Quando as ideias vem do calendário, eu fico olhando os dias esperando
que após dezembro me venha todos os meses dos anos passados. Passo por cada
aniversário depositado na folhinha e me lembro dos anos, muitos anos, jogados
no lixo poucos minutos depois da eterna celebração de cada dia. As horas e os
minutos estão de fora, são detalhes e detalhes não importam para uma vida
civilizada onde as aparências são feitas de grandes realizações. Cada dia é uma
realização e as manchetes são claríssimas para cada mês. Acabou? Acabou! Mês
que vem tem mais e você deixou de existir.
Viro a folhinha e me vem o mês de abril: mentira! verdade! Nem
vi a revolução passar porque nesse golpe eu tinha seis anos de idade. O orgulho
do militar que perseguia comunistas era como um conto de fadas falando de um
tempo bom que nunca chega. Esqueceram de jogar essa folhinha no lixo! Não fui
buscar saudades onde havia remorsos, só via meu pai, cooptado, procurando
prender que só queria ser livre. Agora escrevo um livro, mas não sei os
detalhes, são como os minutos, não contam no calendário.
Achei na gaveta uma fotografia para a carteira de trabalho:
04/01/1978. Trabalhei quarenta anos para o capitalismo, agora me vem o sistema
dizer que não posso mais ser sustentado por que sou um peso para a previdência.
Não é possível que um aposentado sobreviva por tanto tempo! Se eu pudesse, não
faria tudo de novo. Alimentei um sistema que quer me comer.
Não gosto das ideias que vem do calendário, elas trazem um
horizonte cheio de muitas sombras que se projetam sobre a vida impedindo o
futuro de aparecer.
Elairton Paulo Gehlen
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