E
numa dessas tardes friazinhas do outono, o sol a pino e as nuvens
desaparecidas, até o cheiro do frio irrita as narinas e o aroma do
relacionamento ocupa um bom espaço nos pensamentos alimentando a ideia de que o
calor vai voltar para compor o cobertor do entendimento enquanto as mãos tecem
as roupas de dormir.
Não
é frio quando os ventos do Sul trazem um chimarrão rodeado de amigos para uma
conversa calorosa. A prosa e os versos,
no verso e no reverso da conversa que atravessa os muros da discriminação põe
por terra a ignorância que impera e emperra, esfria e congela a humanidade em
tempos de cura e libertação.
Encostado
ao muro, sol na cara, chapéu por sobre os olhos. Tem coisas que é difícil de
ver, entender então, quase impossível, O frio da espinha dorsal do preconceito
não tem sol que aquente. Quase dormia quando ouviu um grito do outro lado do
muro: Negro filho da puta! Era domingo, tinha mal chegado da igreja. Não o
negro. Este ficara trabalhando.
Não
é frio quando o que aquece são os corações. Orações são necessárias, mas quando
o friozinho do outono vem e as folhas ficam avermelhadas buscamos refúgio onde
há uma bela palhada, o aconchego de corações que palpitam e compartilham uma
bela poesia para aquecer o dia e uma vida inteira de amizade.
Bateu
forte no peito: Era um filho da puta! Não o negro, ele mesmo. Nascido na zona
do meretrício, agora tem que ouvir as baixarias de quem talvez seja mesmo seu
pai. Não o negro, o que voltara da igreja. De reza em reza busca arrependimento
e confessa os pecados, depois peca para encher o vazio da alma que não se
alimenta. Tem nada não, domingo que vem confessa de novo!
Elairton
Paulo Gehlen
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