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sexta-feira, 5 de abril de 2019

CALENDÁRIO


Quando as ideias vem do calendário, eu fico olhando os dias esperando que após dezembro me venha todos os meses dos anos passados. Passo por cada aniversário depositado na folhinha e me lembro dos anos, muitos anos, jogados no lixo poucos minutos depois da eterna celebração de cada dia. As horas e os minutos estão de fora, são detalhes e detalhes não importam para uma vida civilizada onde as aparências são feitas de grandes realizações. Cada dia é uma realização e as manchetes são claríssimas para cada mês. Acabou? Acabou! Mês que vem tem mais e você deixou de existir.

Viro a folhinha e me vem o mês de abril: mentira! verdade! Nem vi a revolução passar porque nesse golpe eu tinha seis anos de idade. O orgulho do militar que perseguia comunistas era como um conto de fadas falando de um tempo bom que nunca chega. Esqueceram de jogar essa folhinha no lixo! Não fui buscar saudades onde havia remorsos, só via meu pai, cooptado, procurando prender que só queria ser livre. Agora escrevo um livro, mas não sei os detalhes, são como os minutos, não contam no calendário.

Achei na gaveta uma fotografia para a carteira de trabalho: 04/01/1978. Trabalhei quarenta anos para o capitalismo, agora me vem o sistema dizer que não posso mais ser sustentado por que sou um peso para a previdência. Não é possível que um aposentado sobreviva por tanto tempo! Se eu pudesse, não faria tudo de novo. Alimentei um sistema que quer me comer.

Não gosto das ideias que vem do calendário, elas trazem um horizonte cheio de muitas sombras que se projetam sobre a vida impedindo o futuro de aparecer.

 

Elairton Paulo Gehlen

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