Eram quatro horas
da tarde quando Nanci levantou-se da cadeira dizendo que estava na hora de ir
para casa. Chegara às nove horas da manhã na casa dos sogros somente para
deixar a filha que veio passar as férias na casa dos avós e ficou só mais um
pouquinho porque a sogra pediu.
Às dez da manhã
disse ia para casa porque o marido ia chegar para o almoço e ela ainda não
tinha preparado nada e tinha uma rodovia pela frente, ou para trás, já que
viera de lá e agora ia gastar pelo menos uns cinquenta minutos no caminho de
volta.
Ficou mais alguns
minutos porque a sogra disse que ia passar uma receita na televisão que ela
estava esperando fazia bem uns dois dias.
- Vi a propaganda
– ela falou – você precisa ficar mais um pouquinho.
Às onze da manhã
terminou de passar a receita e a sogra disse que ela deveria ficar para ajudar
no almoço.
- Você viu que
fácil! – Exclamou Nanci. – Vou para casa preparar para o almoço!
- Fica – disse a
sogra – vamos fazer juntas, aí você chama o João e a gente almoça todo mundo
junto.
João é o marido de
Nanci.
Fizeram a receita
que às onze e meia foi ao forno alto por trinta minutos.
Quinze minutos
depois de colocar a forma no forno o celular chamou, era João dizendo que não
ia almoçar em casa, tinha um compromisso com o pessoal da empresa onde
trabalhava e só voltaria mais tarde. Com a notícia, Nanci ficou despreocupada e
chamou a sogra para irem ao pomar colher algumas frutas da época.
Andaram pelo pomar
cada uma com uma faca na mão. Primeiro chuparam laranja, depois uns poncãs, daí
viram umas canas caiana e resolveram colher e se sentar perto do curral para
chupar. Chuparam cana e falaram muito mal da vizinha que é uma fofoqueira.
Decerto a orelha do vizinho estava pegando fogo porque ele também entrou na
conversa por mais de meia hora. Não só ele, mas também as três amantes que ele
tem. E se não tinha, agora tem. Tem porque tem! Tem gente que não tem vergonha
da cara!
Lá pela uma da
tarde chegaram os boiadeiros Ana Maria e o vô Júlio com as vacas e os bezerros.
Quando viram eles chegando de longe, a sogra lembrou da comida no forno e
gritou: Jesus Amado! A essa hora o forno já pegou fogo!
Correram para a
cozinha, tiraram os restos queimados do forno para jogar bem longe e
recomeçaram o almoço, agora com receitas conhecidas feitas na panela na boca do
fogão sob os olhos vigilantes de duas atentas mulheres prendadas.
Das duas até às
três da tarde foi a hora do sono e não dava para sair sem tomar um chimarrão
até às quatro. Pronto, agora estava na hora de ir. Nanci já estava em pé
decidida.
A sogra ofereceu
mais um chimarrão que foi prontamente aceito. Enquanto tomava o chimarrão, a
sogra disse que ia preparar algo para ela levar para a janta.
- Não é justo que
o João fique sem experimentar essa comida deliciosa que fizemos para o almoço.
Nanci foi também
para a cozinha. Na marmita entrou o arroz à grega, a mandioca bem cozidinha, o
macarrão ao alho e óleo e um generoso pedaço de carne de porco frito.
- Pronto. Cadê a Aninha
para eu me despedir? – Disse Nanci procurando pela filha.
- Ué - disse a
sogra – estavam ali agora mesmo!
- Aninha – chamou
a mãe.
Nada, Aninha já
tinha ido com o vô para longe da casa. Não dava para ir sem se despedir da
filha, então ficou mais um pouquinho.
- Quem sabe voltam
logo.
Às seis da tarde,
já escurecendo o dia, chegaram Aninha e o vô arrastando as varas de pescar e um
balde com peixes que pegaram no lago.
-Aninha do céu –
disse a mãe – estou esperando você para me despedir. Já está ficando de noite.
- Espera um pouco
mãe que nós vamos limpar os peixes. Eu quero que você leve pelo menos um desses
que eu pesquei para o papai.
Limparam os peixes
e quase seis e mia da noite Nanci pegou as chaves do carro para sair. Aninha
parou em sua frente e dedo em riste falou:
- Vai levar os
peixes cru, é? O pai não vai gostar.
- Mas filha...
- Mas filha digo
eu – Seu Júlio entrou na conversa – ficou até agora fica mais um pouco, vamos
fritar os peixes.
- Às sete da noite
estavam jantando e às oito da noite, depois de se explicar longamente no
celular, Nanci entrou no carro meio chateada com a bronca do marido que não
entendia como ela tinha ficado tanto tempo sem voltar para casa.
- Não saiu de
manhã só para deixar a Aninha e voltar?
Elairton Paulo Gehlen
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