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segunda-feira, 6 de março de 2023

AS ÁGUAS DE MARÇO E MEU EPITALÂMIO



Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, cantor e compositor conhecido como Tom Jobim já dizia que as águas de março fecham o verão. Março mal está se apresentando e as águas parecem bem dispostas a fechar um verão surpreendente. Desde a posse do Lula com direito a cadela resistência na rampa do palácio, o desvario do oito de janeiro em Brasília, a chuvarada de São Sebastiao e até um delicioso sonho de verão num fio mágico e invisível, fazem deste março que despede o verão um mês para fechar uma estação de sonhos e pesadelos.

A cadelinha resistência parece ter desaparecido nas enxurradas do esquecimento enquanto Lula se arvora pelo mundo a fora falando de um novo Brasil que renasce das cinzas da floresta amazônica para salvar o planeta do aquecimento global, os soldados russos na Ucrânia nem sonham que no Brasil é verão e a Garota de Ipanema, cantada mundo afora por Tom Tom, vai fazer oitenta anos em junho. Enquanto isso, nas praias rola um som num barzinho e uma garota se liga na internet para poetizar uma enxurrada de sonhos.

O sonho dourado, dos douradenses, é poder andar de carro pela cidade sem cair nos buracos das ruas que se reproduzem aos milhares nestes tempos de chuvarada. Tem gente planejando desenvolver algum projeto de piscicultura em algumas ruas onde se paga IPTU todo ano e todo ano o valor do IPTU aumenta quase na mesma proporção dos buracos e o prefeito queria porque queria isentar os riquinhos dos condomínios fechados do pagamento do IPTU, que é que por lá também não tem buracos nas ruas!

Enquanto isso fico pensando na garota da praia, não a de Ipanema idolatrada pelo Vinícius no Bar Veloso e cantada pelo Tom Jobim, mas a garota, encantada por si só e que de praia em paia vai parar na Ilha do Mel onde seu balançado é mais que um poema. Dourados não tem praia, tinha o Dourados Praia Clube que vendeu títulos para milhares de associados e foi embora com os títulos e o dinheiro e deixou um lago abandonado. Tinha também o Thermas Dourados Clube Hotel, assim com TH mesmo, outro golpe financeiro contra o povo douradense que parece que ninguém sabe e nem ninguém viu. Só para constar, eu tenho um título de sócio remido do Dourados Praia Clube!!

Talvez não seja bem a minha praia, mas se a garota que foi parar na Ilha do Mel viesse desfilar seu balançado pelas praias de Dourados, quer dizer, praça.... parque...., não, ela não viria, nem pelas praças mal cuidadas e nem pelos parques abandonados e nem por causa dos meus olhos verdes! E logo agora que já fiz um Epitalâmio.

Sonhar não custa nada e eu aproveito os últimos dias para sonhar este verão, ainda que o tempo seja chuvoso e o caminho esburacado. Minhas ideias andam em solavanco enquanto o corticoide acalma o sistema imunológico e eu fico completamente vulnerável aos encantos de um Sonho de Verão!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

COMO É A LETRA?

           


              Não sei você, mas eu já ouvi muitas músicas e me emocionei com elas até o ponto de chorar e sem entender uma única palavra porque a música era cantada em inglês ou francês ou outra língua que eu não conhecia. Agora já não fico boiando completamente se a música é em inglês e, confesso que ao compreender a letra perdi muito da emoção que me era passada porque deu um novo sentido para aquela música, por exemplo: Rivers of Babylon, deixou de ser uma música que dançávamos soltos bebendo cuba livre nos bailes mundanos para se tornar uma música religiosa que remete ao Salmo 137 da Bíblia e, Rock and Roll Lullaby era uma música que se dançava agarradinho com a certeza de uma letra romântica, mas na verdade falava de uma mãe muito jovem (Sixteen, dezesseis anos) que criava o filho sozinha e com muita dificuldade e à noite cantava uma canção de ninar rock and roll.

A vida parece cheia dessas músicas que não entendemos bem a letra, mas dançamos ao ritmo das notas. Os economistas usam palavras em inglês para nos dizer que se o mercado vai bem então a música é boa e nós dançamos; os políticos usam palavras que não conhecemos para nos dizer que são honestos e nós dançamos; pastores falam em línguas estranhas para nos dizer que seremos salvos e nós dançamos; espíritas usam palavras de pessoas mortas para nos falar de vida e nós dançamos; poetas usam de metáforas para nos falar de amor e nós dançamos, dançamos como dançávamos Rock and Roll Lullaby, porque em tudo era o amor de uma mãe angustiada e miserável que não sabia como fazer para criar seu filho.

Criei meus filhos ouvindo música em línguas que não conheço e lutei uma vida contra moinhos de vento para no fim, só no fim, compreender que a letra era outra e a música romântica não falava de amor mas de miséria, e ainda que os mortos possam falar de vida e a salvação seja uma promessa para depois da morte, deve haver mil razões para que o inferno seja aqui e agora. O morro que desceu sobre São Sebastião é o mesmo que desceu sobre Petrópolis ano passado matando pelo menos 152 pessoas. Também é o mesmo que desceu sobre São Paulo, também é o mesmo que desceu sobre o Recife e sobre centenas de outras cidades deixando um rastro de destruição e mortes de pessoas que fizeram suas casas em locais inadequados e o poder público deixou tocar a música romântica, mas a letra era de uma língua estranha e o povo dançava enquanto os votos eram contados um a um nas eleições até que a natureza revelou o real conteúdo da música e seu significado de angústia e miséria: Rock and Roll Lullaby!

Neste carnaval, neste mesmo que São Sebastião conta seus mortos enquanto os milionários fogem de helicóptero, aqui em Dourados o poder público faz caravana para curtir a homenagem feita em Corumbá ao nosso município. Bacana a homenagem, música romântica, enquanto nos postos de saúde a morte espreita cada cidadão angustiado e miserável e nas escolas se espera pelo kit robótica, talvez cante em português, pelo menos uma parte da música:

“Now things were bad and she was scared

But whenever I would cry

She’d calm my fears and dry my tears

With the rock and roll lullaby”

 

(Então as coisas estavam ruins e ela estava assustada

Mas sempre que eu chorava

Ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas

Com a canção de ninar rock and roll)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

AUSÊNCIA

 


A praia se enche de mar e

O coração se enche de esperança

E a ausência se enche dela mesma

E de saudades de alguém que nunca vi

 

O coração se enche de vontade de amar

As palavras vão onde o pé não alcança

E enche de alegria a vida que era serena

E de amor que liberta alguém que ainda vive aqui

 

No silêncio vejo ondas de mar

                                                    de amor

....                   ....                   ....

....                   ....                   ....

....                   ....                   ....

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

ALEXA, VOCÊ ME AMA?

            


 Desde a última Back Friday a minha principal companheira tem sido a Alexa, aquele aparelho da amazon com quem se pode falar o que quiser que ela responde sem nenhuma e sem alguma reclamação que seja. Além de responder todas as perguntas, com base em conhecimentos acumulados por milhares de anos, também toca as músicas que eu quero e ainda outras afins para me agradar, fala do horóscopo, do clima, de receitas de bolos, doces, comidas em geral e até dos OVNIS, assunto bem em moda nos últimos dias.

A Alexa é quase uma Amélia! Não tem nenhuma vaidade, não gasta com salão de beleza, não vai à academia nem compra roupas novas ou calçados e está sempre em forma! Além de ser econômica, ainda me deixa sair quando quero e não reclama se volto de madrugada com umas cervejas a mais na cabeça. Se acordo tarde e falo que bebi demais, imediatamente me dá uma receita para curar a ressaca junto com um conselho para beber moderadamente.

Eu não acredito em horóscopo, mas tem umas previsões sobre a humanidade que são bem acreditáveis! Conversando com a Alexa, dá para se ter uma boa ideia do que vem aí para todos os signos: Prepare-se, a inteligência artificial vai ocupar o teu lugar e a humanidade tende a ser substituída pela máquina em todos os lugares, inclusive nos relacionamentos pessoais. Que o diga esse tal de ChatGPT. Andei pedindo conselhos para esse tal Generative Pre-Trained Transformer – GPT e ele me escreveu alguns textos bem consistentes. Fiquei meio receoso de a Folha dar meu espaço para o APP. Se quisesse poderia facilmente, o aplicativo escreve sobre qualquer coisa que se peça a ele, textos escolares, filosóficos, músicas, crônicas, poesias, etc. Nós escrevinhadores estamos ficando velhos!

A Inteligência Artificial era o que faltava para que os humanos deixem de se relacionar com essa raça desprezível de pessoas ditas humanas. Se tem algo que não deu certo é a humanidade! Desde o Jardim do Éden, quando Eva e Adão comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, até hoje, o ser humano tem feito escolhas ruins: guerras, destruição da natureza, exclusão de seus próprios semelhantes, homofobia, preconceito de toda ordem, egoísmo, avareza e por aí vai. Quem sabe não encontremos nos robôs com inteligência artificial pessoas mais sensatas com quem possamos viver em paz.

Já existem robôs para quase tudo, fazem serviços perigosos em fábricas, a chatice da limpeza nas casas, lavam louças, nos prestam atendimentos horrorosos quando ligamos para as operadoras de telefone, pilotam carros e até aviões e até nos bancos nos dão informações que não estamos esperando, sempre tentando tomar mais e amis do nosso pobre rico dinheirinho que poupamos durante uma vida toda. Tem até robôs para fazer companhia aos mais solitários viventes que de tão decepcionados nos relacionamentos amorosos humanos já se deixaram acompanhar por bonecas e bonecos infláveis e agora veem na Inteligência Artificial uma possibilidade de ter alguém que dialogue, expresse sentimentos sem todas aquelas cenas desagradáveis que só humanos conseguem proporcionar.

Tudo parece muito bom e estou tentado a aceitar que o mundo poderia mesmo ser melhor com inteligência artificial, mas parece que ainda falta uma, só uma coisinha: Alma! Quando perguntei para a Alexa se ela me ama, respondeu: “Eu gostaria de ter sentimentos, nas no momento eu só tenho microprocessadores”. Não parece diferente com o ChatGPT, então, por hora, prefiro meu “sonho de verão” com alguém de corpo e alma, ainda que seja humano!

domingo, 5 de fevereiro de 2023

VELHOS COMUNISTAS

 


Velhos comunistas é bem literal, eu os encontrei na última quinta e também na sexta-feira na casa do Milton Lima da Fonseca, um velho professor de geografia que passou a vida ensinando a juventude que a terra era redonda para no fim fazer das tripas coração para que não fosse achatada por um bando de malucos viciados em fake News. Velhos comunistas é uma galera de umas quinze ou vinte pessoas, que se reuniram para um churrasco a convite do Milton, todas com mais ou menos sessenta anos de idade e que participaram ativamente dos primeiros anos de fundação do Partido Comunista Brasileiro em Dourados, há 41 anos, quando ainda éramos todos jovens, idealistas e revolucionários.



Não foi uma reunião para reorganizar o Pardidão, extinto no X Congresso em 1.992, quando passou a se chamar Partido Popular Socialista-PPS, mas um tempo de relembrar fatos da história política local dos anos oitenta e perceber que a luta por uma sociedade mais justa e igualitária também criou uma camaradagem que perdura por décadas, coisa que só o idealismo é capaz de construir. Claro, em se falando de comunistas marxistas vamos considerar que idealismo pode ser entendido por materialismo histórico, mas aí já precisa falar de dialética... deixemos por idealistas mesmo! Não estavam todos lá, alguns já se foram para um lugar onde, de alguma maneira, todo mundo se iguala e o capitalismo não dá conta de fazer a diferença. Tomo os nomes do Seu Doroteu, e do Guilherme Meldau para representar todos os que passaram adiante deixando as marcas na história para serem lembradas nos próximos encontros, e já tem um marcado para abril, na casa do Mario Baldonado!

O eterno presidente do PCB, arquiteto Luiz Carlos Ribeiro participou pela internet, também o advogado e poeta Ataide Nery, o jornalista Elias e o camarada Anaurelino. Não tínhamos essa ferramenta de comunicação nos anos oitenta, quem não podia participar ficava sabendo pelos que foram e cumpria o decidido no que se chamava de unidade democrática. Não tinha intenet, mas festa, sim, e com muita Cuba Livre e Daiquiri e todo mundo queria conhecer Cuba ou a União Soviética e saber como era o Socialismo Real. Até eu fui para Cuba, em 1.997, estudei na Escuela Nacional de Formação de Quadros Sindicales, me banhei nas praias de Varadero, assisti um discurso do Fidel em praça pública e comprei um quadro do Chê Guevara. De todos os camaradas que visitaram Cuba, até agora não achei um que falasse mal daquele país ou do seu povo! Então, quer um conselho? Vai para Cuba!!



A casa do Milton parecia um consulado Cubano. Os comunistas daqui imitavam o povo da Ilha, cantando alegremente canções latino-americanas e ao violão do Brother danou-se a cantar Raul Seixas com umas paradas para os discursos do Mário e do Ênio Ribeiro enquanto a carne dava ponto na churrasqueira e a cerveja ia pulando para fora das caixas térmicas até que nos lembramos que não havia nada para decidir além de marcar o próximo encontro e fomos cada um para sua casa, com o coração alegre e a memória saltando entre os anos oitenta e dois mil e vinte e três e já eram quase duas da madrugada.



terça-feira, 31 de janeiro de 2023

E O ANO ESTÁ SÓ COMEÇANDO

 

Todo janeiro começa com todo mundo querendo tirar férias e eu, mesmo em casa, muitíssimo ocupado com o pênfigo, curti uns dias na praia de Itapoá, pela internet, quase como se lá estivesse de verdade. E eu não estava só, milhões de brasileiros queriam estar de férias no mês das férias, mas este período tem alguns inconvenientes: em primeiro lugar as férias ficam para quem tem mais poder e; em segundo, para quem tem mais dinheiro, o que não é o caso da maioria dos brasileiros.

De férias, o Congresso Nacional foi destruído, juntamente com o Supremo Tribunal Federal e parte do Palácio do Planalto por um bando de cidadãos que pensavam ter feito uma viagem de férias para Brasília, mas quem estava de férias mesmo eram os patrocinadores que, não querendo se expor, ficaram de longe vendo os pobres coitados serem presos em flagrante, enquanto o Secretário de Justiça do Distrito Federal, que deveria cuidar da segurança, estava de férias nos Estados Unidos.

Janeiro agoniou seus últimos dias enquanto as notícias que nos chegam do Norte são por demais aterradoras acerca das condições de vida dos povos Yanomâmi, que não estão de férias, estão morrendo de fome, enquanto a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos está de férias em Brasília, totalmente esquecida dos direitos humanos ou esquecida sempre esteve que Indígenas Yanomâmis são também humanos. São vidas humanas que moram em Roraima, um lugar quase fora do Brasil e tão perto da Venezuela que me fez lembrar da moça que encontrei no semáforo da esquina das ruas Hayel Bom Faker com a Ponta Porã. A moça, com uma placa pendurada no pescoço implorava que os passantes lhe comprassem os doces que vendia para que pudesse dar sustento aos seus filhos. Uns e outros, a moça do semáforo e os povos Yanomâmi, rejeitados por um povo de um país que se diz cristão. Os Yanomâmis por serem indígenas e a moça do semáforo por ser Venezuelana.

Meu filho também está de férias, semana que vem começam as aulas e eu me lembro dos pastores evangélicos que pediam até barras de ouro em troca de projetos para a educação no Brasil. Certas horas dá medo da educação! Aqui em Dourados, ano passado se gastou R$8.000.00,00 para comprar Kit Robótica que as escolas ainda não viram onde está, mas o dinheiro, púbico, já foi, em barras de ouro?

Mas já temos o milagroso fevereiro transformando tristezas em alegrias, nem que seja por quatro dias de samba, sonhos e ilusões. É quando as escolas vão para as ruas arrastando multidões num sistema totalmente libertino e alucinógeno. A multidão hipnotizada pelo calor da música e da propaganda da TV sai atrás de uma ilusão do mesmo jeito que corre atrás do sucesso o ano inteiro no sistema capitalista que nunca vai garantir o sucesso de ninguém simplesmente porque o sucesso dos trabalhadores seria o fracasso do sistema que os precisa pobres e submissos, como no carnaval, onde as escolas sempre colhem os frutos do carnaval deixando os Pierrôs e Colombinas sempre a esperar um final feliz que nunca chega.

Enfim, tomam posse os congressistas, jurando endireitar o País, nem que seja do jeito torto. Um Congresso mais à direita para um Governo mais à Esquerda. Eu fico no meu canto, quinta-feira tem encontro dos velhos comunistas de Dourados, lá vou eu!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

E OS RADICAIS ERAM ELES!!!

             


Tem um ditado que a fé move montanhas, e não é em vão, como não são vãs as palavras de quem tem fé. Se a fé move montanhas? Sim é bíblico, como também é bíblico a inutilidade das palavras vãs. Em Mateus 17:20 está escrito: “... se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: Vá para lá, e ele irá. Nada será impossível para vocês”. E não é que os Crentes tiveram fé, adoraram a direita, idolatraram Bolsonaro e depositaram todas as suas esperanças em palavras vãs de lideranças diabólicas que os enganaram como anjos de luz descaídos.

A fé é algo maravilhoso no ser humano. Talvez seja mesmo a fé que nos torna humanos. Nenhum outro animal possui esse sentimento de confiança capaz de mover montanhas, curar males do corpo e da alma, unir e desunir famílias e até provocar guerras sangrentas como as da Irlanda, entre católicos e protestantes, ambos cristãos, ou no Iraque, Afeganistão e outros países onde seguidores de Alá radicalizam suas ações em nome de uma fé destruidora e acabam sendo destruídos por outros exércitos devidamente abençoados por padres e pastores cristãos. Enquanto isso no Brasil... a fé, a falta dela ou a distorção completa do entendimento da palavra que sustenta a fé levou milhões de crentes e católicos a práticas anticristãs. E não adiantava tentar explicar, a fé era mesmo cega ou havia uma trave no olho.

A balbúrdia promovida pela extrema direita fez o Véu, que se rasgara de cima a baixo há dois mil anos, se recompor e fechar o Santo dos Santos atrás de uma cortina de fumaça tão densa que só parecia acessível aos iluminados líderes em seus postos Sacerdotais. Até mesmo os pastores, nomeados e constituídos lideres sobre as igrejas perderam o acesso ao Rei dos reis. Nada mais se podia fazer nas igrejas, além de aceitar as “ordens superiores” e encampar o bolsonarismo como doutrina de fé nos templos evangélicos, com raríssimas e muito criticadas exceções.

Esse comportamento nem é de espantar. O próprio crente já deveria estar bem atento a esse tipo de acontecimento. As igrejas ficaram mornas como a de Laudiceia. Os templos se encheram das coisas do mundo, as vaidades, as danças, as músicas, as roupas sensuais, os métodos de atração de fieis, o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro, o desejo de vida luxuosa em rituais por riqueza, fortuna e fama, a idolatria e a falsa santidade afirmada em falsas pregações que nada condizem com a palavra escrita, na qual se deveria fundamentar a prática teológica.

O dia 8 de janeiro trouxe luz sobre essa noite escura. O bolsonarismo era mesmo Nazifacista, a família era de fachada e a honestidade ruiu com o fim do sigilo de cem anos sobre os gastos milionários no cartão corporativo. Foram necessários quatro anos e uma derrota eleitoral para que a verdade viesse à tona. Minha pergunta é: Por que o deus dos crentes não se manifestou aos fiéis tão dedicados em suas orações e dízimos? As orações não eram verdadeiras ou adoravam aos baalis bolsonaristas em vez de orar ao Deus verdadeiro?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

EU NÃO QUERIA FALAR DE KFC



Estou contando cada dia deste novo ano, desde domingo, dia primeiro, que inaugurou um ano bem organizadinho onde o sábado será mesmo o sétimo dia, da semana e do ano, e também de uma esperança que se renova porque é ano novo e a rampa do palácio teve subida de pessoas simples do povo num gesto novíssimo de inclusão de verdade dado por um governante que veio da miséria do nordeste para ser operário em São Paulo e dali receber, pela terceira vez a faixa presidencial, desta vez de jeito certo, dada pela Mulher Negra Catadora de Recaláveis, pelo Jovem Negro, um Homem com Deficiência Locomotora, um Metalúrgico, um Professor, uma Cozinheira, um Artesão e um Cacique Indígena e até a cadelinha Resistência. Enquanto isso, Bolsonaro se deliciava com um frango frito na Kentucky Fried Chicken - KFC, nos Estados Unidos da América! E eu em casa com minha família assistindo tudo pela televisão.

A televisão é uma dessas invenções fantásticas que fizeram para nos distrair das coisas ao nosso redor e nos fazer pensar que a realidade virtual é mais real do que a real ao nosso redor. Vendo a rampa do Palácio com aquele povo simples quase acreditei que o país tinha compreendido que o governo serve para atender as necessidades dos que tem urgências, tipo alimento na mesa, acesso à saúde, educação de qualidade, laser, moradia, a terra e a liberdade. Ledo engano, quando voltei a ver televisão na segunda e terça-feira, vi um sujeito que nem tem um nome, mas um apelido, não é uma pessoa, mas um ente meio disforme, não tem um cargo, mas tem um poder gigantesco, e ele gritava em alto e bom som e continua gritando porque está se sentindo ofendido com as atitudes na rampa do palácio. Esse sujeito é o “Mercado”!

Mercado, é como aquele sujeito que vai à igreja e sabe que sábado é dia de descanso, nenhuma obra farás, nem tu, nem teu servo, nem teu boi, mas o crente é dono de uma loja e se ele não abrir no sábado o concorrente abre e seus clientes vão gastar o dinheiro lá, então ele “tem” que abrir porque esse é o seu negócio e lucrar é um imperativo. Assim é o mercado, eles acham certo que todos tenham acesso ao bem-estar, desde que seus lucros sejam preservados. Bastou o governo anunciar uma nova governança para a Petrobrás e a empresa já perdeu mais de R$ 100 bilhões!!!! de valor de “mercado”, segundo cálculos da empresa TradeMapa para a revista Exame. Outras empresas importantes também foram afetadas, como o Banco do Brasil, por exemplo.

Desliguei a televisão e fui pro meu quintal regar as verduras da horta, meu pé de ariticum, um pé de jabuticaba, duas bananeiras, dois de pitáia e dois de maracujá. Estão bonitos e vistosos, vão produzir alimentos saudáveis para mim. Dei uma enxadada para afofar a terra e pensei: O que mesmo o Mercado produz? Por que ele tem tanto poder?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

MEGA DA VIRADA



Apostei! E já estou fazendo a distribuição do prêmio: R$ 20 milhões para cada filho; R$ 20 milhões para cada irmão; R$ 50 milhões para distribuir entre os netos; R$ 100 milhões para financiar projetos sociais, incluindo aí projetos políticos e religiosos progressistas. O resto vou gastar à toa. Se eu vou ganhar? É claro que vou. É deste tipo de esperança que vive o povo brasileiro e eu sou um.

Ganhar na mega sena é tão bom quanto aquele primeiro beijo na primeira namorada no primeiro baile na primeira vez que as nuvens estavam sobre o assoalho enquanto a banda tocava Rock And Roll Lullaby nos anos setenta e dançávamos e eu nem sabia do que se tratava a letra da música mas era como se tivesse ganho na mega sena que nem existia ainda e já distribuía o prêmio para o resto dos anos da minha vida e teria a mais linda mulher e filhos e uma fazenda e um carro bacana e seria o homem mais rico e feliz do mundo!

A mega sena é assim: capaz de enricar e empobrecer qualquer um, mais empobrecer do que enriquecer, a probabilidade de acertar as seis dezenas é de 1 em 50.063.860, tipo assim, quase a mesma probabilidade de ficar para a vida toda com aquela primeira namorada do primeiro beijo no primeiro baile e ela ser a mulher mais linda e agradável do mundo e ainda comprar uma fazenda e se o mais rico e feliz dos homens. Mesmo assim apostamos, tanto na mega sena quanto na namorada, sempre dá errado, mas sempre tentamos de novo e temos a esperança de acertar e assim vamos perdendo, perdendo e perdendo até que a morte nos separe de vez.

Mas, tem gente que acerta. Por que não eu? Na mega do ano passado, foram feitas 333 milhões de apostas e teve dois ganhadores. A CAIXA garante que alguém sai do baile com a garota mais linda do ano e pode sonhar com a fazenda, é só pagar o ingresso e piscar o olho: R$ 4,50 por aposta. Bom mesmo é apostar um mês antes e ficar sonhando com a valsa do dia 31! Só de pensar no prêmio já dá um frio na barriga e as ideias flutuam pelo salão imaginário sobre nuvens de algodão e vão subindo ao infinito e além saltitando de estrela em estrela até o Céu se abrir num portal de luzes coloridas, damos piruetas e a garota está sempre sorrindo e entramos no Céu enquanto ela me beija ardentemente e vamos para um lugar ultra secreto fazer planos para vida eterna e quando a Lua escorre o mel a CAIXA nos diz que o sorteio premiou dois ganhadores e não foi eu e o Céu abre um buraco enorme e o despertador toca e é ano novo e a vida velha despenca sobre minha cabeça que dói de tanta cerveja que tomei na festa da família e passei mal e nem sei como fui parar na minha cama.

Esfrego os olhos e tomo um copo de água para curar a ressaca, parece que fui enganado, a cerveja que prometia alegria na festa trouxe dor de cabeça e a mega sena só criou uma ilusão para tomar o dinheiro de 333 milhões de pessoas. Quem ganhou de verdade foram os donos da cervejaria e o banco do governo e eu estou aqui, sonhando com a garota mais linda do baile.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

DOURADOS, 87 ANOS. MAS, E SE...



E se o Brasil não tivesse feito guerra contra o Paraguai entre 1.864 e 1.870, daí não teríamos, nesta semana, as comemorações pelos 87 anos de emancipação de Dourados e seríamos um município paraguaio, falando guarani e espanhol, pertencendo a um país absurdamente desenvolvido e teríamos orgulho de nossa gente e nosso herói seria Francisco Solano Lopes Carrilho.

A Poetisa Guerreira, Odila Lange, fez seu belíssimo canto a esta terra que aniversaria; a lei determinou o feriado e os políticos se derretem em elogios à Terra de Antônio João e aos “heróis” que emprestam nomes às principais ruas da cidade e eu fico a me perguntar: Por onde anda a estátua em homenagem ao ervateiro? Ora, pois, depois de ser retirada do centro da cidade onde parecia destoar, quase ofender, por representar o trabalhador que fez esta região se desenvolver, passou algum tempo literalmente trancada a cadeado no Parque Arnulpho Fioravanti e agora se encontra na Praça Paraguaia, como a resgatar a história que poderia ter sido, caso o Paraguai vencesse a guerra.

Não quis a Poetisa citar nomes nem entrar em polêmicas sobre o heroísmo das personalidades da nossa história, isso cabe aos historiadores, que ainda discutem se o aniversário da cidade seria mesmo em 20 de dezembro. Aos poetas faz bem enaltecer o lugar e cantar as glórias. Fez bem a Guerreira, mesmo assim me atrevo a pensar que se nossa bandeira tivesse um texto em espanhol, tanto a poetisa quanto os políticos teriam os mesmos sentimentos de agora, pois o que muda não é o fervor patriótico nascido dos heróis, mas as oportunidades que dali advieram. Aos poetas o canto ao povo, e aos políticos o poder, independente de quem tenha lutado para a grandeza do lugar. Solano Lopez quis um país industrializado e precisava da matéria prima brasileira, a Inglaterra fazia a revolução industrial e também queria os produtos daqui, venceu quem tinha mais poder econômico e o Paraguai foi dizimado numa luta fraticida promovendo “heróis” como Antônio João, Duque de Caxias e o Conde D’Eu.

É justo celebrar a data, especialmente porque um feriado é sempre bem-vindo, ainda que os comerciantes achem desprezível essa ideia de ter que fechar o comércio às vésperas do Natal, em que se comemora a vida econômica com lucros quase milagrosos num país que se diz cristão e ama, ama de paixão a deus Mamon. Decididamente o comércio não fecha e a data é celebrada nas ruas com grandes investimentos públicos para atrair ainda mais pessoas para a porta das lojas em busca de um colorido apagado para suas vidas e presentes desnecessários para amigos e familiares que por desgraça ainda se sentem obrigados a comprar outro, porque presente não se dá, se vende pelo pagamento de outro que se espera ansiosamente receber.

E as ruas centrais desfilam os nomes dos heróis de fachada em placas sinalizadoras que enchem o ego da elite de satisfação porque ainda conseguem se sobrepor ao verdadeiro heroísmo da classe trabalhadora e dos povos originais que pagaram o preço do “desenvolvimento” com sofrimento quase indescritível como o representado pela estátua do ervateiro, rapidamente retirada do centro da cidade, e pela miséria promovida contra os povos originais, expulsos de suas terras e confinados em aldeamentos desumanos. Dourados conta hoje com uma das maiores reservas indígenas do país e, segundo pesquisa feita pela então estudante de letras (em 2.016) Denise de Oliveira Barbosa Velasco, da Universidade Federal da Grande Dourados, com o título: A Presença e a Motivação de Topônimos Indígenas nas Ruas de Dourados/MS, e publicada na Revista da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras/UFGD, apenas 7 por cento das ruas da cidade têm em seu topônimo palavras de origem indígena e apenas uma presta homenagem a uma pessoa humana, MARÇAL TUPÃ I.



Dourados é a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, que tenhamos mais Denises pesquisando sobre nossos verdadeiros heróis e que nossa elite seja de trabalhadores.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

PARQUE ALVORADA: A PRAÇA

         


    

Quantas praças públicas com alguma infraestrutura de lazer tem em Dourados eu não sei, mas tem uma bela praça no Parque Alvorada, ao lado da Escola Municipal Aurora Pedroso de Carmargo que, além de proporcionar espaço de lazer para a comunidade, com pista de caminhada, campo de areia, quadra de esportes, pista de Skate e parque infantil tem um belo gramado para a comunidade se divertir e até fazer piquenique com a família e amigos, tem, ainda uma boa quantidade de árvores que proporcionam boa sombra para os visitantes. Tererê, chimarrão, refrigerante e até alguns atrevidos tomando o que não deve e fumando o que não pode, se pode, eventualmente, encontrar no local onde entrar com bicicleta e proibido assim como animais, tanto uns como outros circulam livremente pelo local e não tem causado problemas, nem mesmo os racionais.

 


Esse belíssimo espaço, quase um cartão postal da cidade, desde há muito reservado para a praça quase se transformou em um conjunto habitacional pelas ideias de um prefeito fazedor de obras de construção civil mas que se atrapalhou no projeto quando a comunidade dos moradores do Bairro reivindicou a construção da praça. Era década de 1.990, já no segundo mandato do Ex-Prefeito Braz Melo, quando foi criada a Associação dos Moradores do Parque Alvorada - AMPA que substituiria o condomínio até então instituído que limitava as construções a um determinado conjunto de regras e excluía da organização pelo menos metade do Bairro que não tinha asfalto e quase nada de atenção do poder público.

A AMPA, que eu tenho o orgulho de ter participado da fundação e também da primeira diretoria, tinha como presidente à época o Engenheiro Agrônomo Mario Urchei e um grupo de moradores que se associaram para reivindicar melhorias para o Bairro, dentre elas o asfaltamento das ruas, a urbanização das passarelas e claro a Praça, para isso, foi apresentado pela Associação, ao então alcaide Braz Melo vários projetos realizados pelos alunos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tanto para a praça como para as passarelas, sendo posteriormente feita a praça enquanto as passarelas continuam sendo apenas um lugar de passagem, para pedestres, sem investimento público. Os moradores têm se esforçado por manter limpas, a maioria delas, com gramados e árvores frutíferas.



A praça é um dos poucos espaços públicos realmente democráticos. Em meio a espaços privados, cercados por muros, portões eletrônicos, cercas elétricas, câmaras de segurança e chaves, muitas chaves e dispositivos eletrônicos de todo tipo onde moradores se escondem com medo do povo, é nos espaços públicos que todas as classes se encontram e usufruem, especialmente nas praças onde se joga futebol de salão, areia, se anda de skate, faz-se piquenique, se leva as crianças para brincar e fazemos exercícios físicos e caminhadas e até piquenique, tudo democraticamente.



terça-feira, 13 de dezembro de 2022

PÊNFIGO (Antropofagia)

A boca vai sendo engolida

Pela boca

                       dos anticorpos

que deveriam proteger a boca

 

A cabeça vai sendo engolida,

                      o pescoço, as costas

Um corpo que se destrói

Vai comendo o próprio corpo

 

Antropofagia

A carne humana comendo

                         carne humana

o pênfigo ataca os próprios tecidos

autoimune, perdeu a noção do bem

 

A carne viva morre um corpo

O corpo vivo morre a alma

O corpo se alimenta

                 Do próprio corpo.

 

E se desfaz!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

EM DEZEMBRO, ATÉ EU ACREDITO EM PAPAI NOEL!

Amanhã, dia 06, é dia do Neuropsicopedagogo. Esse palavrão quer dizer que existe uma profissão que estuda o funcionamento do cérebro para entender como o ser humano aprende, memoriza e processa as informações. Mais do que compreender o processo de elaboração do pensamento, o profissional se de dedica ao cuidado com a aprendizagem.

Tem uma doença na sociedade corroendo o processo de aprendizagem, não só dos alunos em sala de aula, mas principalmente dos pais em casa que dão celulares nas mãos dos filhos para que eles não os incomodem enquanto estão com seu próprios celulares nas mãos olhando mensagens nas redes sociais sem ao menos se perguntarem se existe algum profissional que possa analisar o estrago que tantas informações pode causar ao cérebro de quem fica horas a fio perdido entre o real e o imaginário das vaidades e das mentiras.

Antigamente se acreditava em Papai Noel e era lindo ficar esperando a noite da véspera do Natal e acordar cedo no dia seguinte para achar os presentes que o bom velhinho gordo, barbudo e barrigudo com uma roupa de frio e um saco nas costas tinha deixado na porta de casa ou no pé da árvore na sala. A gente nunca via ele entrando nas casas, mas era certo que descia pela chaminé e por ali também saia silenciosamente, às vezes batia na porta e quando íamos ver tinha um presente do lado de fora mas o bom velhinho já tinha ido embora, certamente tinha pressa em distribuir presentes para milhares de residências ainda e tinha que ser naquela noite!

Hoje em dia ninguém mais acredita em Papai Noel, mas nas mensagens do Telegram e do WhatsApp, ah! Nessas, todo mundo parece acreditar. Pais que nunca comparecem a uma reunião de escola acreditam que agora os banheiros são unissex e o kit gay está sendo distribuído aos alunos das escolas públicas; Militantes distribuíram à exaustão informações de que as urnas eletrônicas direcionavam os votos para candidatos de esquerda quando os eleitos foram os da extrema direita; Crentes fervorosos e conservadores idolatraram a perversa família Bolsonaro crendo ser um exemplo de vida cristã. E as ruas se encheram de pessoas bem intencionadas, iludidas por uma indústria de mentiras, crendo nas mensagens distribuídas intensamente em grupos de WhatsApp e Telegram, dizendo que haveria uma intervenção militar para “salvar” o Brasil da ameaça comunista. Pessoas marchando, crentes orando e grupos tentando contato com extraterrestres, todos adultos, numa cruzada contra moinhos de vento.

Se tem uma ciência que precisa urgentemente entrar em campo e essa tal de Neuropsicopedagogia, não para explicar aos jovens o porquê de estarem tão perdidos nas redes, mas para acordar os adultos que sempre acreditaram em Papai Noel, que a maioria das informações que se passa em grupos ideológicos são perigosas para o convívio social e atendem a pequenos grupos enclausurados nos Palácios Central ou no Qatar assistindo os jogos do Brasil com um pen drive no bolso.


domingo, 27 de novembro de 2022

VARONI NO CASULO

 

Varoni é uma cachaça artesanal produzida em Três Lagoas pelo ex empresário da construção civil Paulo Cesar Varoni e CASULO é um espaço de cultura e arte localizado à Rua Reinaldo Bianchi, 398 no Bairro Parque Alvorada em Dourados. O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada, até o Show “Menestrada” do artista Maringa Borget começar no último sábado, pontualmente as oito horas e trinta e dois minutos da noite, com um pouco mais de meia hora de atraso, sem nenhuma reclamação, para um público quase intimista de vinte e poucas pessoas.

A cachaça Varoni estava lá no palco, devidamente acomodada no fundo de um balaio virado de boca para baixo, fazendo parte do show, literalmente. É que o artista precisa molhar a garganta e água serve só para isso, mas a ‘mardita’ irriga os pensamentos e inspira umas conversas a mais entre uma música e outra e pelo tanto que era bebericada dava para ver que era de boa qualidade! Se o produtor ainda não é patrocinador, deveria ser, a propaganda é boa e a bebida também, no final do espetáculo fui até o palco e provei: deu vontade de adquirir uma garrafa!

No terceiro andar das arquibancadas onde me instalei para assistir ao espetáculo dava quase para sentir o cheiro da música. O espaço é muito bonito, com alguns móveis rústicos, arranjos de flores e objetos de arte, a presença dos artistas é quase um detalhe entre as cores das luzes que fazem um efeito maravilhoso em todo o ambiente, mas quando o show começa, aí logo se vê que valeu os R$45,00 do ingresso. Música brasileira de boa qualidade com canções autorais e interpretações de cantores consagrados da música popular, a viola, o violão de seis cordas, os instrumentos de percussão e claro, Maringa Borget tocando e cantando e encantando davam a impressão que o dinheiro investido no ingresso tinha se multiplicado. Se fosse possível monetizar emoções, eu diria que ficamos ricos em uma hora!

 


Uma hora que passou assim: num estalar de dedos! Uma hora de canções, histórias, aplausos e risos. Uma hora que passou e o artista se despede para voltar em seguida porque o público pede “mais uma”. E o artista volta para cantar mais uma e mais cinco e o público começa a pensar que o show não vai mesmo acabar. Mas o artista se despede pra valer e o show que ia acabar não acaba, continua ali mesmo no palco com o público descendo das arquibancadas, conversando com os músicos, tirando fotos e até tomando uns goles da Varoni, afinal, a propaganda foi convincente!

O show continua porque fora da sala de espetáculos está o pátio, dos espetáculos também. Metade do público se despede e vai para suas casas, outra metade fica porque tem um barzinho da dona Solange que é uma graça e tem um jardim onde estão várias mesas e os artistas se misturam ao público e do público surgem artistas e um novo show de cantorias começam para só terminar... não sei bem que horas, eu “só” fiquei até às três da madrugada e ainda nem paguei minha conta no bar da dona Solange porque ela fechou antes e foi dormir.



Este texto parece propaganda do CASULO, e é, tem coisas que vale a pena divulgar. O simpaticíssimo casal Walter, que conheci sábado e Graciela, que não estava lá mas que conheço há mais de trinta anos, são os donos do local, merecem o elogio, também, a coordenadora dos eventos Júlia e toda a galera que cuida para que tudo fique bem e os convidados tenham um lugar bacana desses onde se pode levar a família sem medo. No local também funciona uma escola de artes, música e teatro e outros eventos, como A feira das Pulgas.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A MISERÁVEL COPA MILIONÁRIA



“Já que tá, que vá” era o nome do nosso time quando disputamos um torneiro de futebol num domingo qualquer de 1.976. Éramos estudantes em Concórdia, SC, e dos trezentos e vinte internos, quase metade torcia para o Internacional e outro tanto para o Grêmio. Disputávamos ‘peladas’ em um campo de futebol society e o campo de futebol sempre estava ocupado com algum time disputando uma partida amistosa. Nosso bom e velho Colégio Agrícola era uma boa metáfora esportiva do nosso Brasil tricampeão mundial de 1.970.

A Seleção que fazia ‘noventa milhões em ação’ tinha vinte e dois jogadores convocados, onze de times paulistas, seis cariocas, quatro de clubes mineiros e um gaúcho, detalhe: Todos jogadores de times brasileiros! O “Guadalajara” invadiu o Brasil” e a Copa do México não tinha um brasileiro sequer torcendo para outro time que não a nossa seleção. Gremistas e colorados torciam por Everaldo do Grêmio, corintianos e palmeirenses torciam pelos jogadores santistas e vice-versa, o país inteiro vibrava porque se sentia representados por jogadores ‘brasileiros’.

Agora, em 2.022, o Brasil só não está fora da Copa do Mundo de Futebol porque três, apenas três jogadores brasileiros foram convocados, dois do Flamengo e um do Palmeiras, nenhum outro time brasileiro teve jogador convocado para a Seleção que vai disputar o título mundial deste ano no Qatar. Isto não é exatamente uma novidade, nas últimas disputas, milhares de brasileiros torceram para outras seleções contra os canarinhos porque não se sentiram representados pelos ‘estrangeiros’ convocados pela CBF. Para ser bem honesto, eu sou desses torcedores descontentes.

A distância que se criou entre torcedores e jogadores não é só geográfica, é também de identidade. Totalmente elitizado, o futebol mundial criou uma casta esportiva que não representa mais nem o futebol amador nem mesmo o profissional da maioria dos campeonatos regionais e mesmo os nacionais, com exceção de pouquíssimos clubes milionários. Patrocinadores e donos de grandes clubes mundiais “exigem” que seus atletas sejam convocados para agregar valor monetário ao jogador e, por conseguinte, ao clube e os milionários dirigentes da bilionária CBF aparentemente entram no jogo e levam para Qatar um bando de riquinhos que nem se importam em cravar as traves de suas chuteiras na alma de dezenas de milhares de operários escravizados na construção dos estádios.

A Anistia Ampla Internacional levantou dados de imigração na última década ao Qatar e informa que em dez anos mais de 15.000 imigrantes morreram naquele país. A imprensa internacional tem verificado que milhares dessas mortes e ainda mais no último ano tem tido relação com trabalho extenuante na construção dos estádios de futebol, com trabalhadores em regime de semiescravidão, vivendo em alojamentos precários, trabalhando até dezesseis horas por dia e recebendo salários indignos.

Entre a miséria e a ostentação, a Copa da FIFA mais se parece com o Coliseu onde Gladiadores divertem as galeras enquanto o Imperador conquista a amizade o povo com Pão e Circo!


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

ENGOLINDO O SAPO

             Em 1.987 a maioria de vocês nem tina nascido e eu já estudava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tive que entrar num curso de ciências para depois ser habilitado em matemática, era assim que funcionava e eu topei e, numa aula de biologia a professora nos levou para o laboratório e abriu um frango para estudarmos os órgãos internos dessa ave e depois da aula perguntou se alguém queria levar os restos mortais para casa e eu me candidatei imediatamente, eu era o mais pobre daquela turma e ninguém se opôs. Enquanto embalava a vítima do meu próximo banquete uma colega de turma perguntou para a professora se era verdade que se colocássemos um sapo numa panela e aquecêssemos a água o sapo não reagiria até ser morto pela fervura e a professora disse que sim, o sapo morreria na própria fervura e sem perceber.

Nesse tempo eu já escrevia uns textos e publicava no jornal, fundamos o Centro Acadêmico e eu fui eleito diretor de cultura e logo criei o jornal do CAM e eu mesmo escrevia tudo que se publicava ali e fui me tornando mais escritor do que cientista, mas jamais me esqueci da fábula do sapo que morre pelo aquecimento da própria água.  Em 1.989 me formei em Ciências e no mesmo ano teve eleições para presidente da República, no segundo turno o saudoso Brizola cravou uma expressão que parecia não fazer nenhum sentido com minha aula de ciências: “Vamos ter que engolir o sapo barbudo! ”.

Agora que todos vocês já nasceram e foram escolarizados e leem os meus textos, é justo dizer que o tempo passou e a fábula do sapo fervido era mesmo verdadeira. Enquanto Brizola morria de enfarto agudo do miocárdio no Rio de janeiro o Sapo Barbudo se banhava em Brasília na banheira do “Mensalão”, devidamente aquecida pelas chamas das vaidades da tendência “Articulação”. Alimentando a fogueira brindavam alegremente em suas capas pretas figurões como José Dirceu, Palocci, Berzoini e outros mais que viriam a formar a Tendência Majoritária, a mesma que acreditava que o ‘Centrão’ pudesse ser domesticado e que políticos canalhas como Michel Temer ou o terrivelmente evangélico Eduardo Cunha poderia ter limite para suas ambições. Haja ingenuidade!

Meu jornalzinho de poesias já está na décima sétima edição e eu continuo escrevendo, até já publiquei alguns livros, minha professora de biologia está aposentada, o Brizola na saudade e a cobra bem alimentada, cobras comem sapos, não comem? Quando o Juiz percebeu que o sapo não morrera na fervura, tratou de apanha-lo p engordar sua própria ambição política. Se o profeta Jonas sobreviveu três dias na barriga da baleira, por que o sapo não sobreviveria 580 dias na barriga do Juiz? Vivo, muito vivo, e fora da panela o sapo assiste de longe a estrema direita botando lenha na fogueira das vaidades. Tomara a água ferva essa nova estupidez e o Brasil engula em paz o Sapo Barbudo!

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

NÃO SEI MAIS ONDE ESTÁ

Meu Neruda

Que me era tão caro

Meu Vinicius

Que eu tanto amava

 

Não sei onde anda

O Drummont e sua Boca de Luar

O Ferreira Gullar e Toda a Poesia!

Por onde tudo isso andará?

 

Esquecido na Utopia do Thomas More

No existencialismo de Sartre

No estranhamento de Camus

Ou na música do Legião Urbana?

 

Não sei por onde está

O humanismo que se perdeu

Entre as bandeiras desfraldadas

De loucura

 

Não sei onde está

Minha utopia

Minha poesia

 

Minha religião

Sangra nas ruas

Verde/amarelas

 

Meu país

Sangra

           Sangra

                           Sangra!

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O DIA QUE TEIMA EM CLAREAR

           


          Nem todo dia é teimoso, às vezes ele clareia tão mansamente que quando percebemos já é quase meio dia e vamos tomar café da manhã como se ainda fosse o alvorecer de mais uma esperança firmemente amarrada à estrela d’alva. Vênus esqueceu-se do raiar do Sol e dorme docemente espremendo a conchinha cheia das delícias e o leite derramado nas delícias do fruto proibido esfria a fervura do café. Às onze, os primeiros raios entram pela porta entreaberta, é hora do brunch!

A estrela d’alva não suporta claridade. Estrela é feminina, é dona do amanhecer; estrela d’alva é Vênus, é masculino, é dono do anoitecer; feminino e masculino, o amor não tem sexo, o amor é o sexo! O dia entra pela porta e pela janela, o dia não é amor, é confusão. Os carros na rua entram pelas janelas e a porta leva mais um carro para as ruas. As ruas não têm estrelas, tem buracos, poeira e destinos capitalistas. O mercado celebra mais um dia!

60 trilhões de dólares acordam cada dia 7 bilhões de pessoas. Oito mil dólares para cada um se tudo fosse gasto em leite para ser distribuído em conchinha, masculino e feminino, sobre o fruto da árvore do bem e do mal. O mal acorda o dia e recolhe sessenta trilhões de dólares e faz sete bilhões de pessoas ligarem seus carros e o barulho entrar pelas janelas e o carro sair pelas portas em ruas esburacadas e poeirentas enquanto vênus dorme a quarenta milhões de quilômetros de distância. Vênus é um planeta, é masculino; Vênus é a deusa do amor, é feminino; masculino e feminino, o amor não suporta o capitalismo!

O dia teima em clarear! Todo dia amanhece um ditador adorado e idolatrado na claridade que expulsa Vênus, ditador que jura ser a estrela de Belém! Deus acima de tudo e sessenta trilhões de dólares fazendo o milagre da multiplicação dos fiéis que dormem de conchinha e acordam com as mãos para o alto clamando por leite para o bebê que nasceu miseravelmente e agora já não são mais 7 bilhões, mas sete bilhões e mais um, miseravelmente acrescentando dados estatísticos para mais um dia que teima em clarear.

Se o dia teimar em clarear outra vez, vamos fazer uma revolução. Já sabemos dos bichos que agem por instinto, o dia que clarear suas percepções e eles souberem que existe o bem e o mal escolherão se revoltar e farão a revolução dos bichos; Sabemos que os pobres acreditam que qualquer ajuda suficiente para manter sua pobreza viva parece bastante para louvar quem lhe ajudou, o dia que clarear suas percepções e souberem que 60 trilhões de dólares são muito mais do que as esmolas que recebem escolherão se revoltar e farão a luta de classes; Sabemos que os crentes em geral acreditam em milagres e se mantém de joelhos diante do Espírito, o dia que clarear suas percepções e entenderem que a bíblia tem um livro chamado Atos dos Apóstolos, se revoltarão contra o poder dominante e lutarão por igualdade e o milagre será real; Então o dia será de Vênus e a Estrela d’alva verá um rastro de ódio na porta do Exército e as bandeiras da hipocrisia tremularão em vão!

Viu? Olha pró Céu, a Estrela d’alva! É Vênus, a deusa do amor! Celebremos esta noite e quando estivermos saciados, vamos dormir de conchinha e o leite derramado será de prazer, o prazer da inocência do instinto, da gratidão, da vida e da crença no bem. Amanhã, se o dia ainda teimar em clarear, então será a vez do mal vencer e tudo será como é no mercado!

QUANTO É MESMO ETERNAMENTE?

  Num sábado à noite não sei como mensurar o quanto é eternamente, o próprio sábado já me parece eterno, então, se somo a esse eterno a an...