Já estava escrevendo sobre o frio do inverno que se aproximava quando ouvi gritos na rua, gritavam tão alto que parei minha escrita e prestei atenção, poderia ser só mais um barulho se misturando aos outros, mas não era, falavam em português e eu entendia o que falavam. O fato de falarem uma língua compreensível para mim fazia com que os gritos, ainda que irritantes, fossem familiares e aceitos ou pelo menos acolhidos em minha memória de forma diferenciada aos outros barulhos da sala. Fui até a janela e abri-a lentamente. Dois homens discutiam energicamente um com o outro por ciúmes, a mulher de um teria dado trela para o outro. A janela aberta deixou o som da sala invadir a rua e os que brigavam interromperam sua luta para olharem para minha janela. Por um momento ficamos assim, olhando um para o outro em silêncio. Fechei a janela e voltei ao computador, os dois intensificaram a luta e se agrediram, a polícia foi chamada e ambos foram levados pelo camburão.
Voltei ao texto que estava escrevendo. Eu não sentia frio, mas sentia que por um instante que seja, eu, o ciumento e o traidor nos igualamos quando abri a janela.

Elairton Paulo Gehlen

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