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quarta-feira, 17 de abril de 2019

FELIZ PÁSCOA!


Parece que estamos iguais, ele disse olhando a imagem de Jesus pregado na cruz do calvário. Já estou virando uma caveira de tanto sofrimento. Os malfeitores estão por todo lados só que eles não estão pregados numa cruz. Vivem cada dia como se uma redoma de vidro os protegesse, e eu aqui doido para jogar uma pedra e despedaçar essa vidraça!
Parece que estamos iguais, disse olhando para a imagem de Jesus, loiro, olhos azuis, cabelos de salão de beleza, túnica lavada com homo total e amaciante, pele macia e olhar despreocupado sobrevoando os céus enquanto seus seguidores depositam fielmente o dízimo no gazofilácio.  É bênção, disse enquanto observava a pintura encomendada a peso de ouro a um renomado artista pagão.
Está chegando a Páscoa e eu estou chegando aos meus setenta anos como se fosse mesmo um cordeiro indo para o matadouro. Para trás ficaram os pastos verdes, cheios de gado gordo do patrão, por onde andei trabalhando duro e sem lá muitos direitos. Ganhei cada dia como se fosse o único, sem saber se teria o seguinte para ganhar.
 Páscoa é tempo de vitória! Repousando em verdes pastagens e me banhando em águas tranquilas. Olho em redor e em derredor e só me vejo como um leão rugindo. Eu é que dou as ordens. Não quero nem saber quem foi que cuidou do pasto e menos ainda quem fez aquele lago maravilhoso para eu passar dias festivos com meus amigos em águas límpidas.
Comi o pão que o diabo amassou, afinal ele é mesmo o príncipe deste mundo. Agora vou deixar esse sofrimento, já não tenho mais forças, deixei-as todas com o senhor deste lugar. Se juntar tudo que passei, talvez seja como ser pregado na cruz. Cada dia fui açoitado, cada dia o madeiro ficava mais pesado. Olho em volta e só vejo os ladrões que roubaram minhas energias. Agora estão sorteando minha força de trabalho e se regalando no lucro que produzi. Só me resta pensar na ressurreição.
Quem diria, dia após dia comendo do melhor desta terra. Da sabedoria fiz as coisas deste mundo para meu prazer, da miséria do povo fiz o templo e da ignorância minha riqueza material. Quisera eu poder viver mil anos e ainda assim não gastaria tudo que acumulei. Mas, agora parece ter chegado ao fim. Essa é a minha cruz, toda minha riqueza está sobre ela e eu a tenho que carregar para a morte. Quem dera pudesse ressuscitar!
 
Elairton Paulo Gehlen
        
FELIZ PÁSCOA!

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