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segunda-feira, 1 de julho de 2019

FELICIDADE


Sai da murmúria do tempo, o próprio tempo de que se murmura. Tem uma felicidade chegando no horizonte às seis da manhã e traz o raiar do sol num colorido quase indescritível de tantas cores que precedem o dia cheio de oportunidades e possibilidades que até me atrapalho. É balbúrdia nos meus pensamentos e por uns instantes fico a admirar tanta beleza disponível justamente para mim, pobre coitado despido de capacidade para interpreta-la. Me sinto seduzido, por pouco que o horizonte não me abduzia, não fosse a louça suja em cima da pia a despertar a indignação da minha mulher que acaba de entrar na cozinha sem entender porque eu ainda não pusera o leite para ferver e o café no coador.
Ainda ouço as vozes, mas não decifro seu significado. São vozes do tempo que se fez e desfez. O café da manhã estava com jeito de felicidade, farto na mesa, esbanjando sabor no prato e aroma na xícara. O pão caseiro falando aos sentidos sobre relacionamento de um dia inteiro desde o preparo do fermento natural até sair quentinho do forno. O melado traz histórias que remontam ao ano passado quando a cana foi plantada até a semana passada quando foi feito no tacho. A nata é do leite que fui buscar no curral do fornecedor acompanhado de pelo menos meia hora de sonhos de uma vida melhor que vem com o aumento na produção. Essa felicidade me invadia por osmose quando de repente sofro um solavanco nas ideias: ‘Está ouvindo? Depois reclama que eu falo muito, mas você fica aí calado! ’ É uma voz conhecida, mas totalmente estranha aos momentos de felicidade.
Quando dou por mim, o sol está a pino e as garças-boieiras dançam livremente junto aos bois no pasto. Não foi preciso pensar para me escorar no cabo da enxada, num repente minha mente ficou livre, livremente. Os tucanos que logo de manhã pulavam nas árvores exibindo seu enorme bico colorido, agora voam pelos pensamentos caçando insetos e se alimentando de frutas, a fruta proibida da árvore do conhecimento do bem e do mal!
Larguei a enxada e fui pescar. Não foi necessário dar palavra porque a natureza ocupou todos os segundos para mostrar o tanto de felicidade disponível. O lago formado nas nascentes liberou água em cascata entre as pedras com uma música plenamente compreendida pelos sentidos. Seguindo a correnteza fui parar à beira do lago. Ah, o lago! Espelho da natureza refletindo a graça divina. O céu ao meu alcance na lâmina d’água! Joguei o anzol e pesquei uma patinga no meio de uma belíssima nuvem de algodão.
O entardecer descortina no horizonte o privilegio da beleza, trazendo após si um mar de estrelas e a lua nova. Lua nova... vida nova... nova....nova....
- Que foi, homem, acorda. A vida é dura!
Elairton Paulo Gehlen

2 comentários:

  1. Poesia, reflexiva,eu acordo cedo,preparo o café, tomo uma xícara,para despertar ,após coloco o leite de caixinha para esquentar,o pão já está na mesa,feito pela máquina da Britânia, começo planejar o meu dia ,arrumo a mochila, com a garrafa de leite e café,a pet de água, e um pote de bolacha maizena,pego a moto,dou a partida, mas antes, de pegar a estrada, agradeço a deus,

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  2. a sua poesia me inspira,na madrugada do meu ser, no dia que esta chegando, nas tarefas a fazer, no corre corre, no dia que nasce, e a felicidade não veio,e o sorriso feito,a vontade de vencer,

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